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PARTE III - PAIXÃO QUE GRITA

Capítulo 15 - O Adeus



Elizabeth chegou em casa depois das dez da noite. Tinha passado as horas anteriores num barzinho com Eduardo, afogando as mágoas. Não bebeu o suficiente para ficar bêbada, mas se sentia tonta como se tivesse entornado litros.

Quando a viu chegar, Simone tentou averiguar o que estava acontecendo. Ainda não compreendia sua reação no dia anterior, quando falaram da carta, mas Elizabeth novamente ignorou suas perguntas.

– Eu fiz alguma coisa errada? – perguntou Simone, sem saber mais o que dizer.

– Não – respondeu Elizabeth, sem olhar nos olhos da irmã.

– Então o que está acontecendo?

– Nada. Só estou com dor de cabeça.

Elizabeth desfez a cama, e se sentou para tirar as botas. Mesmo que não conseguisse dormir, se deitaria e fecharia os olhos. Qualquer coisa era melhor do que ter que encarar Simone. Já não tinha mais forças para dissimular. Acabaria magoando a irmã para tentar se livrar da culpa.

Simone se sentou ao lado de Elizabeth e a abraçou pelos ombros. Assim que aproximou o rosto, sentiu o cheiro de álcool em seu hálito.

– Andou bebendo? – perguntou.

– Me deixa – pediu Elizabeth, empurrando as botas para debaixo da cama, e enfiando-se embaixo do edredom.

– Me conta o que está acontecendo? – insistiu Simone. – Você brigou com o Cristiano?

– Será que você não percebe que nem tudo o que acontece comigo tem a ver com o Cristiano? – disse Elizabeth, irritada, praticamente interrompendo a irmã no fim da frase.

– Então qual é o problema? – indagou Simone, erguendo a voz.

– Eu quero dormir, Simone! – gritou Elizabeth. – Será que dá para você entender isso?

Simone se afastou e sentou na própria cama. Elizabeth se arrependeu imediatamente de ter gritado com ela, mas não teve coragem de se desculpar. Se começasse, acabaria por desenrolar uma lista de ofensas que Simone nem imaginava que ela lhe desferira.

Enrolou-se no edredom e cobriu a cabeça, deitando de costas para a irmã, contendo os soluços, mas não as lágrimas.

"Eu sou uma tonta mesmo", pensou. "Devia tratá-la como uma seda para compensar minhas falhas, e em vez disso, pago sua preocupação com mais uma ofensa. Parabéns, Elizabeth! Você superou seu próprio recorde de idiotice".

Conseguiu ouvir quando Simone apagou as luzes e se deitou também. Passou mais uma noite em claro. Já se sentia como um morcego, acostumada à insônia. Só queria saber quando poderia dormir de novo. Talvez, só depois de contar à Simone todo o mal que lhe havia feito. Ou talvez nem assim...

"Acho que a próxima vez que eu dormir será num caixão", pensou, contendo outro soluço.

Saiu de casa antes das cinco da manhã. Não queria ver ninguém; só desejava ir de uma vez para a biblioteca e ficar lá sozinha, até a hora de abrir. Não conseguiu pensar em nada o dia todo, a não ser na conversa que teria com Alessandro. Estava decidida a adiá-la ao máximo, ou pelo menos, até ter uma boa ideia para justificar o poema. Ainda não lhe agradava que ele soubesse de seu amor. Não queria dar a ele o gosto de saber que tinha alcançado seu objetivo.

"Don Juan barato!", cuspiu do pensamento.

Preferia que ele esquecesse aquilo tudo, mas sabia que isso não iria acontecer.

Podia dizer que o poema fazia parte do livro que estava escrevendo, mas havia tanto de sua alma naquele papel, que nem mesmo Simone, conhecendo tão bem suas histórias, jamais acreditaria que aquelas palavras arrancadas com tanta dor de dentro do peito fizessem parte de uma ficção. E como justificar aquela gota de sangue na borda da carta? Não podia simplesmente dizer que se acidentara com a lapiseira e que isso lhe inspirara a escrever aquelas palavras depressivas. Mesmo porque, como sempre simulou alegria, ninguém acreditaria que ela pensasse com tanta tristeza.

Pela primeira vez na vida, a garota que sempre enfrentava os problemas de frente, cheia de garra, queria fugir da raia. Pensou em pedir um táxi e ir para casa, visando não ser surpreendida por Alessandro no caminho, e o celular permaneceria desligado até que a poeira baixasse. Se fosse preciso, ela até cortaria os fios do telefone de casa, para que ele não pudesse telefonar. Sabia que ele não a procuraria pessoalmente em sua casa na presença de Simone.

Tinha esquecido de que estavam perto do natal, e quando ele fosse cear com sua família, de algum modo, iria confrontá-la, e ela não teria como fugir.

A única coisa que ela não esperava, era que ele fosse procurá-la na biblioteca, quase no final do expediente. Estava definitivamente encurralada.

– Eu te liguei ontem o dia todo – disse Alessandro, sem ao menos cumprimentá-la.

– Sério? – ela perguntou, fingindo não ter percebido, enquanto mexia numa pilha de papéis que estavam sobre a mesa, evitando olhar para ele. – Acho que o meu celular estava sem som.

– Bem, não importa... Preciso que me ajude. A Simone me escreveu um poema que eu já li umas mil vezes, e não consegui entender o significado.

Ele desdobrou o papel e começou a ler os versos que Elizabeth conhecia de cor, mas tentava não mostrar reação nenhuma. Em vez disso, continuou mexendo em seus papéis, fingindo estar ocupada.

Alessandro lia sem emoção, a voz confusa e desordenada, sem a melodia necessária a quem declama.

– O que acha? – perguntou o rapaz, ao terminar de ler o poema.

– Como posso saber? – esquivou-se Elizabeth, com os olhos firmes nos papéis sobre a mesa.

– Simone me disse que ditou o poema para você escrever. Imagino que ela deva ter lhe explicado o que significam estas palavras.

– Na verdade, eu não prestei atenção ao que escrevia – disse Elizabeth, dando de ombros.

– Além disso, há uma mancha de sangue na parte inferior do papel. Não sabe o que significa isto também?

– Ah, eu me cortei com o papel enquanto escrevia, e esqueci de passar a limpo.

Ela sabia que não estava sendo convincente, mas nada do que dissesse poderia afastar a suspeita que já estava bastante desenvolvida na mente de Alessandro.

– Parece-me que foi o sangue que inspirou alguém a escrever estes versos – disse ele.

– Inspirou a Simone, você quer dizer – corrigiu Elizabeth, ainda sem olhar para ele.

– Não estou tão certo. O texto é sobre um amor não correspondido, por isso não pode ter sido escrito por ela. Ela sabe que eu a amo, e não tem porque duvidar.

"Tem certeza, cretino?", pensou Elizabeth, finalmente olhando para ele, quase transparecendo a pergunta com o olhar.

– O que está acontecendo? – perguntou Alessandro.

Elizabeth se sentiu encurralada, mas não queria admitir sua culpa.

– Fale a verdade – pediu ele. – Foi você quem escreveu esta carta?

Ela ficou calada e completamente trêmula, tornando a mexer nos papéis.

– Você não mudou nada – comentou ele. – Sempre que alguém descobria algo embaraçoso a seu respeito, você ficava muda. Pelo visto, continua igual. Vou tentar adivinhar o que aconteceu: você copiou a carta que a Simone ditou e colocou em algum lugar, e ela pegou o papel errado na hora de sair...?

"Está lendo os meus pensamentos?", perguntou-se, pasma com a exatidão de sua descoberta.

– É... Foi isso mesmo – admitiu sem hesitar.

– Então, esta carta era para quem?

Ela ficou calada novamente. Tinha que pensar num nome e rápido, mas sua demora o fez entender todo o resto da confusão. Ela estava prestes a dizer que era para Eduardo – que já estava tão envolvido nesta história que não se importaria em se enrolar mais um pouco –, quando Alessandro concluiu o restante do problema:

– A carta era para mim...?

Ela permaneceu em silêncio e engoliu seco, fitando a mesa, decepcionada consigo mesma por não ter sido forte o bastante para continuar dissimulando.

– Então era você o tempo todo? – perguntou ele.

Elizabeth mordeu o lábio para não responder. Aquela era sua chance de despejar em cima dele todas as ofensas que lhe desferira em pensamento naqueles meses, e fazê-lo perceber o mal que lhe fizera com aquele beijo. Se aquilo não tivesse acontecido, ela poderia ter esquecido sua paixão ridícula e seguido em frente, mas graças a ele, tinha que olhar para o seu passado e ver aquela mancha imunda que não lhe permitia ter um segundo de paz.

– Eu te amei através das suas cartas todo este tempo sem saber... – disse Alessandro, de repente.

Não era aquilo que ela esperava ouvir. Talvez fosse outra manobra para manipular seus sentimentos.

– Você amou a Simone! – disse Elizabeth, olhando-o nos olhos, tentando reverter o jogo a seu favor. – Ainda ama.

– Eu me apaixonei, sim, pela Simone... – admitiu Alessandro. – Comecei a conversar com ela pela internet porque achei que eu nunca encontraria uma garota tão linda e tão especial, mas porque eu fui conquistado pelas palavras que me escrevia... Pelas palavras que você escrevia! Eu não acredito que não desconfiei antes...

Ele era um bom ator. Agia como se realmente não soubesse de nada até aquele momento. Mas Elizabeth não estava disposta a entregar os pontos.

– Não é certo ficar me dizendo estas coisas – repreendeu-o.

– E você acha certo me enganar? – perguntou Alessandro. – Me fazer pensar que era a Simone quem me amava assim, tão loucamente...?

Elizabeth bufou. Não podia deixar essa passar. Alessandro não se colocaria como vítima nessa história.

– Então, acho que somos dois enganadores – atacou.

Alessandro apertou os olhos, remoendo a lembrança do beijo, e em seguida apoiou a mão na nuca, transtornado.

– Eu fui um monstro, pedindo que você organizasse meu jantar de noivado! – disse, com os olhos atordoados. – Deve ter sido um pesadelo para você...

Uma lágrima traiu Elizabeth, fugindo de seus olhos a contragosto, bem diante de quem ela não queria que lhe visse chorando. Ela a recolheu depressa e cruzou os braços, evitando os olhos dele.

– Por que você concordou com isso? – perguntou Alessandro.

– Porque eu não queria magoar a Simone – confessou Elizabeth.

– E o que pretendia? Sofrer sozinha?

– Isso eu já estava fazendo, muito obrigada por lembrar! – Uma falha na voz distorceu seu sarcasmo.

– Por quê? – insistiu Alessandro.

– Porque a Simone é minha irmã, e ela já sofreu demais. A mãe morreu no colo dela. Ela passou anos fazendo terapia para superar esse trauma. Houve uma época em que o pai dela ligava todos os dias para dizer que ela seria uma prostituta igual à mãe, só que isso a mãe dela nunca foi! Ela nunca teve nada que fosse só dela. Embora nunca tenha dito, eu sei que ela fica sem graça por saber que não é filha dos meus pais. Você foi a melhor coisa que aconteceu na vida dela; a única coisa que podia ser só dela, e eu simplesmente não podia estragar isso!

– E acha justo sofrer para que a Simone viva uma mentira?

– Pelo visto, de mentiras nós dois entendemos muito bem.

Alessandro ficou mudo, sem expressar reação alguma.

– E se essa mentira fizer bem à Simone, eu acho justo sim – completou Elizabeth. – Mas o amor que você sente por ela não é nenhuma mentira. Se fosse, você já teria se livrado dela há muito tempo.

– Eu queria entrar dentro da sua cabeça para entender o que está dizendo.

"Volte para a escola, burro!", pensou Elizabeth.

Depois se perguntou por que estava dizendo aquilo para si mesma. Devia jogar isso na cara dele de uma vez, já que estavam discutindo suas frustrações.

Bateu o olho no relógio: quatro e meia.

– Se me dá licença, preciso fechar – disse, passando por ele e segurando a porta, sugerindo em silêncio que ele saísse.

Alessandro dobrou o papel, dando um suspiro, e atravessou a porta. Assim que a encostou atrás dele, e virou a chave, Elizabeth sufocou o choro. Não era hora para isso. Tinha que ser mais forte do que nunca, porque a conversa ainda não havia terminado. Ela precisava convencer Alessandro de que ele não era tão importante para ela quanto pensava, e fazer as ameaças que fossem necessárias para que ele fosse fiel à Simone a partir daquele dia.

Recolheu suas coisas, enxugou as lágrimas, apanhou a bolsa e saiu.

Ficou aliviada por não encontrá-lo na calçada, mas assim que alcançou a esquina, aquela sensação se perdeu. Alessandro lhe esperava com o carro ligado, segurando a porta do carona aberta.

– Precisamos concluir esta conversa – disse, para convencê-la a entrar no carro.

– Amanhã – sugeriu ela.

– Vai fugir de mim de novo, como fez o fim de semana todo – concluiu ele.

– Eu prometo – garantiu ela.

E passou por ele, seguindo pela outra calçada.

Aquela seria mais uma tarde de fuga, mais um surto de tia Adelaide por ela não comparecer ao chá, e mais uma discussão para se esquivar das perguntas de Simone. Sem contar que teria que dar um bolo em Eduardo e Arthur. Não suportaria ficar perto de ninguém naquele dia. Estava se tornando muito difícil manter aquela farsa.

Àquela altura, ela se perguntava se já não estaria na hora de ter seu próprio apartamento. Podia ser uma decisão radical, mas era a única forma de evitar os interrogatórios, e não ter que dar satisfações a ninguém.

Talvez fosse mesmo uma alternativa saudável. Ficar longe de Simone – de seus suspiros, de seus comentários sobre a sorte que teve por encontrar Alessandro, e seus planos para o casamento –, faria muito bem para a saúde mental de Elizabeth.

– Boa tarde, Senhorita Fantasma! – sibilou Cristiano ao seu ouvido, passando o braço ao redor de seu ombro, e caminhando ao lado dela.

Elizabeth quase pulou de susto. Tinha ficado satisfeita ao passar pela livraria e não vê-lo estacado na porta, como costumava ficar todos os dias, esperando ela passar.

"Cantei vitória cedo demais", pensou.

Cristiano lhe deu um beijo estalado na bochecha e tirou o braço de cima dela.

– Está com pressa de chegar em casa? – perguntou.

Elizabeth começou a vasculhar a mente à procura de uma desculpa para ir embora, mas depois de um segundo considerou que, não importava qual fosse a proposta que ele iria fazer em seguida, era melhor do que ir para casa e encarar Simone, ou ficar sozinha em algum lugar chorando cachoeiras por Alessandro.

"Quer saber? Dane-se! Ele merece uma chance".

– Na verdade, não – respondeu.

– Que tal fazer uma coisa comigo, então? – propôs Cristiano.

Elizabeth quis especular o quê exatamente ele queria fazer, mas não fazia diferença.

"Qualquer coisa para ficar longe de casa".

– Ok.

Cristiano tomou a mão dela e a conduziu até a moto, que estava parada a alguns metros de onde estavam.

– Não vai fechar a livraria? – perguntou Elizabeth.

Cristiano deu de ombros.

– A Isabel está tomando conta – disse.

– Você pôs a sua irmã para trabalhar? – zombou Elizabeth.

– Eu sei ser bem persuasivo quando quero – disse Cristiano, presunçoso.

Elizabeth enfiou a cabeça no capacete e subiu na moto. Não era muito confortável ficar tão perto de Cristiano. Sentia que estava agindo igual ao Alessandro, enganando uma pessoa que ela sabia que nunca poderia amar.

"Talvez, se eu imaginar que este corpo é do Eduardo, não me sinta tão mal por tocar nele", pensou.

Cristiano tinha planejado um programa bem divertido. Foram um pouco mais longe do que ela supunha, para jogar boliche. Elizabeth fez dois strikes a mais, mas obviamente, ele a deixou vencer. Não quis reclamar. Ele já estava lhe fazendo um favor enorme mantendo-a longe de casa.

E depois do jogo, ele a levou de volta à livraria. Havia, do lado direito da cafeteria, um espaço com um sofá, destinado aos encontros de amigos. Era semelhante a uma sala de estar, para deixar todo mundo à vontade. A loja estava fechada havia quase três horas, e Isabel tinha preparado um clima muito especial para os dois.

Por todos os lados, haviam velas aromatizadas, pétalas de rosas, e, sobre uma mesa, uma garrafa de vinho tinto. Parecia o cenário de uma noite de núpcias.

"Encontro premeditado!", concluiu Elizabeth, com um suspiro imperceptível, procurando uma brecha por onde pudesse fugir, mas Cristiano tinha uma das mãos bem firme em volta de sua cintura, para garantir que ela não iria sair correndo.

Então Elizabeth se arrependeu de não ter ido para casa assim que voltaram para Atibaia.

– Acho que a minha irmã exagerou um pouco no clima... – comentou Cristiano, com a voz divertida, soltando Elizabeth e dando alguns passos na direção da sala de estar.

Elizabeth ficou parada junto às mesas da cafeteria.

– Mas a luz está perfeita – completou Cristiano, usando agora um tom mais sedutor, com os olhos firmes em Elizabeth.

Ele se virou e avançou pelo salão, mexendo em alguma coisa sobre a mesinha de centro. Elizabeth não saiu do lugar, e já pensava em recuar e ir embora – correndo se fosse preciso!

Cristiano se voltou para ela, escondendo algo na mão às suas costas. Viu o pavor nos olhos de Elizabeth e sorriu.

– Pode vir, não precisa ter medo – disse, estendendo a outra mão.

Elizabeth não tinha certeza se deveria agarrar a mão dele.

– Eu não vou fazer nada com você – garantiu Cristiano.

Ela hesitou mais uma vez, mas acabou indo até ele. Cristiano a conduziu pela mão até o sofá e a colocou sentada.

– Agora eu quero que você relaxe... – disse, voltando-se para a mesinha. – E sorria!

Quando se voltou para ela, estava com uma câmera fotográfica nas mãos. Parecia profissional. Elizabeth levou um susto, e seu primeiro instinto foi esconder-se atrás de uma almofada.

– Ah, não faz isso... – pediu Cristiano, com a voz divertida. – Deixa eu fotografar você?

– De jeito nenhum! – disse ela, a voz abafada pela almofada.

– Eu prometo que não vai doer nada.

– Vai doer sim, quando você revelar as fotos. Eu não sou nem um pouquinho fotogênica.

– Duvido! Com essa beleza toda...

Havia alguma coisa na voz de Cristiano, uma admiração apaixonada, que convenceu Elizabeth a sair de trás da almofada e encará-lo. Sempre ouvia Eduardo lhe dizendo que é bonita, mas era muito diferente ouvir isso de outro homem.

Não chegou a posar, mas olhou para Cristiano, lisonjeada, e ele bateu a primeira foto.

– Linda! – disse ele.

Elizabeth corrigiu a postura, e ele bateu outra.

– Está nervosa? – perguntou ele.

– Por que eu estaria? – respondeu Elizabeth.

Cristiano bateu outra foto, de outro ângulo, e comentou:

– Disse que não gosta de ser fotografada...?

– E não gosto mesmo – confirmou ela.

Ele ergueu o queixo dela delicadamente com a ponta dos dedos, e bateu uma foto de cima. O flash da câmera não pareceu incomodá-la, mesmo tão de perto.

– Aposto que vai mudar de ideia – disse Cristiano, presunçoso.

Nos minutos seguintes, Cristiano fez com que Elizabeth relaxasse e se soltasse, e isso resultou em fotos lindas. Parecia um profissional fazendo um ensaio fotográfico com sua modelo. Então, ele se sentou na mesinha e a deixou à vontade para posar como quisesse, enquanto ele tirava uma foto atrás da outra.

E enquanto a fotografava, Cristiano fazia perguntas para conhecê-la melhor, já que ela nunca se abria muito. Para cada resposta dela, ele batia uma foto. De repente, ele lhe surpreendeu com algo que não era uma pergunta:

– Eu estou apaixonado por você.

Elizabeth ficou paralisada, e Cristiano bateu a última foto.

Eles se entreolharam por um longo instante, e de repente ela se levantou.

– É melhor eu ir embora – disse, passando por ele, e apanhando a bolsa numa das mesas da cafeteria.

– Elizabeth... – chamou ele.

Ela se voltou, com medo do que ele pretendia, e Cristiano a encarou.

– Não estou te pedindo nada – explicou.

– Eu sei – disse ela. – Mas já é tarde.

– Eu te levo para casa.

– Não precisa.

Cristiano apanhou a chave da moto, e a segurou pelo braço. Elizabeth se encolheu, tentando não olhar para ele, enquanto Cristiano segurava seu rosto com a outra mão e se curvava para ela.

– Por favor... – sibilou Elizabeth.

Cristiano balançou a cabeça para um lado e para o outro e tocou os lábios nos dela, sem hesitar. Elizabeth permaneceu imóvel, e o empurrou de leve para trás. Então Cristiano desistiu de sua tentativa.

– Desculpe – disse ele.

Em vez de responder, ela caminhou até a porta.

Cristiano a deixou em casa, como prometeu, e partiu sem lhe dirigir nenhuma palavra. Elizabeth sentiu o nó se formar outra vez na garganta. Queria poder corresponder ao amor dele, mas era impossível naquele momento. Nunca pensou que fosse capaz de odiar alguém, mas odiou Alessandro com todas as forças, por tê-la marcado daquele jeito.

Sentou-se um minuto na soleira, e começou a refletir sobre o que havia acontecido. Tinha saído para o pior dia de sua vida, e terminou a noite divertindo-se como não achava possível. Cristiano conseguiu fazê-la esquecer, por algumas horas, Alessandro, Simone, o beijo, o noivado, o casamento, o desfile, o poema, e todos os problemas que atormentavam sua mente havia dias. Parecia até outra pessoa quando estava com ele.

Então por que era tão difícil aceitá-lo? Despojar-se nos braços dele de uma vez, e permitir que ele alcançasse sua alma destruída para pelo menos tentar restaurá-la.

Talvez o que Elizabeth estava evitando fosse exatamente isso: que alguém conseguisse chegar até sua alma e percebesse toda a sujeira que a envolvia. Por isso era tão difícil falar sobre o beijo de Alessandro até com Eduardo. Ele conhecia sua paixão obsessiva, seu sofrimento, seu desespero, porém ela nunca mencionara o beijo.

Mas por que se esconder de Cristiano? Afinal, ele tocara sua alma com a ponta dos dedos. Na noite do luau, quando ele a beijou na praia, ela esqueceu por um momento tudo o que estava lhe atormentando; e sempre que ele estava por perto, era como se Alessandro não existisse. E mesmo sabendo que ela não o amava como ele dizia amá-la, ele estava disposto a passar por cima de sua resistência para construir uma história. Então por que não aceitá-lo de uma vez?

O pensamento a irritou. De repente, percebeu que o que não estava fazendo sentido nesta história toda era ficar pensando nisso. Então, entrou em casa.

Já passava das onze. Estava se tornando um hábito: chegar tarde, sair cedo... Havia dias, ela não passava um tempo com sua família.

Naquela noite, como nas outras, Elizabeth foi direto para a cama, ignorando as perguntas de Simone. Contudo, ela estava irredutivelmente insistente desta vez.

– Eu sei que não é da minha conta, Liz, mas o que está acontecendo? Você nunca foi tão ausente...

– As pessoas mudam, Simone – disse Elizabeth, tentando controlar a voz para não parecer excessivamente ríspida.

– Pelo visto, as coisas com o Cristiano estão ficando sérias... – comentou Simone.

Elizabeth encarou a irmã. Já ia perguntar por que ela pensava que o Cristiano tinha algo a ver com seus sumiços, quando a irmã completou:

– Vi você chegando com ele.

Elizabeth deu um suspiro, e descalçou as botas.

– Quer conversar? – perguntou Simone.

– Não.

Simone já estava se acostumando àquela cena. Estava se tornando repetitivo. Elizabeth chegava, fugia de suas perguntas ou respondia com evasivas, não fazia questão de inventar outro assunto, trocava de roupa – quando trocava –, se enrolava no edredom e dormia. Então, Simone desejou bons sonhos à irmã, e se afastou, apagando as luzes.

No dia seguinte, como já esperava, Elizabeth viu Alessandro parar o carro em frente à biblioteca no fim da tarde, quando ela estava trancando as portas. Tinha que acabar logo com isso. Entrou no carro e deixou que ele a levasse para onde quisesse.

Foram a um restaurante fora da cidade. Elizabeth recusou o cardápio, e Alessandro pediu vinho.

– Para mim, só água, obrigada – disse Elizabeth ao garçom.

Assim que ele se afastou, Alessandro iniciou a conversa.

– Eu refleti sobre o que aconteceu ontem.

– Que bom – interrompeu Elizabeth.

"Significa que tem um cérebro aí dentro", mordeu a língua, para não declarar este pensamento em voz alta.

– Quando eu comecei a me corresponder com a Simone, eu não tinha ideia de que era a mesma Simone que eu conheci na infância, que ela era sua irmã... Nada disso. Eu vi o perfil dela e pensei "Nossa! É uma garota bonita, interessante... Por que não?". Então, quando eu decidi regressar, encontrei o seu primo na internet, e vi uma foto de vocês três no álbum dele. Confesso que foi uma surpresa muito agradável saber que eu já conhecia a Simone havia tanto tempo, e fiquei feliz por ter você como cunhada. Nós sempre fomos amigos...

– Mas isso foi há oito anos, Alessandro – interrompeu Elizabeth. – Nós mudamos muito.

– Por favor, me deixe terminar.

Elizabeth se recostou na cadeira, e manteve a expressão fechada e os braços cruzados, evitando olhar para ele.

– Eu me senti atraído pela Simone, sim, mas o que me pegou de verdade, foi a forma intensa como ela escrevia o que sentia por mim. Eu estava todo orgulhoso "minha namorada é uma poetisa!". Eu devia ter mesmo muita sorte. De repente, eu descobri que era tudo mentira...

– Francamente, eu não sei como você acreditou nisso por tanto tempo – interrompeu Elizabeth outra vez. Alessandro pareceu querer protestar, mas ela não lhe deu tempo. – A Simone sempre foi um fracasso total com as palavras. Houve uma época em que ela não conseguia nem manter uma conversa por mais de cinco minutos...

– Eu me lembro disso, mas é como você mesma disse: as pessoas mudam.

Elizabeth suspirou. Ele já estava usando suas palavras contra ela. A conversa estava começando a deixá-la irritada; mais até do que tinha imaginado.

– Eu fui muito cego – disse Alessandro. – Todo esse tempo, eu te amei através das cartas sem me dar conta...

– Ah, para com isso! – rosnou Elizabeth, irritada.

– Elizabeth, eu adorava o seu amor, pensando que era da Simone. Você me amou, eu te amei, nós nos amamos no papel todo esse tempo; você não pode negar isto.

– É claro que posso, porque é loucura!

– Você sabe que não. A única razão porque eu pedi a Simone em casamento, foi que eu pensei que jamais fosse encontrar uma mulher tão espontânea para falar sobre seus sentimentos, mesmo que só no papel. É claro que eu achava estranho que quando estávamos juntos ela não dizia nem um décimo do que declarava nas cartas, mas eu pensei que as palavras não importassem. Existem outras formas de se falar de amor quando estamos tão perto um do outro...

Elizabeth teve que mudar de posição, para que a observação de Alessandro não a fizesse vomitar.

– Mas era você... – concluiu Alessandro. – Sempre foi você!

– Não começa com isso de novo, Alessandro!

– Eu preciso. Porque se eu não disser que eu te amo agora, depois pode ser tarde demais.

– Não seja ridículo! Como você pode me amar assim, de uma hora para a outra? Você ama a Simone! Não confunda as coisas.

– Não! – insistiu Alessandro, a voz intensa. – Eu pensei que amava a Simone, mas era você o tempo todo. Foi pela sua intensidade que eu me apaixonei, pelo seu calor com as palavras...

– Você também amaria o autor de um livro que lhe fizesse chorar? – desafiou Elizabeth.

– Eu compreendo o que está tentando me dizer, mas não é a mesma coisa. O autor do livro não o dedicaria a mim. Você pensou em mim quando escreveu aquelas palavras. Esta é a diferença.

– E se eu dissesse que não? Que eu me inspirava em outro homem para escrever aquelas cartas? Ainda se julgaria apaixonado por mim?

– Eu sei que você só está dizendo isso para tentar me dissuadir da ideia de romper com a Simone...

Então Elizabeth deu um salto na cadeira, avançando para perto de Alessandro, e agarrando-o pelo colarinho.

– Não! – Sua voz saiu quase num grito. Ao perceber isso, começou a sibilar. – Não ouse terminar com a Simone!

O garçom se aproximou, hesitante, trazendo o vinho e a água. Elizabeth corrigiu a postura, mas manteve a expressão zangada e intimidadora. Assim que ele se virou, ela voltou às ameaças.

– Diga o que disser, eu não vou mudar de ideia – disse Alessandro. – Meu amor pela Simone foi um erro.

– Não. O seu único erro foi ter tentado brincar com nós duas! – atirou Elizabeth de uma vez, sem hesitar.

– Eu já lhe pedi desculpas pelo que aconteceu entre nós dois. Mas agora eu vejo as coisas com muita clareza, e não posso continuar ao lado da Simone diante disso.

– Isso é loucura, Alessandro! Ninguém troca de amor assim, de um dia para o outro...

– Eu amava o amor que ela declarava para mim. Eu amo o seu amor, Elizabeth! E eu quero vivê-lo com você. Eu preciso...

– Você não pode romper com ela assim, tão perto do casamento...

– Se eu não fizer agora, romperei no altar, e isto será muito pior.

Elizabeth pensou por um instante. Simone já tinha sofrido demais, e ela não queria destruir a felicidade que a irmã demorou tanto tempo para alcançar. Além do mais, Elizabeth tinha certeza de que ele havia planejado isso desde o princípio. E se ela o aceitasse agora, mais tarde ele romperia com ela também, em nome de outra paixão qualquer que inventasse. Devia estar acostumado a destruir dezenas de corações por onde passava. Era um esporte muito cruel para um rapaz que fora tão seu amigo no passado.

– Não quero que a minha irmã sofra – disse Elizabeth.

– E você acha que ela vai ser feliz ao lado de um homem que ama outra mulher?

Ela não respondeu. Queria despejar toda a sua raiva e dizer que já sabia o que ele pretendia com ela também. Mas ele foi mais rápido:

– Vai sacrificar a felicidade dos três, só para que a sua irmã viva uma ilusão? – insistiu Alessandro.

Elizabeth raciocinou rapidamente. Tinha que convencê-lo de que o lugar dele era ao lado de Simone. Se cedesse, as duas perderiam. Insistindo na recusa, Simone ainda poderia casar com seu suposto príncipe encantado. Então respondeu, dura e friamente:

– Vou!

– Pelo visto, eu me apaixonei pela garota certa, porque a sua atitude só prova que você tem o maior coração do mundo – disse ele, com os olhos úmidos, mas não estava chorando; e era óbvio que não iria chorar.

"Nem todo mundo é uma manteiga derretida como você, Elizabeth", pensou ela.

Estava percebendo que ele era realmente um ótimo ator.

– Mas eu não posso aceitar que desista de tudo – completou Alessandro. – Por isso, eu vou decidir por nós três. Vou romper meu noivado com a Simone. Não posso e nem devo enganá-la.

"Já enganou", pensou Elizabeth.

– Espero que assim, ao menos, possamos salvar nossa amizade, já que o nosso amor não passou de um infeliz engano – prosseguiu Alessandro, levantando-se.

Ela também se levantou, grata por finalmente poder ir embora, mas ainda não dera a conversa por terminada.

– Eu quero ficar com você, Elizabeth... Para sempre.

Alessandro se curvou para beijá-la, mas ela virou o rosto.

– Não, por favor... – pediu Elizabeth.

– Desculpe. Eu também acho melhor resolver primeiro a minha situação com a Simone. Vou falar com ela ainda esta noite.

– Se fizer isso, nunca mais vai me ver – ameaçou Elizabeth, enquanto ele lhe abraçava apertado.

Alessandro a afastou um pouco de seus braços e a encarou, confuso.

– Só vou fazer o que precisa ser feito – disse ele.

– A escolha é sua – reforçou Elizabeth, com a voz fria. – Já está avisado!

Alessandro não parecia convencido. Deu-lhe um beijo suave na testa, pagou a conta e a levou até o carro.

Seguiram em silêncio o caminho inteiro, e quando ela saltou a algumas quadras de sua casa, tinha a sensação de que a conversa não rendera bons frutos. Se Alessandro rompesse o compromisso com Simone, nunca se livraria daquela culpa. Por mais que fosse doloroso vê-lo se casar com sua irmã, era melhor do que vê-la sofrendo, e saber que era por sua causa.

"Vai ser melhor assim", pensou, tentando se convencer disso.

Ainda achava que Alessandro era um canalha, e talvez, todo aquele amor que ele lhe declarava fosse outra mentira, mas ela não tinha enxergado isso nos olhos dele. E embora a razão lutasse com todas as forças para não acreditar naquele amor que ele dizia sentir por ela agora, o coração delirava com a possibilidade de ficarem juntos, e todo o corpo de Elizabeth respondia positivamente àqueles delírios.

Mas sabia que ele estava tentando manipular seus sentimentos, então se manteve irredutível na decisão de desencorajar Alessandro, e convencê-lo – se fosse preciso, obrigá-lo – a se casar com Simone.

Quando chegou em casa, Elizabeth não conseguiu olhar nos olhos da irmã. Sentia-se suja, como se a tivesse traído outra vez, e de fato, não estava longe disso. E se sentiu ainda pior quando a rival correu até ela, com um sorriso radiante, e disse:

– Tenho uma coisa maravilhosa para te contar!

Elizabeth engoliu uma lágrima pelos olhos, como se engolisse uma dose de veneno. E, sem conseguir encarar a irmã, saiu correndo do quarto e da casa. Simone não entendeu nada, e seu primeiro impulso foi ir atrás dela, mas achou melhor dar um tempo, pensando que tivesse acontecido alguma coisa ruim entre ela e Cristiano.

Elizabeth correu para o ateliê, e se pôs a chorar nos braços de Eduardo.

– O que aconteceu, Liz? – perguntou ele, preocupado.

Ela não conseguia responder. Então o primo a levou ao Pepe para conversarem.

– Você estava certo – disse ela. – Um de nós três vai sofrer no fim desta história.

– Conversou com o Alessandro...? – concluiu ele.

Ela assentiu com a cabeça.

– Me procurou na biblioteca.

– E o que resolveram?

– Ele disse que me ama, e que vai terminar tudo com a Simone, mas eu pedi que não fizesse isso.

– Por que você fez isso? Virou masoquista?

– Eu não quero que ela sofra, Edu! Ela já fez isso a vida toda, e agora que a culpa é minha, eu me sinto muito mal...

– Elizabeth, eu amo vocês duas, de verdade, mas você tem que se valorizar! Pare de pensar tanto nos outros e se preocupe mais com você.

– Como eu posso fazer isso, se eu sei que a minha felicidade depende do sofrimento da minha irmã?

– E o que se pode fazer? Você está mesmo disposta a sacrificar o seu amor pelo Alessandro para que a Simone seja feliz?

– Eu acho que não consigo ser feliz traindo a minha irmã.

– Quer um conselho? Fique com o Alessandro. A Simone vai encontrar outro cara...

– Eu não posso, Edu... Eu amo o Alessandro, mas eu não devo ficar com ele.

Elizabeth mordeu a língua para não denunciar a canalhice que cometeram naquele mesmo lugar, meses atrás.

– Essa sua bondade excessiva de protagonista de novela mexicana me irrita, sabia? – disse Eduardo, com reprovação. – Pare de complicar as coisas! Você já se preocupou demais. Agora chegou o momento de você ser feliz.

– Que droga! Por que as coisas não podem ser mais simples?

– Mas as coisas são simples, Elizabeth. Você é quem as está complicando! E isto não vai te levar a nada, querida.

– Para falar a verdade, não sei mais se quero que leve.

– Se vocês não ficarem juntos, vão sofrer os três: você e o Alessandro por estarem separados, e a Simone porque estará ao lado de um homem que ama outra mulher.

– Ela não precisa saber.

– Essas coisas são impossíveis de esconder, Elizabeth; saltam às vistas de qualquer um.

– Eu não posso... – suspirou Elizabeth, lamentando-se.

Eduardo fitou seu rosto, incrédulo.

– Vai mesmo desistir de tudo? – indagou.

Elizabeth deu um suspiro.

– Me dá uma única razão para mudar de ideia – pediu Elizabeth.

Tinha mesmo esperança de que ele a convencesse, porque, embora soubesse o que devia fazer, e principalmente porque deveria fazer, era doloroso demais abrir mão de Alessandro, mesmo sabendo o que lhe aguardava se o aceitasse.

De repente, Eduardo pareceu inquieto.

– O que foi? – perguntou ela.

– Não olhe agora, mas a Simone acabou de entrar e está vindo para cá.

Elizabeth se certificou de que não havia nenhuma lágrima ou resíduo de maquiagem borrada em seu rosto, e ensaiou um sorriso para que a irmã não percebesse nada.

– Que bom que te encontrei – disse Simone à irmã. – Por que saiu correndo?

– Lembrei que precisava falar com o Edu... – mentiu Elizabeth.

– Bem, não importa... – disse Simone, interrompendo Elizabeth no final da frase. – Liz, eu preciso te contar uma coisa.

Elizabeth tinha a impressão de que todos naquela lanchonete podiam ouvir seu coração tagarelando alto no peito. Tinha medo do que a irmã iria lhe contar, mas ao contrário do que pensava, ela não havia descoberto sua traição. Mesmo porque, ela jamais se referiria a isso como "uma coisa maravilhosa".

Antes fosse isso, e ela tivesse enlouquecido, para falar dessa forma. Sua novidade atingiu com a força de um raio, e fulminou o castelo de sonhos que Elizabeth apenas começara a construir.

– Eu estou grávida! – revelou Simone.

Naquele momento, o mundo inteiro desabou sobre a cabeça de Elizabeth. Tinha agora uma razão definitiva para não aceitar o amor de Alessandro.

– Você tem certeza disso? – perguntou Elizabeth, tentando disfarçar a tristeza.

– Tenho – disse Simone. – Eu fiz um teste e deu positivo.

– Mas esses testes podem falhar, você sabe disso...

– Eu tenho certeza, Elizabeth!

Simone despejou sobre a irmã uma lista de sintomas que não deixavam dúvidas: ela estava mesmo esperando um filho de Alessandro.

– Parece até que você estava adivinhando... – riu-se Simone, radiante, afagando a barriga, ainda sem volume, sobre a blusa.

– Há quanto tempo estava desconfiada? – perguntou Elizabeth, sustentando a expressão descontraída.

– Há alguns dias.

– Disse isso à médica no dia do acidente? – perguntou Eduardo, preocupado.

– Não. Na verdade, a suspeita só me ocorreu depois que voltei para casa. Aí eu fiz as contas, e percebi que estava bem atrasada. Voltei hoje ao hospital e fiz um exame de sangue. A ultrassonografia mostrou que está tudo bem, o feto não foi prejudicado pelo atropelamento. Esta é a melhor coisa que poderia me acontecer, não acha?

– Claro – disse Elizabeth, escondendo a custo a terrível tristeza que a notícia lhe causara. – Já contou ao Alessandro?

– Ainda não. Vou contar assim que nos encontrarmos. Ele me ligou pouco antes de você chegar em casa, e disse que queria me encontrar hoje à noite.

Elizabeth se levantou de repente, e passou a alça da bolsa no ombro. Tinha que impedi-lo de terminar com Simone a qualquer custo.

– Isso é maravilhoso! – disse, abraçando a irmã rapidamente. – Mas eu tenho que ir.

– Aonde? – perguntou Simone.

– Acabo de lembrar que tenho um compromisso muito importante.

E saiu quase correndo da lanchonete, deixando Eduardo com a difícil missão de inventar um compromisso qualquer para justificar a fuga dela.

Elizabeth chegou desesperada ao prédio onde Alessandro morava. O porteiro quase não pôde entender quem ela queria visitar. Quando enfim foi autorizada a subir, Elizabeth foi recebida por Alessandro com um sorriso caloroso, mas só pôde retribuir com a expressão mais fria que era capaz de dissimular.

– O que aconteceu? – perguntou o rapaz, preocupado.

– Você não vai terminar com a Simone – disse ela, escolhendo um tom que parecia uma ordem.

Alessandro desfez o sorriso.

– Claro que vou – garantiu ele. – Isso já está decidido!

– Ela está grávida! – despejou Elizabeth, sem anestesia.

Alessandro caiu sentado no sofá, com uma surpresa decepcionada.

– Isso não pode estar acontecendo... – lamentou, apoiando a testa sobre a mão esquerda, com o cotovelo apoiado no joelho.

– Mas aconteceu – disse Elizabeth. – E nada vai mudar isso.

– Eu não vou me prender à Simone por causa deste filho – anunciou ele, resoluto.

– Tem razão. Você não vai se prender... Já está preso!

– Eu não vou ficar com ela por pena!

– Será que você ainda não entendeu? Eu acho que vou ter que desenhar: você vai ser pai, Alessandro!

– Mas isso não me obriga a casar com ela!

– Eu acho que você ainda não está entendendo... – Elizabeth perdeu a paciência e mandou a educação para o espaço. Tinha que se fazer entender de qualquer forma, doa a quem doer. – E eu jurava que você era mais inteligente do que isso... Alessandro, eu não vou ficar com você!

– Mas, Elizabeth...

– Mas nada, Alessandro! – interrompeu ela, exaltada. – Antes, éramos só nós três; todos adultos, independentes, donos de si. Podíamos decidir por nós mesmos. Mas agora, há uma criança inocente no meio desta confusão, e eu simplesmente não posso lutar contra isso.

Alessandro encarou Elizabeth, os olhos umedecendo.

– Você vai se casar com a Simone! – disse Elizabeth friamente, quase em tom de ordem. – Mas, por favor, não no dia vinte e dois...

– Por que não...? – começou a perguntar Alessandro, uma lágrima descendo dos olhos.

– Por nada – interrompeu Elizabeth, fugindo de ter que dar explicações. – É só um palpite... Número de azar!

Nunca acreditou nisso, mas naquele momento ninguém se daria conta deste detalhe para perceber sua mentira. Elizabeth se aproximou da porta e disse "adeus", contendo a custo uma lágrima.

– Eu te amo, Elizabeth! – disse Alessandro, pondo-se de pé, num último apelo.

– O nosso amor foi um filme, Alessandro – disse ela, voltando-se para ele. Não tinha mais porque brigar. Era melhor fazer o jogo dele, da despedida doída, e garantir que ele não voltaria a procurá-la, pelo menos por compaixão. – Agora o filme acabou. Já se acenderam as luzes do cinema, e nós temos que esquecer que os sentimentos existiram. Eu estou certa de que você será um ótimo marido e pai, e eu prometo nunca mais mencionar este assunto. Você e a Simone serão muito felizes juntos.

– Não...

Precisava ser mais específica quanto ao ponto final de sua história com o namorado da irmã.

– Vamos fazer um juramento: para nunca mais procurarmos um ao outro – propôs Elizabeth.

Alessandro hesitou.

– Jure! – ordenou ela.

– Está bem, eu juro... – disse ele, caindo sobre os joelhos no tapete da sala.

Então outra lágrima desceu pelo rosto dele, esta mais grossa que a anterior.

Elizabeth ficou parada por um instante, olhando para ele e tentando segurar o choro. Sentia que um membro de seu corpo estava sendo amputado naquele momento. Algum membro vital; seguramente, o coração.

– Pelo menos, me dá um beijo de despedida? – pediu Alessandro, aos pés dela.

– Para quê? – perguntou Elizabeth. – Para nos machucarmos mais? Já será difícil o bastante conviver com a lembrança do que já tivemos. Não precisamos de mais esta tortura.

Alessandro a encarou, as lágrimas engrossando ao escorrerem pela pálpebra. Ele tomou a mão de Elizabeth e a beijou demoradamente, apertando os olhos, como quem retém o choro. Todavia, Elizabeth tinha se convencido de que ele faria qualquer coisa para tentar manter a farsa, portanto não acreditava que aquele desespero fosse real.

"Bom ator!", pensou. "Devia estar em Hollywood".

Não tinha ânimo para estender o sarcasmo; nem o momento.

– Adeus, Alessandro! – disse Elizabeth, recolhendo a mão e atravessando a porta.

Assim que pôs os pés fora do prédio, Elizabeth chorou todas as lágrimas que segurara no apartamento do amado. Não queria ir para casa naquele estado, então, mais uma vez, procurou refúgio em Eduardo, que a levou a um apartamento de solteiro que ele mantinha e dividia com Cassiano. Ela nunca soubera nada sobre isso até aquele momento, e obviamente, tia Adelaide também não sabia onde ele dormia quando passava a noite fora, mas Elizabeth não fez questão de perguntar muito. A única coisa que o primo esclareceu, foi que ele e o amigo revezavam os dias em que cada um podia levar mulheres lá.

– Eu mereço alguma diversão, não acha? – disse Eduardo, tentando fazer graça para animá-la.

– Claro – respondeu Elizabeth, tentando sorrir.

Estava tão absorta em sua tristeza, que Elizabeth mal prestou atenção no lugar. Era um apartamento completamente masculino: decoração sóbria, mobília escura e pouco planejada. Apenas dava a ilusão de conforto, mas era nítido que não tinha morador fixo.

Sentaram lado a lado no sofá, e Elizabeth contou sobre a conversa que tivera com Alessandro, chorando compulsivamente. A voz estava tão fraca que não era mais do que um sussurro quase inaudível, e era evidente que naquele momento o coração de Elizabeth chegara ao limite de suas forças.

Eduardo ouviu seu desabafo por um tempo, segurando carinhosamente sua mão, mas a certa altura ele próprio não conseguia compreender as palavras dela, tamanho o desespero que as envolviam. Então, numa tentativa de acalmá-la, ele a puxou para si e beijou seus lábios delicadamente.

Elizabeth tentou empurrá-lo, mas ele a segurou mais forte em seus braços e intensificou o beijo. Então ela desistiu de lutar e retribuiu por alguns segundos, confusa. Logo os pensamentos abandonaram sua mente, e as lágrimas cessaram de escorrer em seu rosto.

Então Eduardo parou de beijá-la e olhou ternamente em seus olhos, enxugando-os com as pontas dos dedos.

– Assim é muito melhor – observou ele. – Sem lágrimas.

Ela sorriu levemente, compreendendo o que ele fizera.

– Você é linda, e não deve ficar triste por causa de homem nenhum.

– Obrigada – disse Elizabeth, ainda sem encontrar a voz. – De verdade! Você não tem ideia de como me fez bem...

– Cada um dá o que tem. Não sou bom com as palavras, mas acho que consegui te animar um pouquinho.

Na verdade, o beijo dele a confortou muito mais do que qualquer coisa que alguém poderia dizer. Palavras às vezes soam falsas, com pena. O beijo dele a fez sentir-se desejada; mulher de novo.

Elizabeth sorriu, e se aproximou de Eduardo, beijando-o novamente, sem se perguntar por quê. Ele a abraçou bem forte, sem questionar, percebendo que ela finalmente havia se acalmado.

Mas no meio do caminho, ele se deu conta de que a forma como ela o beijava já não era simplesmente uma carência que ele mesmo pudesse suprir.

De repente a razão se ausentou, e Elizabeth voltou à tarde do reencontro. Estava novamente na calçada da cantina, apalpando os braços de Alessandro, e tentando encontrar em seu peito algum vestígio do cordão da amizade que lhe fizera sorrir de emoção por ver que ele havia guardado, enquanto Eduardo a beijava.

Era um apelo inconsciente. Elizabeth buscava nos lábios do primo a lembrança que guardara do beijo de Alessandro. E mesmo não tendo conhecimento disso, Eduardo percebeu que, enquanto ele a beijava, ela fantasiava aquele momento com o noivo da irmã.

Consciente do mal que estava lhe fazendo, pois quando abrisse os olhos, e visse que os lábios que lhe beijavam eram os do primo, Elizabeth se angustiaria novamente, Eduardo a afastou.

– O que foi? – perguntou Elizabeth, encarando o primo.

– Não posso continuar com isso – disse Eduardo.

– Por que não?

– Porque isso é loucura! Não é a mim que você está beijando, é a ele!

– Acha que eu estou louca? – sibilou Elizabeth, duvidando da própria sanidade.

Tinha travado os dedos nos cabelos de Eduardo e não soltara, mesmo depois que ele a afastou. Continuava agarrada a ele, com a respiração irregular, e o pensamento indo e voltando do delírio à realidade. Talvez essa explicação fosse o que ela precisava para dar início à superação. Aceitar o problema era o primeiro passo para a cura.

"Meu nome é Elizabeth Duarte, e meu amor me enlouqueceu", admitiu com o pensamento.

– É claro que não – disse Eduardo, respondendo sua pergunta –, mas olhe para você! Está possuída, fora de si...

Ela balançou a cabeça e suspirou.

– Tem razão – disse, soltando as mãos dos cabelos dele e recolhendo-as para si.

– Não me leve a mal, Liz... – disse Eduardo. – Eu adoraria ficar com você sempre que quisesse, mas não assim. Não quero que faça algo por desespero, para sofrer ainda mais depois. Pode até ser que apague a tristeza por um instante, mas quando você refletir, vai se sentir pior.

– Você é único, Eduardo – reconheceu Elizabeth, agradecida. – Outro no seu lugar nem ao menos pensaria em como eu me iria me sentir depois de tudo.

– Não pense que é fácil me esquivar de uma mulher do teu calibre, Liz. Você me vira a cabeça, sabia?

– Desculpe... – sibilou, envergonhada, forçando o corpo para trás. – Eu não sei o que há comigo.

– Você vai superar – disse Eduardo, acariciando a mão dela. – Nenhum amor é eterno, Elizabeth, embora pareça. É como disse o poeta: ele é "infinito – apenas – enquanto dura".

Naquele instante, Eduardo deu a ela uma demonstração de sensatez que há muito tempo não via. Tinha discordado tantas vezes de Vinícius de Moraes nos últimos meses, sobre aquela ideia de amor, quando deveria ter pensado mais como ele.

Era difícil estar vivendo aquele tormento e enxergar que ele poderia acabar quando menos esperasse. Por que afinal, o amor é uma chama, que, como todas as outras, se não for alimentada se apaga. E a dela também se apagaria. Só o que precisava fazer era deixar de nutri-la.

– Como eu queria ter me apaixonado por você, em vez do Alessandro... – disse Elizabeth, acariciando o rosto de Eduardo.

– Acredite, eu não sou tão bom quanto pareço – admitiu ele, encontrando a mão dela com a sua, e beijando-lhe a palma.

– É claro que é.

Elizabeth começou a acariciar os cabelos de Eduardo e escorregou os dedos até os seus lábios, fitando-os intensamente, parecendo se perder neles.

– É perfeito...

Ele afastou a mão dela e sorriu.

– Não é a mim que você está tentando encontrar – lembrou.

– Tem razão – admitiu Elizabeth, baixando os olhos. – Desculpe.

Eles ficaram em silêncio por um tempo, até que ela disse:

– Não quero voltar para casa hoje.

– Quer passar a noite aqui? – sugeriu ele.

– Depende... Tem lençóis limpos? – perguntou, a voz recuperando alguns traços de diversão.

– Pode até escolher – riu-se Eduardo.

– Fica aqui comigo? – E tornou àquele ar de melancolia do instante anterior.

– Fico.

Ela ligou para casa e disse que dormiria na casa de uma amiga. E pela primeira vez em muito tempo, Elizabeth conseguiu dormir algumas horas. Mas não foi fácil pegar no sono. Antes disso, chorou durante muito tempo em silêncio, e Eduardo, deitado ao seu lado, acariciava seu rosto e seus cabelos, como no dia do noivado de Simone e Alessandro na praia.

Enfim, foram vencidos pelo cansaço e caíram no sono quase ao mesmo tempo. Elizabeth se sentiu protegida nos braços de Eduardo; e sem ter Simone por perto, a quem ela temia que a inconsciência revelasse algo perturbador, conseguiu deixar o medo e as tensões de lado e mergulhou num sono profundo.

Dormiram lado a lado, mas a noite foi tempestuosa para Elizabeth, que sonhou com o casamento do amado com a irmã, e com o nascimento do filho deles. Seu coração exalava tantos trovões, que ela tinha a impressão de que o mundo inteiro os podia ouvir.

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