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Capítulo 1

Feira de Santana — 07 / Julho / 2007

Era o fim do mundo para Sabryna ter que ouvir mais um bip do leitor de código de barras no caixa do supermercado, ela detestava. Nunca foi uma garota sorridente, imagina ela demostrar o seu descontentamento com o ambiente qual trabalhou desde os dezoito anos de idade? Poderia espantar os clientes, mas obviamente isso nunca aconteceu, pois...

Sabryna era uma excelente funcionária, nunca chegou tarde, nunca saiu cedo, nunca reclamou de nada, nunca xingou o gerente por pegar tanto no seu pé como as outras funcionárias faziam, nunca falhou na sua função, nunca se envolveu em conflitos com os colegas de trabalho e ainda recebia bem pouco o salário. Dizendo assim parecia até que ela era perfeita, mas ainda era humana, estava cansada e sobrecarregada.

Há um bom tempo a trabalhar naquele lugar, não podia pedir demissão porque foi a única oportunidade que ela encontrou sendo uma mulher negra inexperiente. Na verdade, ela foi contratada somente por causa da ajuda de uma pessoa em particular.

A garota tinha os cabelos natural e extremamente lisos. Uma negra bastante retinta, tinha olhos puxados — quando criança, chamavam-na de "japonesa preta" — e as iris dos seus olhos eram pretas, não castanho-escuras, mas pretas mesmo, uma cor rara, nem ela própria tinha consciência disso. Só não se parecia tanto com uma indiana por causa dos seus fenótipos.

Naquele dia Sabryna estava afadigada. Morava apenas com a mãe que sempre ganhou a vida como costureira e até aquele momento costurava. Por serem muito pobres, Sabryna procurou um emprego para ajudar na renda da casa e a única oportunidade que teve abraçou com as duas mãos, era caixa de um supermercado chamado Supermercado Miranda, não muito importante na cidade, mas muito grande e muito frequentado.

Ela nunca teve muito dinheiro para comprar roupas boas, então comprava num bazar local, ou a própria mãe dela costurava, o que foi um dos motivos para sofrer bullying por muito tempo, uma garota considerada cafona para o seu período.

Era uma jovem pacífica, passiva, introvertida, não falava muito, era tímida e um pouco antissocial, mas tinha um jeito agradável, comportada, educada, inteligente, séria, mas um "doce de menina", tão meiga. Filha única de um casal divorciado, não filha biológica, foi adotada quando bebê e soube disso desde criança, ninguém a contou, nem precisou. A sua mãe, Dona Fátima Mendes de Souza, era uma senhora branca, mas de pele bronzeada e de cabelos ruivos, os fios brancos do seu cabelo estavam escondidos por entre as madeixas de cobre, e o seu pai, Seu Alceu de Avelar, era um senhor branco de cabelos grisalhos que não morava mais com a mulher e filha adotiva desde que a filha era criança.

Seu Alceu deixou a família para ir morar com uma senhora rica dona do supermercado e por muito insistir, conseguiu um emprego para a filha. Sabryna Mendes de Avelar nunca agradeceu, mas o seu pai a conhecia muito bem, nunca exigiria isso dela. Ela não sabia quem eram os seus pais biológicos, também nunca perguntou, não ligava para nada, ou não demonstrava, parecia que ela havia nascido com aquela expressão de apática.

Além de tudo isso, ela nunca foi uma garota confusa ou conturbada. Nas escolas quais estudou as professoras focavam nela porque pensavam que ela era uma jovem depressiva, mas na verdade era incompreendida, pois, não falava muito, falava apenas o necessário. A sua mãe tentou mudar o jeito dela, pensava que ela precisava ser mais comunicativa, senão não teria amigos. E assim foi, Sabryna sempre foi sozinha.

Era sábado e dia de pagamento, o supermercado funcionava até as seis da noite nesses dias, mas ela chegaria em casa por voltas das sete horas porque voltava a pé, na sua vida aconteciam coisas tão repetitivas que ela se sentia em um eterno déjà vu, mas ela não reclama, não sabia lidar com mudanças tão facilmente.

Bip.

— Setenta e nove reais e noventa e cinco centavos, senhora — disse Sabryna com aquela voz desanimada e aqueles olhos semicerrados para a cliente que passava as suas compras.

"Quanta bebida", pensou Sabryna.

A cliente, que era uma mulher de meia idade com cabelo tingido de loiro e metida a jovem grã-fina, começou a procurar pelo seu cartão de crédito dentro da sua bolsa de couro. Sabryna revirou os olhos, a mulher poderia ter feito isso antes de passar as compras para ganhar tempo. Nessa hora, uma jovem que estava atrás da mulher, provavelmente filha dela, até se parecia com ela, retirou os óculos escuros do rosto e deu um belo sorrisão para a garota do caixa.

— Eu não acredito — disse a jovem a passar na frente da mulher que ainda procurava o cartão de crédito. — Sabryna, você trabalha aqui? Que coincidência.

"Há quase dois anos", pensou a garota do caixa, mas não tinha coragem para dizer aquilo, apenas deu um sorriso sem mostrar os dentes e foi tão forçado quanto a felicidade daquela garota em vê-la.

Ela reconheceu a jovem de cabelo tingido de loiro e com o rosto entupido de maquiagem, estudaram na mesma classe desde o início do ensino médio no colégio público da cidade. Nunca tiveram muita afinidade e Sabryna somente falava quando precisava falar.

Aquela menina era muito tagarela e a última coisa que Sabryna queria era bater papo, ainda mais no meio do serviço.

— Mulher, quase que não te reconheço, nunca te vi de cabelo amarrado desta forma, sempre usou os cabelos soltos — a garota a encarou. — Você lembra de mim, não é? — questionou já empolgada.

— Sim, você é a Karen Bru... Brumoni — a voz de Sabryna soou quase inaudível.

Ela pegou o cartão de crédito da mãe oxigenada para passar na máquina de cobrança, era uma aparelho novo na empresa e novidade na época.

Sabryna não conseguiu manter o sorriso falso por muito tempo.

— Brunoni — corrigiu Karen —, muitos cometem este erro, afinal, não é todo mundo que tem nome italiano — gabou-se a garota.

"Talvez, os italianos", pensou Sabryna.

— Eu estava procurando os meus colegas e amigos do terceiro ano — continuou Karen —, os que foram da minha turma, é claro, para comparecerem a uma festa de recordações na minha casa e você era a única que eu não consegui o contato.

"Festa de recordações?", pensou a garota do caixa. O que ela teria para se recordar do último ano do ensino médio? O bullying?

— Eu não tenho contato... — começou Sabryna para chegar a uma conclusão de que não poderia aparecer nessa festa, mas foi interrompida.

— Por favor, Sabryna, venha, eu vou ficar muito feliz, preciso ver todos os meus colegas de classe lá e não aceito um não como resposta.

Karen era uma boa pessoa, apesar de fútil e vazia, era o que demonstrava ser. Passaram-se três anos depois do ensino médio, Sabryna quis acreditar naquela hora que as pessoas da sua turma mudaram, a própria Karen estava mudada. Sabryna entregou o cartão de crédito da mãe da garota que saiu de lá às pressas a gritar pela filha e disse:

— Obrigada por se lembrar de mim, mas eu não gosto de festas...

— Ah, não! — Karen a interrompeu novamente. — Eu disse que não aceitaria um não como resposta. Por favor, Sabryna, por favor. Vou ficar supertriste se você não for.

— Menina, você está congestionando a fila — disse um cliente para Karen.

— Espera aí — berrou a garota para o homem que se afastou de olhos arregalados. Ela se voltou para a garota e disparou a falar: — Sabryna, eu te cacei por todos os arredores desta cidade porque era a única que não consegui falar e ninguém sabia onde você morava, agora que te achei, está sendo a única que diz que não quer ir. Na moral, se você fizer isto comigo eu vou ficar profundamente magoada e acabar depressiva. Sei que não éramos muito próximas no ensino médio, mas não significa que eu não gostava de você, muito pelo contrário, te achava muito inteligente. Sem você lá não vai ser a mesma coisa, ainda mais agora que o seu nome está na minha lista de...

— Tudo bem, tudo bem, Karen — Sabryna era tão calma que quando falava, parecia murmúrios. — Eu vou para a sua festa, mas vou embora cedo, minha mãe fica sozinha em casa.

— Ótimo — Karen pôs os óculos escuros de volta no rosto a sorrir, depois pegou um cartão cor de rosa da bolsa e a entregou para a garota do caixa. — Aqui está um convite para você, contém o endereço da minha casa e o horário da festa, pode levar um acompanhante se quiser, e lembre-se: profundamente magoada — Karen foi embora a se despedir soltando beijos para Sabryna, também foi xingada pelas pessoas empatadas na fila por causa dela.

Sabryna não conhecia a Karen para saber tudo sobre ela, mas pelo convívio, entendia que ela tinha mania de perfeccionismo e padronismo, também, era exibicionista e queria mostrar o quanto era rica. Não, não era rica, mas o pai dela tinha muito dinheiro guardado para ela entrar na faculdade e felizmente ela conseguiu entrar numa pública o que foi uma surpresa para todo mundo, talvez ela não fosse tão fútil e vazia como demostrava ser. Metade do dinheiro ela usou para dar a festa. Os pais aprovaram, acreditaram que ela merecia, apesar de não se importarem quase nada com ela. E as fofocas rolaram soltas.

Era verdade que Karen não tinha nada contra Sabryna, apesar de a sala inteira não a querer por perto ou não conseguir aproximar-se dela, Sabryna era como um repelente de humanos. Karen nunca a desprezou como as outras garotas populares do Colégio, e justamente por isso que ela não deixaria de comparecer nessa festa.

Ela nem imaginava com que roupa ridícula iria para o evento, na verdade, era ridícula para as pessoas, Sabryna nem se importava com a aparência. Diziam que ela não tinha senso de moda, que tinha péssimo gosto para roupas e que era para a mãe dela parar de produzi-las, entre outras coisas que podiam magoar bastante, mas isso tudo nunca a atingiu. Ela teve muitos motivos para ser uma garota revoltada, violenta, mau-caráter, teve muitas oportunidades para se corromper, se perder na vida, mas a sua índole nunca permitiu que ela se afundasse nos seus pensamentos mais obscuros.

É tão difícil manter-se do bem num mundo tão do mal.

Mesmo o local de trabalho não ser muito longe do seu lar — e estava acostumada com o percurso —, era cansativo ter que ir e voltar todos os dias a pé, mas como ela havia recebido o seu pagamento do mês, resolveu pegar um ônibus, queria estar logo em casa. Sabryna começava a trabalhar às sete da manhã, almoçava e por fim ia embora às oito da noite para chegar em casa nove, exceto dias de sábado, ia embora às seis e chegava às sete da noite. Não trabalhava dia de domingo, então, ia ler os seus livros e sumir do mundo real.

Ao entrar na sua residência, Sabryna encontrou a sua mãe na máquina de costurar no canto da sala, de costas para a porta, o barulho da máquina não a deixou ouvir a porta ser aberta, então Sabryna a fechou e o barulho assustou Dona Fátima que deu um pulo da cadeira e voltou-se para a filha.

— Sabryna — repreendeu Dona Fátima, a sua voz era tão doce quanto a da própria filha. — Você me assustou.

— Desculpa, mãe — disse Sabryna a retirar os sapatos ainda na entrada da casa.

— Chegou mais cedo que o normal, veio de ônibus?

— Sim. Eu ia chegar um pouco mais tarde se eu tivesse vindo a pé. Hoje foi dia de pagamento — Sabryna praticamente arrastou-se para o banheiro a bocejar e jogou a sua bolsa no sofá. — Estou morta de cansaço, vou tomar um banho.

— Comeu alguma coisa?

— Não... Aliás, só um almoço do trabalho.

— Aposto que você jogou metade fora. Sabryna, tem que comer, por isso está tão magrinha, se você passar mal um dia desses... — enquanto Dona Fátima falava, Sabryna trancava-se no banheiro para lavar não somente o seu corpo, mas também o seu espírito.

Depois de um longo banho, Sabryna amarrou uma toalha no busto e com outra começou a secar os cabelos. Ela nunca cuidou deles como as demais garotas, sempre os deixava soltos e desgrenhados, não penteava direito, não passava cremes ou hidratantes, passou a amarrá-los quando começou a trabalhar. Às vezes questionava-se por que eram tão lisos sendo negra, até entender que cabelo liso não era próprio de gente branca, mas como explicar isso às pessoas ignorantes? Diziam que era alisado a ferro.

Por que era tão incomum uma mulher negra bastante retinta ter os cabelos naturalmente lisos?

Em questão de aparência, Sabryna não se via como bela, contudo, não ao ponto de se sentir tão feia para casar com alguém, apesar de nunca ter namorado, e nem queria.

Ela se encarou no espelho do banheiro, tinha lábios pequenos, uma pele limpa, tinha um nariz grande e relativamente afilado, olhos puxados e cílios longos, também sobrancelhas quase perfeitas porque eram bem simétricas, finas e um pouco apagadas. Infelizmente, Sabryna não tinha amor próprio, mas nunca afirmou isso, nem para si própria.

Se ela tentasse a sorte como modelo, assim como a sua ex-colega de classe Karen tentou e falhou, poderia se sair muito bem, mas Sabryna não tinha um resquício de vaidade, ao contrário de Karen. A diferença entre elas duas nessa questão era que a loira tingida tinha muito mais quadril e menos postura que a operadora de caixa, contudo, era inegavelmente mais bonita, segundo o padrão de beleza da sociedade. De qualquer maneira, Karen era mais bonita que qualquer pessoa que Sabryna já tinha visto naquela cidade.

A maioria das meninas do Colégio tentou a sorte como modelo quando uma Agência de Top Models surgiu na área assim que concluíram o ensino médio. Sabryna foi incentivada pela mãe para participar, mas para a garota, só de pensar em ter que passar por toda aquela humilhação de novo com garotas malvadas de novo lhe causava calafrios. Apesar de não estar tão satisfeita com a sua aparência, o seu emprego, ou as suas circunstâncias, estava satisfeita com a vida, e não precisava que uma agência de modelos a impactasse de alguma maneira.

— Sabryna, sai logo desse banheiro — pediu Dona Fátima com a sua voz doce e meiga. — Preciso que veja uma coisa.

— Já vou, mãe — respondeu Sabryna. Ela amarrou os cabelos, escovou os dentes, vestiu uma roupa simples e saiu.

Quando apareceu na sala, os olhos da garota brilharam e o seu raríssimo sorriso estampou a sua face, mas foi um ato efêmero. A sua mãe estava de pé ao lado da mesa, em cima havia duas caixas embrulhadas para presente e um bolo de chocolate com uma vela acesa no centro. Não havia presentes, eram somente as caixas, o dinheiro que tinha usou para o bolo.

Parabéns para Bryna, nesta data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida... — cantou Dona Fátima.

— Oh, mãe! — emocionou-se Sabryna. — Não precisava fazer isto.

Desde que Sabryna cresceu, nunca mais comemoraram o seu aniversário, os seus pais ainda eram casados na época. Também, ela não se importou, entendia que precisavam de dinheiro e não dava para gastar com coisas que não fossem para o sustento da casa.

— Ah! Precisava sim, você merece, meu amor. Tem se esforçado tanto ultimamente, eu não podia deixar o seu aniversário passar em branco.

— Mamãe — Sabryna abraçou a sua única família como se fosse a última vez.

— Foi o mínimo que eu podia fazer.

— Para mim foi um máximo — Sabryna a soltou e foi para a mesa. — Muito bom, bolo de chocolate é o meu favorito — a garota saboreou o bolo com os olhos antes de tomar um pedaço para si. Sua barriga até roncou, estava sem comer o dia todo.

A sua mãe se aproximou dela e sussurrou:

— Vamos, assopre a vela, faça um pedido.

A luz bruxuleante da vela refletia nos olhos da aniversariante, algo a deixou hipnotizada e ela sentia que alguma coisa acontecia, mas não podia dizer o que era, não sabia.

— Mãe, eu não acredito nestas coisas — disse Sabryna ao olhar para Dona Fátima para fugir dos seus devaneios.

— Ah! Meu bem, ninguém acredita. Na verdade, criamos espectativas para que alguma coisa aconteça, e quando acontece, chamamos de milagre. Crie suas espectativas, isso nem sempre é um problema, isso pode se tornar a sua fonte para permanecer firme, te dar perseverança.

Sabryna ficou surpresa pelo que a sua mãe dissera, Dona Fátima era uma mulher católica, não tão devota, mas não era do seu feitio dizer aquelas coisas, nem fazia ideia de onde poderia ter tirado aquilo. A crença, para ela, sempre foi superior à ciência.

A aniversariante voltou aos seus devaneios, agora tinha uma tempestade de ideias na sua mente, tinha tantos desejos que nem sabia o que pedir, então, tomou uma decisão e encheu o pulmão de ar.

Antes de assoprar a vela, mais outra vez a luz bruxuleante da pequena chama no pavio a hipnotizou, a garota se distraiu tanto que soltou o ar dos pulmões sem mesmo ter feito o pedido. Assim que a vela se apagou, o tempo parou, o relógio na parede marcou às sete horas, sete minutos e sete segundos da noite, e de repente, a fumaça que emanava do pavio da vela saiu acinzentada, o que já não era comum, para piorar, a fumaça subiu de uma maneira tão descomunal que tomou toda a sala, não se podia mais ver nada ao redor, depois veio o breu, em seguida, o vazio.

Nesse mesmo vazio, vários luminares começaram a aparecer ao redor da garota, ela logo percebeu que os seus pés não tocavam o chão, não havia chão, contudo, demorou para entender que estava no espaço sideral, os luminares eram as estrelas distantes. O vazio negro cheio de pontos brilhantes começou a tomar um tom azulado como se estivesse perto do alvorecer, aquele tom azulado deixava tudo mais bonito.

Sem esperar, e sem entender, Sabryna viu que do seu lado direito uma coluna de uma fumaça densa e branca repleta de pó dourado partia em sua direção. Ao seu lado esquerdo, de igual modo e igual distância, aproximava-se outra coluna de fumaça, porém, essa era preta e estava repleta de centelha como de uma fogueira. Ambas as colunas de fumaça densa dirigiram-se desgovernadas para a garota que, sem sucesso, tentou sair do alvo.

Sabryna, esperou ser atingida, não fechou os olhos queria ver o que aconteceria depois. Assim que as duas colunas a atingiu, misturaram-se de uma maneira sobrenatural e toda aquela fumaça mudou de cor, agora era cinza. De repente, milhões dos flocos de fumaça cinza começaram a grudar no corpo de Sabryna até tomá-la por completo, então, o seu corpo absorveu as cinzas, porém, vários filetes de raios amarelos saíram por todos os lados do seu corpo e houve uma explosão.

Agora, Sabryna estava deitada no chão da sala ao pé da mesa, ela olhou ao redor e viu que a sua mãe não estava lá, sentia-se um pouco fraca, mas aos poucos a sua energia voltava e bem mais forte do que imaginou. Ela levantou-se e ficou sentada, desnorteada, a tentar entender o que aconteceu consigo própria. Daí, a sua mãe entrou na casa abruptamente e quando a viu, correu para os seus braços, o seu rosto estava lavado de lágrimas.

Dentro da ambulância, a garota esperava que o paramédico terminasse de aferir a sua pressão para que ela entrasse logo dentro de casa, os vizinhos foram observar o que estava acontecendo e ela não queria ser motivo de fofocas. A sua mãe aguardava do lado de fora, segurava uma xícara de chocolate quente que a vizinha concedeu.

— E então, minha jovem — disse o paramédico depois de um suspiro —, a sua pressão está ótima, você não está doente, não tem alergias, a sua saúde é como a de um touro. Mas a sua mãe me contou que você não se alimenta direito, presumo que o seu desmaio foi por causa da má alimentação — imediatamente, Dona Fátima entrega à filha a xícara de chocolate quente e Sabryna bebeu. — Fora isto, você está bem, pode ir para casa e se alimente direito, você não é imortal.

Sem dizer uma palavra a ele, Sabryna desceu da ambulância e foi às pressas até a sua residência. Lá dentro se sentou no sofá e a sua mãe se sentou ao seu lado.

— Minha filha, eu avisei para você não ficar sem comer, que isso fazia mal à saúde, olha aí o que aconteceu.

— Tudo bem, mãe, eu já entendi — a voz de Sabryna saía quase como um sussurro, sentia-se estranha pelo que aconteceu, desviou os olhos da xícara e olhou para Dona Fátima. — Não precisava ter ido chamar uma ambulância — ela disse isso porque provavelmente a sua mãe pediu ajuda a algum vizinho, e ela detestava ter que socializar depois, por causa da sua timidez era bastante julgada.

— Como não? Você ficou desmaiada por um tempão, eu não sabia o que fazer — elas ficaram em silêncio por alguns segundos até Dona Fátima suspirar de alívio, em seguida, a própria soltou um sorrisinho involuntariamente.

— O que foi? — perguntou Sabryna.

— Sabe, minha filha, por um momento eu pensei que você estava grávida.

Sabryna engasgou com a própria saliva e com os olhos bem abertos fitou a sua mãe.

— Mãe? É sério?

— Não me olhe assim, você sabe que eu quero um netinho, e que também você se case logo com um homem de verdade.

— Mãe, eu não quero um homem e menos ainda ter filhos.

— Toda mulher quer ter filhos.

— Então não sou mulher.

— Ora! Não fale besteiras — Dona Fátima se levantou do sofá e cortou um pedaço de bolo para a sua filha.

— Obrigada! — agradeceu Sabryna a pegar o prato.

— Viu o seu pai hoje?

— Hum, hum! — negou Sabryna com a cabeça.

— Crápula. Eu quero saber o que ele tanto faz dentro de casa.

— Deixa isso para lá, mãe, eu não ligo.

— Pois, devia. Em pleno aniversário da própria filha e o bendito não apareceu nem para dar um abraço?

Sabryna queria dizer que não se importava porque ele não era o pai dela de verdade, mas sabia que a sua mãe ficaria triste porque ela também não era a sua mãe biológica, de qualquer maneira, Sabryna se referiria ao modo como ele a tratou desde que se divorciou, desde que saiu de casa, desde que abandonou a família e nem teve a decência de se mudar para longe, ele a tratava como uma conhecida, no máximo, amiga, não como filha. Não se viam todos os dias porque ele não saía de dentro da casa luxuosa da sua esposa para nada.

De uma coisa Sabryna era muito grata, Seu Alceu conseguiu um emprego para ela, em meio a tantas pessoas brancas, ela era a única negra que trabalhava como caixa naquele supermercado. Parecia que a dona ainda não sabia quem era ela, da última vez que Sabryna viu o seu pai, a conversa que tiveram não foi muito agradável. Ela entendeu que ele escondia da atual esposa que tinha uma ex-esposa e uma filha adotiva. Podia ter sido paranoia da sua parte, mas ela preferia continuar com essa ideia, justificava muita coisa.

Que deprimente.

Depois de ter se alimentado bem, Sabryna foi para o seu quarto que era um pouco grande e repleto de livros, a sua cama de casal foi a única coisa que o seu pai havia lhe dado, as demais coisas fora a sua mãe quem comprou com o dinheiro da sua mão-de-obra. A jovem lia Dom Casmurro tranquilamente quando Dona Fátima invadiu o quarto a segurar um pequeno cartão de papel cor de rosa.

— Você vai — afirmou a mulher.

Sabryna arfou e fechou o livro para conversar sobre aquilo.

— Eu vou — respondeu a garota bem rápido, porém, sem ânimo algum.

— Não, minha filha, eu insisto em dizer que... — Dona Fátima se interrompeu quando ouviu a filha dizer que ia para a festa de Karen, se aproximou com cerimônia e se sentou na cama. — Você disse que vai? Que milagre — ela jogou as mãos para o alto. — Obrigada, Deus.

— Só vou porque disse que ia, não gosto de mentir.

— Que bom, minha filha, finalmente você tem uma amiga.

— Karen não é minha amiga, mãe. 

— E porque ela te convidou para uma festa particular?

— Porque ela é psicótica.

— Isso não faz sentido, Sabryna.

— Mãe, a Karen é uma garota fútil e mimada que estudou na mesma classe que eu durante o ensino médio. Eu sempre a observei, era a única que falava comigo e sei o quão obcecada ela é.

— Obcecada pelo quê?

— Pelo padrão, pela organização, pela perfeição. Ou por tudo. Sei lá. 

— E o que tem de errado nisso?

— Ela não me convidou porque quer ser minha amiga, ela me convidou porque eu era da classe dela e ela quer que todos estejam nesta festa, um a menos seria motivo de alarde, um a mais seria o cúmulo do absurdo. Se não for como ela quer, ela vai fazer um barulho tão irritante que ninguém vai suportar.

— Nossa! Você sabe tanto sobre esta garota, acho que vocês deveriam ser amigas.

— Meu Deus, mãe — Sabryna falava como se estivesse com sono. — Não ouviu nada do que eu disse?

— Ouvi, é que eu estou enxergando o que você não está — Dona Fátima ficou de pé. — A festa é amanhã, escolha uma roupa bem bonita.

"O que deu nesta mulher?", pensou Sabryna.

Aquele dia parecia ser igual a todos os outros, mas alguma coisa estava diferente e Sabryna precisava entender o que era. Ao se jogar na cama abraçada com o seu livro, ela ficou pensativa sobre aquele sonho que teve quando desmaiou. Nunca na sua vida teve um sonho semelhante e pareceu tão real para ela, tudo o que viu, o que sentiu, o que pensou. Aquilo aconteceu de verdade, mas não sabia explicar como.

E foi dormir às onze horas da noite depois de ter lido os últimos capítulos de Dom Casmurro.

Sabryna se encontrava em uma extensa sala cilíndrica feita de pedras e era iluminada por globos flutuantes de luz incandescente como lâmpadas, estava de frente para um armário com porta de vidro e dentro desse armário existiam várias esferas pequenas e translúcidas de vidro maciço com vários tons diferentes. Cada esfera estava em um pequeno suporte cuja base tinha umas inscrições quais Sabryna não se recorda de ter visto antes, contudo, curiosamente, ela conseguia entender, eram nomes próprios. Gostava muito de ler, então leu cada um deles e todos aqueles nomes eram tão incomuns, tinha a certeza de que não estava no Brasil.

O último nome naquele armário lhe chamou bastante atenção, além de a esfera ser a única de cor preta, e dizia:

Allogaj Valéria - vulgo Audaxy

Valéria, com certeza, era um nome muito comum no Brasil. Aquilo tudo era muito curioso e intrigante.

Segundos depois, Sabryna foi pega de surpresa ao se virar para o seu lado esquerdo, duas pessoas vestidas como guardas medievais arrastavam pelos braços um jovem negro muito bonito, não era tão retinto como ela, a sua pele era mais clara, ele tinha lábios carnudos e vermelhos, um sinal perto do olho direito e os seus olhos eram das cores de um girassol.

Os guardas colocaram-no dentro de outro armário no canto da parede bem maior do que o que estava perto dela, na outra extremidade de onde ela estava. O armário era cilíndrico e também tinha uma porta de vidro. Parecia uma espécie de banheiro futurista e rústico, ou até mesmo um teleportador. Foi aí que Sabryna percebeu que ela própria não tocava o chão, ela flutuava naquele ambiente e todo o seu corpo tinha um aspecto azulado e transparente.

Um terceiro homem aproximou-se do armário cilíndrico com porta de vidro e carregava um bastão de madeira com um cristal oval segurado na ponta superior. Ele encaixou o bastão num côncavo centralizado na base do "teleportador" e disse:

"Spegulo Mondo", a sua voz soou duplicada.

Do nada, um monte de cacos de espelhos surgiram debaixo dos pés do garoto que continuou sério, firme e orgulhoso. Os cacos de espelhos ploriferaram-se e tomaram todo o espaço cilíndrico por dentro, depois subtraíram-se e tudo sumiu, inclusive o garoto. Por fim, ao lado direito do armário uma pequena esfera de vidro maciço como bola de gude rolou para fora de um cano prateado, era a única de cor branca e reluzia.

O homem que usou o bastão pegou a esfera e a admirou, depois andou para a direção de Sabryna e ela saiu do caminho, ele abriu a porta do armário, colocou a esfera num suporte vago, apontou o seu bastão que brilhou e disse:

"Allogaj Cesar - vulgo Rasec." Outro nome comum no Brasil.

A medida que ia falando, na base do suporte da pequena esfera o nome era escrito. Sabryna a tudo prestava atenção e nada dizia, apesar da sua grande curiosidade.

Por fim, um homem da terceira idade entrou no recinto, entretanto, ele também flutuava como Sabryna, e também era translúcido e azulado como ela, a diferença era que ele era palpável e visível, e conversava com os guardas.

"Está feito?", perguntou o velho que parecia ser o dono daquele lugar.

"Sim, meu Senhor", respondeu o que usou o bastão. "Mas o senhor não disse por quanto tempo este Allogaj ficará preso na Prisão Dimensional."

"Ele ficará por tempo indeterminado, estes Allogajs são consequências do desequilíbrio no Cosmos, precisam ser detidos antes que..." o velho parou de falar de repente, ele ficou estatelado como se estivesse a sentir alguma coisa.

"Ancião, há alguma coisa errada?", perguntou o guardo com o bastão.

"Você não está sentindo? Tem mais alguém aqui."

Sabryna ficou apreensiva sobre o que ele disse, ela sabia que era com ela, até então ninguém tinha a visto.

O Ancião fechou os olhos, concentra-se e em seguida os abriu, agora estavam vazios, apenas sobrou-lhe as escleras azuladas dentro das pálpebras. Ele se voltou para ela com uma expressão de ira e gritou:

"Como você entrou aqui?"

Sabryna se assustou e recuou o máximo que pôde até atravessar a parede.

Agora, estava deitada na cama e com os olhos bem abertos, ela ofegava. O sol já raiou, mas ela percebeu somente por causa dos raios solares que atravessaram as arestas da janela fechada do seu quarto.

— Meu Deus, o que são esses sonhos? — indagou Sabryna consigo própria.

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