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|19| 𝙈𝙤𝙧𝙥𝙝𝙚𝙪𝙨


Aviso: Quando aparecer isso [***] na fic significa que está dando um "pulo" para alguma parte do passado. Achei melhor fazer isso agora pra vocês não ficarem confusos ou perdidos como já aconteceu uma vez, antes. Dito isso e sem mais delongas - porque o cap está maravilhoso -, boa leitura ♥︎


















[***]


Era um lugar lotado, parecia ser uma Convenção em um lugar onde era irreal e surreal. Havia um palácio erguido, translúcido e parecia ser feito de diamante branco que mudava delicadamente de cor como se nas paredes houvessem uma onda de tons claros de arco-íris em seu interior, a seguir tinha uma escadaria longa com muitos degraus que ganhavam uma lambida como se fosse o desfecho de uma pequena onda calma, porém negra com pontos cintilantes - parecia que havia uma grossa camada de gelo cobrindo a superfície de um oceano, contudo esse não era infinito -, então um vasto e amplo espaço feito não com cimento, mas algo negro, mas não era piso.

Talvez o que chamamos de granito.

Mas havia pontos em sua extensão. Parecia um mar negro, porém reto que em seu interior guardava estrelas de diversos tipos de cor. Aqueles pontos mergulhados que vira e volta se moviam eram realmente estrelas, tão lindas e brilhantes.

Naquele espaço que se assemelha a um grande pátio, no centro tinha uma fonte de onde jorrava água cristalina, chegava a brilhar, e o material da fonte era do mesmo negro com estrelas do qual é o chão. Em sua água as estrelas vinham mergulhadas e mais alegres com seu brilho radiante, era como se o mar que estivesse embaixo pudesse sair por ali e encontrar seu caminho novamente para debaixo daquele gelo perfeitamente polido. Mais além, terminava como se fosse uma sacada sem lugar algum para apoiar, sem parapeito para impedir que alguém caísse do outro lado.

E era ai que o fôlego era tirado porque, depois que aquele pátio deslumbrante terminava, havia o espaço. Era literalmente o espaço com estrelas, planetas, pedras rochosas, estrelas cadentes, um show de cores em alguns lugares e tudo isso concentrado em um vasto breu que, com todas aquelas luzes, dava uma luminosidade extraordinária.

E como disse anteriormente, era irreal e surreal.

Havia uma música suave no ar, era uma arpa sendo tocada com maestria e uma voz doce e calida que a acompanhava. O pátio estava um pouco cheio, dentro do palácio havia muitos mais, porém diante de pessoas de peles amarelas, azuis, roxas, verdes, e laranjas, a que deve se focar era naquela única e solitária que estava diante da fonte assistindo a água jorrar e cair para voltar a fazer parte do restante debaixo do granito.

Seus olhos eram verdes mas sua pele era branca, seus cabelos eram brancos,mas não um branco enjoativo, mas um branco lindo com pequeninos pontinhos cintilantes que se mostravam conforme ela se movia, por mais mínimo que fosse. Ela irradiava luz, seu sorriso era tão avassalador quanto sua presença e palavras afiadamente doces e desafiadoras. E ainda assim lá estava ele, de uma das sacadas do segundo andar do palácio a observando, as mãos juntas atrás das costas que suavam frio e os ombros tensos.

Seus olhos escondiam duas estrelas, mas nada se comparava àquela que se alegrava até mesmo quando tinha apenas a si mesma como companhia para se distrair. Fazia pouco tempo desde que ele chegou até aquele lugar e seus olhos já a capturaram e flagraram-na de imediato.

Mas, precisou da ajuda de uma certa irmã benevolente para que enfim ficassem um de frente para o outro. O verde em contato com o azul. Ela, a luz branca que irradiava calor e vida, via um céu azul cristalino nos olhos dele, tão fortes mas ao mesmo tempo tão suaves e inocentes. Ele, o homem de pouco tempo - e filho dele - que sentia seu coração pulsar dentro da caixa torácica como nunca antes, via um verde tão lindo, dava o ar de uma grama gostosa com um aroma leve em um dia ensolarado e vivo que perfumava qualquer ambiente.

━ Tu não pareces ser o Sonho dos Infinitos. ━ Disse ela depois que as apresentações foram feitas e estavam ambos sozinhos na presença um do outro virados de lado para a borda negra da fonte quadrada.

Ainda haviam mais pessoas espalhadas pelo pátio, cada um em seu grupinho de colegas e amigos. Estavam em sua maioria totalmente distraídos, mas haviam aqueles que entortavam os olhos para a cena.

━ Por que pensas assim de mim? ━ Indagou ele, surpreso.

Sua voz era tão profunda e grossa que levou arrepios a ela quando ouviu, porém a velocidade no qual ele usava para falar era lenta e seu tom de voz era apaziguador de uma maneira que ela jamais tinha experimentado antes. Era estranhamente satisfatório ouvir sua voz e sentir que estava deliciando-se com ela.

A face dele era leitosa, ela percebeu isso e não escondeu seu inocente desejo quando ergueu uma de suas mãos quentinhas e tocou a bochecha fria dele, fazendo seus dedos recuarem pela gélidez repentina.

━ Tu és frio.

Ele estava tímido diante daqueles olhos tão vivos, até mesmo mais do que ele próprio, porém sentia que tinha que fazer algo. Os lábios dele se separaram e, de vagar, inclinou o rosto para frente para que a distância entre sua pele e a mão dela fosse quebrada. Seus olhos sempre conectados aos dela por todo o momento obrigando-se a não desviar.

━ Talvez falte-me sentimentos.

Ela tombou a cabeça, puxando os lábios levemente para o lado.

━ E por que veste-se somente com a escuridão? Fazes dela sua parceira?

Os dedos da mulher acariciaram sua pele com um sutil movimento que lhe trouxe uma onda eletrizante que mergulhava em seu sangue e despertava suas células nervosas junto dos hormônios.

━ Porque foste dela que vim. ━ Respondeu, encantado.

━ Soube que teu reino és um breu infinito apenas. ━ Murmurou.

A quentura de sua mão estava passando para ele e o aquecendo, dando cor lentamente as suas bochechas, e ela sorriu maravilhada com o poder simples que tinha sobre ele.

━ Não há inspiração para se criar e imaginar. ━ Contou, meio ressentido e cabisbaixo. ━ Ainda são poucos aqueles que entram em meus domínios.

━ Guardo a certeza de que serão muitos no futuro que dependerão de seus domínios e estes serão tão vastos quanto essa galáxia.

Ele piscou, feliz por suas palavras - que apesar de serem a mais pura verdade o tocou de tal forma que se fosse outra pessoa as pronunciando não teria o mesmo efeito.

━ Se queres um céu azul, então olhe para seu reflexo e admire seus olhos. ━ Aconselhou ela. As palavras sempre cheias de emoção velada e esperança reforçada.

Ele umedeceu os lábios.

━ Poderia eu usar a cor de teus olhos? ━ Foi ousado o suficiente para indagar.

Ela soltou um riso curto e baixo, as bochechas erguendo. Tombou a cabeça para o lado, divertida.

━ Tens que cativar-me primeiro.

Dream sentiu-se pego de surpresa, muito desprevenido. Seus olhos decairam um pouco e junto foi seu rosto.

━ E como irei cativa-la? ━ Sua voz era nada mais e nada menos que um meio sussurro. Somente ela e ele podiam ouvir agora. ━ Nunca tentei cativar a ninguém. Admito não saber como cativar.

Os dedos longos e brancos cintilantes deslizaram por sua bochecha e pegaram um atalho pelo maxilar, parando sob o queixo do Sonho e com pouco esforço o ergueu para que ele permanecesse a olhar para ela sem se retrair.

━ És novo ainda para tentar cativar, Dream. Talvez daqui a dez anos, nesse mesmo local, nós possamos nos reencontrar novamente em uma reunião como esta e então tentarás cativar-me do teu jeito pois cada um tem um próprio jeito. ━ Acariciou algumas vezes antes de puxar sua mão para si.

Sonho sentiu a falta da mão dela, mas o fato era que depois de seu toque ele não foi frio novamente e suas bochechas permaneceram coradas.

Como era suposto estando perto, o gesto seguinte que ela fez o deixou deslumbrado. Ela quebrou a distância, a curiosidade dançando em seus verdes olhos como uma bailarina perspicaz e aproximou seu rosto dele, parando a centímetros apenas para ter o vislumbre de seus olhos mais de perto.

━ Suas estrelas são tão cintilantes. Espero vê-las novamente à dez anos e, até lá, juro solenemente guardar tanto elas quanto seu dono em minha memória. ━ Sorriu novamente, dessa vez mais largo. ━ Espero ter o mesmo de ti.

Sonho era quem prendia a respiração e sentia a dela tocar sua pele como a brisa quente de uma tarde ensolarada de verão.

Ele queria poder sempre olhar naqueles olhos e ter uma recordação deles que o faça lembrar quando não estiverem voltados para si e ela decidiu não contar ainda que, somente os olhos dele e suas estrelas únicas já cativavam grande parte de sua atenção e afeição. Mas queria vê-lo tentar.

━ Tu terás minhas memórias em ti e muito mais que possa sequer imaginar. ━ Afirmou ele.

Sua irmã mais velha o assistia da mesma sacada que outrora ele estava a distância. Com os braços cruzados sobre o parapeito e o corpo curvado para baixo, ela tinha um sorriso genuíno em sua face.

Haveria de conversar com seu irmão mais velho e tentar convence-lo a dispor mais do destino daquilo que estava presenciando crescer entre seu tão querido irmão mais novo e a tão cintilante e encantadora moça que despertara os primeiros sentimentos do Sonho com apenas sua força de presença.


[***]

Isabella remexeu um pouco o corpo, ressonava baixinho em um sono calmo. Estava dentro de um sonho que não envolvia o Sonhar, era um sonho próprio e independente e aquilo de certa forma incomodava Morpheus - que andava de um lado para o outro incansavelmente sendo capaz de causar bifurcações no chão daquele quarto.

As paredes estavam deterioradas, manchadas, com rachaduras enormes, e caindo aos pedaços. Haviam cacos do que um dia foi uma janela que dava para uma sacada e, essa mesma sacada agora não existia mais. Estava espatifada em mil e um pedaços contra o chão terroso e sem vida a alguns andares abaixo.

Era preocupante ver seu reino tão decadente daquela forma, de não poder ver os prados esverdeados, os picos verdes das árvores, o céu azul ou a noite estrelada, as montanhas marrons com picos brancos de neve e o rio que passava diante do palácio por baixo de pontes. E o pior: estava vazio, sem sonhadores, sem sonhos, e muito menos pesadelos.

Se houvesse um medo que ele poderia ter guardado dentro de seu coração era de algum dia ter que ver tudo o que criou decair precáriamente daquela forma. Ele é a representação antropomórfica do sonho, ele é o Sonhar e o Sonhar é ele - ou uma extensão dele. Tudo ali foi criando a partir de suas mãos, sua areia, seu rubi, e sua benevolente imaginação.

Morpheus estava sem seu rubi, sem seu elmo, e sem sua algibeira, e estava fraco. Tentou reconstruir seu palácio, mas fora em vão e mesmo assim ele era persistente e teimoso.

━ Milorde ━ Lucienne passou pelo arco de entrada - onde deveria ter portas, mas estas estavam caídas no chão e também com rachaduras. Ela curvou a cabeça em respeito e seus olhos dispararam para o corpo inerte da mulher na cama.

Morpheus parou de costas para a porta com os olhos vidrados na paisagem morta de seu reino.

━ Não há sinal algum de alguém que esteja sonhando. A biblioteca sumiu e mesmo que ainda estivesse aqui, as folhas de todos os livros estariam brancos e limpos. ━ Voltou a atenção para as costas do Lorde. ━ Sem palavras.

Morpheus suspirou, os ombros rijos descendo de vagar conforme o ar escapava.

━ Está querendo dizer que ela não está no Sonhar ou em pose de algum dos meus sonhos ou pesadelos? ━ Com as mãos se unindo lentamente atrás das costas e sua voz profunda e baixa lançando arrepios a cada mínimo canto daquele quarto, ele se virou lentamente como um predador.

Lucienne abaixou o olhar para fugir temporariamente do olhar de seu mestre. Fazia anos desde a última vez que o vira, que ouviu sua voz, e que teve que olha-lo diretamente nos olhos. Ela assentiu, um mover simples que fez Morpheus virar o rosto para Isabella.

Ela realmente não depende do Sonhar, pensou em secreto, o maxilar trancando. Todos os seres vivos que tinham mente própria dependia dele, do Sonho, e de seu poder, mas não ela. Morpheus não sabia quem era ela, mas ao mesmo tempo a reconhecia de muito tempo atrás, e agora não tinha como descobrir algo. Ele viu o que ela fez, iria ressucitar Jessamy se Alex não tivesse dado aqueles dois malditos disparos. Ter o dom e o poder de ressuscitar alguém não era para muitos, ele reconhecia isso.

Mas refletindo sobre essa parte, era claro que ela deve ter ressucitado alguém no passado para que houvessem boatos de que ela era a Morte, embora não fosse de fato.

Só havia dois caminhos que Morpheus estava disposto a seguir para saber quem era ela pois nem seu nome sabia ainda: ou perguntava diretamente a ela, ou recorria aos livros do Sonhar, mas os livros junto de seu lugar de descanso haviam sumido e era como Lucienne disse - se ainda estivessem ali estariam com as páginas em branco. Então a única rota era perguntar a ela.

O que o irritava de certa forma porque nunca gostou de depender de alguém para ter respostas e apesar de ser um dos filhos do Tempo, ele não gostava de esperar. Sua vontade era acordar Isabella e a encher de perguntas, fazer um interrogatório completo até que sua curiosidade estivesse saciada, mas vê-la dormindo tão tranquila e sem necessitar da ajuda divina do Sonhar o fez ficar perplexo o bastante para apenas andar de um lado para o outro e a encarar, como se somente seu olhar intenso bastasse para desperta-la.

━ Se me permite uma informação. ━ Lucienne o arrancou de seus pensamentos e Morpheus a olhou. ━ Ela já esteve aqui antes. No Sonhar.

Ele, que estava virado de frente para os pés da cama, virou para Lucienne com as sobrancelhas levemente franzidas.

━ Quando?

Lucienne levou as mãos para frente do corpo e as manteve com os dedos entrelaçados rente ao estômago, a postura impecável enquanto erguia brevemente os olhos para olhar seu mestre por cima das lentes dos óculos.

━ Foi a muito tempo. Foram duas vezes, ao total. Na primeira eu não a encontrei, somente Gregory.

A face de Morpheus se encheu de surpresa ao ouvir o nome da jovem gárgula, mas aos poucos foi substituída por um pesar velado. Sua cabeça abaixou um pouco.

━ Mas na segunda... ━ Lucienne coçou as dobras dos dedos nervosamente. Ela apertou os lábios em uma linha fina. Os olhos do Sonho dispararam em direção a morena. ━ Ela deformou a paisagem com muita facilidade. Poderia ter engolido tudo e a todos se Gregory não tivesse surgido.

━ O quê? Ela distorceu a realidade do Sonhar?

━ Sim, Milorde. ━ Respondeu e logo antecipou: ━ Mas do mesmo jeito que distorceu, ela fez tudo voltar a ser o que era. Nada de estranho aconteceu depois disso.

Morpheus estreitou os olhos em direção a cama. Havia uma coisa que o estava incomodando.

━ Você a conhece?

Ele não viu, mas os olhos de Lucienne deram uma breve arregalada antes que ela tentasse se recompor. Ela engoliu a saliva e limpou a garganta.

━ A única coisa que sei sobre ela é que seu nome é Isabelle e ela levou dois tiros.

A estranheza tomou conta do Sonho. Dois tiros?, inclinou o rosto.

━ Foi ela quem disse?

Novamente a morena concordou.

━ Sim. Na segunda vez que esteve aqui ela disse o nome e que havia levado dois tiros. ━ Os olhos dela piscaram, se recordando do momento. ━ Sua roupa estava completamente ensanguentada, o cabelo tinha gotículas de sangue e no rosto também. Lembro-me de seus pulsos e tornozelos em carne viva, quase pude ver seus ossos.

Morpheus assentiu. Lucienne poderia não saber, mas ele sabia exatamente como Isabella fora parar naquele estado. Fora a morte de Jessamy e os dois tiros de Alex.

━ Foi o mesmo tempo que ela distorceu a realidade do Sonhar? ━ Indagou, sua linha de pensamento tomando um rumo diferente.

━ Sim. Ela parecia estar sentindo dor, parecia estar triste, mas depois que tudo voltou ao normal e pude conversar com ela percebi que essa dor não vinha dos machucados ou do seu próprio sangue que manchava sua roupa. ━ Deu uma explicação mais extensa.

━ Roupa? ━ Arqueou uma sobrancelha em direção a Lucienne. ━ Ela estava usando roupa?

Aquilo deixou Lucienne pasma. Ela não sabia o porque de seu mestre enfatizar aquela única frase quando se há tanto para se preocupar.

━ De acordo com Abel, ele havia entregado a ela quando esteve aqui na primeira vez. ━ Sua voz era desconfiada e lenta. ━ Quando voltou, estava vestida com o mesmo vestido de camponesa.

Ele concordou, o queixo empinando como se aquilo o fosse deixar mais imponente do que sua postura já deixava, e absorvia todas as informações que ouvia de Lucienne. Enquanto esteve sendo mantido preso junto daquela mulher desconhecida, a única coisa que tinha certeza era de que ela não é, nem de longe e muito menos de perto, sua irmã mais velha. O resto era apenas frustação, hipóteses, palpites, e suposições para completar as lacunas vazias - que para ele eram muitas.

━ Isabelle ━ Experimentou o nome, fazendo questão de demorar em cada sílaba, deslizando as palavras pelos lábios rosados enquanto tinha a atenção no rosto dela. ━ Isabelle..

Sonho deu uma leve torcida na ponta do nariz. Aquele nome não acrescentava em nada para ele, não alimentava o sentimento de já tê-la conhecido antes, e com certeza deve ter tantos livros no Sonhar de mulheres de cor de nome Isabella que - se a biblioteca estivesse na ativa - demoraria muito tempo para encontrar essa Isabelle.

Enquanto Morpheus apenas cutucava a ponta da língua em seus dentes e crispava os lábios adotando uma feição de nítido desgosto, Lucienne o encarava. Seu olhar era cauteloso assim como o passo que acabou de dar à frente.

Estava inquieta e tentava disfarçar, mas dentro de seu peito era impossível conter aquele sentimento devastador de... O que?! Culpa? Medo?

━ O senhor a conhece de onde? ━ Indagou tentando soar natural e transparecer naturalidade.

O Lorde dos Sonhos se limitou a inclinar a cabeça em direção a sua bibliotecária.

━ É certo que o encontrei caído na areia, mas estava com ela. ━ Tentou explicar, esforçava para que seus músculos não ficassem tensos por baixo daquele terno. ━ O milorde surgiu com ela desacordada em seus braços e até agora não falou nada sobre sua presença, apenas sobre o Sonhar e sua situação precária.

Morpheus engoliu a saliva e deslizou a língua rapidamente pelo canto esquerdo dos lábios.

━ Ela não é minha amante. ━ Lançou um olhar de quebrar paredes á ela. ━ Saber disso é tudo o que precisa, Lucienne.

Ela assentiu, o coração acalmando um pouco mas a tensão ainda perpetuando em suas veias.

━ Claro, milorde. Essa hipótese nunca me passou pela mente. ━ Morpheus virou o rosto para o lado oposto e voltou a fitar a paisagem morta. Aproveitando a distração de seu mestre, Lucienne inclinou a cabeça e ergueu levemente as sobrancelhas, acrescentando: ━ Além do mais, Nada ainda deve estar em seu coração.

Se antes Morpheus queria esconder seu rosto de Lucienne porque suas bochechas haviam dado uma sutil esquentada, imagina agora que seu maxilar estava trancado, os dentes ao ponto de ranger e os olhos tão longínquos mas ainda tão frios.

━ Pensei já ter dito para não tocar ou sequer pronunciar esse nome nesse reino. ━ Foi duro e ríspido.

Lucienne apertou os lábios e abaixou o rosto, a respiração controlada. Em meio aquela conversa, Isabella espiava os dois. Finalmente acordou.

Já conhecia Lucienne e conversou com ela brevemente no passado, contudo Isabella nesse exato momento estava estática e sofrendo arrepios quando pela primeira vez ouviu a voz de Morpheus. Era estranho ela abrir um pouco um dos olhos e vê-lo maior do que pensou que ele fosse? Ou talvez seja sua presença e imponência forçada com seus gestos e pose autoritária que a faziam pensar que ele havia crescido?

Ela não sabia onde estava, sua mente era uma confusão porque teve o sonho mais realista que sua própria realidade e ainda assim não se recordava de muita coisa. Aquele lugar que surgiu em sua mente foi o pico do êxtase de uma maravilhoso céu, um resplandecente palácio, e um pátio deslumbrante. Aquilo não tinha como ser dito porque caso tentasse, sentiaria que não conseguiria expressar toda a beleza guardada em um só lugar.

Porém um lugar que tinha absoluta certeza de que nunca esteve. Mas o Sonho.... Ele era diferente. Seu cabelo não era curto, era longo e com uma franja lateral, as pontas igualmente desgrenhadas - nenhuma tinha a medida igualitária - e em torno de seu pescoço havia um colar no qual carregava um rubi vermelho, o mesmo que Roderick havia usurpado anos atrás. Entretanto as diferenças não paravam por ai. Aquele Morpheus no qual Isabella sonhou era mais tímido, cauteloso, aparentemente carinhoso, um tanto retraído, ainda não tinha imponência, não tinha aquela autoridade, e apesar de sua voz ser igualmente profunda, grossa, e rouca, era doce e sensível. Em seus olhos azuis havia inocência e pureza, era como olhar dentro dos olhos de um bebê recém nascido.

Aquele Morpheus era diferente desse que virava o rosto e cruzava os olhos com os de Isabella de repente. Não havia aquela inocência, aquela pureza, aquela doçura, e aquela timidez. Era como se Morpheus tivesse um irmão gêmeo que era seu extremo oposto somente no quesito a personalidade já que ambos vestiam preto e tinham os mesmos traços faciais.

Isabella mal notou quando abriu os dois olhos e fitou a figura de Morpheus, mas somente se deu conta disso quando tanto ele quanto Lucienne a olhavam de onde estavam. Embora não quisesse quebrar o contato visual, Isabella se obrigou a olhar em volta, deslizando sua atenção entre as rachaduras e as paredes destruídas.

━ Você está no Sonhar.

Mais arrepios.

A voz dele a fez o encarar no mesmo inantante, mas não de maneira assustada. Isabella já havia suposto que voltaria para aquele lugar porque era só ali onde pensou que encontraria Lucienne, Caim, Abel, e Gregory novamente.

Ela não disse nada para ele porque ela se lembrava de seus últimos momentos na residência dos Burgess. Ela o havia libertado e então uma luz, ventania, e areia começaram a envolve-los com exímia rapidez. Ela se virou e bastou isso para que o sentisse livre e em pé atrás de seu corpo. Depois só lembrou de uma cor lindamente azul e duas estrelas únicas e brilhantes antes de ser brutalmente puxada por algo que veio de dentro dela. De sua mente.

Isabella estreitou os olhos e afundou suas mãos no colchão, arrastando-se para trás e sentando de vagar, escorando as costas contra a madeira da cabeceira da cama.

E se, começou ela, os olhos alternando de vagar e defensivamente entre Morpheus e Lucienne algumas vezes, e se ele tivesse feito alguma coisa para me obrigar a dormir e ter esse sonho estranho? E se tivesse feito isso por que sabia que eu não iria a lugar algum com ele? Ainda mais para o lugar onde ele tem mais autoridade e pode fazer o que bem quiser! E se ele estivesse assistindo esse meu sonho realista? E se ele também pudesse ler mentes? E se ele estiver bravo comigo porque pode estar pensando que fui capturada porque em algum momento fingi ser sua irmã para alguém? E se ele chamou a Morte para decidir meu destino? E se ele me trancar nesse lugar? E se fizer de mim sua prisioneira?

Eram tantos E se's que a mente de Isabella começava a girar com tantas perguntas e caminhos nos quais aquele momento poderia a levar. Ela lançou um olhar duvidoso para o Sonho e não voltou para Lucienne, apenas o encarou e segurou aquela intensidade como pôde.

━ Quem é você, Isabelle?

Por que esse nome parece fazer parte dos pecados capitais quando é pronunciando por ele dessa forma? Ela franziu a testa e crispou os lábios. De imediato reteu seus próprios pensamentos para focar no 'agora'.

━ Você é o Lorde dos Sonhos, suponho que deva conhecer todos que sonham. ━ Semicerrou os olhos para ele. ━ Então deve estar ciente de quem sou. ━ Então finalizou com: ━ Meu nome é Isabella.

E no fundo ela queria que ele tivesse mesmo essa sabedoria de saber quem ela é porque nem mesmo ela sabia. Passou anos evitando seus dons e pensando que era uma aberração e só depois de perder Thalia que ela realmente sentiu o peso da culpa que teria que carregar pois se tivesse controle e sabedoria sobre sua magia poderia ter salvo Thalia da fogueira. Esse foi o estopim para que Isabella corresse atrás de descobrir até onde era seu limite, até onde poderia chegar, e, principalmente, quem de fato ela era.

Morpheus apenas inclinou a cabeça. Não gostou da resposta porque não era aquelas palavras que estava esperando receber.

━ Sei de todos aqueles que entram em meus domínios. ━ Deu um passo a frente. Isabella desviou brevemente de seu rosto para encarar seus pés antes de focar nos olhos dele que nunca a deixava. ━ E pelo o que pude presenciar a muito pouco tempo atrás você não precisa dos meus Sonhos e muito menos do Sonhar para adormecer e ter um bom sono.

Lucienne puxou o ar, inflando o peito e soltando lentamente. Sentia-se aflita ali, como se estivesse espremida entre duas paredes que lentamente estavam se fechando em direção uma a outra.

━ Como não! ━ Exaltou-se, jogando as pernas para fora do colchão e pulou, finalmente ficando em pé.

Uma tontura a atingiu. Isabella levou uma das mãos à cabeça e tropeçou para frente, a mão livre tateando o ar em busca de apoio e a visão ficando gradativamente embaçada. Morpheus deu passos para chegar até Isabella, mas ela havia saltado justamente para o mais longe possível dele, para o lado oposto, e nesse caso foi Lucienne quem chegou muito antes de Morpheus.

Ele estancou seus passos, as mãos soltas ao lado de seu corpo e sua compostura autoritária e séria perdida por alguns minutos enquanto observava Lucienne guiar Isabella de volta a cama.

━ Por favor, se sente. Você deve ter batido a cabeça ou algo do tipo para ter desmaiado. Seu cérebro ainda não deve estar totalmente desperto e é claro que depois de pular desse jeito ficaria zonza. É muito esforço para quem acabou de acordar. ━ Isabella reconheceu aquilo como uma repreensão vinda da morena.

━ Obrigada. ━ Murmurou apertando de leve a mão de Lucienne antes de soltar e trazer para afundar a palma aberta no colchão fofo.

Isabella se preocupou apenas em tirar alguns fios do rosto com a outra mão e respirar fundo, soltando o ar e refazendo o mesmo processo. Não olhou para Morpheus e nem ousou em pensar nessa hipótese.

━ Quem pensa que é para alterar sua voz á mim? ━ Sibilou ele, retomando sua compostura anterior o mais rápido que pôde antes que alguém notasse.

Lucienne soltou um suspiro e virou o rosto para seu mestre.

━ Milorde, ela precisa de descanso agora. Alterar os ânimos só dificultará tudo. ━ Nem esperou a fuzilada que ele lhe lançaria. Logo já estava com sua atenção em Isabella. ━ Vou sair para buscar algo para você comer. ━ Então inclinou o rosto, o virando o pouco na direção de Morpheus. ━ Para vocês dois.

Lucienne endireitou sua postura e os olhou mais uma vez como se estivesse se certificando se sua ideia era realmente boa, mas sabia que alguma hora teria que deixar aqueles dois sozinhos, então a única coisa que poderia fazer era ter esperanças de que nada de tão ruim saísse daquilo.













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