|16| 𝙉𝙤𝙫𝙤𝙨 𝘾𝙤𝙢𝙚ç𝙤𝙨, 𝙈𝙚𝙨𝙢𝙤𝙨 𝙀𝙧𝙧𝙤𝙨
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Com a morte do pai, Alex ficou perdido. Apesar de ter o gênio e o caráter maldoso, Roderick era seu pai e Alex apesar de tudo sempre esteve ao lado dele. O garoto se sentia culpado pois enquanto seu pai sofria torturas intermináveis, ele flertava com o jardineiro embora fosse um tanto tímido.
Como poderia adivinhar que Willian surgiria aqui do nada? Era o que Paul lhe dizia, segurando sua mão. O tempo havia mudado, uma tempestade assolou aquele solo, e ambos estavam molhados porém protegidos daquelas gotas violentas.
━ Eu não sei muito sobre o seu relacionamento com seu pai, ━ Paul prosseguiu, estava ganhando mais uma dose de coragem depois de receber um olhar breve e um apertar de mão de Alex - um aperto carinhoso. ━ mas não parecia ser muito saudável pelo pouco que pude ver.
Diante da eminente opinião Alex encolheu seus ombros, abaixando o rosto. Paul puxou o ar, umedecendo os lábios.
━ Porém nada muda o fato de que ele era seu pai e que com certeza qualquer um ficaria se sentindo culpado estando no seu lugar. ━ Abriu um pequeno sorriso.
Alex estava receoso, mas virou a cabeça para olhar para o rapaz sentado ao seu lado, os olhos implorando por ajuda e carinho.
━ Talvez... Mesmo que eu não tivesse culpa, o pagamento viria mais cedo ou mais tarde. ━ Sua voz soara trêmula, um poço de tristeza.
Paul não compreendeu de início, franziu o cenho e não moveu sua mão de Alex. Contudo ele era inteligente, enquanto todos começavam a se virar contra Roderick e dizer que ele era uma fraude, Paul sabia que tinha alguma coisa acontecendo. Seu lugar sempre foi no jardim, nunca pisou para dentro da casa dos Burgess nem para beber água - tinha que parar rente a porta dos fundos e pedir a uma das empregadas ou beber da torneira que há do lado de fora.
━ Meu pai fez coisas horríveis, Paul. ━ Os olhos lacrimejaram. ━ E ele deixou tudo para que eu carregasse esse peso. Em algum momento ele teria uma punição, não?
Paul elevou as sobrancelhas e pendeu a cabeça um pouco para baixo.
━ Está se referindo aos demônios trancados dentro de sua casa?
Alex tomou um tempo o olhando, se sentia vazio e estranhamente leve por não ter que receber xingamentos todo santo dia, mas também sentia somente medo porque seu pai havia partido e o deixado com duas criaturas que ele não tinha certeza se podia soltar.
━ Sim. ━ Desviou os olhos. Se recusava a deixar que ele visse as lágrimas que cairiam. ━ Eu também fiz coisas horríveis com eles. Talvez piores que meu pai. ━ Apertou as pálpebras, lamentando.
Paul apertou os lábios e deslizou seu polegar pela testa da mão de Alex tentando passar conforto e companheirismo. No fundo ele sabia que tinha algo de estranho com aquela casa, mas agora ter a confissão de Alex o deixou a beira de um pesadelo.
━ E o que pretende fazer agora? ━ Indagou. ━ Quero dizer, o ódio que eles tem deve estar todo destinado ao seu pai, não a você.
Alex negou com a cabeça.
━ Eles me odeiam, talvez mais.
━ E como pode ter certeza? ━ Arqueou uma sobrancelha. ━ Eles disseram isso?
Alex sentiu a estranha vontade de soltar uma risada, o que era pura irônia para o momento atual no que estava passando.
A casa estava cheia de policiais que temiam a existência de demônios ali dentro, paramédicos e carros de ambulância e viaturas. Logo iriam embora e ele teria que solicitar a cremação do corpo de seu pai e se preparar tanto para limpar o banho de sangue que o escritório tomou quanto para receber tudo que era de Roderick uma vez que ele é filho legítimo tendo o mesmo grau sanguíneo - e Roderick estava confiante demais que conseguiria sua juventude e imortalidade eterna para ter que preparar um testamento.
━ É mais fácil o céu cair do que eles abrirem a boca para falar alguma coisa. ━ Devolveu um rápido olhar para o moreno. ━ Acredite em mim.
━ São mudos?
Paul estava estagnado. Poderia um demônio ser mudo? Ou ao menos existir um demônio mudo? Ele se perguntava.
━ Mudos? ━ Pela primeira vez Alex se sentiu um pouco mais confortável - claro que o carinho que o polegar de Paul fazia tinha crédito nisso. ━ Não. ━ Balançou a cabeça. ━ Tenho certeza de que sabem falar.
Paul abriu um sorriso ladino.
━ São surdos, então?
Alex riu, as lágrimas escorrendo por suas bochechas.
━ Espero que não.
━ E você vai solta-los?
A tensão começou a voltar e os ombros de Alex ficaram rígidos. Ele desviou os olhos para um lugar além da chuva, um caminho que no passado ele havia trilhado sozinho carregando uma sacola amarrada com um animal morto dentro. Seus olhos entristeceram com a lembrança.
━ Eles vão querer me matar. ━ Somente isso saiu de seus lábios. Foi automático.
Por curiosidade Paul seguiu seu olhar, mas ele não compartilhava da mesma lembrança, então voltou-se para ele.
━ Talvez se você pedisse...
━ Meu pai fez tantos e tantos pedidos a cada um deles todo santo dia e eles não falaram nada e muito menos deram sinais de discordância ou concordância. ━ Rebateu, cortando as palavras de Paul.
━ Seja insistente. ━ O moreno apertou sua mão.
━ O quê? Como meu pai foi? ━ Virou o rosto de súbito para Paul, os olhos meio arregalados e exasperados. ━ Sempre pedindo por juventude, por imortalidade, por riquezas infinitas, por glória, e... ━ Seu olhar decaiu, a frase perpetuando no ar como fumaça e sumindo sem ser terminada.
Paul sentiu que havia tocado em uma ferida e não era seu propósito fazer Alex ficar acuado.
━ Desculpe, eu não queria ser invasivo.
Ele ia afastar sua mão, mas prevendo o frio que o embalaria, Alex não permitiu. Ele enlaçou seus dedos nos de Paul e encarou suas mãos juntas. Veio a mente que se seu pai visse algo como isso com certeza seria escorraçado junto de Paul depois de receber um castigo digno de uma ou mais lindas cicatrizes tanto fisicamente quanto mentalmente.
━ Não são demônios, são mais que isso. ━ Fez uma pausa para refletir sobre o que falaria a seguir e se poderia realmente falar.
Paul ficou quieto, decidiu não atrapalhar a linha de raciocínio de Alex mas não podia negar que sentia seu corpo ferver de curiosidade. Agora com Roderick morto, Alex podia fazer as coisas da sua própria forma, poderia contar para quem quisesse e Paul não era tão novo ali, fazia alguns anos desde sua vinda.
Além disso sabia o suficiente sobre Paul. Pais disquitados quando ele ainda era criança, o pai tirou tudo de sua mãe e ela entrou nas dogras tendo de ser internada em uma clínica onde está até hoje, já seu pai morreu após tirar a própria vida. Embora órfão, Paul não foi para um orfanato, ficou trabalhando de casa em casa, sendo um ótimo funcionário. Um lugar para dormir, roupas, e comida era o suficiente como pagamento por seus serviços, e foi no ápice de sua adolescência que ele chegou até a residência dos Burgess trazendo um currículo vasto com todas as assinaturas de seus antigos chefes para quem trabalhou.
Devo pontuar que Alex, depois de bater o olhar pela primeira vez em Paul, leu todos os currículos que seu pai deixou guardado no escritório - mas que hoje foram perdidos depois de um certo incêndio....
━ Há um no porão, ━ Começou Alex, convencido a dizer tudo. ━ não é um demônio, é um sonho. Literalmente um sonho assustador. Todos nós chamamos ele de Sonho e pelo o que pude entender, ele é um perpétuo. Um ser imortal e poderoso que tem outros irmãos. ━ Mordeu o lábio, os olhos sempre presos nos dedos entrelaçados. ━ E no sótão está sua irmã, a Morte.
Paul piscou, um tanto atordoado com a simples informação que lhe foi atribuída.
━ A Morte? Tipo, a Morte... Morte, mesmo?
Alex apenas se limitou a assentir.
━ Meu pai fez um ritual para evocar a Morte, mas algo deu muito errado e o Sonho veio em seu lugar. Um dia depois do ritual, um homem apareceu aqui em casa nos dando instruções sobre como manter o Sonho muito bem preso. ━ Umedeceu os lábios. ━ Eu não sei quais eram seus propósitos com aquela enchente de informações, mas meu pai ordenou que tudo fosse feito. Ele explicou que o Sonho é um ser poderoso, que ele tinha irmãos, e que uma vez solto ele poderia tentar algo contra todos nós. Isso foi o suficiente para que seus conselhos fossem seguidos a risca: construir uma esfera de vidro para que com a ajuda do círculo de amarração desenhado no chão não houvesse maneiras para que o Sonho manifestasse seus poderes e todos os vigias deveriam estar acordados, ninguém podia dormir diante do Sonho ou ele escaparia com facilidade. E também tinha a Jessamy. O Sonho sempre está em companhia de um corvo, e seu nome era Jessamy. De acordo com esse homem, o corvo poderia tentar tirar o Sonho de dentro da esfera e liberta-lo. E ele estava certo. ━ As pálpebras de Alex se fecharam e deixou um suspiro carregado de pesar escapar por seus lábios entreabertos. ━ Ela tentou fazer uma distração, colocou fogo no escritório e chegou até o porão que na época era ocupado pelos dois perpétuos, e.... ━ Fez uma breve pausa, engolindo em seco. ━ Fui eu quem a matei antes que o vidro rachasse.
A mente de Paul absorvia tudo aquilo como se na realidade estivesse ouvindo uma nova história de fantasia. Era surreal que um corvo seria tão esperto, era surreal que um aspecto da vida humana existisse de tal forma que pudesse ser visto e tocado, era surreal que a Morte de fato existisse não somente como um conceito. Tudo o que Alex dizia parecia ser pura fantasia e imaginação de um escritor de mente fértil que tem dificuldade de passar suas idéias para o papel.
━ Bom... Era um corvo inteligente... ━ Paul gaguejou, tropeçando nas palavras. Sua mão livre foi levada até sua nuca, onde coçou ainda meio aéreo diante de tudo. ━ ... Mas acima de tudo era um animal. ━ Ergueu os ombros, tentava ter os pés no chão. ━ Imagine! Quantos caçadores por esportes existem nos dias de hoje!? Quantos corvos de diversos tamanhos já foram mortos por esses mesmos caçadores? Você basicamente não foi o único que matou uma ave e não será o último.
Alex até poderia levar adiante aquela hipótese, mas nem tentou. Apenas levantou os olhos para Paul como se o que tivesse ouvido fosse um disparate.
━ Você não entendeu. ━ Ergueu as sobrancelhas. ━ Jessamy era especial. Ela sempre esteve ao lado do Sonho, era tão fiel que ficou por anos a espreita para enfim solta-lo e vê-lo em liberdade. Depois de tanto tempo apenas recebendo o ódio que transpassava o olhar dele e de sua feição seriamente neutra e ameaçadora, ele chorou. ━ Engoliu em seco, sentindo seu corpo automaticamente se virar para Paul e suas mãos elevaram, se agitando no ar enquanto prosseguia: ━ Ele chorou quando ela morreu. Eu a matei. Ele me encarou com tanta intensidade que se não tivesse preso certamente eu teria virado pó. Era isso que eu era para ele, um mero rastro de pó, um nada, e se antes ele tivesse alguma opinião ou pensamento bom sobre mim, agora não tem mais.
Paul já estava encabulado e pensando em qual frase motivadora e confortadora diria a seguir quando Alex acrescentou:
━ E depois de matar a fiel Jessamy, atirei duas vezes na irmã dele. ━ Suas mãos caíram e seus olhos se perderam nas lembranças.
Dessa vez os olhos de Paul quase saltaram de seu rosto.
━ A Morte! Você atirou na Morte?!
Era visível seu desespero embora estivesse clamufado por uma voz baixa e acolhedora.
━ Ela estava tentando ressucitar Jessamy e eu me sentia nervoso demais, como se estivesse sobre pressão. Eu... ━ Encolheu os ombros e levantou as mãos, apontando para si mesmo. O olhar se movendo exasperado a procura da atenção de Paul. ━ Eu me deixei ser guiado pelo medo do momento. Não tive culpa apesar de ter sido meu dedo que acionou o gatilho.
━ Duas vezes. ━ Paul o lembrou.
Alex grunhiu, revirando os olhos.
━ Está bem... ━ Paul cobriu seu nariz, boca e queixo com suas mãos unidas como se estivesse prestes a fazer uma reza - ou oração, como preferirem. ━ Então... Você pensa que se solta-los eles irão tentar algo contra você por você ter matado o corvo e por ter atirado na Morte.
━ E por todas as vezes que eu poderia ter tido a chance de solta-los do cativeiro. ━ Encolheu ainda mais os ombros.
Paul o encarou, as mãos agora caídas sobre as coxas - a esse ponto ele também estava virado de lado, frente a frente para Alex.
━ Então eu também tenho que ter receio.
Alex franziu o cenho e o encarou, não entendendo.
━ Como?
Paul deu de ombros tentando demonstrar que não era grande coisa, mas no fundo sentia um rastro daquilo que Alex sempre sentiu desde o momento que o Sonho foi invocado erroneamente no lugar de sua irmã.
━ Eu também pudia ter feito algo. Ter entrado na casa, tentado saber mais, tentado se intrometer, e por fim tentado solta-los no fim das contas.
Imaginar Paul sendo morto ou castigado por um dos perpétuos ou pelos dois era uma visão horripilante e culposa demais. Ele gostava de Paul, era um sentimento puro que sempre esteve lá mas o empecilho que o distanciava do moreno era justamente seu pai. Porém, depois da demonstração de afeto e compreensão vindas de Paul, Alex sentia que poderia engatar em algum relacionamento ou no mínimo tentar descobrir juntos se o que sentiam durariam até o fim de tudo. Partia seu coração saber que Paul poderia sofrer pelos erros de seu pai - que apesar de morto não deixa de dar mais e mais problemas.
━ Não, você não tem culpa. ━ Alex protestou, elevando um pouco a voz e se deixando levar pelo desespero do momento.
━ Todos que sabiam que tinha algo de muito errado dentro dessa casa ━ Apontou para a residência. ━ são culpados. Sim, foi Roderick quem invocou, mas todos nós tínhamos, mesmo que sendo mínimo, as chances de ter conseguido solta-los, mas ao invés disso ou seguimos o fluxo que Roderick nos obrigava ou fechamos nossos olhos nos fingindo de cegos e surdos para sermos mesquinhos ao se importar com nossas próprias vidas isoladas do mundo afora e daqueles que estão ao nosso redor.
Paul descansou sua mão no ombro de Alex, lançou-lhe um olhar gentil embora tenha preocupação em meio a eles. Ele sussurrou:
━ Todos somos culpados e cúmplices do sofrimento deles, Alex.
Alex sentiu como se tivesse levado um banho de água fria, ou melhor, de uma realidade dura demais que ele não queria ver e sempre fechava os olhos.
━ Não quero que venham atrás de você.
Paul abriu um sorriso pequeno.
━ E nem eu de você.
━ Então.... ━ Suspirou. ━ Mantenho eles por mais tempo?
Paul mordeu o interior da bochecha, pensativo.
━ Roderick pedia coisas impossíveis, ou nem tanto, para eles e nem dava a certeza de que seriam soltos depois. ━ Pausou, ainda refletindo. ━ Podemos fazer uma troca. ━ Disparou sua atenção para os olhos de Alex. ━ E se pedirmos que eles não façam mal algum a nós e em troca os libertamos?
A ponte do nariz de Alex franziu. Aquela ideia não era muito inovadora, era o mesmo que seu pai fazia, só trocava os pedidos que iriam ser feitos.
━ Tem um plano melhor? ━ Os ombros de Paul caíram acompanhados de um suspiro.
Os olhos de Alex estreitaram e ele realmente tentou pensar em algo, até o Grimório veio em sua mente mas Ethel o havia usurpado no passado, então não tinha nada melhor para propor.
━ Não. ━ Negou, cabisbaixo.
Paul tomou impulso e se levantou, estendendo uma mão para Alex - que o encarou no mesmo instante que notou seu súbito movimento. Os olhos dele se alternaram entre o rosto de Paul e sua mão.
━ O que está fazendo?
━ Indo junto com você para dar um fim a isso tudo. ━ Ergueu as sobrancelhas como se aquilo fosse o óbvio.
Alex ficou tenso.
━ Quanto mais cedo tudo isso acabar e for resolvido, mais cedo estaremos livres de todo esse peso e, quem sabe, felizes... ━ Um sorriso ladino e meio tímido surgiu. ━ Juntos.
Aquilo pegou Alex de surpresa e desprevenido. Não esperava ter uma confirmação tão cedo, mesmo que diretamente, sobre se seu sentimento por ele era recíproco ou tudo o que esteve fazendo até então era porque provavelmente era seu chefe agora ou porque estava com pena do estado no qual se encontrava.
Mais uma vez encarou a mão de Paul e, embora ainda houvesse relutância, ele se agarrou em uma visão feliz que poderia ter com Paul no futuro. Assim uniu suas mãos e levantou, parando com o rosto a centímetros de Paul com o sorriso mais encorajador e convincente que conseguia dar.
Apesar do forte som das gotas da chuva, o caminho deles foi feito na base de um bom silêncio, Alex se sentia confortável e protegido ao lado de Paul, e não era preciso dizer que Paul se sentia praticamente da mesma forma com Alex. Mas, quando chegou a hora de mostrar a verdade a Paul, Alex decidiu que primeiro deveriam ir até o sótão pois - de acordo com ele - o olhar da Morte não era tão mortal quanto o olhar do Sonho estava nesses últimos anos.
Paul seguiu, a mão sempre unida a de Alex, o coração batendo como tambor dentro do peito e sua mente criava várias ilusões de como a Morte seria: alta, baixa, magra, gorda, careca, com cabelo longo, curto, ranzinza, alegre, pele clara, talvez pele escura ou simplesmente com um natural bronzeado. Eram tantas as opções que ele sentia que podia colapsar a qualquer momento de tanto nervosismo.
E Isabella esteve esperando. Ela ouviu todo o diálogo, feriu seus sentimentos ao ouvir quando Paul deu um palpite totalmente erróneo sobre Jessamy, sobre ela ser como os demais corvos e que era normal corvos serem mortos. Ela definitivamente odiou essa parte do diálogo, mas tinha que reconhecer que naquele momento de fragilidade, um sentimento havia saído da escuridão e tinha chances de crescer.
Se Alex merecia isso? Não.
━ Preparado? ━ Alex indagou, segurando a maçaneta da porta com a mão livre e se virando para Paul.
Apesar de seu evidente nervosismo, ele conseguiu falar sem embolar as palavras:
━ E quem é que está preparado para ter um encontro com a Morte? ━ Coçou a palma livre de sua mão suada.
Alex sabia a resposta e embora também estivesse uma pilha de nervos, sorriu. Quando a porta foi aberta os dois vigias logo ficaram de pé e prontamente deram as condolências para Alex, afirmando sentirem muito pela recente perda e que como prova disso limpariam a biblioteca por ele.
━ Não é preciso. ━ Disse ele, dispensando a solidariedade. Não queria a pena e compaixão de ninguém.
Eles assentiram e trocaram um olhar confuso; não sabiam se Alex seguiria o caminho do pai ou não.
━ Oh. Meu. Deus. ━ Paul falou pausadamente e pela primeira vez todas as atenções foram para ele, mas ele mal percebeu.
Observava Isabella deitada de costas no chão, virada de lado para ficar de frente para a porta, e ainda permanecia encolhida e os olhos sempre encarando o desenho no chão.
━ Quem.... O jardinei... ━ Alex cortou o homem.
━ Ele pode entrar. Já sabe de tudo e não vai fazer nada contra eles ou nós. ━ Garantiu.
Apesar de não estarem muito convencidos disso, sentiram a firmeza no tom de Alex e resolveram dar um voto de confiança. Contudo permaneceram em pé e a postos de olho em tudo.
━ Alex... ━ Paul resfolegou. ━ Ela... ━ Seus olhos tinham um tipo de brilho quando voltaram-se para Alex. ━ Ela é linda. ━ Sussurrou, encantado.
Não, ninguém esperava por aquela resposta e não tinha como saber quais eram suas primeiras palavras, e até impressionou Isabella, porém ela não moveu os olhos.
━ Eu disse. ━ A mulher cutucou seu colega de turno parado ao lado, sussurrando somente para que ele ouvisse.
Ele fez uma careta, dizia que ela era pálida demais para ser bonita. Parecia mais um fantasma e era realmente digna de ser a Morte uma vez que era branca como um morto e mortos não faziam seu tipo.
Alex sorriu para Paul e parou ao seu lado.
━ Acho que agora ela pode ser devidamente coberta. ━ Lançou um olhar ao homem, que logo entendeu o que ele quis dizer e se prontificou a sair do sótão em busca de uma capa para cobrir a nudez de Isabella.
Ao menos uma notícia boa, pensou ela. Sentia que suas articulações estavam enferrujadas depois de tanto tempo sem mover.
━ Bom... ━ Paul tentou recobrar a consciência para recordar o que os fizeram vir até ali. ━ Eu conto ou você conta?
Alex assentiu, dando um passo a frente. Era estranho para Paul estar ali, sentia algo estranho no ar, seus sentimentos eram confusos e talvez sua mente se perdia em um labirinto infinito, mas tentava manter a atenção.
━ Morte, eu.... Roderick Burgess faleceu essa manhã. Como o previsto, agora sou eu quem está no comando de tudo e eu prometo soltar você se prometer, ━ Puxou o ar, fazendo uma sutil pausa. ━ se der a sua palavra de que não fará nada contra mim e Paul. Contra nós.
Isabella ouvia, deitada no chão, mas também ouvia estando flutuando no porão ao lado do globo de vidro onde o Sonho permanecia inalterável. Ela não disse nada a eles, e Paul continuava a pedir para que Alex insistisse, para que mostrasse que ela poderia sim confiar nele, mas Isabella não nutria mais nada que envolvesse Alex. Era somente o nada, como se ele não tivesse a mínima importância, como se ele de fato fosse um nada.
E quando eles seguiram para o porão - e foi impossível para Paul encarar o Sonho nos olhos e não sentir seu corpo arrepiar -, fizeram o mesmo pedido. Alex falou a mesma coisa, garantiu que soltaria ele e sua irmã, mas o Sonho permaneceu inabalável.
Diferente de antes, no sótão, Paul ficou a uma distância consideravelmente boa do globo de vidro pois não sentia que estaria seguro tão perto dele e muito menos olhando em seus olhos. Enquanto a Morte é linda, o Sonho é ameaçador, pensou ele engolindo em seco e as mãos suando frio.
Mais uma vez Isabella se pegou querendo saber o que ele estava pensando. Porém a única certeza que tinha naquele momento era de que uma nova éra com um novo começo havia iniciado, porém os erros....
Eles eram os mesmos, só eram demonstrados e tratados de maneiras e visões diferentes.
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