|04| 𝙋𝙧𝙤𝙢𝙚𝙩𝙚𝙪
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Boa Leitura ♡
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Era irritante.
Magus era irritante e persistente.
Dia após dia no mesmo horário vinha até ela pedir pela vida de seu filho morto e saia sem obter sequer um olhar. A cada dia ele ficava mais e mais frustrado, beirando a raiva.
E Isabella apenas se ocupou em ouvir.
Quando ele entrava na sala, ela ficava de olhos fechados ou encarava as linhas desenhadas em sua volta - linhas essas que ela não conseguia tocar para desmanchar, tinha que ser alguém de fora.
O mais incômodo de tudo foi ficar trancada sabendo que o tempo estava passando e não poder ter ao menos o vislumbre de absolutamente nada que não fosse aquele chão frio, as velas, as paredes, e as tábuas pregadas contra a janela. Nem mesmo os sons dos pássaros e tempestades chegavam aos seus ouvidos - o que a fez constatar que a sala onde estava sendo mantida contra vontade era a prova de sons tanto vindo de dentro quanto de fora.
E havia vigias. Eram como soldados, ou melhor, soldadas. Pensando que assim poderia ganhar algo um ponto, Magus contratou duas mulheres para ficarem sentadas atrás de uma mesa do outro lado da sala e um tanto distantes. Mas nada disso amenizava a humilhação e Isabella não se importava se eram homens ou mulheres seus carrascos a mando do carcereiro.
Entendam um ponto importante nesse momento... Isabella Santoni não tem vergonha de seu corpo, ela nasceu em um tempo no qual a única coisa que importa em uma mulher era se ela soubesse como cuidar da casa, do marido, não ser inteligente, e ser fértil para gerar futuros herdeiros, então do que valia sentir vergonha de seu próprio corpo? Porém, aquilo não significava que ela iria deitar as costas naquele chão frio, esticar as pernas e abrir os braços deixando que sua nudez fosse vista abertamente por olhares alheios. Aquilo não era nem de longe vergonha, era o restante de seu orgulho e dignidade se remexendo e ganhando mais espaço. Portanto nos próximos dias que vieram ela continuou na mesma posição: deitada de lado com metade do rosto no chão, os joelhos dobrados e encolhidos contra o estômago, as coxas juntas, os cotovelos igualmente dobrados e suas mãos abaixo de seu queixo enquanto seus braços grudados um no outro fazia o trabalho de tapar a visão de seus seios. Ficar naquela mesma posição por muito tempo fazia com que ela sentisse que qualquer mínimo movimento faria suas articulações estalarem, mas ela não cogitava em se humilhar ainda mais.
Ser imortal significa que você não irá partir desse mundo a qualquer momento, mas também significa que você poderá estar suscetível a qualquer tipo de dor.
Imortalidade pode ser, em alguns pontos de vista, um bom presente, porém nesse quisito se coloca o mito de Prometeu: um Titã imortal que apenas porque deu ao ser humano o fogo foi castigado, teria que passar o resto de sua vida imortal acorrentado contra a rocha de uma montanha onde uma enorme águia pousaria todas as manhãs para devorar sua carne até conseguir ter seu fígado, então partiria para longe, porém por ser imortal seu corpo se regeneraria e no dia seguinte a águia estaria ali para faze-lo passar pelo mesmo tipo descomunal de dor.
━ Ei! ━ A voz de uma das mulheres soou, sussurrada porém ainda audível em meio aquele silêncio profundo.
━ Hmm?
O som de cadeira rangendo chegou aos ouvidos de Isabella, que estava de olhos fechados e seu peito intacto.
━ Acha que ela....
Não ouve mais nada, até que a outra bufou.
━ Claro que não. ━ Havia desdém em seu tom. ━ Se ela é a própria Morte, então não pode morrer.
A mulher, Lottie, era baixa porém forte, de cabelos loiros chamuscado e pele bronzeada. E Susan, era alta, corpo de atleta, cabelo ondulado de coloração castanho escuro. Isabella só sabia o momento no qual a noite cobria o céu quando Lottie e Susan trocavam seus turnos com outras duas mulheres, Cristal e Loren, para voltarem somente na manhã do dia seguinte.
━ Mas ela não parece estar respirando. ━ Lottie esticou o pescoço para tentar ter visão mais ampla do "ser" encolhido no chão. ━ Devo chamar Magus?
Susan abaixou a revista de moda na qual lia com certa rapidez e fitou a parceira, as sobrancelhas franzidas.
━ Lógico que não, idiota. ━ Rebateu prontamente. ━ Não perturbe o velho com essas coisas insignificantes se quer receber o salário no final de semana. ━ Ajeitou suas costas no encosto da cadeira de madeira e virou o rosto para a revista.
Lottie espiou Susan pelo canto do olho e torceu o nariz.
━ Não sai da minha mente que ela possa estar desconfortável.
Susan encheu os pulmões de ar e suspirou, os esvaziando, contudo seus olhos permaneceram na página da revista.
━ Desde o dia que pisamos nessa sala ela permanece imóvel e calada. ━ Lottie inclinou o corpo para frente e cruzou os braços sobre a pequena mesa quadrada.
━ E você quer o quê? Que vamos até ela e a obrigue a ficar de pernas e braços abertos? ━ Retrucou, revirando os olhos.
O rosto rechonchudo de Lottie se contorceu em uma careta que transparecia seu desagrado.
━ Tenho certeza que ela tentaria fazer algo no instante que meu braço passar por aquele escudo invisível e estiver ao alcance dela. ━ Sua pele arrepiou e seu corpo estremeceu com a nítida imagem de seu braço decepado nas mãos da Morte enquanto seu corpo ensanguentado está se arrastando para longe. ━ Deus me livre chegar perto dela.
Susan nada disse, apenas suspirou pesadamente e apertou os lábios em uma linha reta.
Isabella continuou de olhos fechados, havia ouvido a conversa das duas e não se importava com aquele diálogo porque, somente agora, dias depois de seu rapto, que sua cabeça parou de latejar com pontadas fortes. Claro que ainda tinham algumas ali e aqui, mas eram tão fracas que facilmente poderiam ser ignoradas e com certeza com o passar de mais dias sua cabeça estaria livre daquele estorvo.
Entretanto, agora que podia pensar sem mais infortúnios e incómodos desnecessários, ela conseguiu expandir sua mente. Não ao ponto de realizar uma possessão ou criar ilusões, isso exigia muito de si e aquelas algemas pareciam saber quando ela se esforçava para algo pois queimavam toda vez que ela tentava.
Então Isabella passou a ser somente uma espectadora.
Ela era como um piolho, pulando de cabeça em cabeça e tendo um ponto de vista diferente cada vez que aterrissava em uma. Porém no caso dela, era pular de mente em mente, ver através de outros olhos, saber, nutrir, e buscar por mais informações pois as que tinha eram escassas.
Claro que, ignorando Lottie e Susan - que permaneciam no mesmo diálogo entediante -, a primeira "vítima" de Isabella foi a de seu raptor insistente que não sabe lidar com o luto e busca maneiras nada aprováveis de burlar a morte.
Ali dentro, ouvindo e vendo algumas lembranças que estavam bem vivas dentro da mente dele, ela descobriu que, na realidade, o nome dele era Roderick Burgess. Somente adotou o nome 'Magus' porque pensa ser um nome que o denomina como bruxo e intimida os outros. Descobriu o que sempre soube desde o primeiro momento que ele pisou naquela sala, não se importava com Alex. Tinha orgulho de Randall e o considera como filho único. Não é casado. Tem uma amante, Ethel Cripps. Está em pose de objetos importantes que garantem sua fortuna: um rubi vermelho, um saco de couro com areia, e um... Capacete?
Ela só sabia que aquilo era estranho e feio.
Talvez seja um modelo mais elaborado de capacete, constatou deixando aquilo de lado e partindo em busca de memórias frescas.
Encontrou memórias que quase a fizeram arquejar por ter tido o desprazer de ver uma cena como aquela, lhe dando nojo, e haviam aquelas que ela tinha sua atenção ganha.
Uma delas foi quando, junto de um outro homem, se apossou de um livro, e em seguida fez um ritual no porão de sua casa. Isabella viu algumas páginas do livro pela mente dele enquanto ele folheava em busca do feitiço correto. Seu desejo era invocar a Morte, porém o ser que surgiu daquele redemoinho - apesar de ser quase pálido como um morto -, era outro.
Sonho.
O Sonho dos Perpétuos citado por Alex.
O rubi, o saco, e o capacete eram dele. Aliás, pouco tempo depois ela viu nas memórias de Roderick um homem muito bem vestido que usava óculos e tinha uma pose confiante demais, e pelas palavras dele soube muito mais: Destino, Desejo, e Destruição, outros três perpétuos que eram irmãos do Sonho e da Morte - ou, Devaneio e Desencarnação.
Soube também que aqueles três objetos faziam parte do Sonho, o rubi permitia moldar a realidade em volta, a areia dentro da algebeira poderia lhe conduzir para qualquer lugar desejável ou fazer qualquer um dormir em instantes, e o elmo permitia uma quase onipresença - poder ver acontecimentos em seu exato momento e encontrar a localização de objetos. Ainda dentro da mente de Roderick, ela descobriu que enquanto o Sonho estava preso no porão dentro de uma esfera de vidro com as mesmas escrituras de amarração em torno, ela estava no sótão, muito acima dele.
Claro que, curiosa, ela aproveitou o momento e ao invés de procurar com mais nitidez a faceta do Sonho, ela esperou pacientemente o momento no qual Roderick se levanta de sua cadeira e saia detrás da mesa de seu escritório, seguindo para fora e entrando em um corredor e abrindo a porta logo ao lado. Assistiu o percurso que ele fez, visualizou a esfera com o ser incapacitado ali dentro, e quando Roderick se aproximou passando por cima de uma abertura no chão onde havia água, ela enxergou as íris azuis como gelo fuzilar aquele que o mantêm preso.
Estando dentro da mente de Roderick, ela notou que ele não sentia nada com aquele olhar digno de perfurar crânios em sua direção. Na realidade, parecia estar acostumado com aquele olhar, como se o visse todos os dias - e Isabella não duvidava disso.
Tinha a pele muito clara - leitosa e cremosa, ela constataria -, cabelos escuros aparentemente sedosos, olhos azuis que passavam uma intensidade descomunal - e embora esteja longe o suficiente dele, sentiu seu corpo se arrepiar -, e, assim como ela, ele estava nu e protegia sua parte íntima parecendo querer preservar o resquício de integridade e orgulho que lhe sobrou após seu rapto á três anos atrás.
━ Tal irmão, tal irmã. Todos da mesma familia imprestável! ━ Burgess cuspia as palavras como uma cobra destila veneno. ━ Ela se recusa a dizer algo a mim, e pior! Mal abre os olhos para me ver. ━ Grunhiu, frustrado.
Roderick desviava a atenção algumas vezes para algum canto, aparentemente nervoso e com raiva. Isabella ouvia xingamentos sendo direcionados á ela dentro da mente dele, citações repugnantes sobre seu corpo desnudo, e imagens desaprovaveis. Portanto deixou a mente dele e pulou para outra, a de um vigia, um homem, que parecia estar mais afastado e em pé, porém assistia a tudo em silêncio.
E em silêncio julgava Roderick. Dizia se sair bem melhor que "aquele velho", que poderia fazer a Morte lhe dar o que quisesse pois tinha cérebro para tal. Essa era outra mente que era digna de desaprovação.
Então ela pulou para a terceira e, aparentemente, última.
Aquela era de um homem, de fato. Porém este apenas se importava em receber seu salário e nada mais. Pensava também em férias e nos comprimidos que tomava para não dormir diante do Sonho. Sua mente também estava na mulher, sua vizinha, na qual convidou para um jantar em sei lá onde - Isabella não se importava com esse tipo de detalhe e informação.
Rick era o nome do homem e era naquela mente que ela ficou. Assistiu Roderick conversar com o ser que somente o olhava com desprezo e raiva expressiva em seu olhar apesar da feição estar neutra, porém era perceptível que a cada pronunciar da palavra - ou nome - "Morte", sua raiva se elevava a mais um novo nível.
Como se fosse possível ter níveis de raiva.
Sim, ele parecia e se importava com a irmã, mas era orgulhoso demais para abrir a boca e falar algo que valha a pena, mesmo que seja apenas um piu.
O Burgess passou muito tempo ali, insistindo, optando por contar mentiras, por pronunciar palavras depravadas a fim de ter ao menos uma reação plausível do Sonho, mas era como dar tiros no escuro.
Ali, naquela sala, Isabella ignorou as palavras gritantes dentro da mente de Roderick quando voltou a estar dentro dela e, mais perto, tentou atravessar o escudo invisível no qual impedia o Sonho de manifestar seus poderes. Ao que parece, ela quase conseguiu, e esse quase resultou em suas algemas começando a, lentamente, esquentarem seus pulsos e tornozelos, então voltou para a mente de Roderick.
Ele falava e falava, mal percebeu quando o homem dentro da esfera deu um mínimo franzir de sobrancelhas e estreitou os olhos brevemente para o vidro.
Ele pareceu ter notado a tentativa de invasão.
E de fato notou. Era como uma pedra sendo atirada contra uma rede de elástico. A pedra afundou, porém não ultrapassou, e foi arremessada para longe. Ele sentiu, por poucos segundos, aquela presença que ao mesmo tempo que era estranha, também lhe passava um ar novo e um tanto familiar, como se já tivesse sentido ou visto antes.
Mas Isabella não viu esse mínimo franzir, muito menos o breve estreitar de olhos, pois estava se recuperando da ardência que havia cessado no momento que parou de fazer esforço e os olhos de Roderick não estavam naquele ser enjaulado.
Isabella deixou a mente de Roderick e vagou, buscando uma longa distância e optando por voltar em um outro momento.
Em certo instante encontrou Alex. Ele estava do lado de fora sentado debaixo de uma árvore. Parecia ler um jornal, estava tenso e lançava olhares regulares para a casa grande na propriedade. Isabella aproveitou para ler também. O tópico ainda falava sobre a primeira guerra, mas também dando mais ênfase na doença que generalizou ao redor do mundo: encefalite letargica.
Algo dentro da mente de Isabella estalou, como dois dedos pressionados um contra o outro.
Os pacientes com encefalite letargica eram aqueles que dormiam e não acordavam, aqueles que eram perpétuos sonâmbulos, e aqueles que tinham que ingerir remédios, pílulas, e comprimidos para conseguir descansar a mente, o corpo, e a alma. Se isso tudo teria ligação com o homem preso no porão? Isabella tinha certeza que sim.
Se os irmãos dele são, até onde ela sabe, Destino, Desejo, Morte, e Destruição, seres e aspectos tão importantes para a humanidade e, aparentemente, para o equilíbrio, então Sonho era uma parte essencial para o pilar que constituía a vida. Sua prisão resultou em milhares de seres humanos que sofriam dia após dia, que perdiam o tempo de vida que lhes foram dados porque dormiam contra sua própria vontade, seres humanos que por falta de sonhos se afogavam na escuridão desenvolvendo uma profunda melancolia e retiravam com as próprias mãos suas vidas a fim de encontrar a paz e conforto que tinham quando, três anos atrás, dormiam.
Roderick não era culpado apenas por raptar dois seres - que apesar de ter seu físico humano não agem realmente como um -, ele tinha em suas mãos sangue de inocentes, corpos cadavéricos daqueles que não suportaram ficar sem sonhos, almas em colapso mergulhadas na infinita escuridão enquanto suas mentes estavam inertes, e isso fazia de Roderick Burgess pior do que um assassino. Ele era o monstro que a sociedade no qual vive criou e agora se rebela sem sentir a culpa de todo sofrimento que está causando ao redor do mundo. Não havia remorso, apenas a imagem de Randall vivo em seus braços.
Era horroroso saber disso. Isabella voltou à sua mente, deixou de pular de olhar em olhar, e tomou um tempo a mais para raciocinar.
O pai de Alex era ardiloso, mais orgulhoso do que o comum para um ser humano normal, e ele a tinha presa em seu sótão a prova de sons. Contudo também era uma amador de primeira linha, não usava mais o livro de feitiços e o mantinha guardado, nunca fez ou recitou alguma magia, apenas passou seu tempo gastando saliva e esperando algo em troca que nunca viria.
Embora Isabella não tivesse mais ouvindo Roderick, o Sonho meio que era obrigado a isso.
━ Se ela não fosse a Morte dos perpétuos, estaria a dez palmos da terra ou pior! ━ No porão, Roderick resmungava não dando devida importância se Sonho estava ouvindo. ━ Sabe que pode ter a liberdade quando quiser, mas é tão obstinada em brincar de ficar muda que me deixa no ápice do ódio! Poderia pegar uma faca, ou algum objeto pontiagudo e longo, para perfurar sua pele, faze-la espernear e gritar de dor, se contorcer como da primeira vez que a vi caída naquele beco imundo.
Sua expressão denotava seu cansaço e suas rugas estavam mais visíveis a cada dia. Ele erguia as mãos, as gesticulava no ar, e vez ou outra olhava fixamente por poucos segundos para o Sonho enquanto tagarelava e esparramava toda sua frustração para com a Morte.
Sonho, em seu estado de prisioneiro, tinha a atenção baixa, olhar pensativo, e mente distante. Pouco se importava com a presença e tagarelice de Roderick sobre sua irmã, aquilo começou a se tornar monótono faz um tempo e ele aprendeu a ignorar depois da terceira vez.
Ele estava confuso. Morte era alguém extrovertida, altamente sábia, gostava de conversar, não tinha um nível alto de orgulho, e sua presença era diferente daquela.
Quando soube por meio de um sorriso vitorioso e falas sentenciadas por Roderick que sua irmã também foi feita prisioneira, ele se sentiu tentado e fortemente impulsionado a socar o vidro e parti-lo em pedaços com seus próprios punhos, dirigir as ameaças mais tenebrosas já ditas e mostrar a aquele verme que ele era apenas uma formiguinha em meio aquele universo extenso cheio de vida, porém se deteve no último minuto. Ele, de início, alimentou a hipótese de que poderia se tratar de um blefe, de uma mentira desencabida, contudo ao mesmo tempo sentia algo... Forte.
Uma força invisível, não tocavel, e de extrema extensão que chegava até ele e conseguia ir mais além. Aquele tipo de presença ele já sentiu algumas poucas vezes, porém nunca naquela intensidade. Contudo havia algo que o mantinha aéreo quando se permitia ser embalado por aquela força em raras ocasiões; parecia que havia um traço invisível que lhe era altamente familiar.
Sonho já vasculhou suas memórias e momentos, mas nunca conseguia chegar tão fundo. Tinha eras de vida, existe desde muito antes desse universo nascer, e visitar todas as suas memórias não era algo que se fazia em algumas horinhas.
Era mais difícil do que parece.
E depois de sentir aquela presença, ele duvidava se realmente Roderick prendeu sua irmã. Morte sempre exalava um tipo diferente de força, um que era familiar e que de certa forma acalma os corações desesperados, e ele não havia sentido essa força em nenhum momento.
Se sentia confuso, talvez estivesse sendo tapeado, talvez Roderick fez algum tipo de magia para descontestualizar a presença da Morte, mas isso era somente para os profissionais de alto nível, não para um amador de quinta que teve o desprazer de cruzar com ele.
━ Eu nã...
━ Magus! ━ Sykes passou como um raio pelos portões e parou perto de uma das colunas, atraindo todas as atenções menos do Sonho.
Roderick virou o corpo, o ódio pelo silêncio dos dois perpétuos em sua residência ainda era nítido em sua face carrancuda.
━ O que é? ━ Atirou, grosso e arrogante.
Sykes soltou uma lufada de ar. Parecia ter corrido muito até ali.
━ Tem algo que precisa da sua atenção.
Magus franziu o cenho, estava pronto para retrucar e manda-lo sair quando sua voz travou antes mesmo de ser ouvida. Seus olhos estreitaram.
━ Ela escapou?
Sonho, imperceptívelmente, apertou os nós dos dedos longos e esguios, o olhar ainda baixo e face indecifrável.
━ Não, senhor. ━ Negou com a cabeça.
Roderick exalou como se tivesse prendido o ar por tempo demais, por curtos segundos sua raiva começou a cessar e o medo estava começando a rastejar por suas veias.
Para ele, ter o Sonho como inimigo era algo sem muita importância porque era somente isso que ele sabia fazer. Sonhos! O que de valor tem os sonhos? Ele se perguntava antes de dormir. Mas a Morte? Essa sim ele tinha pavor e era capaz de, literalmente, cagar de medo.
Ele - em sua mente - acredita que o ser em seu sótão é a Morte dos Perpétuos, e tem altos receios de deixa-la solta pois não era burro. Sabia que poderia existir caminhos piores que a morte, que a riqueza que pediu afirmando que se o desse ela seria liberta de seu cativeiro poderia ser facilmente tirado, e seu filho, amado Randall, poderia sofrer consequências porque nem mesmo os imortais são imunes á dor.
Prometeu que o diga!
Roderick encarou Sykes, apertou a mandíbula, lançou um olhar desdenhoso para Sonho - que parecia não se importar com sua presença e menos ainda com seu desdém -, e girou nos calcanhares, passando por Sykes com passos duros.
━ Espero que realmente seja importante, Sykes.
Havia um tom diferente, denotava ameaça, e enquanto conduzia Magus para fora do porão e entrava em seu escritório, Sykes notou isso muito bem.
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