48 - Desafios e surpresas.
DOIS ANOS E MEIO DEPOIS
POV Ludmilla Oliveira
Naquela sexta-feira eu tinha acabado de finalmente me formar na faculdade de Medicina e já naquela segunda-feira, eu começava o meu primeiro dia como interna do Hospital Albert Einstein. Depois daquele incidente com Keaton e Ariana, não tive mais problemas. Entretanto, faziam exatos dois anos, seis meses, cinco dias e sete horas e meia que eu não via Brunna Gonçalves.
A última vez que eu havia visto Brunna fora na sua casa, naquele dia em que eu estava assinando os papeis para receber a indenização da faculdade. Depois daquilo, nunca tive noticias a respeito de Jorge Gonçalves também. Assim como todas as vezes que ia ao parque com Dayane e Regina, eu procurava ficar o mais longe possível de Sofia. Aqueles olhos castanhos tão parecidos com os da irmã mais velha faziam com que eu quisesse me atirar do décimo sétimo andar.
Brunna não havia voltado para a faculdade no segundo semestre e eu ficava tranquila a respeito de ela estar bem apenas porque sabia que Dayane mantinha contato com ela. Não sabia por que, mas algo me dizia que ela havia saído da cidade.
Júlia foi outra que nunca mais dirigiu a palavra à mim. Mas desde o incidente com Dayane, ela tem tentado retomar a amizade delas, do jeito que era antes. Entretanto, isso não seria mais possível. A amizade delas nunca seria a mesma depois das palavras duras de Júlia a respeito de quem não tem dinheiro. Ela continuava na faculdade de Moda, porém agora estava indo para o sexto semestre.
Keaton, ao que eu sabia, assim que entrou no tribunal com Jorge Gonçalves, foi condenado a três anos de prisão por tentativa de estupro e mais dois anos por ter planejado a minha expulsão da faculdade, enquanto Ariana, talvez pelo grau de "parentesco" com Jorge, pegou apenas um ano de serviço comunitário, que, pelo que eu fiquei sabendo, ela fez de muito grado. Tinha acabado de concluir o sexto semestre em Pedagogia.
E quanto à Nicole? Ela não só continuava minha amiga, como eu estava em seu colo naquele momento, e não sexualmente falando. Acabou que a pessoa que Nic estava pensando, dois anos atrás, quando fazia sexo comigo, inesperadamente era ninguém mais, ninguém menos, que Jennel. Entretanto, por conta da filha dela e do relacionamento com o marido que ia e voltava, elas nunca se acertaram de uma vez. E acabou que em uma noite em que Nicole e Jennel ficaram até mais tarde na Bubu, rolou de elas ficarem. E não sei se teve como, mas Nicole se apaixonou mais ainda por Jennel. Mas, Jennel não queria nada sério, porque quer se divorciar de seu marido antes de qualquer coisa – o que no caso, ela disse que iria fazer na semana seguinte.
Estávamos em um dos sofás da área de música ao vivo da Bubu. Tinha espaço o suficiente para nós duas sentarmos, mas eu achava que o colo de Nicole era muito mais confortável que qualquer sofá. Ela abraçava minha barriga e me apertava contra seu corpo. Eu nem precisava olhá-la para saber que ela estava encarando Jennel no palco. Entretanto, nem abri a boca sobre isso. Eu sabia o quanto ela estava frustrada por não ter conseguido o que queria de uma vez.
Dayane e Drew também estavam em algum lugar da boate. Também comemorando a formatura. Assim como Vero e Lucy tinham vindo me dar os parabéns e provavelmente estavam se pegando por algum canto da boate. Ah, e a novidade sobre as duas? Vero finalmente tomou vergonha na cara e pediu Lucy em namoro. Desde então elas estão em uma lua de mel sem fim.
Olhei para o palco e tentei focar a minha visão, mas eu já tinha bebido um pouco além da conta naquele dia e estava meio zonza. Nada que um momento ficando parada e respirando fundo não fizesse passar.
Logo, a visão do palco foi substituída rapidamente por um vermelho sangue. Levantei meus olhos e encarei uma loira com um vestido vermelho coladíssimo, que passava por ali para chegar até o bar. Aparentemente, desacompanhada. Meus olhos percorreram o movimento da garota e senti Nicole a acompanhando com o olhar também.
— Uau — ela exclamou atrás de mim, quase me derrubando no chão para olhar para a menina.
— Hey, se comporta Anderson — ouvi a voz de Jennel preencher o ambiente. Ela estava próxima de nós, já fora do palco.
— Jennel, meu amor — eu disse à ela, me levantando. Ela me apertou em um abraço forte.
— Parabéns, pela formatura, Ludmilla.
— Opa, opa, opa — eu disse, já sentindo minha voz embolar um pouco por conta do álcool e foi aí que decidi parar de beber por aquela noite. — É Doutora Oliveira pra você, mocinha.
— Babaca! — Jennel exclamou, me dando um tapa no ombro, o qual eu esfreguei com a mão e fiz uma cara de falsa de dor. — Ok, desculpa, Doutora Babaca.
Sorri para ela e quando olhei para trás, Nicole estava secando a loira com o vestido vermelho, que ainda estava no bar. Levantei minha mão e dei um tapa na cabeça dela, fazendo-a soltar uma exclamação de dor. Eu e Jennel rimos.
— Jennel, seu show já não deveria ter começado? — eu perguntei.
— Ele vai começar depois de uma convidada.
Arregalei os olhos.
— Você não falou que eu ia cantar hoje! — eu exclamei. — Eu to totalmente tonta, Jennel!
Ela riu.
— Quem disse que é você, Ludmilla? — ela perguntou. — A convidada é uma amiga da Nicole.
Encarei Nic com a sobrancelha levantada, mas ela apenas negou com a cabeça e virou os olhos novamente na direção da loira.
— Bom, tenho que ir até o palco — Jennel disse. — Preciso checar os instrumentos e anunciar a convidada. — E então, foi para o palco.
— Nicole, aposto que você leva um pé na bunda bonito dessa loira — falei, sorrindo. Jennel, do palco, me jogou uma garrafa d'água. A qual eu peguei e comecei a beber imediatamente, eu precisava ficar sóbria logo, pra logo voltar a beber de novo.
Ela se virou pra mim e sorriu seu sorriso mais cafajeste.
— Façamos uma aposta, então — ela disse, e eu levantei uma das minhas sobrancelhas. — Eu tento com ela, se não der certo, eu limpo o apartamento, sozinha, por um mês.
— Fechadíssimo! — eu exclamei.
— Calma, calma — ela disse. — Tem a sua parte da aposta...
— Ah, então se der certo, eu limpo o apartamento? — perguntei.
— Isso seria muito fácil, Oliveira — ela disse, sorrindo. — Eu tenho um segundo desafio.
— Humm — murmurei, sentando-me ao lado dela. — Estou gostando, continue.
— Eu tenho que conquistar aquela loira — ela disse. — Mas você tem que conquistar a morena que está ao lado dela.
Tentei olhar para a morena, mas ela estava de costas. O corpo dela era lindo, mas por conta do ambiente escuro, não consegui ver muita coisa, apenas que usava um vestido branco e os cabelos lhe batiam nos ombros, com as pontas cacheadas. Por trás ela era linda, agora pela frente...
— Mas e se ela for feia? — eu perguntei.
— Você é tão fútil assim, Oliveira? — Nicole perguntou de volta.
— Sim — respondi, e nós duas rimos.
— Não se preocupe, eu a vi entrando — ela disse. — Ela é linda.
Levantei-me do sofá e estufei o peito. Aquela noite eu estava usando uma calça preta, colada, um salto alto, com uma camiseta branca, jogada e a minha inseparável jaqueta de couro. Meus olhos estavam destacados, como sempre estavam. Eu não estava tão ruim assim, mas ainda assim, eu sabia que a chance de levar um fora era grande.
— Fechado — eu disse, e Nic estendeu a mão para eu apertá-la. Segurei-a pela mão e saí puxando-a na direção do bar. Era só uma conquista. Caso não desse certo, pena. O máximo que poderia acontecer ali seria eu ter que arrumar o apartamento por um tempo.
Separei-me de Nic assim que chegamos ao bar, e ela se direcionou para a loira. Já eu, estufei o peito e fui até o lado da morena, que ainda estava de costas.
— Com licença — chamei a atenção dela, que permanecia de costas. Com o meu pronunciamento, ela pareceu que ficou um tanto tensa. Já pensei que eu estava fracassando logo nas duas primeiras palavras trocadas. Respirei fundo comigo mesma e tentei não gaguejar para as próximas palavras: — Será que posso te pagar uma bebida?
E então, a mulher se virou para mim, fazendo com que o verde dos meus olhos se chocasse com o castanho dos dela e eu derrubasse no chão a garrafa d'água que eu segurava. Instantaneamente, meu queixo caiu e eu senti meu coração errar uma batida. Pisquei os olhos algumas vezes, pensando que talvez aquela visão fosse efeito da quantidade de álcool que eu já havia ingerido desde que entrara na boate.
Entretanto, depois de piscar várias vezes, ela continuava ali. Ali, à minha frente estavam aqueles olhos castanhos que eu havia conhecido tão bem durante aquela época que já parecia ter sido há tanto tempo. À minha frente estava ninguém mais, ninguém menos, que Brunna Gonçalves.
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