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45 - Tentativa frustrada.

POV Ludmilla Oliveira

Fechei os olhos com força, esperando que aquilo fosse tudo coisa da minha imaginação, mas quando os abri, a garota continuava vindo na minha direção. Bufei comigo mesma, mas eu não ia fugir. Não. Ludmilla Oliveira não foge.

Respirei fundo e me virei para o bar,!Nicole me olhou pelo canto do olho e eu apenas acenei para ela. Ela entendeu o recado e me entregou um copo com caipirinha. Depois disso, ficou observando enquanto ninguém mais, ninguém menos, que Júlia Trevizan parava ao meu lado.

— Ludmilla — ela me chamou e eu olhei para Nicole com uma das sobrancelhas levantadas, ela devolveu meu olhar com uma expressão divertida. Obviamente ela não sabia quem era Júlia, mas devia imaginar que tinha algo a ver com Brunna. Respirei fundo e virei-me para Júlia, dando um gole na minha caipirinha.

— Vejam só se não é Júlia Trevizan se misturando com o povo! — eu exclamei, cheia de sarcasmo. — Cuidado pra não encostar em mim. — Eu fiz uma careta. — Vai que pobreza é contagioso, né?

Dei mais um gole na minha bebida e olhei pelo canto do olho Nicole rir. Eu não tinha ideia do que Júlia queria comigo, mas era reconfortante ter uma amiga por perto se fosse para trazer Brunna à tona.

— Eu posso falar com você? — ela perguntou. — É sobre a Brunna.

— Eu imaginei que um pedido de desculpas não seria, né, Juliazinha? — falei, dando um gole grande na bebida. — O que você quer?

— Você não sabe a real razão pela qual a Brunna terminou com você.

— E nem quero saber! — exclamei, colocando o copo no balcão. Procurei por Nic, mas ela estava atendendo outra pessoa, do outro lado do balcão.

— Ludmilla, a culpa foi minha! — ela disse. — O pai dela descobriu sobre vocês.

Levantei uma das sobrancelhas na direção dela.

— E? — perguntei.

— E ele ameaçou parar com o seu processo caso ela não se afastasse de você — ela disse.

Bufei.

— Eu não preciso de ninguém pra me proteger! — exclamei. — E ela sabe muito bem disso.

— Não foi só isso! — Júlia disse provavelmente numa tentativa desesperada para conseguir mudar a minha opinião.

— O que mais foi, então? — perguntei já perdendo a paciência.

— O pai dela ameaçou acabar com a poupança dela — ela disse.

— Oh não — exclamei, sendo totalmente sarcástica. O que obviamente Júlia não percebeu. — A poupança, não!

— Eu sei! — ela exclamou, achando que eu falava sério.

— Vê se cresce Júlia! — eu disse e ela fez uma careta. — É pior ainda que ela tenha me tratado daquela forma por causa de dinheiro!

— Ludmilla, você não entende — ela tentou argumentar, e eu inflei minhas narinas, perdendo a paciência com Júlia e aquele diálogo sobre Brunna. Eu não queria ouvir falar dela, infernos! Mas pareceu que Júlia não entendeu o meu recado. — A nossa perspectiva de mundo é diferente da sua. Dinheiro é tudo o que ela teve, o que nós tivemos. Brunna não tem outra vida, senão essa. Ela ficaria perdida, sem saber o que fazer, caso tivesse que se virar sozinha.

— Isso só faz dela mais imatura do que eu pensava — falei.

— Ela só tem 18 anos Ludmilla — Júlia argumentou.

— EU NÃO ME IMPORTO COM QUANTOS ANOS ELA TEM! — gritei. O que fez várias pessoas, inclusive Jennel que estava no palco cantando, me encararem com expressões confusas. Respirei fundo. — Que seja, não quero uma criança do meu lado de qualquer forma.

Então, dei um último olhar para Nicole e parti para fora da boate, deixando Júlia para trás.

Ainda era madrugada, ou seja, em São Paulo nem os ônibus, nem o metrô tinha voltado ainda, então tomei o caminho para o lugar mais próximo que eu conhecia. Na verdade, nem percebi exatamente aonde eu estava indo, só sei que quando me dei conta, estava na frente daquela porta branca desgastada. A porta estava trancada quando tentei abri-la.

Logo, senti a sobriedade chegando, assim como as imagens de Brunna iam se tornando mais focadas em minha mente. As lágrimas vieram depressa e eu continuava batendo na porta, com a esperança vaga de que aquilo fosse acabar com a minha angústia. Só parei de bater naquela porta quando vi que na minha mão tinha sangue.

Encostei minhas costas na parede ao lado da porta e senti meu corpo descer até o chão e abracei minhas próprias pernas e chorei copiosamente.

Não sei quanto tempo fiquei ali naquela posição, só sei que tudo o que eu tinha passado com Brunna ficava se repetindo na minha cabeça. Cheguei a pensar que eu estava sendo injusta demais com ela, afinal, eu não podia pedir para que ela largasse tudo o que tinha para ficar comigo, e aquele ato talvez por ela fosse encarado como um ato de proteção para mim, afinal, ela estava tentado garantir a minha bolsa de estudos e meu histórico na faculdade. Entretanto, eu não precisava de proteção, e ela sabia muito bem disso. Desistir do processo? Que desistisse. Eu conseguiria outra bolsa, em outra faculdade, em outro curso. Eu não me importava, e ela sabia muito bem disso. Agora, ela ter tanto medo do pai dela a ponto de fazer aquilo comigo, a ponto de me chamar de anormal, isso eu não conseguia engolir. Ela sabia muito bem que um mundo totalmente diferente havia sido introduzido à ela, ela sabia muito bem que era bem provável que ela se interessasse por outras mulheres depois de mim. Ela ia fazer o quê? Se esconder pra sempre? Não, definitivamente não era esse tipo de pessoa infantil que eu gostaria de ter ao meu lado.

Logo, ouvi passos próximos à mim e um corpo sentou-se ao meu lado, eu não precisava levantar a cabeça para saber que era Nicole. Levantei minha cabeça, afim de deixar de choros, mas quando olhei para sua expressão preocupada, o choro voltou com tudo. Ela levantou o braço direito, me dando espaço para que eu deixasse que ela me abraçasse, e eu não recusei. Deitei minha cabeça no ombro dela e ela me aconchegou em seu corpo, me envolvendo em um abraço apertado. Também não sei dizer quanto tempo ficamos ali naquela posição, só sei que quando resolvi me afastar, a camiseta de Nicole estava completamente encharcada.

Aproximei-me para beijá-la e encostei meus lábios nos seus. Ela deixou, mas não tomou a dianteira em nada. Senti minha língua se envolver com a dela e se possível, aquilo conseguiu me deixar mais mal do que bem. Senti as lágrimas voltarem e escorrerem pelo meu rosto, consequentemente, atingindo o rosto de Nicole também. Ela afastou seu rosto do meu e me parou quando fiz menção de beijá-la novamente.

— Vem — Nicole sussurrou.

Ela se levantou, me deixando confusa e me estendeu a mão para que eu levantasse do chão também. Aceitei-a e ela colocou a chave na fechadura da porta, abrindo-a e entrando comigo, sem soltar minha mão um só segundo. Ela levou-me até o banheiro e lá, me virou de costas e começou a abrir o zíper do vestido. Por um momento, achei que ela tinha mudado de ideia em relação ao sexo, mas ela fazia tudo com muita calma, nosso sexo costumava ser rápido e violento. Ela desceu meu vestido e o retirou, começando a desamarrar o espartilho em seguida, colocando-o de lado com o vestido.

Logo, ela abriu meu sutiã e o retirou também, abaixando para retirar meus sapatos em seguida. Quando minha meia-calça foi tirada, eu não vestia mais nada. E ao contrário do que eu estava imaginando, Nicole não me agarrou nem me olhou com malícia. Ela apenas acariciou meu rosto e me guiou até o box do banheiro, ligando o chuveiro e me colocando debaixo dele. Me senti uma inválida. Eu sequer estava bêbada para receber aquele tipo de tratamento... Mas eu estava fraca. A aparição de Júlia trouxe Brunna com tudo e Nicole sabia disso. Então, apenas deixei que ela fizesse o que quisesse. Eu sabia que ela não ia abusar de mim nem nada disso, ela só estava cuidando de mim e eu me sentia extremamente grata por isso.

Ali, debaixo do chuveiro, pela primeira vez ela viu a minha mão, completamente machucada e ensanguentada devido aos murros que eu havia dado na porta, e me lançou um olhar preocupado. Colocou-a debaixo do chuveiro e eu fiz uma careta ao sentir a ardência de quando a água a atingiu.

Nicole pegou o sabonete e começou a me ensaboar inteira e eu deixei. Eu nunca tinha ficado tão vulnerável à alguém que não fosse Brunna, mas eu não me importava.

Assim que terminou de me dar o banho, ela me puxou para fora e me enxugou completamente, me dando uma muda de roupas depois. Até pentear o meu cabelo, ela penteou. Fez um rápido curativo na minha mão e depois, me deixou no quarto me trocando, enquanto ela ia tomar um banho.

Esperei alguns minutos, e ela saiu, vestindo um pijama. Em outra situação, eu teria achado o short curto dela super sexy, mas naquela, não. Naquela situação, eu queria mais um abraço do que sexo. E ela me entendia.

Nicole veio até a cama onde eu estava sentada e me puxou para que eu deitasse. Deitei-me e coloquei minha cabeça no vão do pescoço dela, segurando as lágrimas que insistiam em voltar e adormeci depois de alguns minutos.

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