38 - Say you want me.
POV Brunna Gonçalves
Entrei na cabana já sentindo os primeiros pingos de chuva caindo na minha cabeça. Fiquei em dúvida se, quando eu visse Dayane, eu daria um tapa na cara ou se eu abraçaria. Aquela viagem estava indo melhor que o planejado, e eu via claramente que Ludmilla estava cedendo aos poucos. Entretanto, como era Ludmilla, ela não abriria mão do orgulho assim tão rápido.
Respirei fundo e fui até a dispensa da casa. Abri-a esperando encontrar algo para comer, mas não tinha nada ali. Fui até a geladeira, e também nada. Bufei irritada.
Aquela cabana era de propriedade dos meus pais, mas eu havia perdido as contas de quantos anos faziam que eu não ia ali. Peguei o celular na mão novamente e disquei o número de Dayane. Caixa postal.
— Me liga, sua vadia! — exclamei quando ouvi o sinal para gravar a mensagem.
Desliguei e estava pronta para ligar para ela novamente, quando percebi um olhar sobre mim. Levantei a sobrancelha ao ver aqueles olhos verdes tão hipnotizantes me encarando, e tive que me esforçar para não estremecer. Eu queria muito resolver esse problema da faculdade de Ludmilla e a intenção dessa viagem seria única e exclusivamente para que isso se resolvesse, mas eu não podia negar que eu sentia uma falta tremenda de tê-la – mesmo que eu nunca a tenha tido de fato.
Ela pulou para a bancada da cozinha e ali se sentou, entrelaçando as pernas de um jeito meigo. Um sorriso brincou no canto dos meus lábios vendo aquela cena e Ludmilla meiga era outro nível.
— Então... A Dayane disse que só saímos daqui se nos resolvermos? — ela perguntou, como quem não quer nada.
Eu respirei fundo.
— Sim — respondi.
— Então, que tal um trato? — A indagação dela me fez levantar uma das minhas sobrancelhas.
— Que tipo de trato?
— Aquele que nós fingimos que estamos absurdamente bem para Dayane e ela vem nos buscar aqui.
Quando ela terminou de falar, um sorriso surgiu em meus lábios.
— Então você quer fingir que fez as pazes comigo só porque quer que Dayane venha logo? — perguntei e ela assentiu. Aproximei-me dela no balcão e fiquei na sua frente. Comecei a acariciar seus braços e ela não evitou o contato, pelo contrário, percebi que os pelos dela se arrepiaram ao meu toque. Ela manteve as pernas cruzadas e eu podia perceber que ela fazia certa força com elas para que seu próprio corpo não condenasse o quanto suas palavras eram mentirosas. — Será que é tão ruim assim ficar perto de mim Lud? — perguntei usando o apelido que eu lembrava que Sofi havia usado com ela há alguns dias atrás e ela quase sorriu. Quase. Apertei meu corpo contra o dela e ela respirou fundo. Logo em seguida senti suas pernas afrouxarem um pouco do aperto, ela estava quase cedendo e eu não podia deixar de amar isso. Ludmilla abrindo mão do orgulho conseguia ser mais sexy do que quando ela estava com aquela pose toda orgulhosinha. Levei minhas mãos até suas coxas e as apertei, fazendo força para que suas pernas se abrissem para mim. Ela afrouxou ainda mais o aperto, e eu as puxei com força e rapidez, fazendo com que elas se abrissem brutamente. Enfiei-me entre as pernas dela rapidamente, sem dar tempo de ela recuar, e, estranhamente, ao invés de ela me dar um tapa na cara e sair correndo, ela envolveu minha cintura com as suas pernas, me puxando para mais perto. Aproximei minha boca da dela e senti seu hálito quente bater em meu rosto. Respirei fundo. Eu já quase podia sentir o gosto dos seus lábios contra os meus, quando um barulho incômodo surgiu do bolso da minha calça. Eu não queria interromper nada, mas Ludmilla pareceu se dar conta do que estava fazendo e soltou suas pernas do meu corpo, me empurrando e descendo do balcão. Então, ela correu para a sala.
Respirei fundo e puxei o celular do meu bolso, revirando os olhos quando vi o nome no visor.
— Espero que você tenha uma desculpa muito boa pra ter me interrompido! — falei ao atender.
Escutei Dayane rir do outro lado.
— Ow, sua louca, foi você quem me mandou ligar! — ela disse do outro lado da linha e eu não pude deixar de rir comigo mesma. Era verdade, eu que tinha mandado ela ligar.
— Verdade! — exclamei. Por um segundo eu havia esquecido que estávamos sem comida nenhuma na cabana. Pra falar a verdade, por aquele momento eu havia esquecido de tudo que não fossem os lábios de Ludmilla.
— Então...? O que manda?
— Não podemos ficar aqui, Dayane! — eu disse.
— Claro que podem! Qual o problema, Bru? A Ludmilla te amarrou e tá te obrigando a falar isso? — Dayane fez uma pausa e riu sozinha. — Se bem que... se ela tivesse te amarrado, acho que ligar pra mim seria a última coisa que você estaria fazendo.
Eu não consegui resistir e ri com ela, Dayane conseguia ser tão idiota as vezes.
— Não é isso, Hansen! — disse eu. — É só que não temos comida aqui para ficar mais tempo. Não tem nada na dispensa, nem na geladeira!
— É isso, então? — Dayane perguntou, como se não achasse que aquilo era argumento bom o suficiente para fazê-la vir nos buscar.
— E já não tá bom de motivo? — perguntei, indignada.
— Não tá não — ela respondeu.
— Como assim?
— Eu dou um jeito nisso aí, pode dormir tranquila.
— Mas Dayane... — comecei, mas de repente o outro lado da linha ficou mais silencioso do que o normal. — Dayane? — chamei, mas não obtive resposta. Senti o sangue subir à minha cabeça. Tirei o celular da orelha e encarei a tela, vendo que a ligação já havia sido finalizada. Ela tinha desligado na minha cara pela segunda vez em menos de trinta minutos. — Além de me interromper, ainda desliga na minha cara — falei para o celular, fazendo uma careta, como se Dayane pudesse de alguma forma ver aquilo.
Aproveitei o celular e dei uma olhada no meu e-mail. Abri o que o remetente era o meu pai, e vi o "ok" seco que ele havia me dado. Provavelmente ele estaria bravo porque eu havia cancelado o compromisso com ele. Ele sempre dizia: "se você marca um compromisso, arque com as consequências e as responsabilidades dele". Ser filha de um advogado tem suas desvantagens.
Larguei o celular no balcão e me encaminhei até a sala.
Ludmilla estava ali, sentada no sofá, abraçando as próprias pernas com um braço e mudando de canal na televisão com o outro. Aproximei-me dela e ela sequer me olhou, mas eu podia sentir a tensão que seu corpo sentia toda vez que eu chegava muito perto. E era exatamente isso que eu queria fazer.
Aproximei-me dela o suficiente para pousar minha mão sobre suas pernas. Eu estava na frente da televisão, então ela inevitavelmente teve que olhar para mim. Não achei que ela fosse ceder tão rápido, mas assim que puxei sua mão, ela a tirou de suas pernas rapidamente. Puxei suas pernas para baixo e ela também aceitou o movimento com um olhar perdido na minha direção. Assim que ela sentou normalmente, ela se afastou um pouco e pousou suas costas no encosto do sofá, ainda me olhando nos olhos. Sentei-me em seu colo, flexionando os joelhos em cima do sofá, de frente para ela. Suas mãos permaneceram no sofá, o apertando com força. Aproximei minha boca de seu ouvido e sussurrei:
— Ainda quer ir embora? — Senti o corpo de Ludmilla estremecer embaixo do meu, mas ela não disse nada. Sorri com o canto da boca, pensando no quão ela deveria estar se segurando. Ela desviou o olhar do meu, talvez em uma tentativa frustrada de que eu a deixasse pra lá. Levei minha mão direita até a sua nuca e subi até os seus cabelos, enlaçando meus dedos neles e puxando seu rosto até que ela voltasse a me encarar. O movimento rápido e bruto fez com que um gemido baixo escapasse da boca de Lauren, e eu sorri. Aproximei novamente a minha boca de sua orelha e sussurrei: — Porque não parece que você quer ir embora.
Ludmilla olhou nos meus olhos e eu pude ver o desejo estampado naquele verde brilhante, o que só me motivou a continuar mais.
— Brunna... — ela tentou murmurar, mas logo fechou os olhos, como se não conseguisse continuar.
Ainda ali perto de sua orelha, sussurrei:
— Diz Lud, o que você quer? — Rocei minha boca em seu pescoço, vendo os pelos dali se arrepiarem, mas Ludmilla permaneceu em silêncio. Soltei um riso nasal e levei minhas mãos até as dela, que ainda estavam apertando o sofá com certa força. Tirei suas mãos dali e as levei até a minha bunda, fazendo pressão para que ela a apertasse. Assim que ela apertou o local, nós duas gememos em sintonia. — Eu só faço alguma coisa se você me pedir, Lud — eu disse, sentindo suas mãos apertarem minha bunda com mais força. Aproveitei o contato e rebolei em seu colo, sentindo o corpo inteiro de Ludmilla estremecer. — O. Que. Você. Quer. Ludmilla? — perguntei uma última vez, então rebolei mais uma vez em seu colo, já ficando impaciente pelo fato de ela estar resistindo tanto. Aguardei alguns segundos, ainda dando a chance de ela responder algo, mas quando a resposta não veio, me vi frustrada ou talvez não. A expressão de quem estava sendo torturada em seu rosto era impagável. — Ótimo, então.
Levei minhas mãos até as suas – que ainda apertavam a minha bunda –, e as retirei dali, levantando logo em seguida e partindo para o meu quarto. Já que iríamos ficar ali por alguns dias, pelo jeito, eu poderia me dar ao luxo de deixá-la apenas na vontade por hoje. Quem sabe assim, ela não reflete, certo? Entrei no meu quarto e fiquei divagando por alguns instantes, me perguntando se eu deixava ou não a porta aberta.
Resolvi deixar aberta.
Tomei um banho e me troquei com um short azul bebê e uma regata da mesma cor que eu sempre usava pra dormir. Encarei-me no espelho, imaginando o que diabos Ludmilla deveria estar fazendo agora e por que ela não tinha cedido ainda. Agora pra eu mesma, eu tinha de admitir o quanto parecer confiante estava sendo cansativo e frustrante. Por mais que Ludmilla houvesse ficado claramente excitada e quase perdera a razão por duas vezes comigo, eu ainda me sentia frustrada. Eu queria que ela fosse só um pouco menos cabeça-dura.
Respirei fundo e me joguei na cama, ouvindo a chuva do lado de fora que não dava trégua. Um trovão ecoou ao longe, de certa forma, até baixo, mas foi o suficiente para eu puxar o edredom até o meu queixo e me encolher toda na cama.
Odiava trovões.
Após alguns minutos, a chuva continuava a ricochetear na janela do quarto e novamente me vi pensando em quê diabos Ludmilla deveria estar fazendo. Provavelmente já deveria ter ido dormir.
Os trovões continuaram a ecoar do lado de fora do quarto, só que dessa vez estavam muito mais fortes. Normalmente, se eu estivesse em casa, eu iria para o quarto de Sofia, com a desculpa de que eu deveria ficar com ela porque ela tinha medo de trovões (mesmo com ela falando que não tinha medo coisa nenhuma, e que eu tinha que admitir que quem tinha medo era eu), se eu estivesse no meu apartamento, Júlia já deixaria a porta aberta, porque sabia que eu iria dormir ali, mas, agora, eu só tinha uma pessoa à quem recorrer, e essa pessoa estava numa extrema relação de amor e ódio comigo.
O medo da rejeição me atingiu em cheio. Era diferente ser rejeitada com provocações que levariam ao sexo, já que é carnal, é físico... Já ser rejeitada em um momento de fragilidade como esse... Eu não sei como eu reagiria.
Respirei fundo e me levantei da cama, peguei meu travesseiro e meu edredom nas mãos e me arrastei até a sala. Eu é que não ia me enfiar no quarto com Ludmilla.
Sentei-me no sofá e liguei a televisão. Tentei deixar em um volume considerável para não acordar Ludmilla. Na televisão, mudei de canal até achar um em que passava Bob Esponja. Franzi a testa, olhando o horário. 1:15 da manhã.
Abracei minhas próprias pernas e me cobri com o edredom, mesmo com a televisão ligada e eu tentando concentrar toda a minha atenção no desenho, os trovões continuavam fortes do lado de fora da cabana. Respirei fundo. Um trovão mais alto ecoou do lado de fora e eu estremeci.
— Brubs? — ouvi a voz de Ludmilla me chamar do canto da sala. Encarei-a. Ela estava com um short e uma regata e tinha os braços cruzados, como se não quisesse ceder à algo. Seus olhos pareciam cansados. Eu tinha a acordado? — Tá tudo bem?
Assenti.
— Sim, tudo bem, só tô sem sono — respondi. Então outro maldito trovão ecoou e eu senti meu corpo inteiro estremecer de novo, enquanto eu apertava o edredom fortemente.
Ouvi uma risada baixa vinda de Ludmilla e resolvi ignorar.
— Eu também tô sem sono — ela disse, olhei pelo canto do olho para ela e vi que ela havia descruzado os braços. — Posso te fazer companhia?
Sorri internamente e então, abri espaço no sofá e no edredom para que ela se aconchegasse ao meu lado.
Ela se sentou e puxou o edredom para si. Senti o corpo gelado dela contra o meu e estremeci.
— É nesse episódio que o Bob Esponja se esquece de como se amarra os sapatos? — A encarei pelo canto dos olhos e apenas assenti. — É um dos meus favoritos.
— O meu também — falei.
Pela janela da sala, vi um clarão se formar e então fechei os olhos com força. Ainda esperando pelo trovão, quando ele veio não se tornou menos assustador. Meu corpo estremeceu-se, mas dessa vez, ele estava encostado no corpo de Ludmilla. Assim que abri os olhos senti seus braços em volta do meu corpo, me aconchegando contra seu corpo. Larguei as mãos o edredom e praticamente corri com elas até o corpo de Ludmilla, a abraçando pela barriga e deixando minha cabeça descansar no vão do seu pescoço, enquanto ela fazia carinho no meu cabelo. E, alheia a qualquer barulho que não fosse o coração de Ludmilla, adormeci rapidamente.
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