31 - Armações.
POV Brunna Gonçalves
Gente do céu, o que tinha sido aquela viagem? Devo confessar que eu tinha certas esperanças ínfimas de que algo podia realmente evoluir entre Ludmilla e eu, até porque eu estava me esforçando mais do que eu imaginava que eu faria, mas eu não imaginava que seria daquela forma tão... maravilhosa.
Eu ainda estava deitada ao lado dela na cama, com a cabeça apoiada no vão do seu pescoço. Aquela posição havia se mostrado completamente confortável. Ainda estava com certa vergonha, pois eu estava nua diante dela. Não que eu não tivesse ficado muito mais vulnerável que aquilo poucos minutos antes, mas ainda assim, me deixava envergonhada.
Tentei fechar os olhos, mas toda vez que eu fazia isso, as imagens do que havia acontecido entravam em minha mente e eu não sabia se pedia por mais ou se ficava envergonhada no meu canto.
Minhas mãos estavam envolta da cintura de Ludmilla e eu sentia sua respiração forte, era tão bom ficar daquele jeito que doía só de pensar em me mexer dali.
Então, meu celular tocou.
Desvencilhei-me do corpo de Ludmilla e peguei o celular em cima da mesa da cabeceira, parei o despertador e observei o horário, já eram 6h00. Eu não tinha dormido um minuto sequer durante aquela noite. Virei-me para Ludmilla, com o intuito de acorda-la, mas aqueles olhos castanhos já me encaravam. Ela não estava com uma expressão de quem acabara de acordar... Será que ela tinha ficado a noite inteira acordada, como eu?
— Bom dia — ela disse sorrindo e puxando meu corpo para perto do dela, minha pele entrou em um contato maior com a dela e eu estremeci. Então, se aproximou para me dar um selinho demorado.
— Bom dia linda — falei, dando-lhe mais um selinho. — Precisamos ir ou não chegamos a tempo pra aula.
— Mas eu não quero ir pra aula — Ludmilla murmurou fazendo um bico e eu sorri, aquela menina era tão fofa.
— Nada disso — falei a muito contragosto. — Não quero ninguém perdendo a bolsa de estudos por minha causa, ok?
Ela reclamou um pouco, mas deixou que eu me soltasse de seu corpo e partisse para o banheiro, tomei um banho extremamente demorado, na banheira. Só saí de lá quando Ludmilla resolveu esmurrar a porta, dizendo que ou eu saía dali pra ela tomar um banho, ou ela derrubaria a porta e faria algo diferente comigo na banheira.
Eu quase deixei que ela derrubasse a porta. Quase.
Saí me enrolando na toalha e passei por ela na porta. Ela me encarou com um olhar de cobiça enquanto eu passava e eu corei fortemente. Entrei direto no quarto e bati a porta antes de ela pensar em vir atrás de mim.
Ouvi o barulho do chuveiro no banheiro e relaxei.
Depois disso, troquei-me e guardei a roupa suja na mochila que eu havia trazido. Parti para a sala e esperei que Ludmilla se trocasse.
Encontrei ao lado do sofá o meu violão. Fazia algum tempo que eu não o tocava. Geralmente deixava este aqui no apartamento, pois gostava de ir até a praia tocar, mesmo que fosse sozinha.
Puxei ele para cima do meu colo e o afinei, afinal, faziam algumas semanas que eu não ia à praia e ele já estava todo desafinado. Dedilhei as cordas e ouvi o som suave que elas faziam. Aquilo sempre me acalmava.
As notas vieram facilmente. Eu já tinha tocado esta música antes, mas ela nunca havia feito tanto sentido quanto naquela hora. Comecei a cantar de acordo com o ritmo:
"If I show you... Get to know you... If I hold you just for today. I'm not gonna wanna let go. I'm not gonna wanna go home. Tell me you feel the same"
Sorri com a letra da música, e continuei:
"'Cause I'm 4 real. Are you 4 real? I can't help myself, it's the way I feel. When you look me in the eyes, like you did last night, I can't stand to hear you say goodbye. Well it feels so right. 'Cause it feels so right, just to have you standing by my side. So don't let me go, 'cause you have my soul. And I just wanted you to know..."
— Não sabia que você tocava violão — ouvi uma voz conhecida vindo do corredor dos quartos.
Meu rosto corou imediatamente e eu quase derrubei o violão no chão de tanto que eu fiquei nervosa e encarei Ludmilla. Ela estava encostada na parede, com os braços cruzados e um sorriso nos lábios, desde quando ela estava ali?
Levantei-me e encarei o relógio. Resolvi fingir que nada tinha acontecido. Já batiam 7hr00 quando saímos de casa. Ludmilla usava uma calça jeans, uma camiseta azul bebê e a mesma bota que usara no dia anterior, ainda com alguns resquícios de areia. Tinha a mochila presa no ombro direito.
— Você viu um anel por aí? — Ludmilla perguntou dispersando os meus pensamentos por um instante.
— Anel? — perguntei.
— Sim... — ela respondeu. — Ele é prata e dentro dele tem o meu sobrenome escrito. Ganhei da minha avó.
— Desculpe, não o vi por aqui — falei.
Ela torceu os lábios.
— Devo ter esquecido em casa...
Então, Ludmilla voltou a me encarar, ainda com os braços cruzados embaixo do peito e aquele sorrisinho. Resolvi ignorá-la e sair do apartamento e ela me seguiu.
No elevador, ela continuava me encarando enquanto eu sentia meu rosto cada vez mais vermelho pela vergonha. Enquanto eu cantava, aquela música representou um real significado para mim, e eu não tinha ideia do que ela estava pensando a respeito.
— Quer parar de me encarar? — falei, fingindo estar brava.
Ela riu.
— Não, não dá — Ludmilla respondeu.
— Como você arrumou dinheiro pra começar a faculdade? — perguntei, tentando mudar de assunto.
— O quê? — ela perguntou, confusa.
— Eu sei que quem entra direto com bolsa integral não precisa trabalhar na monitoria... E como você trabalha lá, significa que não entrou como bolsista.
Um sorriso surgiu no canto dos lábios de Ludmilla.
— Você anda bem informada, hein? — ela murmurou. — Fiz uns trabalhos...
— Que trabalhos? — perguntei, sentindo meu rosto esfriar um pouco.
— Sua voz é linda, sabe.
Era possível corar quando você já estava corada? Porque se era, eu consegui.
Limpei a garganta e percebi que não daria pra mudar de assunto tão cedo com Ludmilla.
A porta do elevador se abriu e eu saí primeiro, indo na direção do meu carro.
O caminho de volta fora bem mais silencioso que o de ida. Geralmente eu cantaria o caminho inteiro ou tagarelaria o máximo que eu pudesse, entretanto, eu estava meio sem palavras. Não por não ter o que dizer à ela, mas porque eu não tinha ideia de como fazê-lo. Eu queria dizer para ela que a noite passada havia sido a mais perfeita que eu já passara, mas eu não sabia como fazer isso sem parecer uma bobinha apaixonada. E eu não queria apressar as coisas entre Ludmilla e eu – apesar de elas estarem bem mais apressadas do que eu imaginava que estaria.
Fui direto para a faculdade e parei na frente do dormitório de Ludmilla e esperei que ela fosse lá para pegar seus materiais e voltasse. O campus era enorme e o caminho para o prédio de medicina levaria uma bela de uma caminhada ainda, então não custava nada eu dar-lhe uma carona, já que o estacionamento ficava próximo.
Ludmilla subiu e em menos de cinco minutos desceu com a mochila cheia do que pareciam ser vários cadernos.
Estacionei na minha vaga de costume e fomos andando lado a lado, ainda em silêncio, até o prédio. Estávamos bem em cima do horário quando entramos no prédio de medicina. Nós duas ficaríamos no primeiro andar hoje, então permanecemos juntas. Ludmilla não abriu a boca sequer um minuto para falar, e isso me preocupava demais. Fiquei por muito tempo pensando se eu havia feito algo de errado. Assim que chegamos na sala dela, ela parou e se virou para mim. Então, mostrou um dos seus melhores sorrisos e eu amoleci.
— Eu amei passar a noite com você — Ludmilla falou, por fim e eu respirei fundo. — E realmente espero que não seja a última.
Eu sorri completamente envergonhada, mas ainda assim, estava me perguntando o que diabos ela queria comigo de verdade. Claro que eu não ia pedi-la em casamento ali mesmo, mas eu queria saber que tipo de "compromisso" ela queria comigo ou talvez ela só quisesse sexo.
Eu sei, eu estava pirando.
Balancei minha cabeça tentando dispersar estes tipos de pensamentos e observei Ludmilla levantar a sobrancelha.
— Falei algo de errado? — ela perguntou com sua expressão se tornando um tanto triste.
— Não! — praticamente gritei. — Você fez e falou tudo de forma perfeita.
Quando falei a palavra "fez", ela sorriu e eu senti meu rosto esquentar.
— Então ok — Ludmilla sussurrou e ela olhou para os lados do corredor, apenas para constatar que não havia ninguém ali e se aproximou de mim. Seus lábios estavam quase alcançando os meus, quando um barulho estridente nos fez pular de susto. Eram os alto-falantes do prédio.
— Ludmilla Oliveira, aluna do quinto semestre do curso de Medicina, por gentileza, se encaminhar para a sala da reitoria.
POV Ludmilla Oliveira
Eu nunca havia sido chamada para conversar com o reitor da faculdade, se já me tremiam as pernas só de pensar em conversar com o coordenador do curso, imagina só com o reitor?!
Brunna me encarou assustada, provavelmente com a mesma pergunta na cabeça que a que ecoava na minha mente. Eu nunca tinha visto alguém ser chamado desta forma para a reitoria e voltar para as aulas. Sempre eram expulsos ou acabavam presos.
Engoli seco, mas tentei transmitir confiança para Brunna.
— Nos vemos no intervalo, ok? — falei para ela, que assentiu. Dei um beijo em sua testa e saí em direção à reitoria.
Por que diabos me chamariam ali? Só podia ser um belo de um mal entendido.
Atravessei o campus até o prédio da reitoria e entrei. Na frente da sala do reitor, uma mulher me recepcionou com um sorriso claramente falso.
— Ludmilla Oliveira? — ela perguntou.
— Sim — eu respondi, meio sem jeito.
— Só aguardar um instante que o Senhor Dantas já irá te atender.
Ela apontou para o sofá que tinha ali em sua frente e eu prontamente me sentei. A sala do reitor estava fechada, então imaginei que ele estivesse com alguém ali dentro.
Fiquei tamborilando os dedos no sofá de couro enquanto os minutos se arrastavam... Tantas possibilidades passavam pela minha cabeça que ela já estava quase explodindo.
A porta da sala do reitor se abriu e eu imediatamente fiquei de pé. Era um sinal de respeito, não era?
Mas ao invés de encontrar com um homem de quase dois metros de altura, encarei uma menina magricela, com as covinhas aparentes por conta do sorriso largo que ela exibia na minha direção.
Aquilo só podia ser merda.
Ariana passou por mim, jogando os cabelos de lado e saindo do prédio. Eu fiquei observando ela saindo enquanto ouvia alguém ao lado me chamar.
— Senhorita Oliveira, está meu ouvindo? — a recepcionista chamou.
— Sim, sim... Estou.
— O Senhor Dantas vai te atender agora, pode entrar.
Respirei fundo e adentrei à sala do reitor da faculdade. Ele estava sentado em sua enorme poltrona de couro, atrás de uma mesa grande de mogno. À sua frente, um computador e toneladas de papeis, porém todos pareciam milimetricamente organizados. E foi aí que eu pensei que eu nunca tinha entrado na sala dele. O medo me invadiu novamente.
Que merda Ariana tinha falado?
O reitor fez um sinal para que eu me sentasse à sua frente, e assim, eu fiz. Então, ele soltou um suspiro cansado.
— Senhorita Oliveira, creio que saiba o porquê de estar aqui hoje.
— Não — falei, sinceramente. — Com todo respeito senhor, eu não tenho ideia do por que eu estou aqui.
O reitor se inclinou para trás e colocou a mão em uma gaveta. De lá, puxou um objeto pequeno, que colocou na minha frente, em cima da mesa. Observei o objeto e o reconheci na hora. Era o anel da minha avó que eu havia perdido e sorri fraco. Então era por isso que eu estava ali, alguém tinha achado o meu anel.
O reitor ainda me encarava com uma expressão séria, quando eu peguei o anel na mão e o coloquei de volta em meu dedo.
— Acharam! — exclamei, sorridente. — Onde acharam?
O reitor torceu os lábios.
— No quarto da aluna do segundo semestre de Pedagogia, Ariana Grande — ele respondeu. — Estava jogado no chão.
O meu sorriso murchou.
— E o que fazia lá? — perguntei desconfiada, recolhendo minhas mãos da mesa e colocando sobre meu colo.
— É isto que eu te pergunto, Senhorita Oliveira— o reitor respondeu, apoiando os cotovelos na mesa e me encarando com as sobrancelhas levantadas. — Pois, este anel apareceu no chão do quarto dela no mesmo dia em que sua carteira desapareceu misteriosamente do quarto.
Tentei assimilar os fatos e o que diabos ele estava tentando dizer, e assim que entendi o que ele estava tentando insinuar, levantei-me de supetão da cadeira. Tive que me conter para não apontar o dedo no rosto daquele homem. Quem diabos ele achava que era pra me acusar de um negócio daqueles?
— O que o senhor está insinuando? — perguntei, logo querendo morder minha língua por estar falando com o reitor da universidade daquela forma.
— Não estou insinuando nada senhorita Oliveira, apenas tenho que tomar as devidas providências — ele respondeu, se levantando e apoiando as mãos espalmadas na mesa. Logo, ouvi o barulho da porta se abrindo e dois seguranças da faculdade entrando. — Estes senhores irão te acompanhar até o seu dormitório e irão revistá-lo.
— Mas... — tentei falar, mas ele me cortou com um aceno de mão.
— Nada de mas senhorita Oliveira, eu convenci a Senhorita Ariana Grande a não dar queixa na polícia, por conta do bom nome desta universidade. Entretanto, se encontrarem o mínimo traço de que a carteira de Ariana esteve ou está no seu dormitório, pode dar adeus à sua bolsa de estudos.
O silêncio perdurou por alguns segundos depois de o reitor ter dito o que disse, eu poderia perder a minha bolsa de estudos? Aquela que eu batalhei tanto para conseguir?
Respirei fundo.
Querem revistar? Pois bem, que revistem, eu não roubei porcaria nenhuma.
Saí do escritório do reitor sem sequer olhá-lo nos olhos e empurrando os brutamontes que estavam na porta, os dois cambalearam para lados opostos e depois me seguiram. Fui andando na frente até meu dormitório, pisando forte. Eu estava possessa de raiva. Como aquela faculdade era imbecil a ponto de achar que eu tinha roubado alguma coisa daquela menina? Só podia ser armação da parte dela. Só podia! Mas então como ela teria conseguido o meu anel? E o que o meu anel estava fazendo ali? Infernos!
Ainda pisando fundo, entrei no prédio do meu dormitório. Eu ouvia os passos pesados daqueles brutamontes atrás de mim e a minha vontade era de jogá-los pelas escadas do prédio. Sem nenhuma razão específica com eles. Eu só queria extravasar a minha raiva de alguma forma. Ainda grunhindo, abri a porta do meu dormitório. Patty estava sentada em sua cama e me encarou com uma das sobrancelhas levantadas quando entrei daquele jeito bruto. Então, sua expressão irônica foi substituída por uma de preocupação quando dois seguranças entraram pela porta. Eles começaram a mexer nas minhas coisas, procurando pela carteira.
— Isso é ridículo — murmurei mais para eu mesma do que para as outras pessoas do cômodo.
Os homens levantaram o colchão da minha cama e viraram as gavetas do meu armário de ponta cabeça. Depois olharam embaixo da cama e abriram uma por uma das minhas bolsas. Assim como revistaram um por um dos bolsos da minha jaqueta.
Meu celular tocou e eu o peguei em mãos. Assim que olhei o visor, me tranquilizei um pouco.
— Alô — falei, atendendo ao celular.
— Vadiaaaaaaaa — ouvi uma voz esganiçada do outro lado da linha, precisei afastar um pouco o telefone para não perder a audição. — Como você tá? Bora sair esse final de semana?
— Ah Veronica, nem tô com cabeça.
— "Veronica"? Vish! O que aconteceu? Quem eu tenho que matar?
— O reitor da minha faculdade.
— Aí o preço é mais alto, Lud — ela fala descontraída, e eu me permito dar um sorriso. Vero sempre me colocava pra cima. — O que aconteceu aí?
— Eles acham que eu roubei uma garota daqui!
— E você roubou? — Vero perguntou.
— Veronica! — praticamente berrei com ela, e ela riu do outro lado. — Isso é sério!
— Sério quanto?
— Sério tipo eu posso perder a minha bolsa de estudos.
— Puta que o pariu! Explica isso aí, Oliveira.
— Ah, cara! — exclamei. — Eles encontraram meu anel no quarto de uma menina que perdeu a carteira, e agora tão colocando a culpa pra cima de mim! — Revirei os olhos. — Só porque eu sou bolsista! Aposto que se fosse um desses mimadinhos desgraçados, eles nem estariam se dando ao trabalho. Eles estão revirando as minhas coisas Vero! — Observei um dos brutamontes abrir a última gaveta do armário e enfiar a mão ali. — É um absurdo! Só porque eu sou pobre eles acham que eu roubei a porcaria de uma... — Minha voz falhou quando vi o que o segurança puxou da última gaveta, era uma carteira dourada que eu tinha certeza que não era minha.
— Ludmilla? — Vero chamou do outro lado da linha.
— Vero, depois eu falo com você — disse para ela.
— Lud, o que aconteceu?
— Eu tô fodida — eu falei, observando o segurança abrir a carteira e encarando a foto 3x4 da carteirinha da faculdade de Ariana. — Foi isso o que aconteceu.
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