29 - Imensidão.
POV Ludmilla Oliveira
— Ludmilla, acorda! — ouvi uma voz conhecida chamar. Tentei abrir os olhos, mas a claridade repentina me cegou e eu os fechei novamente. — Ludmilla?
— O quê? — balbuciei.
Abri os olhos novamente e encarei Luane na minha frente. Olhei para os lados, tentando me situar e notei que eu estava dentro do carro da Sra. Lerman. Olhei para frente, ela estava sentada no banco do motorista e matinha um sorriso caloroso na minha direção. Logan, estava ao seu lado, também me olhando. Voltei minha atenção para Luane e a abracei com força.
— Lud, tá tudo bem? — Luane perguntou com a voz abafada, pois eu estava esmagando seu rosto contra meu colo. — Ludmilla?
— O que... o que aconteceu? — perguntei, soltando-me dela e olhando ao meu redor. Estávamos na frente da nossa casa.
— Você roncou o caminho inteiro, foi isso o que aconteceu — Lulu disse, arrancando um sorriso da Sra. Lerman e um riso baixo de Logan.
Tentei me situar no que estava acontecendo. Keaton no carro ao lado, a saída da estrada, o acidente...
Foi tudo um sonho.
Ainda aturdida, me despedi da Sra. Lerman e entrei em casa de mãos dadas com Luane e Logan veio logo atrás.
Dentro de casa, encontramos nossos pais na sala.
Minha mãe sorriu ao me ver com Luane e veio me dar uma abraço apertado. Meu pai fez o mesmo em seguida. Eles estavam calmos, então deduzi que eles não sabiam o que tinha acontecido com Luane. Procurei pela mão de Lulu e a apertei, como em um incentivo e ela entendeu imediatamente o que eu queria.
— Pai, mãe — Luane os chamou e os dois a encararam, Lulu apontou para o sofá e os dois se sentaram. Sentei-me com ela no sofá da frente e minha mãe já tinha uma expressão apavorada. Olhei para o lado e vi Logan encostado no batente da porta que separava a sala da cozinha. Luane respirou fundo. — Tenho que falar uma coisa pra vocês...
Eu nunca vi meu pai tão bravo quanto quando ele ouviu a história sobre Keaton. Assim que Luane terminou de contar, meu pai levantou-se do sofá e andou até nós, pegando Luane pelo braço e a levantando do sofá. Envolvendo-a em um abraço demorado. Notei que Lulu estava segurando as lágrimas e foi aí que eu percebi que aquela garota me orgulhava mais que qualquer pessoa no mundo. Minha mãe em seguida puxou Lulu para um abraço e meu pai se virou para mim. Eu ainda estava sentada no sofá, então ele teve que me puxar pelo braço para que eu ficasse na sua altura. E foi aí que eu pensei que ele ia me bater por ter trazido Keaton para aquela casa. Achei que ele estava me culpando por tudo. Mas ao invés disso, ele me abraçou com força.
— Me perdoa, pai — murmurei perto do ouvido dele. — Eu deixei um idiota entrar nessa casa e tentar fazer o que ele tentou.
— Eu só to feliz que vocês duas estão bem — ele retrucou. — Agora vamos, temos que abrir um boletim de ocorrência.
Abrimos o boletim de ocorrência contra Keaton, mas como era Brasil, não conseguimos fazer nada senão processá-lo e esperar pela audiência.
Passei o dia em casa, agarrada em Luane o máximo que pude, algo me dizia que as coisas iriam voltar ao normal agora.
Eu estava sentada no sofá da sala, com Lulu pendendo a cabeça em meu colo quando senti meu celular vibrar.
Brunna: tá tudo bem com você?
Sorri sozinha ao ver a mensagem e obviamente, Luane viu.
— Tá toda de sorrisinhos aí por quê? — ela perguntou, pulando em cima de mim e puxando meu celular da minha mão. Eu nem tive reação. Ainda estava me re-acostumando com a Luane sendo minha amiga novamente. Ela olhou a tela do celular e sorriu. — Quem é Brunna?
— Ninguém! — respondi, puxando o celular da mão dela.
— Não é qualquer pessoa que arranca esse sorrisinho de você, Lud — ela disse, voltando a deitar-se no meu colo. Eu a empurrei e ela quase caiu no chão. É, as coisas já tinham voltado ao normal.
— Já venho — falei, apertando meu celular em mãos e partindo para o lado de fora de casa.
— Vai ligar pra "ninguém"? — ela perguntou alto, fazendo com que eu quisesse lhe meter um tapa. Só consegui rir, era bom ter Luane de volta.
E era exatamente isso que eu ia fazer: ligar para Brunna.
Ela atendeu no primeiro toque.
— Alô? — ela disse do outro lado da linha.
— Hey, Brubs — cumprimentei-a. — Eu... é... só to ligando pra dizer que tá tudo bem.
Ouvi um suspiro vindo do outro lado da linha.
— Fico feliz em saber, Luane também está bem? — Murmurei um "uhum" e um silêncio desconfortável se instalou entre nós.
— Então... — falei depois de alguns segundos. — É... só isso mesmo... Boa noite.
Já estava para desligar e arrebentar minha cabeça na parede quando ela me chamou.
— Lud? — Eu fiz um sinal nasal para que ela continuasse. — Quer sair comigo amanhã?
— Amanhã? Amanhã é terça-feira, Brubs.
— E eu lá te perguntei que dia era amanhã? — ela perguntou, cheia de ironias.
Eu ri, e ela me acompanhou.
— Saio — eu disse, ignorando a segunda pergunta dela. — Me busca na frente do dormitório amanhã, meia hora depois de a aula acabar.
— Ok, até amanhã.
— Até amanhã, linda.
Assim que desliguei o telefone, virei-me para voltar para dentro da minha casa, mas trombei em algo antes e pulei de susto. Era Luane.
— "Linda"? — ela perguntou, rindo em seguida. — É assim que você pretende conquistar uma garota, Lud?
— Vai se ferrar! — falei, empurrando ela para dentro de casa.
Assim que as aulas de terça-feira acabaram, praticamente corri na direção do meu dormitório. Eu não tinha visto Keaton durante os intervalos e nem na entrada, e não sabia se eu agradecia ou amaldiçoava por isso. Ao mesmo tempo em que eu não queria vê-lo nunca mais na vida, eu queria encontrá-lo para meter-lhe uns socos na cara.
Tomei um banho no meu dormitório e fiquei vinte minutos apenas encarando o meu guarda-roupa. Desde quando eu era garota de ficar todo esse tempo procurando roupa, eu não sabia. Mas naquele dia em especial, eu não tinha ideia do que usar.
Patty me encarava pelo canto do olho, deitada em sua cama. Ela tinha seu notebook em mãos e passava várias fotos por ele, sempre anotando alguma coisa em um caderno.
— Está toda confusinha — Patty provocou, fechando o notebook e me encarando com um sorriso sacana. — Tem um encontro?
Senti meu rosto corar, mas me mantive de costas para ela.
— Mais ou menos.
Torci o nariz para as minhas roupas, que diabos eu vestiria?
Resolvi mandar uma mensagem no whatsapp para Bru.
Ludmilla: onde nós vamos?
Em menos de um minuto, meu celular vibrou.
Brunna: é uma surpresa.
Bufei em indignação.
Ludmilla: e o que devo vestir?
Brunna: o que você quiser vestir.
Ludmilla: me dá uma dica?
Brunna: não! e leva uma muda de roupas.
Observei aquela última mensagem e, se eu já estava desconfiando do destino daquela "saída" com Brunna, agora eu estava desconfiando em dobro. Garota teimosa!
Alexa levantou da cama, provavelmente com pena de mim e veio até o meu guarda-roupas.
— Aonde vocês vão? — ela perguntou, começando a mexer em minhas roupas.
— Não tenho ideia — respondi, torcendo os lábios. — Mas ela me falou para usar o que eu quiser usar.
— Ela? — Patty perguntou levantando uma das sobrancelhas, senti meu rosto corar novamente. Merda! Mas então, Patty apenas negou com a cabeça e voltou o olhar para o guarda-roupas. Puxou de lá um short jeans e uma regata branca. Então, desceu até a minha sapateira e pegou minha bota cano-baixo, jogando-a na minha direção. — De nada.
Então, ela voltou a se deitar na cama sem comentar mais nada e puxando seu notebook de volta para o colo.
Troquei-me e me encarei no espelho. Realmente haviam sido ótimas escolhas. Quando estava passando o lápis de olho, vi meu celular vibrando.
Brunna: vamos lá, sua noiva já estou aqui embaixo há dez minutos.
Teimosa e petulante.
Separei algumas roupas e enfiei na minha mochila.
Desci as escadas e encontrei Brunna na frente do prédio, encostada no capô de seu carro, mastigando um chiclete. Em suas mãos, ela tinha uma rosa. Quando me viu, sorriu o seu sorriso mais lindo.
Era um dia de semana, e teríamos aula no dia seguinte, mas passar um tempo com ela não era algo que eu dispensaria. Ainda assim, eu não gostava de sair durante a semana e ela não contar para onde estávamos indo estava me deixando louca, principalmente com o lance de levar uma muda de roupas.
Brunna me entregou a rosa e depositou um beijo na minha bochecha. Meu rosto corou, mas tentei manter a postura, ela abriu a porta do passageiro para mim e eu entrei.
Ela estava querendo me conquistar? Sorri com esse pensamento.
Brunna deu a volta no carro e foi até o lado do motorista. Assim que entrou, se virou para mim sorrindo.
— Podemos? — ela perguntou toda sorridente. A encarei desconfiada e perguntei:
— Brunna, estamos indo a um motel?
Brunna quase morreu engasgada com o chiclete que estava em sua boca e corou na hora me arrancando uma gargalhada. A pose de conquistadora dela foi embora na hora.
— Estou brincando Brubs. Céus! — falei enquanto limpava uma lágrima que saía do meu olho de tanto que eu havia rido.
Brunna me encarou e cerrou os olhos. Virou-se para o volante e ligou o carro. Aumentou o som e começou a cantar. Sorri. Ela era tão fofa. Estávamos ouvindo um dos 500 CDs da Avril Lavigne que Brunna gostava. Céus, por que essa mulher fez tantos CDs? E parecia que Brunna tinha todos dentro do porta-luvas grande. Ri com aquele pensamento.
Já haviam passado algumas músicas, até que ouvi uma música conhecida: "Girlfriend".
Quando me dei conta já estava cantando com Brunna, a fazendo gargalhar. O caminho todo foi muito divertido, mas nada se comparava ao lugar que Brunna me levou.
Eu já tinha tido alguma ideia no momento em que tínhamos passado pelo pedágio e descemos a serra, eu não viajava muito para lá, mas lembrava das poucas vezes. Eu evitei fazer perguntas.
Então, começamos a contornar a orla.
— Isso é... — Meus olhos brilhavam e eu tinha perdido as contas de quantos anos faziam que eu não ia à praia.
— Sim, estamos na praia, Ludmilla — Brunna disse sorrindo.
Bru estacionou o carro na garagem de seu apartamento – sim, é claro que ela tinha um apartamento lá. Deixamos as mochilas no carro e saímos do prédio. O prédio ficava de frente para a praia e Brunna segurou minha mão e fomos para perto do mar.
Brunna parou no meio da areia e encarou o céu. Então, fez o que eu não esperava o que uma mimadinha faria: deitou-se na areia.
— Deita aqui comigo, Lud — ela chamou e eu não hesitei em deitar-me ao lado dela.
Ficamos deitadas na areia, observando o céu. Já estava escuro e as estrelas estavam bem visíveis. A lua cheia estava linda, o cheiro de maresia me embriagava e a mão de Brunna apertada na minha me transmitiam uma paz interior não experimentada antes.
— Como você... — comecei e me virei para olhar Brunna — Por que aqui?
Brunna continuou olhando para o céu. A luz do luar iluminava seus olhos e deixava-os mais lindos ainda.
— Aqui sempre foi o meu lugar — ela respondeu. — O apartamento é dos meus pais, mas eles sempre me deixaram vir aqui, mesmo com meu pai sendo do tipo protetor... — Ela fez uma pausa. Ainda mantinha seus olhos no céu, e eu não conseguia desviar meus olhos dela. — Vir, deitar aqui sozinha, e encarar o céu. Me sinto tão... eu! — Brunna finalmente virou-se para me encarar — Assim como me sinto quando estou com você, me sinto uma menininha esperando que você pegue em minha mão. — Brunna riu e voltou a encarar o céu. Enquanto eu continuei a encará-la.
— Essa visão é a mais perfeita que já vi em minha vida.
— Então por que continua olhando para mim? Aprecie essa visão.
— É o que estou fazendo, estou apreciando a visão mais perfeita da minha vida.
Entrelacei nossas mãos e vi Brunna se arrepiar, ela continuou olhando para cima com um sorriso bobo. Virei-me para o céu e senti que só aí ela me olhou.
Ficamos mais algumas horas ali, em silêncio só observando as estrelas. Até que Brunna quebrou o silêncio:
— Estou com fome. — Gargalhei e ela também.
— Até que demorou para falar isso, estou ouvindo sua barriga roncar faz tempo. — Brunna fez uma careta mostrando a língua.
Fomos para o apartamento de Brunna e ela havia pensado em tudo. Haviam pizzas nos esperando. Comemos assistindo um filme chamado "D.E.B.S". Rimos muito. Até chegar nas cenas em que as meninas se beijam. Porque aí Brunna corou e engasgou com a Coca.
— Interessante — falei rindo da situação, quando o filme terminou.
— Ludmilla, eu não sabia que... — Brunna começou a se enrolar.
— Tudo bem, Brubs. — Comecei a gargalhar mais.
Brunna levantou-se e começou a arrumar a sala apressadamente. Eu fui para o quarto. Coloquei um dos CDs de Brunna para tocar e deitei na cama.
Comecei a divagar sobre como aquele dia tinha sido perfeito e continuei encarando o teto. Até que Brunna entrou no quarto. Virei meu olhar em sua direção e a observei enquanto deitava ao meu lado.
Nada precisava ser dito.
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