23 - Ressaca.
POV Brunna Gonçalves
Ela se virou e encarou meus olhos. Os olhos dela estavam repletos de tristeza, e eu não tinha ideia de onde vinha tudo aquilo. Eu tinha feito alguma coisa?
E então, ela desvencilhou seu olhar do meu e seguiu para a cama. Deitou-se de costas para mim, sem falar uma palavra sequer.
Suspirei. Fui até o meu armário, pegar outra roupa para eu mesma, já que Ludmilla havia molhado completamente a que eu usava. Troquei-me no banheiro.
Voltei ao quarto, apaguei as luzes e deitei-me ao lado dela. Ela estava de frente para mim agora. Pela fresta da janela, eu via que a luz do sol já ameaçava invadir o quarto. Já devia ser quase 6:00 da manhã. Eu deveria estar morrendo de sono, e admito que o cansaço me atingia. Mas demorei a dormir. Fiquei tempo demais encarando Ludmilla. Ela parecia estar tão triste... E a forma que ela chegara na minha casa... Por que ela estava se embebedando daquele jeito? O que será que tinha acontecido com ela?
Minha mão foi automaticamente para o seu rosto. Quando me dei conta, eu já o acariciava. Sua pele era tão macia que me fazia ter vontade de ficar ali apenas a acariciando por horas. Inclinei meu rosto para frente. Agora o meu hálito batia no rosto dela. Os lábios dela estavam tão próximos... Eu torcia para que ela não acordasse com o barulho que o meu coração estava fazendo por bater tão forte.
Encostei meus lábios nos seus, em um selinho demorado, e fechei os olhos. Aqueles lábios conseguiam ser a coisa mais maravilhosa que eu já havia experimentado mesmo com um selinho.
Separei-me sem pressa, mas ansiando por mais daquele contato e adormeci com o meu braço envolto em sua cintura.
Acordei algumas horas depois. Ludmilla ainda estava em meus braços. Dessa vez, de costas para mim, enquanto eu a envolvia em um abraço por trás. Suas mãos seguravam as minhas com certa força, talvez fosse o medo de que eu a soltasse.
Ou talvez ela esteja dormindo e você esteja imaginando coisas, Brunna — meu cérebro fez questão de me lembrar.
Afastei seus cabelos de sua nuca e beijei ali, vendo os pelos dela se arrepiarem. Depois, soltei-me aos poucos e a muito contragosto de seu corpo. Separei uma muda de roupas minhas para que ela colocasse ao acordar e deixei-as em cima da minha cama. Antes de sair do quarto, fui até a minha janela e a tranquei, hoje você não foge!
Praticamente corri para a cozinha, eu precisava fazer alguma coisa pra tirar aquela mulher da cabeça.
Parei na pia, comecei a mexer nas panelas, nas xícaras, nos pratos... procurando por alguma coisa pra fazer. Alguma ideia... Qualquer coisa.
Peguei uma panela na mão e decidi. Panquecas!
— Brubs? — Ludmilla chamou e eu desequilibrei a panela e a derrubei, acertando em cheio o meu pé direito. Ai! Puta que o pariu! Ludmilla pareceu ignorar. Virei-me para ela. Ela já estava completamente trocada e me encarava confusa. Levou a mão até a nuca e a coçou. — O que a gente fez ontem à noite?
POV Ludmilla Oliveira
Acordei com aquela conhecida dor de cabeça que a ressaca proporcionava. Eu estava em uma cama que não era a minha e a noite passada havia sido um belo de um borrão para mim. Entretanto, eu lembrava bem de ter tocado a campainha daquele apartamento.
Brunna não estava mais na cama. Fiquei um tempo ali, com a cabeça enfiada no travesseiro, me xingando mentalmente por ter vindo parar no apartamento de Brunna. Ela não tinha absolutamente nada a ver com os meus problemas pessoais, sequer chegava a ser minha amiga, ela era apenas uma caloura. Uma de muitas outras que eu precisei ensinar...
Então por que diabos ela mexia tanto comigo?
Larguei o travesseiro na cama e resolvi me levantar. Percebi que ali na cama haviam algumas roupas, que ela provavelmente separara para mim. Fiquei pensando em onde diabos estavam minhas roupas e então um flash passou pela minha mente de eu embaixo do chuveiro.
Putz, ela me deu um banho.
Vesti as roupas tentando não pensar nisso. Andei até a cozinha e senti que quase matei Brunna de susto quando chamei por ela. Quando perguntei o que diabos a gente tinha feito na noite anterior, eu perguntei com sinceridade. Eu não lembrava-me de muita coisa. Minha última lembrança era de eu chegando na casa dela, e depois tudo virou um grande borrão. Será que eu tinha feito alguma coisa?
Brunna me encarou por alguns segundos, provavelmente se perguntando se eu estava falando sério.
— A... A gente não fez nada... nada demais — ela gaguejou.
Um sorriso sem graça escapou dos meus lábios quando percebi que Brunna estava completamente corada, aquela menina era tão inocente que chegava a ser fofo. Dava até certa vontade de tirar toda a ingenuidade que ela possuía.
Com esse pensamento, meu cérebro voltou ao dia anterior. Meu sorriso murchou automaticamente. Luane...
Fiquei atordoada novamente, eu tinha que ir pra casa, eu tinha que falar com Luane, eu tinha que conversar com Logan. Eu tinha que matar o Keaton.
Brunna percebeu meu atordoamento e se aproximou.
— Ludmilla? — ela chamou, tocando meu rosto com a sua mão e o acariciando. Em um momento de fraqueza permiti que ela me acariciasse. Era um toque tão suave, tão gostoso. Ela me encarava com aqueles olhos penetrantes. Eles transmitiam tanta coisa ao mesmo que tempo que quase fiquei tonta, mas logo retomei a consciência.
— Eu... tenho que ir — falei. — Depois eu pego as minhas roupas.
Saí do contato com Brunna e me encaminhei para a porta. Mas eu estava sendo muito ingênua ao achar que Brunna ia deixar que eu fosse embora pela segunda vez de sua casa sem ao menos lhe dar uma explicação. Ela me pegou pelo braço. Não com força. Não com brutalidade. A encarei. Seu olhar transmitia preocupação.
— O que aconteceu com você ontem? — ela perguntou, seus olhos se tornaram mais implicantes, e eu quase cedi. Mas eu não podia fazer isso, mesmo que Keaton merecesse que eu transasse com metade do mundo agora. Lembrar de Keaton me deixou brava novamente.
— Nada, menina! — eu exclamei, me esquivando do seu braço. — Eu tenho que ir embora!
Virei-me novamente e fui de encontro a porta. A abri e saí. Chamei o elevador e fiquei esperando até que ele chegasse. Depois de alguns segundos, o elevador chegou, e eu estava pra entrar, mas quando fiz menção de fazê-lo, senti alguém me segurar pelo braço e me jogar na parede do corredor. Bati as costas na parede e minha cabeça latejou mais do que já estava latejando. Antes que eu pudesse reagir, os lábios de Brunna já atacavam os meus.
Jesus, garota, cadê sua inocência?
Eu não tentei me esquivar. Estranhamente, toda a raiva que eu tinha ia embora quando Brunna me tocava.
Tentei não pensar. Ela segurou minha cintura com suas mãos e as minhas foram de encontro ao seu rosto, o acariciando entre o beijo. Logo, ela invadiu minha boca e eu deixei que ela dominasse o beijo. Todos os músculos do meu corpo pareciam ter adormecido com aquele contato. Meu coração acelerou de uma forma estranha. O corpo dela estava pressionado ao meu e eu podia sentir que ele tremia também. Provavelmente ela estaria tão inquieta quanto eu, paramos para respirar e ela deixou um sorriso fofo aparecer em seu rosto. Eu tinha que admitir que aquela garota mexia comigo de uma forma irracional. Eu mal a conhecia, e eu sentia que o beijo dela havia sido o melhor que eu já dera na vida.
Talvez seja a carência pelo Keaton não estar me satisfazendo o suficiente.
Lembrar de Keaton mais uma vez fodeu com qualquer ato seguinte.
— Bru... — comecei. Ela acenou com a cabeça para que eu continuasse. Ela ainda sorria. — Eu tenho que ir. — O sorriso dela murchou.
— Fiz algo de errado?
— Não — respondi. — Eu só to muito atordoada no momento, tem muita coisa acontecendo...
— Entendo — ela disse.
— Então, eu tenho que ir.
— Entendo.
— Agora.
— Ok.
Nenhuma de nós se mexeu. A respiração de Brunna ainda batia em meu rosto e após alguns minutos, eu tive que controlar minha vontade de beijá-la para afastá-la de meu corpo, chamei o elevador novamente.
O elevador apareceu e eu entrei. Brunna permaneceu no mesmo lugar, encarando o chão. Ela parecia estar sensível ao extremo.
As portas do elevador começaram a se fechar, mas antes que elas concluíssem o fechamento, eu as impedi. Corri de volta até Brunna e levantei seu rosto. Ela me encarou com aqueles olhos profundos. Enlacei-a em meus braços e senti suas mãos envolverem minha nuca. Não foi nada mais que um selinho demorado, mas ele tinha certo significado.
A soltei e voltei para o elevador, deixando, dessa vez, que as portas se fechassem enquanto eu via, do outro lado, Brunna sorrir de forma tímida.
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