21 - Drunk.
POV Brunna Gonçalves
Saí do banheiro praticamente correndo e esbarrei em tudo quanto foi gente. Cheguei ao bar e praticamente me escorei no balcão, pedindo por uma dose de tequila. Mandei uma mensagem pra greeneyes sem pensar se ia me arrepender disso depois. Eu só queria uma pessoa com quem eu pudesse conversar sobre isso cara a cara sem que me julgasse, e eu sabia que ela seria a pessoa perfeita para isso. Virei o shot de tequila sem nem pensar direito. Eu só queria esquecer tudo o que tinha acontecido alguns minutos atrás, mas algo me dizia que eu não ia esquecer. Então, eu fui até a pista de música eletrônica e por ali fiquei. Encontrei com Juliana e Júlia. Logo Dayane também se juntou a nós. De longe, pude ver Keaton dançando com algumas meninas em volta e quase vomitei. Eu não entendia aquilo. Ludmilla estava pegando aquela menina que gritara no banheiro? Eles tinham um relacionamento aberto, então? Ou ela estava traindo ele descaradamente debaixo do nariz dele? Saí da pista e fui para o bar novamente. Pedi outra tequila.
Brunna, você disse que não ia pensar nisso, inferno! — me repreendi mentalmente, enquanto virava mais um shot.
Voltei para a pista, e nas horas que se passaram tentei pensar o menos possível em Ludmilla. Dancei com Dayane, com Júlia, com Juliana, com pessoas que eu sequer conhecia no meio daquela multidão. Dancei com todos ao mesmo tempo em que praticamente ignorava todos. Eu não queria focar a minha visão e ver Ludmilla parada na minha frente. Ariana sequer se aproximou de mim a balada inteira, e eu agradecia por isso. Provavelmente ela estaria na pista de música ao vivo, era o estilo preferido dela, já que a própria tocava violão.
Quando já batia as 4hrs da manhã, e a bebida já tinha parado de fazer efeito, resolvi ir pra casa. Júlia quis ficar, obviamente. Juliana também ficou, já que estava de paquera com um garoto do tamanho de uma porta. Fiquei imaginando ela tendo que pular em cima dele toda vez que o quiser beijar, afinal, Juliana era muito baixinha. Uma baixinha fofa, mas uma baixinha. Já Ariana eu sequer sabia onde estava.
Saí da balada e peguei um taxi. No caminho de volta para casa as lembranças me atingiram de novo. Dessa vez eu não tinha bebida nem música alta pra interrompê-los. Aquele beijo... Céus, aquele beijo... Foi a melhor coisa que já me aconteceu. Aqueles lábios pressionados nos meus. Eu não sabia o que diabos estava acontecendo. Eu mal tinha dado o meu primeiro beijo. Pior: ele tinha sido com uma menina e depois de alguns dias, lá estava eu, atracada com uma menina dentro de uma cabine de uma boate. E tenho certeza que se não tivessem nos interrompido, teria acontecido alguma coisa ali da qual eu provavelmente me arrependeria mais tarde.
Esquece, Bru. Esquece — pensei enquanto balançava a cabeça.
O taxista parou na frente do meu prédio, eu o paguei e desci.
Como eu queria estar bêbada agora, pensei. Quem sabe assim minha cabeça gira por outro motivo que não seja aquela garota detestável.
Assim que entrei no meu apartamento, já corri direto para o banheiro. Eu estava precisando disso desde que saíra daquela cabine com Ludmilla.
Saí do banheiro me sentindo renovada. Joguei-me na cama e peguei o celular. Vi que tinha uma mensagem de greeneyes. Putz, eu tinha até esquecido que tinha mandado uma mensagem pra ela... Será que ela tinha devolvido zoando com a minha cara?
Abri a mensagem e não consegui não sorrir. Apertei pra responder, entretanto, antes que eu pudesse fazer isso, a campainha da minha casa tocou. Levantei-me um pouco com raiva, um pouco com receio. Quem bateria na minha casa quase 5:00 da manhã?
Ariana, se for você eu juro que... — pensei, enquanto abria a porta.
Assim que olhei para a pessoa parada na porta da minha casa, só consegui falar uma coisa:
— O que aconteceu com você?
POV Ludmilla Oliveira
Depois que respondi aquela mensagem de lovespizza, não recebi um retorno. Fiquei encarando o celular por alguns minutos, mas logo me dei por vencida. Ela deveria ter ido dormir, foi o que eu pensei. Rolei na cama por minutos ou horas, eu não sabia. Aquela cena tão nítida de Brunna e eu no banheiro insistia em invadir meus pensamentos, e eu tentei de tudo para tentar tirá-la da cabeça, mas não conseguia. Enfiei o travesseiro na minha cabeça, coloquei meus fones de ouvido, desci a minha dash do Tumblr por muito tempo, mas ainda assim, eu não conseguia tirar Brunna da cabeça. Aquele beijo fora tão inexplicavelmente bom que só de pensar nele já me fazia querê-lo mais.
Fechei o computador, larguei o celular ao lado do travesseiro e me virei para a parede, Brunna não ia me tirar uma noite de sono.
Eu estava quase pegando no sono quando o meu celular tocou, olhei o número de casa no visor e franzi o cenho. Quem diabos estava me ligando da minha casa àquele horário?
— Alô — disse eu, quando atendi.
— Ludmilla, filha! — minha mãe tinha uma voz chorosa do outro lado da linha.
— Mãe, aconteceu alguma coisa?
— Aconteceu, querida. Desculpe te incomodar esse horário da noite, mas é importante e achei que você ia querer saber.
— Mãe, não precisa pedir desculpas coisa nenhuma! Me fala agora o que foi!
— A Luane, filha — ela disse, provavelmente voltando a chorar. — Ela... tentou se matar.
Minha cabeça girou com aquela informação. Por que Luane iria tentar se matar? Um ano atrás ela estava sorrindo, radiante, dizendo que amava a vida e que não entendia esse pessoal que tentava tirá-la. E foi aí que a minha cabeça clareou... O estupro.
— Eu to indo pra casa agora — me limitei a dizer, e desliguei o celular.
Levantei-me e me enfiei em qualquer roupa. Quando vi um taxi passando, o chamei. Eu estava pouco ligando pro pouco dinheiro que eu tinha, eu tinha que ver Luane. Falei o endereço para o motorista com pressa e ele começou a dirigir. Olhei no relógio, já eram 3:00 da manhã. Eu queria chegar logo, mas o caminho parecia ser o mais longo que eu já fizera na minha vida. A angústia tomava o meu peito. Mais uma vez, Luane estava desprotegida, e eu estava longe dela, não só fisicamente quanto emocionalmente também.
O taxista estacionou e eu joguei o dinheiro pra ele, gritando "fica com o troco" e imaginando que eu ia me arrepender depois disso, afinal, eu não tinha um puto na carteira.
Parei na frente de casa e comecei a tocar a campainha desesperadamente, na pressa eu havia esquecido de pegar as minhas chaves. Após alguns segundos, a porta se abriu e eu encarei uma Dona Silvana muitíssimo triste. Abracei-a demoradamente, sentindo ela chorar em meu ombro. Eu não imaginava o quanto ela estava triste com aquilo, uma das filhas dela tentara se matar, isso não é pouca coisa.
Marcos estava no sofá da sala, com a cabeça entre os braços. Levantou a cabeça pra mim e percebi seus olhos marejados. Ele e Luane brigavam quase sempre, mas ele a amava tanto quanto eu. Procurei por meu pai, mas não o achei em lugar algum.
— Onde ela está? — perguntei à minha mãe.
— Lá... Lá em cima — ela respondeu, trancando a porta de casa.
Subi as escadas dois degraus de cada vez e parei em frente ao nosso quarto. Eu estava contendo as lágrimas desde que recebera aquela notícia, e desde ela, também, eu estava louca para ver Luane. Mas, no instante em que parei na frente da porta do quarto, meu corpo se paralisou por alguns segundos. Eu não sabia o que dizer à ela.
Respirei fundo e abri a porta devagar. Luane estava sentada na cama, de costas pra mim. Parecia olhar um ponto fixo na parede e sequer fez menção de se virar quando entrei no quarto, ela parecia presa em seu próprio mundo.
— Lulu — chamei-a o mais carinhosa que pude.
— Ludmilla — ela disse quase em um sussurro. —, vai embora, por favor.
Aproximei-me dela e sentei-me ao seu lado na cama, ela se esquivou. Tentei puxá-la para um abraço, ela se esquivou de novo.
— Lulu, o que eu puder fazer por você... — comecei a dizer, mas o olhar que ela me lançou fez com que eu parasse. Seus olhos estavam vermelhos e seu rosto molhado com as lágrimas que por ali escorreram. Era um olhar que transmitia mágoa. Um olhar que eu possivelmente nunca vira em Luane antes. Os outros eram só tristeza, mas este não e não era uma mágoa qualquer. Eu podia sentir. Ela estava magoada comigo.
— Vai embora, Ludmilla — repetiu.
— Mas Luane...
— Você me enoja, sabia? — ela perguntou. — Como você pode fazer isso comigo? Como você continua namorando ele depois de tudo o que você sabe?
— Luane, do que você...
— NÃO OUVIU O QUE EU DISSE? — ela me interrompeu, gritando dessa vez. Levantei-me de sobressalto, me afastando dela por instinto. A raiva que estava presente em seu olhar era desconhecida até então. Ela continuou gritando. — VAI EMBORA DAQUI, LUDMILLA!
— Deus do céu, o que está acontecendo? — Minha mãe surgiu na porta do quarto e logo se pôs entre mim e Luane.
— EU QUERO QUE VOCÊ VÁ EMBORA — Luane gritou mais. — EU NÃO QUERO TE VER NUNCA MAIS NA MINHA VIDA! ESQUEÇA QUE VOCÊ É MINHA IRMÃ, SUA VADIA!
Minha mão foi à minha boca instantaneamente, e as lágrimas chegaram depressa. Por que Luane estava falando aqueles tipos de coisas pra mim?
— Ludmilla, filha, por favor, vai — minha mãe disse, segurando Luane pelos braços. A mesma se desvencilhou do contato e se jogou na própria cama, trazendo o cobertor até acima da cabeça.
Eu não conseguia fazer nada senão chorar. Então, senti duas mãos fortes em meus ombros. Olhei para cima e encarei meu pai, deixei que ele me guiasse até o lado de fora do quarto.
— Filha, a gente cuida dela por hoje — ele disse. — Vai pro dormitório, volta amanhã que as coisas vão estar melhores.
— Eu não quero ir, pai — eu disse, com as lágrimas caindo em meu rosto desesperadamente.
— Eu sei, meu amor — ele falou, me englobando em um abraço. — Luane está passando por uma situação difícil, todos estamos. Acredite, mais raiva não é a solução. Deixe as coisas esfriarem.
Ele se desvencilhou do abraço e beijou minha testa.
Apenas acenei com a cabeça. Minha mãe fechou a porta do meu quarto e de Luane e me encarou com uma expressão de tristeza.
— Eu vou... — comecei falar e minha voz saiu rouca. — Eu vou embora.
Me virei e desci as escadas. Saí porta a fora da minha casa e caminhei sem rumo por algumas ruas. Eu não tinha ideia de onde ir. Olhei no relógio do meu celular. 3:45. Tudo o que eu tinha no bolso era um dinheiro que não seria suficiente para um taxi e meu bilhete único. Mas de quê adiantava ter o bilhete único se o metrô de São Paulo só abria às 4:40?
Parei em frente à um boteco qualquer. Tirei o dinheiro do bolso e o contei. Isso ia dar pra alguma coisa.
Entrei recebendo alguns olhares estranhos de alguns homens, mas sinceramente, não me importei. O bar estava um tanto cheio, o que eu estranhei, porque era realmente nojento ali dentro. Muita gente estava em pé, pelo fato de não terem lugares o suficiente nas mesas. Uma música alta tocava e dois carinhas se aproximaram perguntando se podiam me pagar uma bebida. Eu deixei, é claro. Eu não tinha grana o suficiente pra encher a cara sozinha. Mas logo que eles pagaram – um uma tequila, e outro um uísque –, eu dispensei eles dizendo que tinha um namorado muito ciumento e grande. Eles provavelmente não acreditaram, mas pelo menos foram embora. Com o dinheiro que me restou, virei mais três tequilas e bebi umas três latinhas de cerveja.
Só sei que só saí do bar quando os garçons já estavam colocando as cadeiras para cima das mesas.
Ainda estava escuro do lado de fora, mas, quando olhei no relógio, vi que já eram 4:45.Metrô, pensei, e saí cambaleando e tropeçando em tudo na direção da entrada do metrô. Fiquei brigando por uns cinco minutos com uma pessoa que tinha resolvido simplesmente ficar parada na minha frente, mas quando foquei melhor o olhar e percebi ser uma árvore, e não uma pessoa, entrei no metrô e o peguei. A tontura não saía de mim e eu estava agradecida por isso, pelo menos assim a dor das palavras de Luane não me invadiam.
Eu não sei quando exatamente meus passos tomaram aquela direção, mas, quando me dei conta, eu já estava passando pelo porteiro do prédio, que havia me conhecido anteriormente e sabia que eu estava nos nomes liberados para entrada, então me deixou entrar sem problemas. Mesmo com o meu estado.
Subi até o 15º andar e quando o elevador parou, me escorei na parede, encarando aquelas duas portas. Elas giravam tanto que eu não sabia distinguir qual era a certa, dei alguns passos para a esquerda. Isso, eu lembrava que o apartamento que eu queria ficava na porta da esquerda. Tentei não pensar no que eu estava fazendo, ou provavelmente fugiria, porque no instante seguinte, eu estava apertando a campainha da casa de Brunna.
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