17 - laboratório 3.
POV Brunna Gonçalves
Desliguei o telefone na cara de Ludmilla sem nem ao menos pensar duas vezes, ela tinha simplesmente saído correndo do meu apartamento pela escada de incêndio. Que tipo de pessoa faz isso? Eu ainda não entendia e quis me matar por isso, as vezes minha ingenuidade fazia com que eu quisesse me matar por dentro. A forma que ela falou "eu não quis atrapalhar o seu beijo" me deixou intrigada, o que ela quis dizer com aquilo? Durante aquela ligação, eu realmente não me reconheci falando, de onde tinha surgido tudo aquilo, afinal? Aquela vontade de provocá-la? De onde surgira a certeza de que ela realmente estava com ciúmes?
Tentei mandar aqueles pensamentos embora. Passei o resto do meu domingo jogada na minha cama, sem sequer pensar em pegar o meu celular. Eu estava sentindo a insegurança se aproximar cada vez mais, Júlia veio até o meu apartamento em uma determinada hora da tarde, me chamando para ir a um parque, mas eu recusei, eu queria ficar sozinha.
Enrolei-me em um cobertor e passei o dia inteiro jogada no meu sofá, assistindo televisão.
A segunda-feira chegou rapidamente. Eu levantei assim que meu despertador tocou, mas ainda assim minha vontade de atacá-lo na parede não era menor. Eu não tinha dormido direito aquela noite, principalmente depois que eu peguei o meu celular e vi que ali não tinha uma mensagem sequer de Ludmilla. Será que eu havia ultrapassado algum limite? Droga Brunna! — pensei enquanto continuava olhando para o celular inquieta, o que eu estava esperando? Ela não me mandaria uma mensagem, eu tinha sido uma idiota e tinha que corrigir isso.
Pouco antes de ir para a faculdade resolvi mandar outra mensagem para ela:
Brunna: Ludmilla, desculpa... eu... podemos nos encontrar? Eu queria muito conversar com você... e também... minha prova é sexta, poderia só dar uma revisada comigo? Eu ainda sinto que tô meio atrasada...
Fechei os olhos e apertei enviar. Passaram-se minutos, e eu continuava ali, encarando o celular. Meu celular vibrou nas minhas mãos e eu o desbloqueei imediatamente.
Ludmilla: me encontra no laboratório 3, às 19:30, ok?
Respirei fundo e enviei um "ok", antes de pegar minha bolsa e me encaminhar até o lado de fora do apartamento. Assim que fechei minha porta, ouvi o barulho da porta ao lado se fechando também. Encarei uma Júlia sorridente. Ela veio até mim e me abraçou pelos ombros, e, assim, entramos no elevador.
— Tá tudo bem, Bru? — Júlia perguntou quando as portas do elevador se fecharam. Eu respirei fundo. Não queria esconder de Júlia o que quer que estivesse acontecendo com Ludmilla, porém eu também não sabia o que exatamente aquilo significava. Eu não tinha ideia do que dizer para a minha melhor amiga. Então apenas me limitei a dar um meio-sorriso e dizer:
— Sim, tudo bem...
Eu sabia que Júlia não iria cair naquela. Ela me conhecia desde que eu era pequena, sabia muito bem quando eu estava bem ou não estava. Geralmente ela insistiria para saber o que diabos estava acontecendo, entretanto, dessa vez fora diferente. Ela permaneceu em silêncio até que chegamos em nossos carros e nos despedimos.
Liguei o som e dirigi até a faculdade. Quando estacionei o carro e me dirigi até o meu prédio, não vi sinal de Ludmilla de lugar algum, então desisti de procurar.
As aulas decorreram tranquilamente. Eu não tinha biologia nas segundas-feiras, e não sabia se tinha que agradecer ou não a este fato. Enquanto às outras aulas, elas eram tranquilas para mim (não que fossem totalmente tranquilas, afinal, Medicina é um curso ferrado de se fazer, mas nada se comparava à Anatomia).
O sinal do primeiro período tocou e fomos para o intervalo e passei o mesmo com Júlia. Ariana fazia Pedagogia em um prédio mais distante, mas sempre vinha passar o intervalo conosco. Porém aquele dia fora diferente, nem vi a cara dela durante o intervalo inteiro, voltei frustrada para a sala de aula. Não sabia se pelo fato de Ariana não ter vindo falar comigo ou se era pelo fato de que eu não vira Ludmilla o dia inteiro. Pensei na possibilidade de ela estar se escondendo de mim, mas assim que entrei na sala decidi parar de pensar em Ludmilla. Eu tinha que me concentrar nas aulas.
Assim que as aulas do segundo período acabaram, saí com a multidão de pessoas para o pátio. Sentei-me em uma das cadeiras da lanchonete e puxei meu livro de Anatomia da mochila e ali fiquei durante o tempo que se estendeu até que se completassem 19:30, conforme o combinado com Ludmilla.
Guardei meu livro de Anatomia e voltei para o prédio de Medicina, entrando ali e estranhando completamente alguns pontos já escuros dentro dele. Parecia que não tinha ninguém naquele prédio mais. Andei vagarosamente até o andar de cima, onde ficavam os laboratórios e encontrei o número três. Ele também estava escuro, então hesitei antes de abri-lo. Mas assim que o abri, senti um braço me puxando para dentro e, logo em seguida, alguém me encostando na parede. Uma de suas mãos veio até a minha boca, tapando-a. Eu não tentei gritar ou me debater, pois a partir do momento em que eu senti aquele cheiro embriagante, eu já sabia muito bem quem era. Seu corpo estava colado no meu e eu tentei não estremecer com o contato. Mesmo com as roupas presentes, o corpo daquela mulher estava conseguindo me tirar do sério.
— Shhh — Ludmilla murmurou, perto do meu ouvido e um arrepio percorreu a minha nuca imediatamente. — Não é permitido que fiquemos aqui, então você vai precisar fazer silêncio.
A única coisa que consegui fazer foi acenar com a cabeça. Ela se afastou de mim, quase me fazendo protestar para que não o fizesse, e então trouxe sua mão até a minha, apertando-a e me levando para o meio do laboratório.
— Ludmilla, como pretende estudar aqui? — tentei falar o mais baixo possível.
Ela parou no meio do laboratório, de frente para mim e uma de suas mãos ainda estava segurando a minha. Então, sua mão passou da minha mão para o meu braço, fazendo uma linha reta nele e deixando todos os pelos por onde passava arrepiados.
— Não vamos acender as luzes, se é o que está pensando — ela disse, e quando fiz menção de protestar, Ludmilla me calou com o dedo indicador apoiado em minha boca. — Já tentamos do seu jeito Bru e não deu certo. Agora, vamos tentar do meu, está certo? — Eu acenei com a cabeça, mais uma vez muito atônita para fazer qualquer outra coisa. Ludmilla tirou sua mão do meu lábio e desceu até o meu pescoço, traçando um caminho até o meu colo e voltando até o meu braço. — Você vai aprender de uma forma diferente agora. Você vai sentir, ok? Eu sei que está escuro, mas eu vou pedir para que você feche os olhos. Se concentre em alguma coisa que te faça bem e tente absorver o máximo do que eu vou falar.
Respirei fundo.
— Tudo bem — eu falei, com a respiração mais ofegante do que eu queria.
— Ótimo.
E então, Ludmilla começou a fazer o seu ritual de movimentar as suas mãos até uma área específica do meu corpo e dizer o que era aquilo e para quê era usado. Eu tentava aprender, enquanto tentava não cair na tentação de agarrá-la. Era complicado, mas como eu tinha que, constantemente me policiar quando o assunto era ela, isso fazia com que eu tentasse focar em outra coisa, apenas para deixar de pensar naquela mulher que estava ali na minha frente. E, consequentemente, eu aprendia com mais facilidade. Das complicações surgem as coisas mais simples, eu diria.
Eu não sabia dizer há quanto tempo estávamos ali. Pareciam segundos, mas eu sabia que provavelmente poderiam ser horas. E eu não me incomodava nem um pouco. Não me importava de ficar ali, no completo escuro com uma garota que eu não conhecia há muito tempo. Não me importava com a iminente possibilidade de algum segurança do campus nos pegar ali. Eu simplesmente não me importava com nada. Eu tentara por meses entender aquela porcaria de matéria, e eu finalmente estava conseguindo e então isso me deixava mais feliz que qualquer outra coisa.
Talvez essa felicidade não seja por causa da Anatomia, Brunna — minha mente disse. Balancei a cabeça e tentei mandar esses pensamentos embora. Anatomia, Brunna. Anatomia!
— Uma das coisas que sempre cai na prova é a forma em que você verifica a pulsação — Ludmilla disse, usando o tom mais profissional possível. — Alguns utilizam o pulso, mas eu prefiro usar o pescoço. — E então, ela trouxe sua mão até o meu pescoço, apertando dois dedos ali. — Bem aqui. Sente isso?
— Eu sinto a pulsação contra a sua pele — eu falei, minha voz soava mais rouca que o normal. — Mas eu acho que é diferente quando sentimos em outra pessoa.
Mesmo no escuro, eu sabia que Ludmilla estava esboçando um sorriso.
— Sim, de fato é diferente — ela disse. — Vem aqui, então. — E então, ela puxou a minha mão direita de encontro ao seu pescoço. O contato dos meus dedos com a sua pele fez com que todos os pelos do meu corpo se arrepiassem. Eu ainda não conseguia definir que sensação era aquela que eu sentia quando estava com ela. Ela pressionou minha mão contra seu pescoço e eu pude sentir a sua pulsação. Ela estava acelerada demais para alguém que só estava estudando. — Você sente?
— Sinto — respondi, deixando um suspiro escapar dos meus lábios. — Por que está tão rápido?
— Ah, isso — Ludmilla começou a dizer, completamente sem graça. — É que... eu... bem... chega por hoje, né? — E então, ela segurou a minha mão que estava em seu pescoço e fez menção de retirá-la, mas eu a segurei com mais força pela nuca e a aproximei. Sua respiração quente batia em meu rosto e se juntava com a minha. Eu não precisava verificar a sua pulsação para saber que o coração dela estava batendo tão forte quanto o meu estava. E então, seus lábios tocaram os meus, e uma sensação de calor percorreu todo o meu corpo. A diferença entre o dela e o de Ariana era do tamanho de um abismo. Ariana era delicada, tanto quanto Ludmilla era, mas Ludmilla me passava uma delicadeza diferente da de Ariana. E o meu sentimento em si, era diferente também. Com Ariana eu fiquei surpresa, meu coração acelerou e eu não posso dizer que não gostei daquilo, mas com Ludmilla... Céus, com Ludmilla, era tudo melhor e mais intensificado. Só o encostar de nossos lábios já fazia com que o meu corpo inteiro se arrepiasse. Eu abri espaço pela boca dela com a minha língua, e, apesar de aquele de fato ser o meu primeiro beijo de língua, eu sabia exatamente o que fazer. As mãos de Ludmilla desceram até a minha cintura e me apertaram contra ela enquanto minha língua explorava toda a extensão de sua boca. Logo, a língua dela se enlaçou na minha e foi aí que eu fui ao céu e voltei. Ludmilla deu alguns passos na direção da parede do laboratório e ali me encostou como tinha feito da outra vez, ainda sem desgrudar seus lábios dos meus. Minhas mãos arranharam, automaticamente, sua nuca enquanto as dela apertavam minha cintura e desciam na direção da minha bunda. O beijo estava cada vez mais intensificado, e eu não podia pedir por um primeiro beijo melhor que aquele. Separamo-nos a procura de ar, e Ludmilla colou sua testa na minha. Eu estava sorrindo e eu sabia que ela também estava. Antes que qualquer uma pudesse falar qualquer coisa, entretanto, a porta do laboratório se abriu e as luzes foram acesas.
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