16 - kiss me.
POV Brunna Gonçalves
Quando tropecei no pé de Ludmilla e praticamente a empurrei para o chão, eu já achava que ia me machucar de alguma forma. Entretanto, quando caí, alguma coisa amorteceu o meu impacto. Minha surpresa veio quando abri os olhos e vi o que fora que tinha amortecido: Ludmilla. Seus olhos castanhos me encaravam com profundidade e eu mal conseguia ouvir as batidas do meu coração, de tão rápidas que estavam. Minha respiração se juntou com a dela e descobri que aquilo era muito melhor quando ambas estávamos acordadas. Ludmilla respirava forte, e como eu estava em contato com o seu corpo, notei que seu coração também batia forte.
Ela levantou sua mão direita e a trouxe até o meu rosto, o acariciando levemente da mesma forma que tinha feito durante a noite. Fechei os olhos ao sentir seu toque e um sorriso bobo surgiu em meus lábios. Então, senti a aproximação dela. Inclinei meu corpo, meu coração provavelmente já tinha parado àquela hora. Era uma garota. Era a minha tutora de Medicina. Era a garota com os olhos mais lindos que eu já vira, e isso não tinha nada a ver com a cor deles, e sim com a profundidade e o carinho que eles me encaravam. Tentei não pensar. Ela estava tão perto. Senti sua respiração se misturar mais ainda com a minha. Minha insegurança me invadiu. Era o meu primeiro beijo, eu não tinha ideia do que fazer. E ainda mais, era uma garota. Eu nunca tinha sequer pensado nessa possibilidade. Mas, algo me dizia que era certo.
Antes que seus lábios me tocassem, entretanto, uma música alta começou a tocar em algum ponto próximo de onde estávamos. Nos inclinamos imediatamente na direção do som e a culpa me atingiu em cheio quando vi Ariana parada ali, com os olhos marejados. Ela fechou os olhos e balançou a cabeça, se virando e saindo quase que correndo do meu apartamento. Minha única reação foi correr atrás dela. Quando a alcancei, ela já estava no corredor, apertando freneticamente o botão do elevador para que ele chegasse.
— Nana? — chamei pelo apelido, esperando que assim ela amolecesse um pouco. Estava pensando que ela deveria estar puta da vida, achando que eu estava tendo alguma coisa com Ludmilla e ela, como minha melhor amiga, não sabia. — Não é nada do que você tá pensando.
Ariana se virou para mim e me encarou. Seu rosto já estava um pouco molhado por conta do choro e eu quis me matar por ter causado aquilo. Ninguém que faça aquele ser humano sensível e fofo chorar era digno de sua amizade.
— Bru, por que ela? — Ariana perguntou.
Eu franzi o cenho.
— Como assim "por que ela?"?
Ariana limpou as lágrimas do rosto antes de continuar:
— Você não percebe? Por que não eu?
— Nana, do quê você tá faland... — comecei, mas fui interrompida quando Ariana encostou seus lábios nos meus. Os lábios dela eram macios e tinham um gosto de cereja, já que era o sabor de seu brilho labial preferido. Meu coração disparou e os pelos do meu corpo se arrepiaram quando ela trouxe sua mão até a minha cintura e me puxou de encontro à ela. E então, recobrei a minha consciência e a afastei de mim. Ela me encarou confusa.
— Ariana, acho que você tá confundindo as coisas... — eu disse, a encarando nos olhos. Eles ainda estavam marejados e eu não pude deixar de sentir mais uma vez aquela culpa. Era errado. Não porque era uma garota, mas porque não era ela quem eu queria.
Foi aí que então as portas do elevador se abriram e Ariana entrou em silêncio, eu deixei as portas se fecharem, não tive reação para ir atrás dela.
Ludmilla, pensei. É a dona daqueles olhos castanhos que eu quero.
Então, corri de volta para o apartamento. Procurei por todos os cômodos, mas não a encontrei em lugar nenhum. Encontrei a camiseta que eu havia emprestado à ela jogada na minha cama. Peguei-a e a trouxe de encontro ao meu rosto. Como eu imaginava, o cheiro dela estava impregnado ali. Joguei-me na minha cama, pensando em tudo o que tinha acontecido. Ela tinha ido embora.
Como ela poderia ter ido embora sem sequer passar por mim? Que eu soubesse aquele era o único caminho para a saída do prédio, tentei puxar pela memória.
As escadas de incêndio, pensei, como eu pude ser tão burra?
Corri na direção da janela do quarto e me inclinei sobre ela, olhando para baixo a tempo de ver Ludmilla pular o último degrau e sair em passos largos na direção oposta do meu prédio.
POV Ludmilla Oliveira
Assim que Brunna se levantou para ir atrás daquela magrela da amiga dela, eu fiquei sem reação por alguns segundos, mas logo retomei a minha consciência e fui atrás dela. Brunna saiu do apartamento e deixou a porta escancarada, e então, eu consegui ver o que estava acontecendo do lado de fora. Elas estavam frente à frente, e Ariana parecia estar magoada. Não quis me intrometer na conversa das duas, mas eu tinha uma sensação de que se eu não interrompesse, algo aconteceria. E foi dito e feito. Quando eu estava me aproximando delas, Ariana inclinou o rosto para perto do de Brunna e selou seus lábios. Meu estômago revirou e eu sabia que se eu ficasse um pouco mais ali, eu provavelmente vomitaria. Fui o mais rápido possível para o quarto e arranquei a camiseta de Brunna, jogando-a em cima da cama. Peguei minhas roupas que estavam ali perto e as vesti o mais rápido que eu pude.
Uma saída Ludmilla, você precisa de uma saída.
Corri o olhar até a janela do quarto dela.
Ótimo, escada de incêndio.
Andei até lá e pulei nas escadas, descendo o mais rápido que pude.
Eu estava tão atordoada que não percebia no caminho que estava fazendo, e me surpreendi quando esbarrei em alguém que vinha na direção contrária.
— Olha por onde anda, inferno — eu gritei, mesmo sabendo que a culpa era minha por ter esbarrado, levantei meu olhar e encarei um par de olhos castanhos conhecidos. — Dayane, ainda bem!
Joguei-me em seus braços e ela sequer perguntou o que tinha acontecido. Dayane era o tipo de amiga que estava ali por você e que sabia te dar ótimos conselhos, mas apenas se você estivesse disposto a ouvi-los. Caso você não estivesse pronto para contar algo à ela, ela sabia respeitar o seu espaço e essa era uma das coisas que eu mais amava nela.
Nosso abraço foi interrompido quando senti algo tocar a minha perna, olhei para baixo e encarei uma Regina com uma expressão curiosa, abaixei e peguei-a no colo. Ela trouxe seu rosto até o meu e me deu um beijo estalado na bochecha.
— Lud, a gente tá indo no parque — ela disse. — Você vem com a gente?
Um sorriso escapou dos meus lábios.
— E como dizer não pra você?
E então, nos encaminhamos para o parque andando, já que o apartamento de Brunna era perto dele. Balancei a minha cabeça, não queria pensar em Brunna naquele momento. Aquele final de semana estava sendo o mais confuso de toda a minha vida, eu não entendia por que eu tinha tanto desejo por aquela garota.
Talvez seja pela bunda dela. É, Ludmilla, definitivamente é pela bunda dela.
Decidi não comentar com Dayane, apesar de achá-la totalmente confiável, ela era amiga de Brunna e provavelmente iria me dar um sermão de duas horas com o tema "como não machucar uma garotinha inocente".
Ficamos no parque o resto da tarde.
Regina estava brincando com a mesma garota de cabelos curtos daquele outro dia e eu achei isso curioso. Regina veio até a mim e me puxou pela mão para que eu fosse brincar com ela e a garotinha, e assim eu fiz, enquanto Dayane estava de papo com um cara. Avisei Dayane que estava indo lá e ela fez um aceno com a mão, sem nem olhar no meu rosto. Sentei-me ao lado delas. A garotinha de cabelos curtos me encarou.
— Lud, olha o castelo que eu fiz — Regina chamou a minha atenção, apontando para um monte de areia em formato de castelo que tinha ao lado dela.
— É lindo, Regina! — exclamei. — Você um dia vai ser uma arquiteta e tanto!
A garotinha ao lado dela esboçou um meio-sorriso e encarou a sua própria construção, estava bem mais deformada que o de Regina. Então ela fez uma careta.
— O meu não está tão bom — ela disse, abaixando a cabeça. — Eu nunca vou ser uma arquiteta.
Eu não consegui não sorrir, aquela garotinha era incrivelmente fofa.
— Deixa que a Lud te ensina! — Regina disse. — Ela que me ensinou a fazer também.
Então, me inclinei na direção dela e tomei para mim o seu balde de areia, enchendo-o. Refiz o seu castelo e ofereci o meu melhor sorriso para ela.
— Talvez você não seja a arquiteta do castelo, mas você pode ser a princesa do meu, o que acha?
A garotinha me deu um sorriso enorme.
— Eu vou ser sua princesa, Lud? — ela perguntou me chamando pelo apelido e eu achei aquilo extremamente adorável.
Concordei com a cabeça e continuamos brincando ali pelo resto da tarde. A noite começou a chegar e Regina já estava cansada, minha mais nova princesa já tinha ido também quando sua mãe veio chamá-la. Peguei Regina no colo e fui ao encontro de Dayane, que estava terminando de trocar telefones com o tal rapaz.
Despedi-me de Dayane e coloquei Regina, que estava quase dormindo, em seu colo. Agradeci pelo abraço que ela me dera mais cedo, e ela pediu para que eu enviasse uma mensagem à ela quando chegasse em casa. Pedi para que ela fizesse o mesmo e então fui na direção do ponto de ônibus.
O ônibus chegou quando minha paciência já estava no limite. Entrei nele e praticamente me arrastei até um dos bancos do fundo. Assim que sentei, senti o meu celular vibrando. O peguei, já esperando por uma mensagem de lovespizza, mas quando peguei o celular, a mensagem não era de lovespizza, e sim, de Brunna.
Brunna: Por que você saiu daquela forma daqui? Fiz alguma coisa que te incomodou?
Só ficou se agarrando com a Ariana.
Não respondi a mensagem, mas eu estava sendo muito ingênua achando que Brunna iria deixar daquela forma. Logo o meu celular tocou e seu número apareceu no visor, ela estava me ligando.
— Oi? — falei.
— O que eu te fiz? — ela repetiu a pergunta.
— Não me fez nada, não. Eu só não quis atrapalhar o seu... beijo.
— Ludmilla, eu não... porque... é que... Espera aí, tá com ciúmes?
— Ciúmes? — bufei. — Eu? De você? Claro que não! Eu... eu namoro! Há mais de dois anos!
— Namora, é? — perguntou.
— Namoro!
— Pois aposto que ele não mexe com você do jeito que eu mexo!
— O quê?
— Tchau, Ludmilla.
E desligou o telefone, me deixando com cara de paisagem.
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