Minha mente estava nublada e minha visão completamente turva, quando a metade do grupo saiu para tentar a sorte na sala de esportes, os outros tinham ficado em um completo silêncio. Mesmo que eles não fizessem barulho, eu ouvia vozes constantemente que me diziam para morder ou atacar todos dentro da sala.

Calafrios percorreram meu corpo, balancei a cabeça sutilmente para fazer com que esses pensamentos malucos parassem, o mundo estava afundando na loucura e queria me puxar junto. Jeongin percebeu que eu estava quieto por muito tempo, e estranho também, ele se aproximou lentamente e se sentou do meu lado.

- Você está bem? Está um pouco pálido e quieto - Jeongin me perguntou - está com febre?

Jeongin tentou colocar a mão na minha testa para checar a temperatura mas eu não deixei.

- Eu só estou com um pouco de frio, não é nada demais, e é normal eu estar quieto, ainda mais com essa situação - Jeongin balançou a cabeça concordando.

Ele se levantou e foi até os armários dos alunos, abriu um por um até que encontrou um que tinha um casaco amassado dentro. Ele pegou e levou até mim tentando tirar as marcas de amassado das roupas com as mãos, sem sucesso, mas tentou.

- Toma - Jeongin estendeu o casaco, o encarei sem entender por que estava fazendo isso - você disse que estava com frio, se não quiser eu pego para mim.

Peguei o casaco e Jeongin se sentou do meu lado de novo.

- Mas você ainda tá estranho, tem certeza que não está com febre?

- É só fome e frio - disse tentando fazer com que ele parasse de perguntar o que eu tava sentindo, nem eu mesmo sabia o que era.

- Se está com fome, é só esperar um pouco, logo o resto do grupo vai voltar com comida - Minho falou olhando para Seungmin - isso se eles voltarem vivos.

Apesar de Minho ter falado essa última frase bem baixo, consegui escutar ela perfeitamente, como se ele estivesse falando alto.

Encostei a cabeça na parede e fechei os olhos, agora que a sala continuou silenciosa, as vozes voltaram na minha cabeça.

Estou com fome...

Olhei para o lado e vi Jeongin de costas, algo dentro de mim falava que se eu o atacasse iria conseguir acabar com essa fome que me rasgava por dentro, minha visão começou a ficar vermelha e comecei a perder o controle do meu próprio corpo, meu instinto falava mais alto do que minha consciência.

Quando menos percebi, já estava atacando Jeongin, Minho que estava mais perto de nós dois, puxou Jeongin para longe e me segurou pelo pescoço.

Me debatia com todas as forças que tinha e tentava me aproximar de Minho, para morde-lo e arrancar o maior pedaço de carne que conseguisse. Minho parecia estar com dificuldades para me segurar, a cada vez mais conseguia chegar perto dele.

Mas Jisung que estava perto, correu até mim e Minho e me empurrou. Senti meu corpo começar a despencar, vi os três que estavam na sala se inclinarem na janela.

Senti meu corpo se chocar contra o chão, minha cabeça girava, sentia que algum líquido ensopava minha cabeça, esse mesmo líquido encheu minha boca, engasguei e tossi, era sangue.

A única coisa que sentia no momento era a dor, talvez tenha sido algo positivo, pois tinha me acordado daquele ataque de loucura, mas digamos que cair do segundo andar não é nem um pouco divertido. Ainda me sentia humano, e isso era bom, só que não conseguia me mexer no momento.

Depois de uma hora, consegui mexer meu corpo de novo, aos poucos me levantei, percebi que havia quebrado a perna, mas não sentia mais essa dor, então só ignorei e me levantei.

Entrei na escola, assim que entrei dei de cara com aqueles monstros dentro da escola, mas ele não me atacou.

Estranhei isso, mas então corri para o banheiro e tranquei a porta, não entendia o que estava acontecendo, mas me proteger era o mais importante agora.

Sentei no chão, encostado na porta, e tentei ajeitar minha perna da melhor forma que conseguia, mesmo ouvindo os ossos estralando, não senti muita dor nesse processo, pelo menos, não a dor que qualquer ser humano sentiria nessa situação.

Não saber o que estava acontecendo comigo me deixava muito nervoso, chutei uma das pias, uma tentativa fútil de descarregar minha frustração, mas assim que eu chutei, um monstro saiu de uma das cabines do banheiro, ele correu até a pia que eu chutei, mas depois ficou completamente perdido.

Parecia que ele não me enxergava, ele simplesmente me ignorava, como se eu não fosse ninguém, ou melhor, um companheiro.

Para testar, chutei de novo, foi a mesma coisa de antes, só correu até o barulho mas depois ficou perdido.

Me levantei e fui até os espelhos, a minha aparência era a mesma, tirando alguns machucados e marca de sangue no rosto, de quando eu cuspi sangue.

Fiquei chutando várias vezes a pia, até sentir ela rachar, não me importava muito com isso, só de pensar em ser igual a eles já me deixava com raiva.

Percebi que chutar não iria ajudar muita coisa, só me levantei e saí do banheiro, vendo se meu palpite estava certo, se eles realmente me viam como um igual.

Os monstros no corredor só se viraram na minha direção por causa dos barulhos dos meus passos, mas não correram nem me atacaram, eu estava certo. Só não sabia se era bom ou ruim.

O lado bom era que agora podia andar tranquilamente pela escola sem ser atacado.

O ruim era que eu não sabia o que eu poderia fazer, já tinha atacado Jeongin e teria o matado se Minho não tivesse intervido, e teria matado Minho se Jisung não tivesse me empurrado.

Subi para o terceiro andar e entrei em uma sala qualquer, não me dei o trabalho de fechar a porta, me deitei no chão frio e tentei adormecer. Os barulhos me incomodavam, ouvia todos os mínimos barulhos que acontecia ao meu redor, algo que eu não ouvia antes.

(...)

Não dormi a noite toda, os barulhos me incomodaram e não senti sono, mas preferi ficar deitado pelo menos tentando adormecer. O sol entrava pelas janelas da sala e batia diretamente no meu rosto, com o tempo isso me incomodou, então levantei ficando contra os raios do sol.

Comecei a ouvir um som que não estava escutando antes, o sinal da escola, o barulho era bem alto, por um momento minha cabeça doeu, mas depois me acostumei com o som. Quando me acostumei, a primeira coisa que comecei a escutar foi corpos se chocando contra algo de madeira, depois sons de algo batendo com força em algo que parecia de carne.

Gritos, gritos de vozes que eu conhecia bem, Jisung, Jeongin, Minyeol, Hyunjin, Minho e Bangchan, tinha mais alguém no meio, mas ele não conseguia reconhecer a voz. Mas o que ele sabia era que seu grupo tinha saído da sala que estavam, talvez tentando a sorte em outro lugar.

Me levantei, queria encontrar o grupo de novo, não sentia que atacaria eles, a fome de antes tinha diminuído, talvez tenha sido um surto por causa da fome.

Saí correndo da sala, me concentrei nos barulhos e nos ruídos, corri pela escada o mais rápido que consegui quando cheguei perto da sala dos professores eu os vi.

Jisung, Jeongin e um garoto loiro desconhecido seguravam mesas como escudo, os barulhos de corpos se chocando contra uma madeira era por causa disso. Minyeol, Bangchan e Hyunjin estavam na frente com bastões de beisebol ensaguentados.

Quando entrei na linha de visão deles, congelaram, Jeongin olhou para trás para ver porque tinham parado, quando me viu o lado dele começou a enfraquecer, Jisung percebeu e segurou a mesa de Jeongin e começou a gritar com ele para prestar atenção.

Hyunjin ajeitou seu bastão, se preparando para que se eu corresse na direção deles, ele iria bater com toda força na minha cabeça.

- Gente... Que bom que encontrei vocês - falei sorrindo para o grupo.

A reação deles já era algo esperado, estavam assustados, eu havia os atacado na noite anterior, não podia esperar que eles simplesmente sorrissem e me dessem abraços de felicidade.

- Vamos entrar na sala logo, eles não vão aguentar segurar - Bangchan falou para Minyeol e foi até a porta ao lado deles.

- Ignore Seungmin, ele pode estar fingindo, não sabemos nada sobre esses monstros - Minho falou indo até a porta também.

Eles abriram a porta e entraram na sala dos professores, os que estavam atrás segurando as mesas, a empurraram contra os monstros fazendo eles caírem e entraram correndo na sala fechando a porta.

Não iria correr atrás ou bater na porta gritando o nome deles, estavam assustados comigo, isso só pioraria a situação, eu iria esperar que eles pensassem com calma, e quando estivessem dispostos, falassem comigo por escolha própria.

Entrei na sala ao lado da dos professores e sentei lá dentro, eu esperaria que eles saíssem de novo, para me procurar ou ir para um lugar mais seguro.

Deitei a cabeça na mesa e deixei que só minha audição me guiasse pelos sons da escola, com certeza eles não iriam sair agora da sala, deveriam estar cansados.

Mas ouvi outro som, humano, lá fora. Me inclinei na janela e vi um grupo de seis pessoas fora da escola, eles também deveriam ser sobreviventes, mas diferente do grupo de Chan, os lá de baixo era bem mais desorganizado.

Tinha um garoto e uma garota que corriam juntos, de mãos dadas, ele corria bem mais rápido que ela, a garota tinha dificuldade para acompanhar o ritmo e acabou o atrasando. Quando o garoto percebeu que o ritmo estava diminuindo e os monstros chegando perto, ele a empurrou para trás, fazendo com que ela caísse no chão.

Ela tentou se levantar e correr, mas um dos monstros pulou em cima dela e a derrubou, nem todos ficaram em cima dela, o resto continuou correndo atrás do grupo, que já estava bem longe.

Comecei a ficar com fome de novo, comer alguém que já estava morto não era uma má ideia.

Pulei pela janela e fui até o corpo jogado no chão.

(...)

Já estava amanhecendo aos poucos, minha fome já tinha passado, para que o grupo não precisasse me ver daquela forma, passei no banheiro para lavar o sangue o máximo que consegui.

Isso não deu muito certo, consegui tirar o que estava na minha boca e mãos, mas não deu na roupa, continuou com as marcas, que talvez nunca saísse.

Comecei ao ouvir um som de movimentação na sala do lado, a sala dos professores, o grupo poderia estar se ajeitando para sair novamente.

Eu iria esperar que eles subissem e então esperaria para que eles viessem falar comigo, no ritmo que estavam indo, ou tentariam sair da escola ou subiriam mais, talvez para o telhado.

Assim como imaginei, logo ouvi eles saindo da sala e indo na direção da escadaria, observei todo o trajeto de longe, mas sei que teve vezes que alguém do grupo me viu, Jisung, Minyeol e Jeongin, todos eles me viram, mesmo de relance.

(...)

Me sentei na escadaria depois que eles entraram e segurança, mesmo que não viessem falar comigo, iriam sair da escola, isso para mim era o suficiente, pelo que parecia não tinha o perigo de eu ser atacado por aquelas coisas.

Quando ouvi o barulho do helicóptero, e junto com isso os gritos de felicidade dos meus amigos, sorri, finalmente eles iriam embora daqui. Não é que eu não me importe em sair daqui, mas na situação que eu estava, preferia continuar aqui, colocando tanto eu quando as pessoas ao meu redor em segurança.

Alguns momentos se passaram e o helicóptero continuou planando em cima do telhado, e em vez dos gritos de felicidade, eu ouvia gritos de raiva, parecia que estavam brigando, mas o barulho do helicóptero não deixava eu escutar o por quê da briga.

Mas uma coisa não escapou da minha audição, tiros, uma arma havia sido disparada.

Congelei no lugar, o barulho dos tiros atraiu aquelas coisas mas consegui tirar elas de cima fazendo barulho em outro lugar.

Quando voltei, fiquei na porta tentando escutar direito o que estava acontecendo, estavam brigando entre si novamente, mas agora ouvi meu nome ser citado algumas vezes pelo grupo.

Eles querem falar comigo? Com certeza querem saber se eu sou como aquelas coisas.

Sentei na escadaria de novo, esperando eles terminarem de se decidir, até que a porta abriu lentamente atrás de mim, me levantei e me virei devagar, me preparando para falar com eles novamente.

+++

Esse capítulo foi, basicamente, o Seungmin explicando tudo que aconteceu com ele na escola depois que saiu do grupo. Essa foi a explicação que ele deu para o resto do grupo.

Capítulo meio grandinho né, mais de 2k de palavras, mas eu gosto de fazer caps bem grandes.

Byebye até amanhã com outro cap 😘 (nenhuma morte hoje porque eu não sou sem coração né)