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YANGMI
Depois de tudo o que havia acontecido, o diretor decidiu que os alunos que estavam no resort deveriam voltar para o internato. Muitos repudiaram a ideia, mas, ao serem brevemente informados sobre os últimos acontecimentos, concordaram em ir embora.
Jackson foi junto a eles, tentando me convencer para ir também, mas eu neguei. Queria ver Youngjae. Eu precisava falar com ele antes de ir e, bom, os médicos ainda não tinham
liberado as visitas.
— Acha que vai demorar muito para ver ele? — perguntei, esfregando meus olhos com as costas das mãos em uma tentativa falha de espantar o sono. Aproveitei para olhar o relógio pregado na parede paralela. Eram nove e meia da manhã e minhas costas doíam.
Dormir nessas cadeiras de sala de espera é horrível.
O homem ao meu lado repousou uma de suas mãos em meu ombro, afagando-o com leveza antes de bagunçar meus cabelos. Ele sorria fraco sem mostrar os dentes. Meu pai
sempre sorria daquele jeito, um sorriso triste.
— Já não quer me contar o que está acontecendo? — inclinei a cabeça para o lado, arqueando uma das sobrancelhas — O porquê disso tudo?
Ele fechou os olhos, expirando com pesar. Repousou uma mão sobre a outra, abaixando a cabeça e me endireitei na cadeira para olhá-lo.
— Eu conheci sua mãe em Saenghwal. Ela era uma das melhores lutadoras daquela época e eu sempre ficava no banco porque não sabia lutar — ele riu. Eu nunca pude ouvir histórias assim dos dois — Nós nos apaixonamos em uma noite. Ela me mostrou os dois
colares que sempre andavam com ela. Encaixados, eles formam uma chave.
Meus dedos foram até o pingente 4m em meu pescoço e fechei o punho ao redor dele. Meu pai reprimiu os lábios, desviando o olhar por um momento.
— A família de sua mãe era muito antiga, tanto quanto ela mesma poderia saber. Tão antiga que possuíam a força que dá sucesso para tudo o que as pessoas queriam. Eu sei, isso soa como uma história infantil, mas — sua voz falha, ele pigarreia — se não fosse por
essa força, sua mãe estaria viva agora.
Eu abri a boca para questionei, para falar qualquer coisa que pudesse vir a minha cabeça, mas as palavras se embolaram em um nó firme na garganta e meu olhar se prendeu em
um ponto fixo. Minha mãe havia falecido em um afogamento. Isso foi provocado por alguém?
— A família de sua mãe arriscou a vida para esconder essa força. É por isso que você é Jackson nunca conheceram nenhum membro da família dela; todos eles morreram por causa dessa porcaria — ele terminou, cerrando os dentes. Tudo o que consegui fazer foi
ficar em silêncio, me demorando em assimilar tudo isso.
Quem quer que esteja atrás dessa força, é capaz de nos matar para tê-la. Parece sim uma coisa idiota, meu ceticismo me impede de acreditar na existência dessa força. Levo as mãos até as têmporas, massando-as ao tentar impedir uma dor de cabeça que se aproxima.
— Senhorita? — eu praticamente dei um pulo sobre a cadeira ao ouvir a voz doce da médica de mais cedo. Levantei meu rosto para a mulher de jaleco branco — Você pode ver o senhor Choi agora.
Assenti com animação, me impulsionando para fora da cadeira. Olhei para meu pai por um momento, e ele acenou para eu fosse. Acompanhei a médica, as mãos deslizando para
os bolsos do casaco de Jungkook que eu trajava. Quando viramos o corredor, Jungkook já avançava em minha direção, a testa franzida até que percebeu o médio e entendeu para
onde íamos.
— Você vai vê-lo? — questionei quando o maior começou a caminhar ao meu lado, envolvendo um dos braços em minha cintura.
— Vou — ele respondeu e franzi a testa. Jeon e Jae juntos? Sério? — Eu juro não discutir com ele...pelo menos não hoje.
— Jungkook! — o repreendi, e ele soltou uma risada.
— Estou brincando. Como disse antes, vou só agradecer ele por ter salvo sua vida.
— Eu aconselho que não o sobrecarregue — a doutora dizia, arrumando os óculos no
rosto. Jungkook e eu balançado a cabeça positivamente.
Entramos no quarto de paredes brancas. Youngjae estava com as costas apoiadas sobre os travesseiros, o rosto virado para a janela, tão entretido com a vista lá fora que nem ao
menos notou a nossa presença.
Jungkook fechou a porta e nos aproximamos lentamente da cama, parados ao lado da mesma. Senti um beliscão no braço e franzi o cenho para Jungkook. Ele apontava para Youngjae. Deixei um suspiro escapar. Por que ele mesmo não o chama?
— Jae? — eu o chamei e ele se virou devagar, piscando os olhos, seus lábios delineando aquele sorriso que fazia suas bochechas se levantarem.
Minha garganta praticamente se fechou em imaginar que se as circunstâncias fossem outras, talvez eu nunca mais veria aquele sorriso. Eu ri, passando meu braço por cima de seus ombros, o puxando para um abraço pouco apertado. Ele me retribuiu, os braços em torno de meu troco.
Jae foi o primeiro amigo que fiz na escola, tenho um imenso carinho por ele. Ele arriscou sua vida pela minha. Isso faz com que me sinta tao pequena por tê-lo posto nessa situação.
— Desculpe — foi a primeira coisa que disse. Era apenas isso que eu poderia fazer, afinal; pedir desculpas.
— Não é culpa sua — seus dedos agagaram meu cabelo e ele me afastou, segurando meu rosto entre as mãos para que eu o olhasse nos olhos. Ele ainda sorria — Está tudo bem,
eu estou inteiro. Você não tem que pedir desculpas.
— Vaso ruim não quebra, não é Youngjae? — Jeon implicou, e eu revirei os olhos.
— Jungkook! — repreendi, mas ele ria, empurrando meu ombro com leveza.
— Estou brincando! — ele se inclinou para beijar minha bochecha.
Youngjae revirou os olhos, fazendo um sinal com a mão como se dissesse não se importar com a carícia repentina.
— Preciso lhe agradecer por te-la protegido — Jungkook dizia, e Jae se virou para olhálo — mesmo com as nossas discussões, quero que saiba que te admiro, Jae, e pode contar
comigo para o que precisar.
Youngjae suspirou, balançando a cabeça em concordância, depois estendeu a mão na direção de Jungkook. Jeon me olhou, hesitou, mas estendeu a mão para Youngjae,
apertando-a e sorrindo verdadeiramente.
Eu mal posso acreditar! Eles não têm verdadeiros motivos para brigas, mas depois de tudo o que passaram, não consigo conter a minha felicidade em vê-los dessa forma, em paz.
— Eu ainda vou te dar uma surra — Youngjae riu, apontando para Jungkook.
— Vai sonhando! — Jeon respondeu entre uma nova risada.
Eu estava animada com a promessa daquela nova amizade.
Jeon Jungkook.
Eu adoraria dizer que tido estava bem, mas as coisas só começaram a piorar. Com a primeira chave já nas mãos daquelas pessoas, pouco faltava para que tivessem essa força na palma das mãos e sei que fariam de tudo para trancar o colar do pescoço de Yang, que
usariam todas as armas disponíveis para isso. Estou tentando me manter calmo para que YangMi não perceba a minha tensão.
Voltamos para a escola no dia seguinte em um carro disponibilizado pelo diretor. Eu observava a paisagem borrada passando pela janela, as árvores de folhas verdes brilhando pela luz do sol matinal.
Senti um peso sobre meu ombro e me virei para YangMi, encostada em mim, dormindo com profundidade. Não contive um sorriso. Levei as mãos até seu rosto, afastando as mechas castanhas que caiam em seus olhos. Vendo-a assim, me sinto quase estranho
demais. Não estou sugerindo que eu seja um robô ou coisa assim, mas, me sinto esquisito pelo que sinto por ela. YangMi me mudara de forma grotesca, e finalmente acho ter encontrado uma pessoa que realmente me faz bem, que é o que me assombra nesse exato momento; corro o risco de perdê-la logo agora que a tenho e não posso me imaginar sem
ela.
Depois de algumas horas, pisávamos de novo no solo do internato. Desci do carro com Yang em meu encalço. Ela coçava os olhos e bocejava, os cabelos bagunçados caindo em cascatas sobre os ombros.
Passamos pelos enormes portões da entrada e, mesmo ao longe, eu podia ver silhuetas andando para lá e pra cá. YangMi entrelaçou os dedos nos meus e desviei o olhar para
ela.
— Jackson já sabe que estamos namorando mesmo — deu de ombros — não tem porque continuar escondendo.
Um novo sorriso se delineava em meu rosto. Talvez Jackson quebrasse meu nariz ou me chutasse até a morte, mas não me importo de verdade. Estou feliz. Puxo a mão de Yang e enlaço meu braço em sua cintura. Ela me olhou, piscando os olhos diversas vezes e mordi meu próprio lábio, a outra mão pousando em seu queixo. Então inclinei meu corpo em sua direção e a beijei.
Atrás, para nosso infortúnio, alguém aparecera ruidosamente, pigarreando conforme se aproximava. Viramo-nos, Yang e eu, para Jackson de um sorriso forçado e braços cruzados. Prendi a respiração.
— Já ouviram falar de privacidade? — ele resmungou.
— Nós só esta... — tentei.
— Estávamos nos beijando porque somos namorados — Yang terminou, passando o braço pela dobra do meu, me puxando para si — E você não tem nada haver com isso.
— "E você não tem nada haver com isso" — Jackson a imitava, zombando da irmã.
— Parecem até duas crianças! Dá para vocês pararem? — reclamei, balançando a cabeça em negação.
YangMi me deixou para se posicionar ao lado de Jackson e os dois irmãos cerraram os olhos para mim.
— Ai, desculpa aí, adulto! — os dois disseram ao mesmo tempo, me dando as costas ao mesmo tempo.
Balencei a cabeça outra vez, uma risada escapando da garganta e os segui para além do hall de entrada do Instituto até os dormitórios.
— Está gostando dela? — Oh, céus, não tenho um minuto de paz?
O diretor parecia ter se materializado ao meu lado de repente, as mãos juntos atrás do corpo. Suspirei, apertando as alças da mochila entre os dedos.
— Estou. Por que a pergunta? — me virei para o encarar. As vezes penso que sou muito ignorante com ele, mas não deixo de culpá-lo por isso também.
— Espero que esteja preparado. O torneio deste ano está chegando e será público também.
Me espantei com minha própria excitação sobre o torneio. Há muito venho esperado por ele e pela primeira irei participar. Ainda assim, me sinto um pouco assustado com a urgência que ele me causa. Acabamos de passar por problemas graves, não imaginei que evento dessa magnitude fosse ocorrer tão prematuro.
— Se for aberto ao público aqueles que estão atrás da chave vão entrar na escola! — ele só pode estar brincando.
— Essa é a intenção — embora o que dissesse fosse assombroso, seu tom de voz ainda era calmo — Se eles entrarem na escola teremos mais chances de os pegar.
— Mas nossa função não é essa! — eu já não controlava a altura da minha voz — A nossa função é proteger YangMi e Jackson!
Eu precisava mesmo o lembrar disso? Abrir o torneio ao público é o mesmo que entregar a chave aos homens de preto, é o mesmo que jogar Yang em uma vala.
Ele apertou meu braço, me chacoalhou como se eu fosse um boneco velho e empoeirado, como se limpasse de mim o que não o agradava, então cravou aquele olhar duro sobre o meu novamente.
— Jungkook! — meu próprio nome me acertava como um canivete afiado entre as costelas — se qualquer outra pessoa que não possua o sangue de Jackson e YangMi correndo nas veias conseguir usar essa força que eles tanto protegem... — ele olhou ainda mais profundamente para mim — se outra pessoa o fizer, Jackson e YangMi morrem.
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