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×19×

Eu estava tensa, enquanto ele apertava os dedos ao redor de meu pulso em baixo da mesa. Afastei-me um pouco, desconfortável. Tentei protestar, mas não houve efeito. Seu olhar era severo, como se sua vida estivesse em risco por conta do colar em minhas mãos.
Apertei o pingente entre os dedos uma última vez, hesitante quando o escondi por baixo da gola da camiseta novamente. Ele afrouxou o aperto em meu pulso e eu suspirei.

Jungkook passou o restante do almoço inteiro em silêncio. Eu tentava fisgar seu olhar, mas ele simplesmente o desviava para qualquer outra coisa além de mim. O que ele tem? Tudo isso é mesmo por conta do colar?

Mais tarde, nos separamos. Yeri e eu fomos para a área coberta das piscinas, ainda dentro do resort. Eu andava pelas bordas, as mãos escondidas dentro dos bolsos das calças.

— Você está estranha, Mi — ela estava sentada na beirada, balançando as pernas dentro da água.

— Seu irmão é quem está — murmurei antes de me sentar ao seu lado e mergulhar meus pés na água gélida também.

— Ele tem andando meio estranho desde que entrou na escola...

Fechei meus olhos. Eu constantemente me pegava pensando sobre como jungkook era antes de eu o conhecer. Tentei várias vezes arrancar algumas informações sobre de Yeri, mas ela se recusava a me responder.

Agora eu divagava, um limbo eterno enquanto estudava minha própria silhueta no reflexo cristalino da água. Primeiro ele estava de mãos dadas com a tal de Samantha e agora me evitou no almoço.

— Yeri... — sussurrei, mas quando me virei para olhá-la ela já não estava mais lá.

Minhas mãos passearam no topo de minha cabeça com aflição, enquanto eu cerrava os olhos contra a claridade ao procurar pela menina no meio da multidão. Antes que eu pudesse me levantar ou qualquer outra coisa, um empurrão forte me jogou direto para
dentro da piscina. Senti a pressão da água contra meus ouvidos aumentar a medida em que eu afundava mais e mais, e a água parecia cada vez mais turva em cima de mim. Tentei prender a respiração, mas nunca fui boa em nada disso. Eu não sei nadar.

Eu não iria conseguir prender a respiração por muito mais tempo. Meus pés começaram a se debater, procurando solo para pisar, mas aquela piscina tinha metros e mais metros
de profundidade. Minhas forças me deixavam aos poucos, enquanto eu lutava em busca de apoio para subir.

Meus pulmões clamavam por oxigênio e senti minhas pálpebras instantaneamente pesadas demais. A água ardia contra minha garganta, as narinas e os olhos, mas não me
debati nenhuma vez mais. Meus sentidos desapareciam aos poucos, enquanto a água me engolia cada vez mais.

Em borrões turvos, ardor e afogamento, senti alguém envolver um braço em minha cintura. Será um anjo, oh céus? Um corpo arrasta um corpo para a borda. Eu estou emergindo! Deus, você teve piedade de mim?

Pisco os olhos com força, ofegante. Meu peito dói, lateja, e cuspo um monte de água enquanto aquele mesmo aperto me conduz para a borda da piscina. Ele me senta na borda, me estuda por um tempo, então leva para trás da minha orelha uma mecha úmida de meus cabelos.

— Jae... — tentei.

Meus lábios estavam entreabertos, os olhos piscando vezes mais enquanto a visão de um Youngjae preocupado se formava em minha frente, os cabelos louros úmidos tal como os meus.

— Você está bem? — ele tinha o cenho franzido, uma das mãos escorregando para as minhas bochechas, onde ele me acariciou.

— Jae, como você... — tossi, levando uma das mãos até o peito, tentando ainda me recuperar.

Minha mente estava um nó. Eu lacrimejava, mas não havia percebido até então. Abracei a mim mesma por conta do frio e Youngjae passou a mão pelos cabelos.

— Te procurei pelo resort inteiro, mas não te achei em lugar algum. Achei então que estivesse aqui — ele deu de ombros, se sentando ao meu lado — Como se afogou?

Nem eu sei direito.

— Eu fui empurrada...mas não sei quem foi.

"Não saia de perto de mim neste resort. Entendeu?"

Youngjae me convenceu para que me acompanhasse até os dormitórios e eu aceitei, com ele deslizando uma mão pela minha cintura para me apoiar ao me levantar.

— Você ainda não me disse o que está fazendo — soltei, e de imediato suas expressões se tornaram um pouco tristes — Obrigada por ter me salvado.

Passamos pelas portas de vidro, entrando no extenso corredor dos quartos. Eu não o olhava diretamente. Não sei se poderia.

— Meu pai é dono desse resort — argumentou, abaixando a cabeça antes de olhar para mim — e eu sempre irei te salvar, não importa as circunstâncias.

Outro novo rubor cresceu em minhas bochechas. O pai dele é dono desse resort? O pai dele é um dos patrocinadores do internato? Pisco os olhos. Youngjae havia errado ao tentar jogar aquele armário em mim e Jungkook mas, ainda assim, não consigo culpá-lo.
Ele não é o vilão que todos enxergam.

Quis dizer-lhe algo, apartar as nossas diferenças por de repente, mas Jungkook apareceu do outro lado do corredor, quase correndo em nossa direção ao me notar.

— O que você está fazendo aqui? — foi a primeira pergunta que fez, o dedo apontado na direção de Youngjae.

O outro revirou os olhos, balançando as mãos em gestos suaves para que Jungkook não continuasse o que começara, então sorriu para mim, se despediu e saiu em direção contrária, desaparecendo pelo corredor.

— Você está bem? — então Jungkook se voltou a mim com preocupação — Por que está assim?

Eu o abracei, envolvendo-o pelo tronco enquanto afundava meu rosto em seu peito. Seus braços fortes deram a volta em minha cintura, e seus lábios selaram com leveza o topo da minha cabeça.

— Yang... — ele sussurrou, os dedos tocando meu queixo para que eu o olhasse. — O que houve?

Seu tom de voz era tão suave. Me pergunto as vezes se anjos têm essa voz. Ele entre-abriu os lábios, mas não disse nada. As lágrimas se acumulavam ainda mais em meus olhos enquanto ele me guiava até seu próprio quarto, sentando-me na cama, entrelaçando
nossas mãos.

Contei-lhe o ocorrido da piscina e ressaltei que, se não fosse por Youngjae, eu talvez não estivesse mais por aqui. Percebi as veias de seu pescoço saltarem e ele trincou o maxilar,
o que me tirou um arrepio estranho.

Ele murmurou algo que não pude ouvir bem. Se levantou, tirando do armário à esquerda das camas uma toalha branca, voltando a se sentar ao meu lado com um sorriso fraco nos lábios. Envolvei a toalha por meus ombros, as mãos firmes na minha cintura me puxando
para que eu me sentasse em seu colo. Quando o fiz, ele aproximou seu rosto do meu e selou nossos lábios rapidamente.

— Por que nunca me disse que não sabia nadar?

Abaixei a cabeça, engolindo o n na garganta. Memórias inundaram ainda mais minha mente e pisquei várias vezes para afastá-las.

— Porque foi assim que minha mãe morreu — respondi em um sussurro e o silêncio gritante que se estendeu era quase doloroso demais para suportar.

Ele acariciava minha cintura, os olhos fixos nos meus. Não falou nada nos minutos seguintes, enquanto preenchia a linha do meu pescoço até os ombros com selares curtos. Fechei os olhos quando seus lábios encontraram os meus novamente, sua mão subindo por toda a extensão das minhas costas para segurar minha nuca. Arfei entre o beijo, enquanto ele jogava todos os meus traumas em um esquecimento quase perpétuo.

— Hoje... — ele sussurrava, os dedos apertando minha cintura, os lábios quase colados
nos meus outra vez — Hoje você dorme comigo..

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