Enquanto pedalava em direção à sua casa, Caroline sentiu o seu coração se apertar consideravelmente dentro do peito, como se algo muito ruim estivesse acontecendo naquele instante. Ela então apressou o passo, como se estivesse participando de um torneio e logo já estava dentro de seu quarto, respirando de modo apressado, como se estivesse prestes a ter uma crise de pânico.

Caroline respirou bem fundo e então se preparou para tomar banho, mas quando saiu do vapor gostoso que havia tomado conta do único banheiro que havia em sua casa, ela se lembrou do fato que Victor havia prometido lhe mandar um SMS durante a tarde, mas por algum motivo que lhe fugia da mente, ele não não havia cumprido com o prometido.

A garota logo ficou apreensiva, pois além do sumiço de Victor, a garota também havia tido um mau pressentimento, então resolveu que mesmo que não fosse o combinado entre eles, ela ligaria para o amigo, para saber se estava tudo bem com ele.

Enquanto o aparelho tocava sem parar, Caroline começou a ficar ainda mais apreensiva, tanto que começou a andar de um lado para o outro dentro do quarto, feito um peru atordoado.

Sentada ao lado do leito do filho, que ainda dormia tranquilamente, Denise viu o celular de Victor tocar diversas vezes, e incomodada com a vibração do aparelho, a mulher resolveu ver de quem se tratava a ligação , afinal, ela não sabia se seu filho havia deixado compromissos pendentes, quando desmaiou devido a doença que já lhe acompanhava há algum tempo de maneira silenciosa.

Denise olhou para a tela do celular e percebeu que se tratava da amiga que o filho havia feito na internet — pois Victor já havia comentado sobre ela —, e ao perceber que ela não pretendia parar de ligar tão cedo, a mulher resolveu atender a ligação.

— Boa tarde, aqui quem fala é a mãe do Victor... — Denise suspirou profundamente, pois não sabia mais o que dizer. Estava exausta emocionalmente e, por isso, as palavras lhe faltavam. — Infelizmente ele não pode falar agora.

Caroline logo ficou apreensiva, pois havia conseguido captar a angústia na voz de Denise, pois apesar de nunca terem se falado antes, a garota era muito sensível aos sentimentos humanos.

— Aconteceu algo com ele? — Caroline perguntou com receio, pois apesar de Victor sempre ter falado bem da mãe dele, ela não sabia como Denise poderia reagir à sua pergunta.

— Infelizmente sim, querida. — A mulher havia notado que a preocupação de Caroline era mesmo genuína, então resolveu ser sincera; até porque precisava desabafar com alguém. — O Victor passou mal e precisou ser hospitalizado... E no momento ele se encontra desacordado.

Caroline levou uma mão até a boca, pois realmente o seu pressentimento de que algo ruim pudesse estar acontecendo, era mesmo verdade. Todavia, ela sentiu que precisava ser forte para lidar com toda aquela situação, então por mais que quisesse chorar, engoliu o choro.

— Me perdoe se estiver sendo intrusiva, mas o Victor é muito importante para mim... então gostaria de saber: o que exatamente ele tem?

— Infelizmente nós acabamos de descobrir que ele tem hepatite autoimune. — Denise proferiu aquelas palavras sem ao menos conseguir crer nelas. – Ainda não se sabe se ele vai precisar de um transplante de fígado...

Naquele momento, tanto Denise, quanto Caroline, caíram no choro, e foi impossível que o medo não as dominasse, mas como a garota mais nova possuía muita fé em Deus, ela decidiu que precisaria ser forte para ajudar o amigo e também a sua família.

– O Victor vai ficar bem! – Caroline falou com convicção. – Eu irei agora mesmo até a igreja orar por ele, e tenho certeza que Deus irá ouvir a minha oração!

Naquele momento Denise agradeceu mentalmente pelo filho ter conhecido aquela garota, pois ela mesma estava sem forças até mesmo para orar.

– Muito obrigada, querida – ela agradeceu verdadeiramente. – Assim que o Victor acordar, eu direi que você ligou...Tenho certeza que ele ficará muito feliz com a sua preocupação.

Naquele segundo, Marin abriu a porta do quarto onde o filho estava internado e entrou, e sabendo que ele iria causar confusão por causa da amizade de Victor e Caroline, Denise resolveu encerrar a ligação abruptamente.

– Eu preciso desligar agora, mas voltarei a entrar em contato. – Logo em seguida, Denise desligou.

Ao perceber que a mulher parecia apreensiva, Marin a encarou com desconfiança.

– Quem era ao telefone, Denise? – ele perguntou com bastante atenção. – Se for algum daqueles amigos desqualificados do Victor, não quero que lhes dê informações!

– Era apenas uma das minhas irmãs. – Denise resolveu mentir, pois eles não precisavam de mais atritos naquele dia.

– Hum, tudo bem – ele disse, mas não nao totalmente convencido de que aquilo era mesmo a verdade.

Depois disso ambos mergulharam no próprio silêncio de suas mentes, pois naquele momento tudo que lhes restava era esperar por mais notícias dos médicos.

Caroline, por sua vez, logo percebeu que a mudança no modo de agir de Denise deveria significar que o pai de Victor havia chegado no recinto, pois ela sabia muito bem que Marin e o amigo não se davam bem. Todavia, como aquilo não era o mais importante para aquele momento de tensão, a moça apenas se aprontou e depois pediu licença à mãe para ir até a igreja que elas frequentavam, que, inclusive, não ficava muito distante de sua casa.

A garota foi correndo e ao chegar a igreja, encontrou-a praticamente vazia; a não ser pelo pastor que a guiava, que estava ali organizando algumas coisas no altar.

Caroline o cumprimentou com respeito e depois de se acomodar em um dos bancos da igreja, contou ao homem tudo o que estava acontecendo com Victor.

– Pastor, sei que não é o costume da nossa congregação, mas gostaria de passar esta noite aqui em vigília e jejum, orando pela saúde do meu amigo...

O homem que servia a Deus, ao ver uma garota jovem lhe pedindo algo tão grandioso assim, resolveu abrir uma exceção, pois era difícil encontrar adolescentes com uma fé tão firme quanto a de Caroline. Geralmente os jovens estavam atrás das coisas passageiras deste mundo, mas Caroline não, ela preferia buscar e confiar em Deus, então o homem decidiu não lhe negar aquele pedido; mesmo sabendo que o Senhor a ouviria de onde ela estivesse.

– Tenho certeza que você cuidaria muito bem do nosso templo, então tem a minha permissão para passar a noite aqui na presença de Deus, – ele disse com um carinho paternal – mas, como também desejo que o seu amigo se recupere logo, eu e a pastora Angélica também passaremos a noite aqui, orando e jejuando pela vida do Victor.

Caroline sorriu, pois sabia que a oração de um homem justo de Deus sempre era ouvida, e que então deste modo, se fosse da vontade do Pai, a recuperação de Victor aconteceria no tempo certo. No entanto, o que ela não sabia era que a sua pequena decisão de orar por um amigo, moveria muitas outras pessoas a se unirem àquela causa, de modo que toda a igreja voluntariamente decidiu passar a noite em vigília, orando em prol da vida do rapaz, e deste modo a igreja foi envolvida através da madrugada por um grande clamor de vozes, que unidas, ecoou pelas paredes e assim contrastou com a noite barulhenta e arruaceira da cidade de São Paulo .