
8. Por que você precisa de ser tão sincera?
- Você precisa mudar sua vida, Leo. - Alice pontuou enquanto bebericava o café preto em sua xícara.
- Sinto-me bem com ela. - Ele rebateu. - Tenho você.
- Sua existência não pode girar em torno de uma mulher.
- Não é uma mulher comum. - Ele defendeu-se. - É você!
Ela revirou os olhos em claro sinal de impaciência.
- Ainda mais sendo eu. Você precisa de mais do que isso. - Ela sorveu mais um pouco do conteúdo da xícara.
Leo nunca pensara no desgaste diário de sua vida. Sempre fora um cara pacato, desde a infância, passando pela adolescência e alcançando a vida adulta. Vivia num apartamento mediano, num bairro mediano, possuía um emprego mediano com um salário satisfatório, e tinha a faculdade e sua especialização. A vida era simples entre rodadas de bilhar no Bar no Manoel, rodadas de pôker e truco com os amigos, e algumas cervejas que o faziam dormir pesadamente para acordar atrasado no dia seguinte. Sua aparência não era ruim, sempre fora um rapaz franzino, cabelos negros e fartos. Não se considerava feio, mas estava longe de ser bonito. Seu único trunfo da moda era uma camisa de gola Vê da cor vermelha que conferia alguma cor ao rosto extremamente branco, que só adquiria alguma cor quando acontecia algum acidente ou ouvia alguma coisa obscena de mulheres naturalmente atraídas por nerds, nestes casos suas bochechas assumiam um tom vívido de vermelho que algumas mulheres diziam considerar muito atraente. A camisa vermelha de gola Vê, quando combinada com a velha calça cáqui, causava alguma comoção entre as pernas das mulheres, e, de alguma forma, ele trepava com alguém sempre que a usava. Familiarizado com a solidão, Leo gastava muitas horas dedilhando seu violão de estimação, tentando compôr alguma canção que - talvez - mudasse o mundo ou a vida de alguém, em algum momento, em algum lugar.
- Não preciso de muito para viver, Alice.
- Você precisa de um sentido para existir.
- Eu tenho um motivo. - Ele protestou.
- Qual?
- Meu trabalho.
- Você odeia esse trabalho.
- Meus estudos.
- Está atrasado há dois anos.
- Meus amigos.
Alice bufou e o encarou demonstrando quão entediada ele a deixava.
- Eles são importantes.
- Não são o centro do seu universo, seu motivo e sua razão.
- Eles me incentivam, diferentemente de você. - Desabafou.
- Não estou aqui para fomentar seu ego, Leo. - Ela avisou com suavidade na voz, mas com veneno no olhar. - Quero provocar alguma fúria em você.
- Por quê?
- Mova-se! Viva! Enlouqueça! - Ela bradou. - Sua mediocridade me deixa doente.
- Sua sinceridade me mata pouco a pouco.
"Por que você precisa de ser tão sincera?" - A voz de Leoni soou no alto-falante da cafeteria, deixando um clima desagradável no ar e uma bolha de ressentimento entre os dois.
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