5. Todo dia, toda hora eu te imploro: Por favor!
Alice estava deitada de bruços na cama de Leo com os cabelos desgrenhados, e as pernas sacolejando despreocupadamente pelo ar. Do outro lado do cômodo, sentado confortavelmente numa poltrona cinza, rasgada aqui e ali, o rapaz observava a silhueta esguia da mulher. Um longo suspiro escapuliu do peito atraente de Alice e Leo replicou o gesto, num ato reflexivo, e apoiou a cabeça com a mão direita. A voz de Marisa Monte completava o ambiente com seu timbre sedutor e reconfortante, pelo alto-falante do aparelho de som digital. A tarde findava-se preguiçosamente e uma suave goteira formava-se na torneira da pia da cozinha.
- Alice...
- Sim, Leo. - Ela falou sem erguer os olhos na direção dele.
- Hoje você vai me contar de onde veio?
Ela não respondeu.
- Ontem você prometeu contar. O que aconteceu com seus pais?
- Nada.
- Seus amigos?
- Não tenho.
- Namorado?
- Nada.
- Emprego?
- Nem pensar.
- Então o que, Alice?
- Não há o que falar.
- Sempre há.
- Não, não há.
Leo bufou baixinho e desistiu de tentar tirar mais alguma informação dela além do pouco que tinha: Alice caiu em cima dele no bar do Manoel depois de ter sido assaltada. E ela havia chegado na cidade poucas horas antes do incidente. Alice não tinha para onde ir e não tinha como se virar sozinha. Ela precisava de Leo, de seu apoio e ajuda mesmo negando isso com todas as forças.
- Quer comer alguma coisa? - A voz dele estava um pouco ansiosa.
- Não.
- Uma xícara de café?
- Não. - A voz dela parecia ensaiada. Monótona, fria e vazia.
O corpo magro de Leo deixou a poltrona e um pequeno vão formou-se no lugar em que estivera sentado antes. Procurou uma camiseta na cômoda e vestiu uma calça qualquer por cima da bermuda fina que tinha em seu corpo.
- Eu não sou ninguém, Leo.
- Não me importo. - Ele respondeu mais rápido do que gostaria.
- Não tenho uma vida antes dessa. Nunca houve uma. - Alice remexeu-se e virou-se de barriga para cima, agora fitando o teto com uma expressão sombria no rosto.
Ele passou pela cama, ignorando seu corpo atraente quase desnudo e procurou por seu par de tênis que encontrou meio enfiado entre um monte de tralhas que Leo protelava em tirar debaixo da cama. Não teve muito trabalho para calçar as meias e logo estava amarrando os cadarços meio encardidos de qualquer jeito.
- Para onde você vai. - Alice quis saber.
- Lugar nenhum.
Ela arqueou uma sobrancelha mas continuou encarando o teto acinzentado do apartamento de Leo, que mais se parecia com a alma angustiada de Leo.
- Para lugar nenhum.
- Posso ir com você? - Ela sentou rapidamente na cama, com o rosto subitamente iluminado em expectativa.
- Melhor não.
- Por quê?
- Não quero.
- Está com raiva?
- Óbvio que não!
- Não grita comigo!
- Não tô gritando, porra! - Agora ele tinha gritado com ela. Estava esgotado. Vencido pela ansiedade de saber mais daquela pequena fada misteriosa que virava sua cabeça como nunca antes aconteceu.
Alice fez beicinho e voltou a deitar-se na cama, assobiando baixinho a canção de Marisa que tocou minutos antes, ignorando que o aparelho de som emitia a voz de Elali em outra canção.
Leo bufou e deu de ombros, saindo pela porta em seguida, batendo-a com força.
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