2. Um bilhete curto e já não há nada
"Querido Leo,
Acabou... Vai ser melhor assim. Adeus.
Amor,
Alice"
As palavras escritas no espelho com batom Really Red da Mary Kay, surtiram efeito de agulhas sendo encravadas nos olhos de Leo. As manchas vermelho-vivo que compunham as letras firmes e apressadas da mulher que ele amava estavam se tornando menos nítidas, conforme lágrimas formavam-se em seus olhos. Ele desviou o rosto do reflexo emitido pelo espelho e deixou que as lágrimas rolassem pelas maçãs de seu rosto, escorrendo pelo queixo quadrado e empapando sutilmente sua camisa. Alice o deixara. Fechou os olhos com força, sentindo a força daquelas palavras. De imediato lembrou-se de uma passagem da música Suspeito, de Arrigo Barnabé. Música a qual Alice lhe ensinara a apreciar, numa tarde preguiçosa de domingo, onde estavam sentados cada um em uma extremidade do sofá, com as pernas entrelaçadas e taças de vinho na mão de ambos: "Você tem medo de fazer amor comigo, você tem medo de dormir com um bandido. E ver no espelho, escrito com batom: - Tchau trouxa, foi bom!"
Decidiu que Alice havia tirado sua inspiração daquela canção para executar a façanha de destruir seu coração. Batom vermelho, espelho, palavras difíceis de digerir, apesar de sua simplicidade. Um clichê sem precedentes! E o peito do rapaz continuava a doer. Leo considerou a possibilidade de estar sofrendo um infarto agudo do miocárdio. Mas que homem de vinte e dois anos de idade, saudável, frequentador de academia e adepto a uma vida regrada sofreria de tal mal? O mal de Leo era amor daqueles não-correspondidos, ou melhor, daqueles mal-correspondidos.
Descobriu-se esfregando o espelho vigorosamente com uma toalha branca, e por um minuto recriminou-se pela atitude, pensando que Alice chegaria a qualquer momento e o flagraria destruindo o tecido felpudo com aquelas manchas avermelhadas e vis. Não tinha mais volta, a mancha nunca mais seria removida da toalha, bem como a dor instalada em seu peito. Ao observar novamente sua imagem refletida no espelho, embaçada por causa dos vestígios do batom, daquelas letras cruéis e dolorosas que haviam tornado-se apenas um borrão - agora praticamente apagado - mas ainda presente, entendeu que logo o objeto voltaria a refletir qualquer imagem perfeitamente, e assim como no espelho à sua frente, dentro dele não haveria mais nada.
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