06 - Um Segredo Revelado
Alex estava entre Alice e a estranha figura encapuzada. Todos estavam confusos. Aquele lugar não parecia ser o vale que ficara nos arredores de Itapeva. O céu estava coberto por nuvens negras e o vento agitava as árvores do local. Tal como Alice ainda se lembrava antes de ser sugada para o interior daquele redemoinho. Agora estavam numa clareira, com arranhões e sendo observados por alguém ou alguma coisa.
Catherine com dificuldade arrastou-se até Alice, ela havia torcido o tornozelo. Sua respiração estava ofegante. Tentava discernir o que estava acontecendo e onde estavam, mas ninguém também tinha certeza do que acontecia. O vento parara de rugir e tudo silenciou. O céu ficara apenas com algumas nuvens e aos poucos alguns pássaros começaram a voar. Otávio ajudou Catherine a sentar-se, pois não conseguira ficar muito tempo em pé.
— O que foi e parou agora começa a voltar. O império do mal está para mais uma vez iniciar. A chama fria que arde em seus olhos outra vez renasce. Está tudo em suas mãos — disse o estranho. Todos se entreolharam, tentando entender o que era tudo aquilo.
— O quê, como assim, de quem está falando? — Alice perguntara.
— Seus destinos estão ligados para sempre, só você pode acabar com o caos. "Um sinal, para o Templo Elemental. Um passo certo para fugir do Labirinto Eferto. Para o caos desaparecer, uma escolha terrível deve fazer".
Todos estavam aturdidos com tal declaração que não fazia o menor sentido. Alice avançou e olhou firme para o ser encapuzado. Não deu ouvidos aos desesperados chamados de Otávio, que recuasse. Levantou a cabeça, convicta do que perguntaria.
— A que ou a quem se refere?
— Devem sair daqui, não é seguro. Vão para o leste. Em direção das montanhas. As suas forças estão chegando, não será bom que eles os encontrem. Você tem muito a descobrir... Alice — o ser encapuzado disse isso enquanto se virava e retornava para a floresta. O ar começou a tremular como se estivesse se dobrando e ele desapareceu diante dos olhos deles.
Alice ficara estacada no lugar. Catherine massageava seu tornozelo direito, estava inchado. Alex vasculhava o local à procura de alguma pista que indicassem onde estavam. Subiu em uma árvore para tentar ver alguma coisa que pudesse ajudá-los.
— Só eu que acho que alguma coisa muito estranha aconteceu? — disse Catherine enquanto apertava seu tornozelo, a fim de amenizar a dor.
— Pare de apertar é pior Catherine — falou Otávio. Ela levantou os ombros. — Alice, onde estamos? O que aconteceu afinal?
— Eu não faço ideia. A última coisa de que me lembro foi de ter pulado atrás de vocês. Quando dei por mim estava caída aqui — disse agachando-se ao lado deles.
— O que era aquilo? Era uma pessoa? — perguntou Alex que havia descido da árvore. — Não vi muita coisa. Várias árvores e do outro lado algumas montanhas.
— Que raio de lugar é esse? — bufou Catherine. — Sei que depois de cair naquele buracão, tudo ficou escuro e acordei aqui. Que raiva, devo ter caído de pé.
— Comigo também — disseram Otávio e Alex juntos.
— E como foi que você foi cair naquele buraco Alex? — Alice ficara de pé e encarava seu irmão. — Achou que seria engraçado dar uma olhada naquele buraco ou foi seu espírito de aventura. Agora sabe Deus onde nós estamos e de uma coisa estou certa: em Itapeva é que não é!
— De certa forma foi por minha curiosidade, mas não foi para olhar o buraco — ele começara a andar de um lado para o outro. — Eu estava sim curioso para ver o que havia acontecido ao nosso vale. Só que antes de eu sair do caminho do bosque eu vi uma coisa que não era normal.
— Defina não-normal Alex — Catherine dizia enquanto agitava as mãos. Otávio limpava seus óculos que estavam empoeirados.
— Bem. O que você me diria se visse uma criaturinha de uns quinze centímetros com asinhas, e emanando uma luzinha roxa? — ele dissera parando em frente a ela.
Catherine levantou a cabeça para poder olhar para Alex. Alice enrolou seu cabelo e o prendeu num rabo de cavalo improvisado com algumas mechas de seu próprio cabelo. Ela procurou seu celular no bolso. Estava encharcado junto com suas roupas e não ligava de jeito nenhum. Fazendo mais uma massagem no tornozelo Catherine se apoiou no tronco de uma árvore e levantou-se. Seu tornozelo parara de doer.
— Está de onda comigo não é mesmo? — ela riu num tom irônico.
— Eu acho que não Catherine, veja aquilo — Otávio apontava para o lado oposto em que estavam, onde estranhas criaturinhas voavam entre as árvores. Havia uma de cada cor diferente, uma rosada, uma de cor roxa, uma vermelha entre outras tantas.
Todos olhavam abobados. Alex sorrira triunfante, deu um cutucão em Catherine que retribuiu com outro mais forte. Ele deu um gemido e despertou a atenção dos pequenos seres alados, que voaram dispersas, com tal rapidez que foi difícil para eles acompanharem. Alice correu até o local em que elas apareceram há pouco e procurou-as entre os arbustos, no entanto, elas já haviam desaparecido.
— Vocês também viram aquilo ou só eu que fiquei louca? — Catherine estava pasma. Otávio e Alice assentiram. Eles também viram, não sabiam dizer o que eram aquelas coisas, mas tinham certeza do que viram.
— Acho que alguém deve desculpas a outro alguém — Alex cantarolou para Catherine, que emburrada deu-lhe as costas. Ele riu com Otávio. — Mas voltando à seriedade. Como vamos fazer para voltar? Nossos celulares estão estragados. Não sabemos onde estamos e nossos pais devem estar preocupados.
— Ué, temos de ir para o leste. Vocês ouviram o moço — disse Otávio que recostara no tronco de um ipê-amarelo que derrubou uma flor em sua cabeça.
— Não sabemos se ele é confiável. E como sabe que é ele? — disse Catherine apertando os olhos para Otávio. Ele deu de ombros.
— Catherine tem razão Otávio. De qualquer forma, não podemos ficar aqui, pode haver animais selvagens. Talvez se...
— Vocês deviam seguir para as montanhas. Do outro lado é mais seguro. Não há tanta segurança desde que ela voltou, mas podem conseguir ajuda — uma voz delicada interrompeu Alice. Era tão delicada que quase se assemelhava a um sussurro.
Alice virou para trás para ver quem era o portador daquela voz tão frágil. Uma daquelas mesmas criaturinhas estava voando na altura dos olhos de Alice. Era toda iluminada por uma luz avermelhada que emanava de seu próprio corpo. Era como uma garotinha de quinze centímetros.
Seus cabelos eram rosados e estavam divididos em duas partes e presos por laços brancos. Ela usava um vestidinho também vermelho e sacudia asinhas finas e brilhantes, que agitavam rapidamente. Catherine correu até ela para poder ver de mais perto. Otávio e Alex também se aproximaram.
— O que é você? — disse Alex com olhos curiosos.
— Ora que desagradável, não é uma forma gentil de se portar diante de uma garota. Sou Florence, a Ninfa das Flores — disse a pequenina levantando as abas de seu vestidinho num gesto cortês. — E vocês quem são?
— Ninfa? Mas o que é isso? — disse Otávio e ao ver a expressão de rosto da ninfa ele completou. — Com todo respeito.
— Deveria ter mesmo, afinal tenho mais de mil e quinhentos anos — ela riu divertida. — Ninfas são imortais e sempre jovens. Vocês já ouviram falar em fadas? Não somos fadas, seríamos mais como umas primas distantes. Nós cuidamos de muitas coisas. Eu sou a ninfa das flores, como já disse, mas existem centenas de ninfas e cada uma cuida de alguma coisa. Das águas, da terra, etc.
— Pode nos dizer onde nós estamos? — Catherine dissera sem parar de olhar para as asinhas que batiam avidamente.
— Ora é claro. Vocês estão em Eliann — ela disse e deu um rodopio no ar. Uma rosa vermelha e vigorosa cresceu no gramado abaixo dela.
— Onde? Estamos em outro mundo? Outra galáxia? — Otávio espantou-se.
— Não seja bobo. Estamos na Terra. Mas, numa dimensão paralela, escondida, digamos assim. Pessoal, eu não tenho muito tempo. Subam as montanhas e procurem pela Ninfa do Rio Leste. Ela vai lhes indicar um caminho seguro. Já está anoitecendo e eles estão chegando.
— Eles? Quem são eles? — Alice quis saber. Florence a Ninfa bateu seus dedos indicadores um no outro. Olhou para os lados, como se esperasse por alguém ou algum sinal.
— Não posso dizer o nome deles. Vão logo. Foi um prazer conhecê-los. E para você — ela entregou um pequeno saquinho vermelho aveludado, no formato de uma tulipa, para Otávio. Ele olhou para o embrulho que estava fechado com uma fita amarela e olhou para ela. — Quando você encontrar a pessoa que ama verdadeiramente deve entregar isso a ela. Sabe de quem estou falando.
Com um sorriso e uma piscada para Otávio ela acenou para eles e se juntou às outras ninfas que espiavam com olhares curiosos. Os arbustos se coloriram com elas que voavam e saltavam de um galhinho ao outro. Otávio ficou olhando para o pequeno embrulho em sua mão. Era macio e perfumado. Seu perfume era indescritível. Ele guardou em seu bolso e ficou quieto, pensando. Catherine começou a importuná-lo e interrogá-lo para que ele dissesse quem era a dona de seu coração. Ele mantinha-se calado e sério.
Alice ficou olhando para as ninfas que riam e cantavam iguais a garotinhas do jardim de infância. "E pensar que são imortais." Pensou ela. Olhou para o sol que já começava a se declinar. Ela viu que a Ninfa das Flores fizera um sinal com as mãos indicando para eles prosseguirem. Ela sorriu e acenou com a cabeça positivamente.
— Vamos pessoal. Temos umas montanhas para subir — disse ela e seguiu para o leste do bosque rumo às montanhas. Sem contestar eles apenas seguiram-na.
As ninfas observando-os sopraram um pó de suas mãos sobre toda a clareira. Apagando as pegadas e qualquer vestígio que eles pudessem ter deixado. No local cresceram algumas plantas, pequenas árvores frutíferas e um canteiro com rosas azuis e folhas vermelhas. Uma ninfa cinza deu alguns rodopios e uma brisa soprou dentro da clareira mascarando os odores deixados por Alice e seus amigos. Outra pequena ninfa, azul, com um rostinho delicado e olhar tristonho voou sobre as árvores.
Uma nuvem fina de chuva começou a cair sobre todo o lugar. Terminado o serviço elas riram satisfeitas e sumiram pelo interior dos grossos troncos das árvores e arbustos. Voando e rodopiando em espirais coloridas. A noite havia chegado e eles ainda estavam numa trilha interminável. O céu estava todo estrelado. Fez Alice lembrar-se da chácara de sua avó. Do seu quarto e das noites que ficava admirando o céu noturno.
Agora ela ficava se perguntando se iria ver o céu novamente da sacada de seu quarto. Chegaram até um pequeno riacho. Cansados de tanto andar fizeram uma pausa para tomar água e descansarem um pouco. A floresta estava silenciosa. Grilos cricrilavam, sapos coaxavam e vez ou outra uma coruja piava na copa de alguma árvore acima de suas cabeças. O estômago de um deles dera um rugido.
Alex com um pouco de vergonha assumiu, eles riram entre si. Decidiram continuar caminhando. Eles já estavam quase saindo da trilha e alcançando o topo das montanhas. Alice pediu a seu irmão que tentasse subir em alguma das árvores para ver se continuavam no caminho. Ele subiu e concordou. E disse também que havia fumaça saindo de algum lugar não muito longe dali.
Ele deu um pulo e indicou a direção. Eles torceram para que fosse algum lugar seguro onde pudessem passar a noite ou encontrar comida. Otávio carregara Catherine nas costas, que já estava cansada de tanto andar e o tornozelo voltara a doer. Alex ofereceu suas costas para sua irmã. Ela agradeceu, mas preferiu seguir andando.
Alice, enquanto caminhava aquela trilha escura e fria com o ar da noite, refletia. Que lugar seria aquele em que estavam? Eliann, fora isso que aquela ninfa havia dito. Uma dimensão paralela. Pelo menos eles ainda estavam na Terra, bastava saber onde na Terra. Com mais alguns passos dados eles saíram da floresta e se viram num jardim de margaridas. Um grande rio cortava o caminho. Eles olharam para uma grande pedra mais acima, no leito do rio.
Uma ninfa azul cintilava com um brilho perolado. Ela agitava suas pequenas mãos de um lado para o outro, delas saíam faíscas brilhantes que caíam no rio. Ela olhou para eles e os chamou para perto. Andaram um pouco receosos. Ela ficou em pé diante deles. Seu corpo diminuíra a intensidade do brilho. Assim eles puderam olhar mais atentamente para ela. Seu rosto era igualmente delicado como das outras ninfas. Seu cabelo era branco e estava enrolado em uma trança e fora preso de modo a parecer uma coroa em sua cabeça.
Ela sorriu para eles. Bateu suas asinhas e cumprimentou-os tal como Florence fizera. Alice não tinha tanta cortesia como as ninfas, mas tentou imitar uma princesa de um filme antigo que assistira e inclinou-se para frente com a cabeça levemente arqueada e puxando as abas de sua camiseta. A ninfa sorriu com o gesto. Girou sua mão direita e um chafariz de luz iluminou vários pontos no chão. Com outro giro o rio inteiro se iluminou com uma linda luz cristalina.
Vários peixes podiam ser vistos no interior do rio. Eles não estavam incomodados com a luz, era como se já estivessem acostumados ou até mesmo se não pudessem vê-la. Foi o que Alice pode concluir.
— Boa noite meus jovens. Sou Clear, a Ninfa do Rio Leste. Minha irmã, a Ninfa das Flores me avisou que vocês viriam — ela sorriu e apontou para o canteiro de margaridas que dançavam com a brisa noturna. — Agora quero saber quem são vocês.
— Boa noite, sou Alice, esse é o meu irmão Alex e aqueles são Catherine e Otávio — ela indicou seus amigos.
— É um grande prazer conhecê-los. Minha irmã pediu que lhes informasse um lugar seguro. Sigam esse caminho e encontrarão uma cabana, lá vocês vão descobrir o que procuram saber — ela disse com as mãos juntas e indicou uma estrada de terra do outro lado do rio. Catherine soltou um suspiro, a dor em seu tornozelo aumentara. — Se me permite.
Clear se aproximou, voando, de Catherine. Pousou as mãos sobre o tornozelo inchado. A mesma luz saiu das mãos dela, fazendo o tornozelo de Catherine desinchar quase que instantaneamente. Catherine pôs-se de pé e começou a caminhar. A dor havia sumido. A ninfa sorriu para eles e despediu-se. Agitou as pequenas mãozinhas e uma ponte de gelo se materializou de uma margem do rio até a outra.
Ela aproximou-se do rio e pulou dentro dele, desaparecendo. As luzes também desapareceram. Não restou a eles terem de cruzar a ponte recém-criada que cintilava. Andaram mais alguns metros onde avistaram uma casa de madeira, de aparência simples, mas muito aconchegante. Uma chaminé deixava escapar uma fumaça acinzentada e espessa.
Na varanda da casa uma garota e um rapaz os aguardavam. A garota tinha longos e escuros cabelos crespos. Usava um vestido laranja com algumas linhas verdes bordadas em sua barra. Ela aparentava ter doze ou treze anos de idade. O rapaz era mais alto que a garota e tinha os mesmos cabelos pretos, seu olhar era sério, porém era também acolhedor. Usava uma camiseta escura sob um colete de cor bege.
Estava com as mãos nos bolsos. Deveria ter uns vinte e poucos anos. A garota desceu os degraus da varanda correndo e os convidou alegremente para entrar. Ela abriu a porta e o ar quente vindo da lareira os incentivou a entrar ainda mais. A casa era espaçosa e muito bonita. Os móveis eram todos feitos de madeira e brilhavam com o verniz que fora aplicado.
O rapaz pediu que se acomodassem de forma que ficassem à vontade. Alice só notou com a claridade que seus olhos eram azuis, com alguns traços violeta. Ele tinha a pele um pouco mais clara que sua irmã. Tinha certo charme. Catherine percebeu o olhar de sua amiga e pigarreou, desprendendo sua atenção dele e fazendo-a sentar em um dos bancos que tinham almofadas vermelhas.
Alice olhou para algumas mesinhas e viu que a luz que iluminava o cômodo provinha de pequenas lamparinas que brilhavam, com algo que não parecia ser fogo. A garota viera da cozinha trazendo consigo um prato com biscoitos, uma jarra com leite quente e quatro copos. Ela deixou na mesinha de centro à frente deles. Os quatro olharam para a garota sorridente e para o lanche, que os aliciava com o aroma delicioso de chocolate e canela, olharam-se.
O mesmo pensamento se passou pelas suas cabeças. Seria seguro comer? Um barulho ecoou na sala silenciosa. Ou melhor, um ronco de barriga. Alex ficou vermelho com a situação. Não demorou muito e mais três roncos surgiram, como se o primeiro fosse um sinal.
Eles se olharam mais uma vez e vencidos por seus estômagos aceitaram. O biscoito desfez-se na boca de Alice com facilidade, era a melhor coisa que ela havia comido em séculos. A fome diminuía a cada mordida e a cada gole de leite quente. O rapaz após tanto tempo parado sentou-se de frente a eles. Ele mantinha seu olhar sério e atento. Acenou afirmativamente para a garota que estava muito ansiosa e não continha o nervosismo.
— Oi, sou Selina. Desculpe meu comportamento bobo, mas estou muito feliz — ela disse. — Este é o meu irmão Samuel. Temos uma coisa importante para dizer para você Alice.
— Hã, prazer em conhecê-los — ela respondeu, apesar de estranhar o fato de todos ali saberem seu nome. — Poderiam nos contar então o que é isso tudo?
— Certo. Vocês querem saber do começo "do começo" ou desde que vieram para cá? E o porquê disso, claro — ele falou recostando-se no sofá ficando mais confortável.
— Se vai dizer que seja do começo, seja lá o que for — falou Otávio e teve a confirmação de Alice. Selina arrumou seus cabelos e pôs-se de pé.
— Sempre quis dizer isso — ela sorriu e seu irmão pediu que andasse logo, ela assentiu e continuou. — A magia sempre existiu e sempre vai existir. A comunidade mágica e as criaturas fantásticas das quais vocês ouviram falar também. E por muito tempo elas viveram de forma pacífica com as pessoas que não eram dotadas de magia — ela foi interrompida por Otávio que exclamou um "O quê?". Catherine tapou a boca dele e pediu que ela continuasse. — Certo. E isso se devia ao fato de que as pessoas ignoravam a magia, não sabiam que ela realmente existia. Alguns até tentavam imitá-la, mas o que conseguiam não passavam de truques baratos de ilusionismo. Mas uma coisa fez com que isso mudasse e essa coisa tinha um nome: Imperatriz!
Eles ouviam com máxima atenção, surpresa e curiosidade. Exceto Alice, que em parte já tinha um conhecimento sobre essa tal Imperatriz. Vira coisas que não queria e ainda não sabia o motivo de tê-las visto. Agora talvez ficasse sabendo alguma coisa importante e que revelasse a ela todos esses estranhos acontecimentos em sua vida.
— Exatamente — concordou Samuel. — Vocês estão em Eliann. Não, não é um mundo em outro universo ou coisa parecida. É apenas uma dimensão paralela ao país de vocês. Nós estamos escondidos desde que as trevas atingiram o coração da Imperatriz. Alguns séculos atrás. Antes de termos sido separados do Brasil que vocês conhecem hoje. Todos os seres mágicos viviam em comunhão com as pessoas que não tinham magia alguma. Éramos livres. Ainda hoje, pelo Brasil algumas criaturas vivem escondidas ou simplesmente disfarçadas, para viverem em paz.
— Mas pelo que estamos vendo tudo pode acontecer novamente — disse Selina com a cabeça baixa. Seu irmão concordou com um murmúrio.
— Vocês também são criaturas mágicas? E o que está para acontecer de novo? — Catherine perguntou sentando-se ao lado de Selina.
— Sim, somos híbridos. Podemos nos transformar em qualquer animal que quisermos — dizendo isso Samuel olhou para sua irmã que sacudiu a cabeça em afirmativa. Ela foi até um espaço maior na sala e deu um pulo no ar, transformando-se num belíssimo lince de pelos alvos. Com outro movimento transformou-se em uma arara-azul de penas brilhantes. — Minha irmã tem muita habilidade, como podem ver.
— E como vocês conseguem fazer isso? — Otávio estava maravilhado com as transformações da jovem garota.
— Vocês já ouviram, provavelmente, a história do Gato de Botas? — eles assentiram. — Pois bem, nós híbridos somos descendentes diretamente do dono do castelo que lá vivia. A história diz que ele é um bruxo, mas, na verdade, ele é um híbrido.
— Mas, ele não foi devorado pelo gato? — Alex bancando o espertinho dissera enquanto esfregava os braços.
— Ora, e quem disse que houve um gato que o devorou? Histórias são histórias, o que aconteceu é que ele se apaixonou por uma garota e teve filhos, no entanto, nós não temos um controle exato pelas nossas transmutações até certa idade e horrorizada com as misturas entre um animal e outro ela acabou tirando sua vida. Ele espalhou esse boato e mudou-se para uma terra inabitada. E de geração em geração aqui estamos nós — finalizou com um sorriso maroto.
— Bem. Quanto ao que está para se repetir... Um casal de bruxos teve uma filha. Era uma criança linda, segundo os registros. Tinha lindos cabelos prateados como a lua. Ela cresceu como qualquer criança mágica ou não deveria crescer. Com risos, brinquedos, mimos e tudo mais. Porém, foi em sua juventude que tudo isso mudou. — Selina olhava para seus pés.
— Ela era uma bruxa com talentos incríveis e inimagináveis. Mas ansiou por mais poder do que já tinha. Rapidamente ela foi corrompida pelas trevas. Criou criaturas sombrias, que não mencionamos seus nomes. Pois ela é a única que pode fazer, ficaram conhecidos como eles.
— Agora entendi o que a Clear quis dizer com "eles" — Catherine estalou os dedos.
— Isso. Ela fez coisas terríveis, derramou o sangue de muitos inocentes. E se sentiu ameaçada quando descobriu que uma garota muito mais poderosa do que ela nasceria em breve. E poderia pôr fim ao seu império sombrio e devastador — Samuel caminhou por trás de Selina e encarou Alice. — A Imperatriz ficou furiosa. Fez tudo o que pôde para encontrar essa pobre garotinha. Vários bruxos e bruxas, fadas e qualquer criatura dotada de magia que estivesse aliada na luta para impedir que a Imperatriz reinasse era facilmente derrotada.
— Os bruxos, que mais tarde formaram o Conselho Brasileiro de Magia, eram responsáveis pelas leis mágicas da época e tiveram de tomar uma medida drástica. Tiveram de mexer com o tempo e espaço, para poderem controlá-la. A garotinha recém-nascida foi enviada em uma viagem no tempo para outra época. Após uma longa batalha a Imperatriz, foi aprisionada em um sono profundo e lançada em uma brecha temporal. Um espaço entre a nossa realidade e outra mais irrelevante. Era para ter sido assim. Ela devia ficar lá por todo este tempo, mas ninguém sabe como ela conseguiu voltar — Selina enfiou seu rosto entre as mãos e começou a chorar.
— E isso não é tudo. Soubemos que nossa dimensão pode estar comprometida — Samuel apoiou-se no braço do sofá. — Eu temo que ela possa desfazer o véu que protege nossa dimensão do resto do mundo. E se isso acontecer seria uma coisa muito ruim.
— Mas e como vocês vão fazer para detê-la desta vez? — Alice ficou em pé encarando-o.
— Vamos precisar daquela garotinha. — Selina disse, com o choro já contido.
— Será difícil encontrá-la? — Catherine perguntou enquanto olhava de Samuel para Selina.
— Não, pois ela está aqui com a gente agora. Não é mesmo, Alice? — ele olhou fixamente para ela com seus belos olhos azuis.
— O quê disse? — Alice espantou-se com o que ouvira.
— Exatamente Alice. Você é uma bruxa, você é o bebê que viajou no tempo. E dependerá de você para salvarmos a nossa dimensão e a de vocês. — finalizou.
O queixo de Alice caiu. Ele falara tão calmamente como se fosse a coisa mais normal do mundo. Ela tivera a resposta que tanto esperou. Era uma bruxa. Isso explicava as visões, sua aparente habilidade em mover objetos sem tocá-los, como executou aquele feitiço da internet e como salvou seu irmão do acidente trágico. Agora ela não tinha mais certeza do que aconteceria, apenas de que as mudanças não seriam tão boas.
Selina indicou-lhes um banheiro onde poderiam tomar um banho e ela providenciou roupas limpas. Eles alojaram-se em dois quartos nos fundos da casa. Estando limpa, Alice olhou pela janela do quarto. O céu encobrira-se com algumas nuvens. Catherine acabara dormindo devido tanto cansaço. O vento soprava manso do lado de fora da cabana.
Os pensamentos de Alice estavam a mil por hora e ela não conseguia se concentrar. Sentiu falta de seus pais. O que estariam pensando? Teriam ligado para a polícia e estavam à procura deles? Essas e outras tantas perguntas formavam-se em sua mente. Uma memória voltou-lhe claramente de um de seus sonhos. A Imperatriz. Ela caminhava em sua direção. Sem face, encoberta pela névoa. A última visão fora um imenso raio de cor azul ser lançado em sua direção.
O que aconteceria a ela? Seria mesmo a tal garotinha de poderes fantásticos e seria capaz de impedir que a Imperatrizre criasse seu império das trevas? E aqui, no Brasil? Mas como se ela não sabia nada sobre esse mundo? As respostas viriam. Alice sabia disso. Só não tinha certeza se gostaria dos resultados. Adormeceu com o vento que parecia cantar uma leve canção, ao soprar sobre a casa.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro