× Capítulo 03 ×
QUERIA SER HERÓI, MAS SOU APENAS EU
“Dentro de cada herói vive um monstro. Dentro de cada monstro vive um herói. O bem e o mal habitam os mesmos espaços no espírito do homem.”
– Edmundo Dragon Heart
Music: Not Gonna Cry - Emma
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Sem muita coragem para encarar a pessoa, levo meu olhar ao chão, e então vejo um tênis de menino. Mordo o lábio, pensando no quão ferrada estou, e se poderia piorar. E realmente piora, meu olhar vai subindo até chegar em seu rosto. Ao reconhecê-lo, o meu rosto empalidece.
— Me desculpa... — digo com a voz falha. O ex da Madeleine, em quem Anabel deu o fora, me olha de cima a baixo.
— Terei que jogar fora a minha camisa, você se responsabilizará? — diz como se tivesse nojo da minha presença, olhando-me de cima a baixo. — Me pergunto como pode ser... Uma, um lindo anjo. Outra, uma cópia falha. Se fosse você, iria para uma montanha, uma bem distante, e viveria nas cavernas. Mas não se preocupe, nem os ursos vão querer devorar você. No entanto, se for tão podre por dentro quanto é sua irmã, você pode ir para qualquer lugar.
Encolho-me ao sentir-me a mais pequena das criaturas. Quando o vi anteriormente na noite de Halloween, parecia quieto. Pensei até que pudesse ser uma boa pessoa, mas estava enganada. Ele é uma má pessoa. Ele está irritado com minha irmã. Sempre é assim, embora ele seja o primeiro a ofendê-la. No entanto, sabe que não consegue bater de frente com ela então ataca-a por meu intermédio. Por mim, pode ser até melhor, pois, se ele se tornasse namorado da minha irmã, seria uma tragédia.
Madeleine e ele se merecem, penso.
Mordo os lábios e olho disfarçadamente para os lados, as pessoas apenas olham, fofocam, algumas riem, e engulo em seco quando meu olhar encontra a Anabel, Jonathan e a Cleo, as lágrimas começam a brotar antes que eu possa contê-las. A sensação de inferioridade, vergonha, tomam posse de mim e apenas me resta abaixar a cabeça.
Não sei como me defender, o que eu posso dizer a ele?
Mesmo que eu diga para ele parar de implicar comigo, isso só vai servir para mais algumas ofensas que irão me deixar ainda mais humilhada. Soluços involuntários, entre minhas lágrimas, me deixam mais constrangida. Minha vontade de desaparecer aumenta, e meus lábios tremem, dou alguns passos para trás, viro-me para sair correndo, mas choco-me contra um corpo grande que me abraça. Seu corpo é quente e tem um perfume gostoso. Surpreendo-me, não pelo seu calor ou perfume, mas pelo abraço. Tento me soltar, mas me abraça com mais força e me afasta do centro daquela bagunça.
Tento ver quem é, mas só consigo ver a sua jaqueta preta, então algo chama a minha atenção: um vulto vermelho me surpreende. Tento ver o que aconteceu, porém a pessoa desconhecida não me deixa ver quem é e volto meu olhar para ele. Quando subo o meu olhar, só tenho tempo de ver a sua boca falando:
— Vai ficar tudo bem, pequena ruiva… — Ele se vira e vai embora sem dizer mais uma palavra, sem me deixar ver seu rosto, permanece apenas com sua voz grossa e baixa ecoando na minha mente.
Este momento não dura pouco mais de alguns segundos, pois escuto o som de pancadas e pessoas gritando: "Briga, briga, briga!"
Entro no meio da multidão de novo e vejo Jonathan saindo no soco com o rapaz, rolando no chão enquanto as pessoas parecem adorar o show. Sinto-me assustada, mas não dura muito tempo, pois sou empurrada para o lado. Quando olho para quem me empurrou, vejo Anabel com um balde, despejando água nos dois rapazes.
Todos se silenciam, chocados demais para falar qualquer coisa. Ela joga o balde neles e eles, com dificuldade, conseguem evitar o golpe encolhendo-se. Minha irmã parece furiosa, todos podem sentir na espinha a raiva que deixa o ar denso. Mas, mesmo assim, sua feição permanece fria e ela abre um lento sorriso tenebroso. Nesse momento, suspeito que não apenas eu, mas todos sentiram um forte arrepio subir pelas costas.
— Anabel? — tenta Jonathan.
— Jonathan, eu esperava mais de você… — diz mordaz.
— Mas, Anabel…
— Você me desapontou. Você teve coragem de colocar a mão nesse monte de merda! Nunca mais encoste a mão em mim ou chegue perto da minha irmã. Suas mãos estão me dando NOJO! E vou pensar se deixo chegar perto da minha irmã novamente!
— Mas, Anabel, a raiva subiu… ele falou para Alice… — tenta explicar e então fica puto. — Como você pode brigar comigo ainda?
— Primeiro, jogarei desinfetante em você. Segundo, da minha irmã cuido eu!
— Você só sabe falar dessa sua irmã, você é doente, Anabel — exclama Rian. — Alice, Alice, Alice! Diabo de Alice, o que ela tem de especial! Você vive para esta menina! É doentio!
Eu também tenho Anabel como o centro da minha vida, ela é a melhor pessoa do mundo, a menina mais incrível e brilhante. Não é normal eu viver atrás dela? É doentio ela estar comigo se eu sou a irmã mais nova, embora sem talentos? Penso, confusa.
— A conversa ainda não chegou no chiqueiro, Rian. Quando eu precisar da sua opinião, pergunto. — Ela vira o seu olhar lentamente ao Rian.
— Foi por causa deste fanatismo pela sua irmã ridícula que você nem me deu uma chance! "Você não é bom". Que porra é essa? Tenho que passar pela aprovação desta garota?
— Não te dei chance porque não gosto de você. Não gosto da sua personalidade, seu caráter e toda essa podridão ao redor de você — diz ao abrir ainda mais o sorriso. Então, lentamente, seu sorriso some, ela dá alguns passos adiante e se abaixa da altura do Rian. — É muito mais simples do que jogar a culpa em alguém. Alice é a pessoa mais importante da minha vida. Você gostando ou não, Rian. E, se você falar da minha irmã novamente, eu me certificarei que preferirá apanhar do Jonathan.
— Isso é uma ameaça? — pergunta ele irritado.
A verdadeira personalidade da Anabel é um mito na escola. Sempre é educada, sorri, tem uma boa presença, mas este outro lado dela surpreende todos. Não é que seja falsa, mas quando irritada age sem se importar. Ela é um contraste perfeito: por fora, ela é um anjo, por dentro, tem uma personalidade vingativa como um bonito demônio.
— Você é grande, mas não é dois... — fala baixo, e somente quem estivesse próximo realmente poderia ouvir. — Não é uma ameaça, e sim uma promessa.
— Você é bonitinha, nada mais. O que você pode fazer ou falar? — retruca ele.
— Rian, não me provoque. Por favor, me poupe, nos poupe! Não finja demência. Antes de abrir esta lata de lixo que chama de boca, me responda. O que algumas verdades omitidas podem resultar se forem reveladas? — a pergunta parece específica, não entendo bem, mas ele parece entender. O olhar dela se volta para mim, mais tranquilo, porém sério e responsável. — Minha princesa, vá para a sala. Se ficarmos aqui, não demorará para recebermos todos, suspensão.
— Mas, Bel... — Tento argumentar, mas é em vão.
— Até mais, Alice. — Anabel sorri e então fixa seu olhar no Jonathan. — Você quis defendê-la? Então a proteja, pegue ela e vá para um lugar seguro. — Ela parecia um bravo cavaleiro com sua armadura e coragem. Mal vi o momento em que o Jonathan se levantou e veio até mim. Muito menos quando me pegou no colo e saiu correndo de qualquer jeito.
•••
Jonathan me levou para longe de todos, mas não ficou muito tempo. Disse-me para esperar um tempo e entrar na segunda aula, então voltou para tentar ajudar a Anabel. Ele também era incrível e reluzente como um herói. Só pude vê-lo correndo, empenhando-se enquanto o suor escorria por sua face.
Fiz como ele disse e disfarçadamente entrei no momento da troca de sala, na segunda aula.
no intervalo das aulas, todos cochichavam sobre Anabel: ela tomou uma suspensão de três dias e uma advertência. Rian, por outro lado, tinha um grande histórico de brigas, e o seu pai ser o vice-diretor não o salvou, então foi expulso. Rian não falou sobre o Jonathan, o que também não paravam de falar. Ninguém sabe o porquê, mas ele ficou em silêncio. Se fosse qualquer outra pessoa, iria inverter a verdade, falando que o Jonathan fez isso ou, no mínimo, o levaria junto.
No último período, sinto-me ainda abatida, pensando em tudo o que aconteceu, e algo em mim dá um estalo. Rian disse que Anabel é doente porque cuida de mim, então o problema sou eu!? Ela é incrível! É isso que faz minha irmã fantástica! Sua perfeição vem do que ela é num todo. Não bajula, não perde o controle, a não ser que eu fosse o motivo. Ela enfrenta qualquer um se necessário para me defender. Mas também, como agora, se encrenca no meu lugar. Chego à conclusão que sou, sim, o problema dela.
Não quero ser um incômodo ou um peso para ela, penso triste.
Engraçado, mesmo que duvide conseguir ainda nesta vida, hoje quero ser como ela, mais do que sempre quis! Pois, se eu for um pouco que seja do que ela é, não terá que me proteger ou cuidar de mim e, principalmente, nunca mais se enfiará em briga ou algo assim. Desta vez até o Jonathan foi envolvido. Quão desastrosa para a vida das pessoas posso ser?
Fiquei três semanas seguintes refletindo, pensando sobre tudo que aconteceu. Agora, deitada na minha cama, olho para o teto, mas o remorso que sinto é tanto que me encolho e viro para a parede.
Anabel me protegendo, e o Jonathan também... tudo isso porque não sei me defender. Tudo por quê? Por quê?! Porque sou fraca, não sou bonita o suficiente, não sou metade da minha irmã.
Sempre espero o pior. Encolho-me e choro, mesmo sabendo que não vai levar a nada. Como agora, lamento-me e sempre tenho a certeza que a Anabel vai me proteger… Anabel? Uma guerreira, sempre foi por mim e por ela... É claro que ela vai me proteger quando eu chorar. Se eu tivesse apenas um pouco da confiança dela. Eu não a mereço, desde sempre foi assim… como mudar as coisas se não tenho forças?
Viro meu corpo e levanto a cabeça, vejo a janela entreaberta e as cortinas esvoaçantes. Olho para o céu através da janela, como se Deus fosse me trazer uma solução. Mas ele não pode fazer nada, pois se fosse apenas este o problema… Eu sempre dei trabalho.
Nas aulas de literatura, a professora me repreendia por só gostar de poemas góticos. Dizia que isso poderia me fazer mal, dizia que poderia significar que sou depressiva... Resultado? Minha irmã ia me defender, protegendo o meu gosto, citando grandes poemas góticos que estão marcados na história.
Se eu gostava, então qual era o problema? Dizia em minha defesa.
Nas aulas de música, preferia tocar bateria do que flauta ou qualquer outro instrumento de "menina". Resultado? Ela pesquisou até encontrar garotas que tocavam bateria, somente para jogar na mesa da professora, esperando justificativa para a sua perseguição.
Nas aulas de educação física, gostava de basquete, queria correr e treinar como os rapazes, mesmo que eles não gostassem de mim. A vida deles parecia muito mais divertida do que ginástica e esportes para meninas. Meu corpo também não era tão delicado como das outras garotas.
Nesse caso, contra o professor Josh, minha irmã não saiu vitoriosa, mesmo brigando. Seria necessário ter mais garotas para formar um time e eu poder participar. O time misto era perigoso para mim, os outros jogadores eram muito maiores e mais fortes. Além disso, eles só queriam se aproximar por causa da Anabel, ou não se aproximavam, também pelo mesmo motivo. — É de conhecimento geral o quanto sigo a Anabel, como se ela fosse o sol do meu universo, e como ela me protegia de igual maneira. — De qualquer jeito… A conclusão? De que adianta os meus gostos serem diferentes, se a luta por eles quem trava é a Anabel? Essas coisas que eu gostava exigiam atitude e confiança o que, obviamente, se eu possuía, estavam no fundo da caixa, tão escondido que era a mesma coisa que nada.
Refletindo sobre tudo, sinto-me péssima, tenho apenas treze anos e sou um peso morto. Sou uma completa inútil. Pior, nem morto sou, um morto nós enterramos e só voltamos lá no dia de finados. Não é à toa que nem papai ou mamãe ligam para mim. Não tem lugar no mundo para uma ameba como eu.
Ainda tento ser como minha irmã, educada, mas falta muito...
— Aaahh! — exclamo, colocando a mão em minha cabeça, enfiando as unhas em meus cabelos. Eu não sou apenas uma criança como todos dizem? Por que meu único pensamento não é querer uma boneca nova? Talvez porque quem admiro não é a Barbie, é a Anabel. Drooga!
Meus pensamentos deixam-me inquieta, e levanto, ando pelo quarto de um lado para o outro e pergunto-me desde quando este quarto foi tão pequeno? Preciso andar, respirar... de espaço… Isso, espaço. Preciso sair daqui... Estou sufocando, estou presa! Escrevo um bilhete, deixo-o sobre a cama. Visto um leve casaco e, em passos felinos, ando pelo corredor e escadas. Vejo que não tem ninguém e encaminho-me para a porta de casa.
Mamãe não me deixaria sair, muito menos me entenderia já que nunca entendeu mesmo. Sequer eu entendo.
Seguro a maçaneta e puxo a porta lentamente, ela range. Meu coração vem na boca, ao colocar o primeiro pé para fora, sinto meu coração bater ainda mais rápido. Uma forte emoção, que não sei definir, me preenche, mas é algo semelhante com um alívio… liberdade! O vento fresco presenteia-me e bagunça um pouco os meus cabelos. Respiro fundo ao sentir o vento frio preencher os meus pulmões. Abro os braços, apreciando o ar fresco que naquele pequeno quarto não parecia ter.
É outono, e as árvores têm um tom bonito alaranjado. Assim como a cor dos meus cabelos, penso ao passar a mão neles e tirar alguns fios da minha face. Sempre me senti mais feliz nesta época do ano, principalmente ao caminhar pela rua. De uma forma estranha, sinto que pertenço a algum lugar. Entregue a esta sensação prazerosa, vago pelas ruas até sentir um aroma gostoso de algumas flores. Sigo-o e chego à minha praça favorita, a que fica bem no centro da cidade.
Uma praça grande com muitas árvores e um gramado extenso e bonito, agora cheio de folhas secas caídas pelo chão. Entre tantas árvores ali, tinha a maior e mais bonita de todas. Não era frutífera, mas suas flores eram lindas! Uma árvore gigante, centenária ou milenar… Não sei dizer. Só que ela é tão grande que, de qualquer ponto da cidade, daria para vê-la. Sempre me pareceu agradável estar próximo a ela. Ela me atrai, assim como a minha irmã, é tão acolhedora com suas grandes raízes e sua força.
Força. Recordo-me da Anabel.
Só de pensar em Anabel, sinto uma grande vergonha me invadir. Sou tão pequena, tão miserável… Como posso ser algum dia metade do que ela é? Meu olhar cai, meus ombros voltam a pesar, meu estômago parece pesar uma tonelada. Sinto uma vontade de gritar, perguntando porque tudo é tão injusto comigo. Mas nenhuma lágrima parece querer cair, assim como a minha voz. Toda a minha satisfação de ir encontrar a bonita árvore é trocada pela dor em meu coração.
Olho para o chão, continuo a andar, mas não é como se estivesse de fato vendo algo...
Perdida em pensamentos, meus pés parecem seguir sozinhos o caminho até o seu almejado destino quando um galho velho, que não vi, me faz tropeçar. Minha reação parece lenta, tento colocar minha mão para me proteger, mas parece ser uma tentativa em vão. Antes de cair, tenho tempo apenas para aquele breve frio na barriga. Pressinto a dor que viria inevitavelmente. Contudo, uma mão firme me segura e puxa-me contra si. Choco-me contra um peito forte e sinto que já passei por isso antes, como um déjà vu, mas desta vez para impedir o meu vergonhoso tombo.
Levanto o meu olhar surpresa e encontro lindos olhos verdes, como as folhas das árvores, com um leve amarelado em seu centro, cílios longos escuros, nariz fino, assim como sua boca — mas não tão fina assim. O maxilar é bem definido, o queixo é levemente quadrado. Os cabelos grandes, pretos e lisos, caem levemente sobre o seu rosto. Por que não me lembro de tê-lo visto antes? Não é alguém que passe despercebido.
Ele parecia mais velho que a Anabel e o Jonathan. Podia sentir, através de nossas roupas, o seu calor, mas, diferente deles, que sempre sorriem para mim livremente, ele não sorri. Encara-me sério, analisa-me até que eu me sinta mais tímida do que já sou, só então demonstra a sombra de um sorriso. Nesse momento, sinto o rubor tomar o meu rosto.
— Está bem, pequena ruiva? — Sua voz é baixa, grave e gostosa de ouvir. Mas dou-me conta de quem ele é. A pessoa que esteve comigo em meio à briga, me abraçou e disse que tudo ficaria bem. Tímida, viro o rosto fugindo do seu olhar. Ele procura olhar o meu rosto, não me permitindo fugir. Parecia familiar, mas, antes que pudesse pensar em mais alguma coisa, ele continua, e meu momento chega ao fim. — Cadê a sua irmã?
Oh! Claro… minha irmã. Porque outro motivo… claro.
— Desculpa, minha irmã não está comigo… — digo quase sem voz de tamanho constrangimento. — Estou aqui sozinha.
— Onde está o inútil do Jonathan? — diz entre dentes. — Eles não deveriam cuidar de você?
Lembro-me do Jonathan me defendendo e do seu sorriso, sua voz e por fim vou em sua defesa. — Ele não é... — Contudo, sou interrompida por uma voz um pouco mais distante.
— Ow! Cara! O que está fazendo aí?! Vamos logo, Miguel! A festa, mano! Oh! Uma menininha! — grita um rapaz. Nossos olhares se viram para o rapaz, provavelmente da mesma idade que o rapaz que ainda estava comigo aqui, mas ele é loiro e mais truculento.
— Calma ai, Rafael! — respondeu ele. Colocou-me de pé, certificando-se de que eu não iria cair novamente. Então começou a procurar em seus bolsos algo. E, quando me entrega, descubro ser uma bala de morango, fazendo-me corar enquanto seguro um sorriso, pois nunca imaginaria que um rapaz assim, no melhor estilo badboy, seria gentil em me ajudar e ainda me dar uma bala de morango. — Aqui, anime-se. Não fique até tarde aqui e cuidado com estranhos. Tome juízo, ruiva, o mundo não é bonzinho para menininhas bonitas.
Todos os meus pensamentos que se focavam apenas em coisas ruins, agora estavam preenchidos apenas com um rosto, uma voz, um cheiro, uma única presença: esse desconhecido. “O mundo não é bonzinho para menininhas bonitas”? Não sei se conseguirei esquecer isso algum dia. Um risinho feliz me escapa dos lábios e concordo. Ele retribui o sorriso e bagunça meus cabelos. Ele se vira, de costas, reparo nas suas vestes: calças jeans, coturno amarrado de qualquer forma, correntes penduradas pelos bolsos e uma jaqueta preta. Quando alcança o seu amigo, olha para trás, e vejo outra sombra de um sorriso, que me faz arrepiar.
— Não deixe eles falarem o que quiserem de você, seu brilho só você pode apagar! — exclama ele e, involuntariamente, meu coração se enche de alegria de forma que não sei explicar, penso com meu rosto corado. Mas quem é ele?
Bom… Ele conhece Anabel... Ah! Anabel! Deve ser um de seus admiradores. No que estou pensando? Sou só uma garota de treze anos, se conheço pessoas mais velhas, é por causa da minha irmã... Não tenho amigos, quem tem é ela. Eles cuidam de mim em respeito a ela. São meus amigos? Não, acho que isso é pena. Mas acho que vez e outra me agarrar a pequenas felicidades é bom...
Entretanto, sempre tive Anabel ao meu lado… E não a ter deixa-me com a sensação de abandono e solidão. Volto a caminhar, chutando algumas folhas secas até chegar entre as raízes que sempre parecem aconchegantes para mim. Ao sentar entre elas, parecem me abraçar, afugentando um pouco da minha solidão. Como arrumar esta bagunça? Fecho os olhos ao encostar a cabeça na árvore. Meu corpo pesa com meus problemas, mas se encaixa perfeitamente aqui, sendo acolhido pela natureza...
Alguns minutos se passam enquanto escuto o som das folhas nas árvores. O vento estava mais forte, trazendo consigo um cheiro que era familiar. Mas de quem? Não de nenhuma flor que tem aqui, com certeza! Abro os meus olhos. Após tanto tempo de olhos fechados, não vejo direito, somente uma forma humana. Prontifico-me a gritar, mas mãos tampam a minha boca.
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Obrigada por ler!
Se gostou, não deixe de comentar.
Revisora: DontWorryBeHappyNow
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