C A P Í T U L O 55
Sonhos que extinguem pesadelos
― Foi rápido ― completei depressa voltando minha atenção para a pele avermelhada do meu pulso. Eu não podia olhá-lo, não podia, tinha de resistir ao impulso, senão acabaria desistindo de continuar, porque o que Anton não sabia, era que o pior ainda estava por vir. ― Dahlia, a babá que cuidava de mim desde os meus cinco anos, apareceu.
Ela já tinha reparado que eu não ia mais à casa dos Manzoni e acredito que foi depois do meu aniversário que realmente começara a suspeitar que havia algo errado, pelo jeito que ele me olhava e que eu o evitava. Dahlia chegara a fazer algumas perguntas naquele dia, à noite, mas eu não tive coragem de falar a verdade.
Eu não tive.
Era como se todas as minhas partes boas tivessem sido destruídas naquela última semana restando-me somente as ruins, e a coragem não fazia parte delas. Eu estava com tanto medo da decepção de Petre e Ava, com vergonha por ter visto algo que supostamente era tão errado e impuro, com culpa por ter incitado aqueles toques, mas principalmente, em desespero ante a possibilidade dos meus pais sentirem por mim aquela mesma sensação que não saía do meu corpo. Repulsa, nojo, raiva. Eu tinha medo de que me abandonassem porque eu era suja, indigna do amor deles.
Apoiando a testa sobre meus joelhos, voltei a apertar os olhos sacudindo a cabeça e suprimindo um soluço. A linha era tênue e eu também não queria seguir por esse caminho. O momento já estava torturante demais para agravá-lo com pensamentos ressentidos sobre Petre e Ava. Eu tinha que terminar, tinha que falar tudo logo e tirar aquilo de mim antes que outras partes daquela fissura se abrissem e ela se tornasse irreparável.
― Três dias depois era aniversário da Lilian, o mesmo dia em que meus pais e eu íamos viajar de férias, e eu sabia que se não lhe desse um abraço naquela tarde, só voltaria a vê-la após a viagem, dali a um mês. Eu ficava tensa só de pensar em chegar perto da casa dela, mas a intenção era ir apenas até a porta, dar um abraço, entregar o seu presente e ir embora rápido.
Vai ser rápido, eu não vou encontrar ele e ela ficará feliz... era o que eu queria acreditar no meio de todo transtorno retido em mim.
― Eu... eu cheguei à casa dela, bati três vezes e a porta se abriu... A porta se abriu e era ele quem estava na minha frente. Foi mais que instintivo, foi pavor, me afastei e já saía correndo quando ele me segurou o braço falando que Lilian tinha me visto chegar pela janela e que estava me aguardando em seu quarto. Eu tinha decidido que não entraria naquela casa por nada e acho que ele farejou a minha determinação, porque logo me lembrou da ameaça dizendo que se eu não entrasse, todos iam suspeitar e ele teria de contar tudo para os meus pais.
Eu não tinha certeza se as minhas lágrimas cessaram em algum momento desde que começaram a cair, mas nesse instante elas desciam abundantes, e outra vez busquei fôlego para refrear aquela onda de choro que subia aguda, dilacerante, assim como a dor que martelava em meu peito.
― Eu entrei e como já conhecia o caminho, corri direto para o quarto dela com a esperança de não ficar sozinha com ele nem por um segundo. Cheguei lá e não havia ninguém... Chamei por ela, chamei e chamei, mas foi ele quem apareceu... apareceu e fechou a porta.
"Não, não, não..." havia sido o meu desespero gritando, a minha súplica diante daquele momento do pesadelo em que a escuridão cobre tudo, me convulsionando e aqueles olhos negros se aproximando, se aproximando para fazer todas aquelas coisas, todas aquelas coisas que eu não queria, e eu me afastando, recuando, então tropeçando e caindo para trás.
― Eu... eu caí ao tentar me afastar, bati a cabeça e fiquei meio aérea por um tempo. Quando voltei ao meu corpo, ele já estava em cima de mim... Comecei a me debater, a gritar, as minhas pernas foram abertas e eu gritei mais alto... tentei empurrá-lo, mas não havia forças... não havia... o peso dele sufocava...
A minha voz saía cada vez mais fraca entre palavras trêmulas, a minha mente parecia um desfiladeiro, quanto mais profundo, mais eu me sentia desaparecer. Levantei a cabeça esforçando-me para encher os pulmões, mas sentindo o afogamento subir, um peso no peito e uma sensação de tontura, talvez uma alucinação que me levava à beira de um sorvedouro do qual eu me detinha e tentava recuar.
― Supliquei, tentei pedir por ajuda, mas a minha boca foi coberta pela mão dele e eu comecei a engasgar com as secreções do meu choro... quando ele estava prestes... ele estava prestes... a porta se abriu... A mãe dele olhou pra mim, depois pra ele e por um segundo acreditei que aquele pesadelo havia acabado, que ela ia me ajudar, que ia tirar ele de cima de mim, mas ela apenas recuou e ia fechando a porta... Ela ia fechando a porta e ia me deixar lá sozinha com ele se não fosse pela Lilian aparecer empurrando de novo e vendo tudo. Dessa vez ele se afastou rápido e eu não sei com que força me levantei e nem como saí dali, porque quando percebi já descia correndo as escadas. Eu desci e desci, mas quando cheguei no último degrau o meu braço foi agarrado pela Mersia.
Me solta! Me solta! Me deixa ir!
― Ela não queria me deixar ir... Comecei a me debater, a gritar, implorar para que me deixasse ir embora, mas ela não deixava... Então a porta da frente se abriu com tudo, Dahlia apareceu e rapidamente me tirou de lá.
Eu descobrira mais tarde em um relato dela aos meus pais, que Dahlia tinha visto Mersia chegar em casa com Lilian segundos antes de ir atrás de mim, e que ao se aproximar da casa dos Manzoni, ouvira os meus gritos. Depois não havia sido difícil para ninguém entender o que aconteceu. Eu chegara em casa com marcas em meus braços, coxas e uma pequena perfuração na parte detrás da cabeça. O horror em meus olhos, o desespero em minhas lágrimas e o trauma exposto na ausência da minha voz.
― Eu... eu entrei em um estado de catatonia tão grave que não conseguia falar, comer, não dormia, só revivendo e revivendo aquilo por muitos e muitos dias. Após os exames que tive que fazer, a médica aconselhou aos meus pais a me internarem, primeiro para que eu não voltasse a ver aquela casa e corresse o risco de piorar, segundo para ter um acompanhamento especializado. Só que depois de uma semana internada, a minha mãe já não queria me deixar lá e decidiu me levar para a casa da minha avó.
Essa era a resolução de toda a tragédia que marcava a minha vida, o meu passado, mas que não mais a definia. Essas eram a respostas que Anton procurava naquela noite e nesse momento ele tinha todas elas. Tinha o meu coração todo aberto, pulsando contra espinhos, tinha a minha alma e suas cicatrizes escancarada em suas mãos, mas ainda assim, ele continuava mudo.
O seu silêncio ecoando sobre as minhas palavras, cobrindo tudo por fora, mas ausente por dentro. Em meus ouvidos os batimentos reboavam como pássaros, cada segundo sendo marcado por dezena deles. O desconforto da imprevisibilidade, a ansiedade acentuando a angústia e fazendo o tempo parar, o ar faltar e os meus olhos seguirem transbordando.
Após sabe-se lá quanto tempo, ouvi o som abafado dos seus sapatos batendo no chão, e então senti a sua proximidade me aquecer quando ele voltou a se sentar atrás de mim. A inquietação me fez arriscar uma breve olhada no espelho, Anton estava inclinado para frente com os cotovelos apoiados nas coxas, a testa nas mãos entrelaçadas e o seu semblante imerso nas sombras.
Ainda silêncio. Eu podia imaginar o que devia estar passando pela sua cabeça, afinal, eu era virgem antes dele. E não se tratava apenas do meu hímen intacto ou de nunca ter tido uma conjunção carnal, mas em especial por ele ter sido o primeiro homem da minha vida em muitos sentidos.
O primeiro que realmente permiti e que desejei que me tocasse, o primeiro que me viu nua depois de mulher e que contemplou o meu corpo de maneiras inimagináveis. O primeiro que me fez sentir desejo e que me despertou todos aqueles sentimentos intensos, os quais eu nem conseguia nomear. O primeiro por quem me apaixonei e me entreguei inteiramente não apenas de maneira física ou metafisica, mas vital.
― Sim, eu continuei virgem, não houve....
― Qual o nome dele? ― interrompeu-me de repente, e eu levei alguns segundos para entender o que ele queria saber. "Anton..." comecei dizendo para impedir que retomássemos aquilo, mas novamente ele me cortou. ― Responda.
Ainda hesitei, mas depois de analisar rapidamente os fatos, percebi que se eu já havia chegado até ali, mais essa informação não mudaria nada.
― Liam.
De novo me vinha à boca aquele amargor nauseante. Como eu odiava esse nome, odiava a pessoa que o tinha. Odiava a mancha que ele havia deixado na minha história e que eu nunca poderia fazer desaparecer. Eu conseguia esquecer, conseguia seguir com a minha vida sem que isso me afetasse, mas jamais poderia apagar o que aconteceu.
― E que merda os seus pais estavam fazendo que não perceberam o que estava acontecendo? Eles só tinham que te proteger e...
― Eles não tiveram culpa, Anton. ― Desta vez foi eu quem o interceptei, incisiva e imparcial, pois se tinha alguém ali que podia julgar os meus pais, esse alguém era somente eu, não ele.
Entretanto, eu nunca os responsabilizei por isso. Não por isso.
O que interpretei como abandono por parte de Petre e Ava depois do que aconteceu, ainda era uma ferida cheia de mágoas que eu tentava superar, mas eu jamais poderia recriminá-los pela torpeza dos outros seres. Não podia culpá-los por tentarem me proteger da única ameaça que acreditavam existir por perto, por desejarem uma vida melhor longe do peso de ser um Aileen ou um Irwin, e muito menos por não conseguirem prever o que aconteceria.
Quando nasci os meus pais abdicaram de todos os direitos e obrigações que vinham com os sobrenomes das famílias, e recentemente eu havia descoberto através da minha avó que fora para me proteger dos olhares nocivos de ambas pelo meu direito sanguíneo à frente do Conselho de Aiden. Na época eu era nova demais para entender qualquer razão, mas depois de adulta muitas coisas faziam sentido e eu compreendia que os dois sempre tiveram que trabalhar muito para conseguir essa independência, para tentar me proteger da ganância deles.
― Eles trabalhavam muito na época, mas fora isso nunca me negligenciaram, nunca. ― Anton precisava entender, eu não podia permitir que o mal-estar entre eles se agravasse. ― O tempo livre que tinham eram destinados só a mim e eles se esforçavam para torná-los especiais. ― Era a verdade, apesar de tudo, eu guardava boas recordações ao lado dos meus pais e reconhecia tudo o que fizeram por mim.
Anton e eu seguíamos em uma reticência reflexiva até que a sua voz, um pouco menos enfurecida do que antes, reverberou.
― E que providência tomaram a respeito?
A mais sensata e que melhor podiam tomar dadas as circunstâncias, com direito a apagarem todos os registros que me ligassem ao caso não somente para evitar a minha exposição, mas principalmente para me preservar, me proteger dos comentários maldosos da família. Fora os meus pais, somente os meus avós tinham conhecimento do acontecido, além de Dahlia que havia voltado para a sua comunidade com a promessa de que morreria calada.
― Eles os colocaram na cadeia sem direito a fiança ou a redução de pena no caso da Mersia. Liam pegou quinze anos de prisão e ela cinco por omissão de socorro.
Mais alguns segundos se passaram até que senti o seu movimentar, como se ele tivesse retornado o tronco para trás. Aguardei atentamente pelas suas próximas palavras, mas outra vez o silêncio derramava-se entre nós.
Profundo. Mudo. Incerto.
Daqueles que poderia prenunciar uma tormenta ou ainda que poderia anteceder o bálsamo que cura. Veio outro movimento, e o seu toque em minhas costas. Fechei os olhos liberando um longo exalar, o alívio subindo como uma onda quente enquanto eu sentia o seu beijo em meu ombro nu, sentia a sua pele na minha, a sua respiração absorvendo o meu cheiro, e então as vibrações da sua voz soprando sobre ela.
― Se eu tivesse descoberto você desde o seu nascimento, eu teria...
Virei-me para ele movida à necessidade impulsiva e incontrolável de ouvi-lo falar enquanto olhava em suas profundezas, mas ao contrário do que desejei, as suas palavras deram lugar a uma exalação extensa no instante em que nossos olhares se encontraram e antes que os seus dedos passassem a limpar as minhas lágrimas.
Esperei, esperei, ele permanecia calado e eu desisti de esperar.
― Você teria me protegido ― completei e não era uma pergunta, era a certeza que eu via espelhada em seus olhos.
― Eu teria destruído o mundo se fosse preciso.
Existia um limite de provação mental que uma pessoa podia suportar, e aquele com certeza era o meu. Sem que eu pudesse conter, o choro voltou emergindo através de uma sucessão de soluços, e eu me peguei jogando-me em seu colo, envolvendo os braços em seu pescoço e afundando o meu rosto nele. Tremendo e apertando-o contra mim, comovida, atordoada, perdida em algum lugar dentro daquela loucura onde sensações, emoções e sentimentos se misturavam, se destruíam e se construíam uns sobre os outros.
No meio dessa confusão, só me vinha a convicção de que aquele sentimento que me consumia era mais, muito mais do que apenas paixão, era algo mais profundo, mais sagrado, algo que transcendia a minha vida, que transcenderia a minha morte ou qualquer que fosse o meu destino. Era a minha essência, a minha existência, ali, sob os meus lábios, sob as minhas mãos e o meu corpo.
Era ele, todinho ele, a inteira definição. Tão excêntrico e raro, tão único e especial, que eu poderia dar o seu nome àquele sentimento, mas também porque o que eu sentia por ele, não conseguiria sentir por ninguém mais.
Aconcheguei-me em seus braços e busquei o seu cheio em um inspirar intenso, presa entre aquele vórtice no meu interior e as sensações do toque firme das suas mãos afagando-me as costas. Eu queria agradecê-lo, agradecê-lo pela sensação de não estar sozinha, por não haver hesitação em seus gestos ou por não ter visto pena em seus olhos.
Gradualmente a calma ia suplantando, o choro sumindo, mas tão logo ela começou a se dissipar, a se espalhar como vapor quando num lapso, meu maior receio veio à tona. Afastei-me rapidamente encontrando os seus olhos, as minhas mãos ainda apoiadas em seus ombros e eu fungando com o nariz entupido.
― Anton... isso... isso que te contei, vai mudar alguma coisa entre a gente?
― Por que mudaria? ― O seu timbre soou muito tranquilo, embora seu semblante analítico revelasse um leve vestígio de confusão como se estivesse tentando desvendar o que se passava pela minha cabeça.
― A mídia... você não vai querer ser exposto por minha causa, e também deve estar achando que sou um problema ambulante, cheia de traumas por causa disso, mas acredita em mim, eu superei e...
― Fada ― Anton segurara o meu rosto entre as mãos impedindo que eu o continuasse sacudindo ―, você é um problema ambulante, mas não por causa disso. O seu atrevimento e coragem não são de alguém que guarda trauma ou que não tenha superado um. ― Ele me achava corajosa? Pisquei e funguei algumas vezes, muito atenta àqueles lábios falantes. ― Quanto à mídia, estou pouco me fodendo. Não me interessa o que falam ou pensam sobre mim. Apenas não me importo, assim como não me importo com todo resto.
Agora ele não se importava mais com a mídia? Talvez por que não houvesse a possibilidade de um caso extraconjugal em jogo? Estreitei os meus olhos para aquela expressão despretensiosa, ele era terrível, terrível. Ele não se importa com nada, mas se importa comigo ao ponto de querer me proteger, e novamente estava eu lá meio sorrindo, meio querendo chorar, quase não acreditando que eu pudesse estar tão feliz depois de todos os desastres que vislumbrei.
― De qualquer forma, ninguém vai ser exposto aqui ― assegurou ele. ― Tudo o que você me contou não precisará ser retomado nunca mais, porque terá o seu fim hoje.
Tive a estranha impressão de ter uma promessa velada na sua declaração, mas preferi ignorar porque inexplicavelmente ela veio como um sopro de ar fresco que nesse momento me permitia respirar. A sensação era como se esse ciclo da minha vida tivesse finalmente sido encerrado, pronto para ser definitivamente esquecido de modo que aquela seria a última vez que eu mencionaria essa parte dela.
Na verdade, essa era apenas a terceira vez que eu a mencionava. A primeira e a mais difícil havia sido para a Dra. Breda, a psicóloga que validara o meu depoimento perante os tribunais. A mesma que frequentei por quase quatro anos consecutivos, quem me ajudou a perceber que eu não tive culpa de nada e que eu nunca iria encontrar uma razão que justificasse o que aconteceu revivendo o passado, mas que eu poderia encontrar várias outras para seguir em frente, e foi o que fiz. Após aqueles anos eu havia conseguido juntar todos os meus pedaços, toda a minha dor, e transformá-los em determinação para alcançar os sonhos que, assim como qualquer outra pessoa, eu merecia ter e realizar.
Já a segunda vez tinha sido mais consciente, menos difícil e partira do excesso de confiança e da minha necessidade de contar para a Sophi pouco depois que decidimos morar juntas. Agora eu terminava essa história com ele, com o ser que me livrara das últimas limitações refletidas das profundas marcas da minha vida, as quais, querendo ou não, me impediam de me sentir uma pessoa normal.
― Acho que você precisa dormir.
Eu precisava, mas não queria porque os meus sonhos não seriam tão perfeitos quanto aquele que eu vivia acordada. Era quase inacreditável que eu pudesse me sentir tão em paz depois de ter acabado de relembrar tudo aquilo, mas esse era o efeito do Anton, não era? Era a sensação de proteção, de segurança, o conforto quando preciso, era aquele que subtraía a relevância das coisas e que somava todas em seus pequenos gestos, em suas palavras excêntricas, mas de significados viscerais.
― Sim, eu preciso ― afirmei levantando-me do seu colo e indo com ele até o closet.
Após me entregar uma das suas camisetas, Anton e eu nos trocamos um de frente para o outro. O meu olhar era a continuação do dele, sem receios, sem pudores, a verdade pairando translúcida, moldando aquela conexão que parecia indestrutível. Voltamos para o quarto e nos deitamos abraçados em sua cama, a minha cabeça em seu peito, as sonâncias compassadas do seu coração entrando pelos meus ouvidos, repulsando pelo meu corpo, aquietando a minha mente e trazendo-me a escuridão.
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Queridas leitoras,
Não vou me aprofundar, mas quero deixar aqui algumas considerações importantes para quem ainda tem dúvidas sobre a definição do que aconteceu com a Liz:
O que é abuso sexual?
Ocorre abuso sexual de crianças e adolescentes quando estes indivíduo sem formação são usados para gratificação sexual de pessoas geralmente mais velhas, em um estágio de desenvolvimento psicossexual mais adiantado. Abrange todo ato, exploração, jogo, relação hetero/homossexual, ou vitimização de crianças e adolescentes por um adulto, por um adolescente ou por uma criança mais velha que, pelo uso do poder, da diferença deidade, de conhecimento sobre o comportamento sexual, age visando o prazer e a gratificação própria. Pode acontecer com toque físico (beijos, carícias, penetração digital, penetração com objetos, sexo oral, anal, vaginal) ou sem qualquer tipo de contato físico (assédio, cantadas obscenas, exibicionismo, voyeurismo, participação em fotos pornográficas). Considera-se que é abuso pois supõe o envolvimento de crianças e adolescentes em práticas sexuais às quais não possuem condições maturacionais biológicas nem psicológicas, fazendo com que seja impossível o consentimento consciente da atividade sexual. - Cartilha Abuso sexual - Promotoria de Justiça de Defesa da Infância e da Juventude
Omissão de socorro também é crime e acontece quando: se deixa de prestar socorro a quem não tenha condições de socorrer a si próprio ou comunicar o evento a autoridade pública que o possa fazê-lo, quando possível . - Wikipédia
Abuso sexual é um termo muito abrangente e engloba várias particularidades. Aqui no Brasil a pena para este tipo de crime pode ser de 2 a 30 anos dependo do caso. Para a omissão de socorro a pena é de 1 a 6 meses podendo ser triplicada igualmente dependendo da situação. Lembrando que estes foram os valores que pesquisei apenas para me situar, e os quais não me apropriei totalmente. Mais uma vez, escrevo ficção, por mais que eu traga elementos reais para a história, possuo o que se chama de liberdade poética e posso alterá-los como eu achar necessário, portanto, não tomem os fatos como verdade.
Agora irei comentar outro tabu só para o caso de não ter ficado claro o suficiente no capítulo. "Ah, Kass, mas a Liz tinha dito que era virgem!" E era, e não somente porque não chegou à conjunção carnal durante o abuso ou porque não houve o rompimento do hímen (dado como conceito de virgindade ao longo dos séculos... humpf 🤦♀️). Mas simplesmente pelo fato do Anton ter sido o primeiro homem que apresentou, que ofereceu, que proporcionou a ela o real e verdadeiro significado da sexualidade/sexo como uma troca mútua de prazer.
"Espera aí, sexualidade, Kass?" Sim! Baseado na definição dada pela OMS sobre o que é sexualidade, vocês devem ter percebido que o Anton trouxe para a Liz aquela necessidade básica que nos motiva a buscar o amor, o contato e a intimidade com as outras pessoas de um modo que os sentimentos, pensamentos e ações dela passaram a ser influenciadas pela presença dele. Simples assim.
Enfim, estou igual a Liz, aliviada por este capítulo ter acabado, porque sinceramente, ele me destruiu. E olha que o tema nem é um gatilho pra mim. A cada uma das dezenas de reescritas e revisões, aquela sensação ruim não diminuía, sabe? Mesmo eu tendo total consciência de cada palavrinha que vinha uma após a outra, a angústia era sempre a mesma e acho até que ela alterou meu senso crítico, pois pra mim, o capítulo nunca tinha algo bom.
No mais, se Deus quiser não vou demorar com o próximo, algumas reviravoltas estão próximas, e talvez nos aprofundemos um pouco (um pouquinho) mais no passado do Anton. Tentarei postar o mais breve. 🙌🏼
Beijos!😘
Kass Colim
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