Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

C A P Í T U L O 3

Estranha obsessão

          Acordei com o clarão da manhã inundando o quarto, realçando o azul-claro daqueles grandes olhos que me encaravam. Eles piscaram curiosos, a espessa camada de cílios longos realçando ainda mais a excentricidade deles. Ela sorria, um sorriso apimentado com o dedo entre os dentes, sentada na cama ao meu lado, abraçada às pernas.

          ― Eu sei o que você quer ― provocou a voz macia.

          ― Você não sabe de porra nenhuma ― refutei sentando-me na cama. ― De novo isso? Não é possível que até agora você não melhorou.

          Ela soltou uma risada enrouquecida, então ficou de joelhos sobre o colchão, e sem retirar os olhos de mim, começou a subir a camisola. Fiquei completamente abstraído na singularidade do momento, apenas seguindo com os olhos cada parte daquele corpo que era revelado, até o pedaço de pano escorregar pela sua mão.

          Eu tinha que admitir, ela era agradável aos olhos. Talvez, atraente ou... excitante.

          Merda.

          ― É uma pena, pensei que você quisesse tomar banho comigo ― disse ela fazendo bico, antes de passar por cima de mim para a beirada da cama.

          Confuso com o que via, ouvia e pensava, agi por instinto e a puxei de volta fazendo com que parasse sobre mim. Ela soltou uma risadinha curta, vitoriosa, se ajeitou no meu colo apoiando as mãos na minha nuca, as quais segurei e afastei.

          ― Que você me queria, eu sempre soube, mas nunca imaginei que fosse tão descarada assim. Sinceramente, não faz o seu perfil. ― Outra vez ela riu, e então soltou os punhos das minhas mãos.

          ― Eu sei o que você quer ― repetiu saindo de cima de mim, indo em direção ao closet.

          Aquilo estava ficando exaustivo. Ela tinha acordado e eu já havia ultrapassado todos os meus limites coerentes ali, fazendo muito mais do que faria em plena razão. Passei as mãos pelos cabelos, ainda sentado levei minhas pernas para fora da cama, sentindo a maciez do tapete felpudo me envolver os pés.

          Em curtos segundos ela havia voltado para o quarto, e se colocara na minha frente enrolada a uma echarpe de seda preta. Sem que eu tivesse tempo para me levantar, ela voltou para o meu colo, recolhendo o tecido lentamente, fazendo-o deslizar pelas suas curvas em uma carícia suave. O movimento era hipnotizante, tentador. Senti seu corpo tremer de leve, sob olhos fechados e um suspiro pesado, o qual se converteu em um gemido baixo que lhe ia escapando sedutoramente pelos lábios rosados, o inferior preso entre os dentes.

          A seda negra se uniu em seu pescoço, onde ela passou um lado sobre o outro, puxando-os, causando uma suave pressão no pescoço fino. Seus olhos se abriram com um claro cintilar desafiador sobre aquele azul ensandecido, como se quisessem me subjugar, provocar, e se mantiveram presos aos meus quando a sua boca procurou a minha, faminta e ousada, muito mais do que pensei que ela pudesse ser. Minha primeira reação foi tentar afastá-la, mas aquela fada estava obstinada, ou talvez eu que não estivesse tão determinado a fazê-lo.

          Eu não esperava nada desse casamento, qualquer tipo de aproximação não estava nos meus planos, muito menos que eu fosse ter algum interesse sexual por ela, mas era tarde para analisar quaisquer projeções a respeito. Era um risco. Um que eu estava disposto a correr, ainda que soubesse que seria perigoso para ela. De qualquer forma, não fazia diferença ou sequer me importava. Se ela queria, iria me ter, mas só porque o meu prazer em fodê-la seria ainda maior.

          Eu apreciaria cada maldito segundo daquela situação.

          Entrelacei os meus dedos em seu cabelo e a puxei para trás fitando-lhe os olhos.

          ― Saiba que a partir de agora, não terá mais volta. ― Seus lábios se envergaram em um sorriso invicto. Levantei-me com ela no colo, para em seguida jogá-la sobre a cama. ― Fique de joelhos e apoie as mãos na cabeceira ― ordenei enquanto removia minha camiseta.

          Retirei a calça, e a observei por alguns instantes. Obedientemente, ela havia feito o que mandei, estava de joelhos, cabeça levemente inclinada para trás, os longos cabelos caídos como uma cortina dourada sobre as costas, e a bunda empinada, marcada pela calcinha pequena.

          Ela realmente era excitante.

          Subi na cama me colocando às suas costas, e sem encostar meu corpo no seu, apoiei minhas mãos ao lado das dela, curvando-me para frente, restringindo o nosso contato a apenas o meu queixo em seu ombro.

          ― Vai ter que se esforçar muito para me satisfazer, fada ― sussurrei afastando seu cabelo para o outro lado, então segurei as pontas da echarpe entrelaçando-as para trás de modo que me desse o completo domínio delas. ― Vou fazê-la sentir o prazer de estar morrendo, e eu vou gozar assistindo isso.

          Raspei minhas presas na pele delicada do seu ombro lhe causando arrepios intensos, refletidos para as unhas que não demoraram para se cravarem na cabeceira almofadada. Em um movimento cauteloso, devagar, comecei a puxar o tecido aproximando o nó, do seu pescoço. Ela arquejou jogando a cabeça para trás, a ansiedade, expectativa, consumindo-a em antecipação, fazendo a sua temperatura subir, e o seu perfume natural se misturar ao do desejo.

          A cada mísero movimento meu, seu corpo oscilava em uma frequência distinta, sedento por algo mais. Impaciente, projetou o quadril contra o meu, onde a sua bunda passou a me atiçar com movimentos calmos, experimentais, mas ela estava enganada se acreditava ter algum domínio sobre a situação. Retomei o controle contraindo o nó, fechando-o em seu pescoço, sua risada ecoou baixa e as suas mãos se agarraram com ainda mais anseio à cabeceira.

          ― Eu sei que você sente prazer na morte porque é algo que não pode ter ― desafiou ela fazendo-me puxar o tecido um pouco mais. ― Então você a provoca, para ter o mínimo prazer através do domínio de algo que não é merecedor.

          Era uma verdade que eu tomava consciência naquele instante.

          ― De fato, o medo e a adrenalina são prazerosos para aqueles que os têm, mas no meu caso, ver a vida se esvaindo é a sensação mais tangível que posso ter em minha imortalidade ― admiti aumentando a tensão do nó. Suas mãos se voltaram para trás, me segurando os quadris enquanto seus movimentos se tornaram mais firmes, súbitos e ávidos.

          A mistura louca de prazer em minha mente se intensificou de tal modo, que pouco consegui ver além do corpo curvilíneo à minha frente. Eu apenas queria que ela continuasse, o seu desespero e ânsia por aquele toque só aumentava a minha vontade de vê-la gritar e perder o ar até que o desejo lhe escorresse pelas pernas.

           ― A morte é a única coisa real, não é? ― indagou ela, sua voz já meio falha pela compressão em sua garganta. ― Mas você não a possui e nunca irá possuí-la.

          ― Eu posso possuí-la através de você.

          Puxei seus quadris para trás, fazendo-a cair de quatro, e então enrolei as pontas da echarpe em meu braço, sufocando-a um pouco mais. Ela engasgou e tossiu, mas a safada continuou se esfregando sem qualquer pudor, extasiada por sentir seu evidente efeito sobre mim. Sustentando-se em apenas uma mão à frente, com a outra encontrou a minha coxa, cravando impiedosamente suas unhas na minha carne. Soltei um grunhido abafado de prazer, quase não acreditando no quão perto estava de irromper num tesão louco, sendo o mais excêntrico dos fatos perceber tal verdade com a minha ereção ainda sob a cueca.

          ― Esse é o seu castigo, não é? ― continuou ela com um fio de voz apoiando a mão que estava na minha coxa, na cabeceira. ― A verdade é que você não tem o domínio de todas as coisas, não pode nem ao menos escolher morrer.

          Foi apenas um último puxão, forte, brusco, fechando o nó de uma vez. Vi a sua coluna se contorcer e o seu pescoço se esticar enquanto sua mão descia espalmada e trêmula pelo tecido da cabeceira, marcando-o com seu suor e com o meu sangue. Seus espasmos eram as últimas fricções que eu precisava para descerrar um gozo insano, doentio, mergulhando na escuridão de um prazer soturno, onde não existia mais nada além do que ela me fazia sentir, a morte.

           ― Porra!

           Acordei grunhindo e gozando enquanto me esfregava na bunda dela. A princípio não compreendi o que estava acontecendo, nem sabia mais o que era real ou não, exceto pelo prazer ensandecido que acabava de ter. Afastei rapidamente me colocando para fora da cama, tateando o meu corpo. Eu estava vestido, e a fada dormia profundamente sem nenhuma echarpe no pescoço, com a camisola levantada e a sua incrível bunda à mostra.

          Involuntariamente minha cabeça se inclinou para o lado, conferindo cada curva que ali se delineava. Eram muito mais atraentes do que no...

          Balancei a cabeça ainda não acreditando no que acabara de ocorrer.

          ― Tarado filho da puta... ― murmurei confuso afastando minha calça e cueca conferindo a sujeira.

          A minha insanidade havia se superado dessa vez.

          Passei as mãos nos cabelos, inspirando fundo para controlar a respiração. Eu jamais havia passado por situação sequer parecida com aquela. Nunca havia gozado tão rápido, com tão pouco, muito menos dormindo e me esfregando em alguém igual a um cachorro no cio.

          A sensação era que eu havia enlouquecido, mas tinha algo além. Talvez fosse o cheiro doce que envolvia o ambiente, o calor tentador carregado de hormônios provenientes de uma fêmea ou ainda a insigne imagem que eu tinha à minha frente, que estavam me causando um incômodo irritante, o qual vinha de dentro da minha calça.

          Merda.

          Eu estava ficando excitado novamente.

          Sem pensar muito saí dali o mais rápido possível com a precaução de fechar bem a porta do quarto dela, antes de ir para o meu tentando inutilmente entender o que tinha acontecido. Um banho gelado parecia ser a solução para aquele estado, mas a porra do sonho continuou me fodendo a mente. Eu poderia simplesmente ignorá-lo me entregando a outros assuntos para esquecer, mas eu não queria.

          A alternativa mais fácil me pareceu a depravação, então me aliviei sozinho algumas vezes. Um hábito que há séculos não me era mais suficiente, mas que, de maneira insólita, naquele dia, fora a melhor recompensa rápida que eu poderia ter depois da noite de merda que passara. Só parei quando a sede me deixou mais frio que um cadáver, quando os meus sentidos ficaram embaçados, e aquela característica irritação me deixara ainda mais impaciente.

          Eu precisava de sangue.

          Assim que saí do quarto já estava começando a escurecer, na verdade, eu havia conseguido dormir por toda a manhã e ainda pela metade da tarde, que fora quando deixei o quarto dela. O quarto dela. Esse era outro ajuste que teríamos que fazer, agora mais do que nunca eu não a queria tão próxima de mim. Suas coisas migrariam para uma das suítes do outro corredor assim que ela acordasse.

         Os gritos de agonia foram substituídos pelo engasgo rumoroso quando a lâmina lhe fora enfiada na garganta. Ele tremeu e sufocou no próprio sangue, até o brilho se apagar de suas pupilas e o seu corpo ficar tão imóvel quanto as paredes. O silêncio se fez do suave e quase letárgico escorrer do sangue pela cadeira, formando uma densa mancha rubra sobre o mármore negro. Em cima dela, o cadáver fresco jazia sentado com suas pernas e braços estendidos, uma adaga cravejada no pescoço e uma fenda do peito até o abdômen que lhe expunha as costelas abertas, os pulmões e todas as vísceras projetadas para fora.

          Ao meu redor, um odor nojoso, corpóreo, mas que não diminuía o enlevo do instante. Inspirei com força levando-o até os meus pulmões onde o senti arder e formigar. Em sua toxidade, um prazer nefasto se expandia, tornava-se êxtase e se espalhava em meu corpo como uma libertação, alinhando suas células e devolvendo-as à sua verdadeira harmonia. Talvez danosa e não menos corrosiva, a sensação preenchia parte do vazio sempre presente, mesmo que apenas pelo tempo de um suspiro.

          Contudo, ainda parecia faltar algum detalhe. Um significado para que a arte se tornasse expressiva, e atestasse que a sentença havia sido adequadamente executada. A princípio fui tomado pela dúvida de que talvez não estivesse tão evidente a causa da punição, e não se tinha mais como condenar o traidor em vida, teria pela exposição da verdade em sua morte.

          Meus pensamentos foram interrompidos pelo barulho do telefone que tocou, e tão logo a voz de Ezra refletiu por ele.

          ― Sr. Skarsgard, o Dr. Gregoire Lennard acabou de chegar.

          Liberei a ligação através do reconhecimento de voz, e assim ordenei para que o deixasse entrar, antes de voltar para a minha análise de onde havia parado. Aproximando-me do corpo, segurei seu maxilar o projetando para a frente, e depois para baixo, até deslocá-lo.

          Com uma mão capturei a língua estendendo-a para fora, e com a outra, peguei um dos bisturis existentes em uma bandeja ao lado. Enquanto cortava o órgão muscular, ouvi a porta se abrir, e então passos ressoar. Lennard havia entrado acompanhado de Ezra, que ao posicioná-lo perto de uma das cadeiras em frente à minha mesa, se retirou em silêncio.

          Voltei-me para o vampiro franzino de cabelos acobreados. Seus olhos verdes estavam saltados em direção à língua que eu segurava, enquanto sua boca se abria e fechava, incapaz de proferir um som sequer. Já era esperado que a minha postura indiferente e inexpressiva  intimidasse. A neutralidade ante o nervosismo sempre provocava insegurança, inquietação e por vezes, medo.

          ― Se... se... senhor... ― gaguejou ele parecendo cada vez mais tenso. ― Senhor Skarsgard.

          ― Espero que tenha vindo me trazer boas notícias ― falei voltando minha atenção para o cadáver. Abandonei a língua sobre a bandeja de inox, e passei a me dedicar à retirada do olho direito.

          ― Excelentes! Quer... quero dizer. Se me permite dizer, creio que são excelentes, visto que conseguimos algo novo, completamente estável. ― O olhei de lado por breves instantes, fazendo um gesto para que prosseguisse. Além das suas palavras acuradamente escolhidas, eu sabia reconhecer o tom sério e cauteloso para disfarçar o nervosismo e evitar expectativas além daquelas que ele pudesse corresponder. ― Estamos em fase de testes, os quais têm sido bem-sucedidos até agora, e por este motivo estou aqui.

          Elevei o órgão ocular o analisando a favor da luz, a íris acastanhada começava a se esbranquiçar.

          ― Devo dizer que o senhor tinha razão ― continuou ele, após um silêncio abalado. ― O primeiro passo era detectar quais as moléculas similares dos compostos existentes no VS. Ocorreu-me que na série de experimentos até então efetuados, se sucedera a omissão de um detalhe pouco notável.

          Troquei o bisturi por uma cureta, e ao atravessá-la no olho, a espetei nos lábios do cadáver, de modo que o pequeno órgão ficasse no centro da boca, virado para fora. A última particularidade se deu quando retirei a adaga, até então fixada na garganta, para o toque final.

          ― Percebi que tínhamos que isolar as moléculas bases, pois estas são as mais fortes e estáveis. ― Cravei a lâmina na língua posicionada sobre testa. O som do crânio se rachando fizera Lennard soltar um grito sufocado antes retomar as palavras com uma leve trepidação na voz. ― E... e... elas nos pe... permitiram i... isolar ― ele se calou, inalou fundo, e então pigarreou a procura de alguma estabilidade. ― Elas nos permitiram isolar uma única estrutura que poderia dar forma a uma molécula mestra, a qual pudesse ser multiplicada sem sofrer nenhuma mutação ou perda de estrutura e consequente efeito...

          A voz de Gregoire fora ficando distante à medida que eu dava alguns passos para trás, observando a harmonia do arranjo à minha frente. Desta vez, efetivamente parecia expressivo. Sobre a cadeira o corpo nu ostentava sem nenhum pudor, a verdade como deveria ser vista. Sem segredos, sem traições, sem a maldita mente doentia. Todos poderiam ver que por dentro, ele era um porco tão imundo e sórdido quanto por fora.

          Uma verdadeira obra de arte análoga à exímia punição que o desgraçado recebera. Eu a chamaria de "O que a boca não fala, os olhos revelam." Era esse o modo pelo qual traidores se entregavam. Suas palavras poderiam soar incontestáveis, mas um quase imperceptível oscilar dos olhos sempre espelhavam a mentira.

          ― A chamamos de Oblivion, e ela poderá ter seu efeito expandido a uma potência superior a dez mil vezes a do VS ― prosseguia Lennard num tom empolgado. A exasperação parecia ter dado lugar aos seus característicos delírios técnicos provenientes a um cientista.

          ― Quanto tempo de duração? ― o questionei pegando uma toalha preta de cima da minha mesa, a qual usei para limpar o excesso de sangue das minhas mãos e braços.

          ― Não posso dizer ao certo. Nos testes executados em vampiros comuns, de cinquenta a quinhentos anos, utilizamos uma amplificação de apenas três mil, e eles se mantiveram inertes de dezesseis a vinte e quatro horas. Mas com o senhor, já não podemos prever.

          ― Possui alguma amostra dos dez mil? ― Ele retirou do bolso do paletó dois pequenos vidros.

          ― Cinco mil ― disse colocando o primeiro frasco com um comprimido branco, e então colocou o segundo com um comprimido azul. ― Dez mil. São as únicas amostras feitas até agora, nessas quantidades.

          ― Certo. ― Guardei os frascos no bolso da calça e segui em direção à porta do banheiro. ― Logo mais enviarei o relatório.

          ― Senhor? ― Sem me dar o trabalho de virar para encará-lo, apenas parei, como um sinal para que prosseguisse. ― Creio que o ideal seria tê-lo no laboratório quando o experimentasse. Seria prudente uma análise...

          ― Terminamos por hoje, agora pode se retirar.

          Já no banheiro, joguei a toalha usada no cesto, e assim passei a lavar meus braços na pia. As mangas dobradas da minha camisa continuavam encharcadas e estavam totalmente arruinadas, mas eu nem iria trocá-la, já que o meu dia de trabalho na Skar Technologies estava no fim.

          Soltei os botões da gola, afrouxei a gravata e molhei o rosto. Eu ainda o enxugava quando, novamente, o telefone tocou. Ezra avisara que Sebastian, Andrei e Nicolae se encontravam na recepção esperando alguma oportunidade para falarem comigo. Eu não os aguardava, e não gostava quando apareciam sem qualquer aviso, no mais, mandei-os entrar porque precisava de uma informação que só o Andrei poderia me dar.

          Capturei a garrafa de BlackOpus ao passar pelo bar, e a levei para a minha mesa, onde meu copo repousava vazio. Depois de completá-lo, apoiei o quadril sobre o móvel, um tornozelo sobre o outro, e os meus olhos abstraídos na imagem à frente. Tão logo a porta fora aberta, passando por ela as minhas três crias.

          ― Argh! Minha nossa! ― queixou-se Nicolae colocando o braço sobre os olhos e os dedos no nariz de maneira cênica. ― Pelo cheiro que está isso aqui não quero nem ver o que você andou fazendo.

          ― Tenho que confessar, quem projetou estas torres é um gênio em absoluto ― comentou Sebastian ignorando o mais novo, observando ao redor com um sorriso torto nos lábios.

          ― Gênio? Vamos com calma, Sebs. A soberba é um pecado e ninguém gosta de seres fátuos. Todos aqui sabemos que foi você quem as projetou, e não um gênio ― provocou Nicolae ainda com os olhos tapados.

          ― Você querendo me falar sobre pecado? ― debochou Sebastian se aproximando, mas logo seu sorriso morreu e o seu semblante ficou sério e distante, ao encarar o corpo. ― O que esse fez?

          Levei minha bebida até a boca sem respondê-lo. Os meus assuntos não diziam respeito a eles. Nicolae não demorou para livrar os olhos tapados do braço e fitar o cadáver, deixando escapar um longo assovio agudo.

          ― Pior do que imaginei... ― sibilou virando a cabeça tentando reconhecer a figura mórbida e transfigurada. ― Esse é Esmond Rasmussen? ― Ele me olhou, mas me mantive calado, e não tardou para que sua gargalhada contemplativa ecoasse, a qual levou um tempo para conseguir conter. ― Por certo então são verdadeiros os boatos, ele realmente tentou vender informações confidenciais do SkarLex-One para a Harch Motors? ― Continuei em silêncio girando a bebida em meu copo. ― A sua cara de louco suicida era óbvia, ainda assim, nunca imaginei que ele fosse capaz de considerar a possibilidade de te trair. Também ouvi dizer que ele assediou a secretária, isso é verdade?

          Sim, era verdade, mas nenhuma palavra fora dita por mim para confirmar. Nicolae era perspicaz e sabia que nada do que eu fazia era eventual ou impensado, nada fugia à ordem ou ao meu controle sem drásticas consequências. E que apesar do meu particular desinteresse no mundo, traição, mentira e abuso de poder dentro do meu território, eram atos inadmissíveis.

          Em meio a ética do mal, eu fazia o que julgava ser a definição do bem, aproveitando-me de toda ação questionável dos seres que me cercavam, a fim de justificar os meios que eu usufruía para obter a finalidade desejada, e a maioria delas era apenas um passatempo, um prazer em punir aqueles que mereciam uma condenação.

           ― A morte de um humano nessas circunstâncias pode lhe trazer problemas com a espécie, Anton ― alertou Andrei que até então permanecia calado em um dos cantos, apenas observando.

          Nicolae riu e o fitou com uma expressão escarnecedora.

          ― Desde quando isso é um obstáculo para ele, meu caro And.

          ― O perigo vem tanto para os inimigos quanto para os mais próximos, e aqueles que concordam em trabalhar para mim, conhecem o risco. Se consentem com as minhas regras, vendem suas almas, e os que não as cumprem, pagam com suas vidas ― afirmei calmo, porém, em tom de censura. Eu não lhes permitia qualquer ensejo para se intrometerem nas minhas asserções. ― Nos meus negócios os princípios são iguais para todos. 

          Andrei projetou um breve menear constatando entendimento, então recolheu-se à análise silenciosa, em sua postura rígida tipicamente militar, mãos para trás e olhar absorto no nada à frente. Finalizei a minha bebida e coloquei o copo sobre a mesa, antes começar a descer as mangas da camisa.

          ― O que vieram fazer aqui? ― questionei fechando os punhos do tecido ensanguentado.

          ― Viemos nos despedir ― respondeu Sebastian, os braços cruzados em uma visível tensão. ― Andrei e eu partiremos esta noite.

          ― Hum. ― Olhei para Nicolae a espera de um motivo para ele estar ali também.

          ― Não me olhe assim ― levantou as mãos ―, só vim para agraciá-lo com o a minha presença e o meu bom-humor. Ainda ficarei aqui por duas semanas.

          Típico dele. Seu excesso de tempo livre era a comprovação de que o IA estava finalizado, mas que ele iria deixar para entregá-lo somente na última hora. Eu o havia conferido um prazo, e não poderia contrariar a minha palavra reivindicando seu trabalho antes dele. Ignorando-o, caminhei até o cabideiro cromado em dos cantos da sala para pegar o meu paletó.

          ― Certifique-me uma informação. ― Voltei-me para Andrei enquanto vestia a última peça do meu terno. ― O clã Radkov continua em Yakutsk?

          ― Sim, por quê? ― inquiriu ele, olhos estreitos e a voz quase imperceptivelmente alterada.

          ― Façam boa viagem ― concluí ajeitando a gola do paletó, o ajustando ao meu corpo. Lancei um último olhar para os três, e então segui em direção à porta, sem olhar para trás.

          ― Proklyatiye! ― praguejou Andrei em russo. ― Você não me respondeu. Se pretende fazer uma visita ao meu continente, eu gostaria de saber.

          ― Muitos gostariam, Andrei. Afinal, nunca se sabe o que estou disposto a fazer, não é mesmo?

          ― Deixe-o, And ― expressou-se Nicolae. ― Ele agora é um homem casado, é primordial que chegue cedo em casa. A propósito, como está a minha belíssima cunhada? Não deveriam estar de férias em lua de mel? ― Apesar do seu usual tom zombeteiro, suas palavras me causaram uma ligeira inquietação. Uma sensação que atribuí à falta de paciência.

          ― Três dias, Nicolae ― o adverti sobre seu prazo. Abri a porta e me virei olhando para ele. ― Já conhece as regras ― finalizei apontando para o cadáver ao seu lado.

          ― Por certo que você não faria isso com o mais belo das suas crias. Você me ama! Até voltou a me chamar de pirralho, lembra? ― gritou ele, sua voz e a sua gargalhada diminuindo à medida que eu me afastava.

          Na recepção uma equipe especial de limpeza esperava a postos o sinal de Ezra para a higienização do meu escritório. Atravessei a sala e segui direto para o hall dos elevadores ouvindo um coro de "Boa noite, Sr. Skarsgard" pelo caminho.

          Já no subsolo peguei o carro e segui para o que deveria ser a minha casa. Tal percepção era tão diferente e irritante quanto o novo caminho que eu teria que percorrer todos os dias. Definitivamente as circunstâncias não estavam sendo tão descomplicadas quanto calculei. Pensar naquela fada lá, ainda dormindo, fazia com que uma sensação indesejada transpusesse o meu corpo.

          Afastei esses pensamentos e ignorei as sensações. Nada que dizia respeito a ela me interessava.

          Parei o carro na garagem quase uma hora depois. Após cumprimentar o chefe de segurança que me aguardava a postos, subi as escadas para o primeiro andar. A casa estava em silêncio, a pouca luz iluminava apenas pontos estratégicos da decoração, e o cheiro era uma mistura refrescante de tangerina, limão e sândalo, bem diferente do singular cheiro doce dela.

          Era melhor assim.

          Virei-me para fazer o contorno da escada e ir para o segundo andar, mas uma presença atrás de mim, me fez parar no primeiro degrau.

          ― Boa noite, Sr. Skarsgard ― cumprimentou a voz de timbre agudo, ligeiramente marcada pela idade madura.

          ― Boa noite, Rose ― respondi sem me virar.

          ― O jantar está pronto para ser servido à sua ordem. ― Anuí com um gesto elementar e tornei a subir os degraus. ― Senhor? ― Novamente parei. ― Devo lhe informar que a Sra. Na'amah e a Sra. Aileen estiveram aqui hoje para ver a sua esposa, e pelo que me foi proferido, a Sra. Skarsgard está bem, apenas não acordou ainda.

          Esposa. Sra. Skarsgard.

          Tsc, Tsc...

          Fada.  


Oblivion – é uma droga milhares de vezes mais forte que o VS, destinada somente a vampiros. Dependendo da sua intensidade, e da idade do usuário, pode ter ápices de longa duração, com estágios variáveis que migram do depressor para o estimulante.

Proklyatiye do russo, maldição.



Ezra Vliert




Gregoire Lennard




Nicolae Skarsgard





Andrei Skarsgard




Sebastian Skarsgard




+ 💬 = 💓





Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro