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C A P Í T U L O 2

Fantasmas do tempo

          Dei alguns passos até a cama, meus olhos fixos no ser deitado sobre ela. Tão vulnerável, e desta vez, não só na aparência. Eu deveria cuidar dela, protegê-la, enquanto a minha única vontade era...

         Tsc, tsc.

         Sensatez. Avigayil havia mesmo perdido a prudência, ou não me conhecia o pouco que eu acreditava conhecer. Eu não iria ficar ali, havia coisas mais importantes para serem feitas.

          Apaguei a luz e saí do quarto fechando a porta.

          Desci as escadas indo direto para o bar, onde peguei uma garrafa de BlackOpus antes de seguir para o meu escritório. Ao me sentar em frente ao notebook, meu celular tocou com uma mensagem de Edgar, avisando que Medora já havia sido capturada como eu o instrui. O pescoço quebrado dera apenas alguns minutos desacordados à vampira, mas não era o suficiente. Eu sempre cumpria as minhas promessas. Ela iria sangrar por três dias, e na terça-feira encontraria o seu fim pelas minhas mãos.

          Enchi o meu copo e comecei a trabalhar nos testes da atualização da segunda versão do IA, dado que dali a duas semanas seria lançado para o consumidor final a primeira versão, e eu pretendia estar pelo menos com o projeto da terceira encaminhado. Já eram quatro horas da manhã, os testes e o meu estudo de caso não haviam perdurado por mais que duas horas, me faltava concentração e paciência. A garrafa de Opus estava quase vazia, e embora a bebida sempre ajudasse a me absorver integralmente, parecia não ter provocado efeito algum. 

          Fechei os olhos e me recostei na cadeira encourada.

          Muitas coisas se passavam pela minha cabeça naquele momento, o barulho e a desordem que elas geravam estavam ficando preocupantes. Peguei-me ponderando cada palavra que Avigayil me dissera durante a conversa que tivemos antes do ritual, como uma avaliação, um cálculo das possibilidades que se seguiria em um futuro próximo. Eu quase podia ouvir a sua voz voltando a me importunar.

          ― Há quanto tempo não nos sentamos para conversar? Uns quinhentos anos, talvez? ― questionou ela ao se sentar na poltrona à minha frente. Seu olhar se manteve expectante, até que finalmente assenti. ― Como vai a vida, Anton?

          Tínhamos começado mal.

          Suspirei, quase imperceptivelmente. A minha tolerância para aquela conversa era menor do que a que me restara para o casamento, e a única razão pela qual eu havia concordado em tê-la, fora pelo respeito que Avigayil e eu compartilhávamos um pelo outro.

          ― Tirando o contrato execrável, não tenho do que reclamar.

          ― Pode imaginar que se você não o tivesse acordado, provavelmente estaria no mesmo lugar até hoje? ― Ela deu um sorriso de lástima. ― Todavia, compreendo que mudanças podem ser complexas, e por vezes, difíceis de consentir.

          ― Caso ainda estivesse no mesmo lugar, não faria a menor diferença. Simplesmente, não me importo ― argumentei. Minha garganta estava seca, e o meu desinteresse escorria para as pontas dos meus dedos em um tamborilar lento no braço do sofá, tão fastidioso quanto o meu tédio.

          ― Mas se importava, e por isso aceitou o contrato. ― Sua respiração se aprofundou antes de prosseguir. ― Você está cansado, Anton, e isso pode ser perigoso. Quando a indiferença aprisiona o ser, ele passa a viver nos corredores da morte. Uma morte lenta, sofrida. Para nós, imortais, tudo se transfigura ao pior e se intensifica dado a insignificância do tempo, por certo que devemos nos manter sempre vigilantes. Será dificultoso em demasia, quase irreversível, se a sua imortalidade inibir integralmente os seus medos e anseios. Tal acaso fará com que viva sem vida, sem sentido, sem impulso, ou qualquer outro motivo necessário para ajudá-lo a suportar o peso da eternidade. Ninguém é merecedor de uma sentença tão perversa.

          ― Não lamento a minha imortalidade e as suas implicações, se é isso que quis dizer. Estou bem como estou. Faço as minhas escolhas e aceito as suas consequências. ― Levantei-me e caminhei até o aparador de bebidas. ― Opus? ― ofereci enquanto me servia.

          ― Agora não, agradeço. ― Entornei o conteúdo do copo, e percebendo que não seria o suficiente, peguei logo a garrafa e voltei para o sofá. ― Receio que optei por ter esta conversa tarde demais. Ousei tirá-lo da festa, porquanto não poderia dar continuidade ao ritual do casamento sem discorrermos sobre algumas coisas.

          Enchi o meu copo novamente e abandonei a garrafa na pequena mesa de centro, então fiz um gesto para ela continuar.

          ― Você sabe que nunca interferi nos assuntos que diz respeito a vocês, e só o faço agora, porque desejo do fundo da minha alma e do meu coração que o contrato se concretize da maneira como os Deuses anseiam, e para isso, este casamento precisa dar certo. ― Segurando o ônix pendurado em seu colar, ela fez um feitiço de silêncio. Embora estivéssemos sozinhos no escritório de Eleonora, algum vampiro ainda poderia escutar do outro lado da porta, mas daquele momento em diante, não mais. ― Nunca conversamos sobre o que aconteceu porque almejei respeitar e preservar o seu espaço de compreensão e aceitação. Contudo, agora percebo que a repercussão foi muito mais profunda do que pude imaginar, e que não foi só uma falha do tempo que não o ajudou a deixar os fantasmas do passado para trás.

          ― Não quero falar sobre o passado.

          Em nada mudaria o presente ou o futuro trazendo à tona a porra do meu passado.

          Era exaustiva a fácil capacidade das pessoas, até mesmo Avigayil, de se chocarem com a minha indiferença. Isso não era um problema, era uma escolha a qual o tempo me condicionou. Nunca desejei ou pretendi ser o herói de ninguém, tampouco ser bom ou mau. A verdade era que embaixo de nossas peles e dentro de nossas mentes permanecíamos sozinhos e nunca houve salvação para tal fato. A própria solidão poderia ser considerada a expressão mais adequada à existência da criação e tudo se tornou mais simples quando assumi essa realidade.

          Eu já havia ultrapassado todos os limites da vida e não mais me comovia com ela. Simplesmente não me importava a sua efemeridade, a concepção da morte ou a debilidade dos seres. Há muito optei por andar a fio, sem retorno, sem tempo para o medíocre, o desnecessário, sem nenhum outro incentivo senão aquela inquietude excitável em busca da próxima distração, da experiência que me traria algum sentido. O que se tornava relevante era somente os meios que eu recorreria para incitá-la, já que muitas vezes o prazer no processo superava o seu fim.

          Ao abrir os olhos, levantei-me e caminhei até o móvel lateral à mesa onde ficava um dos cofres. Após pressionar a minha digital em seu painel, abri a porta de aço e retirei de dentro dele dois pequenos tubos de VS. Guardei um no bolso e o outro despejei no meu copo junto ao Opus, o qual virei até não sobrar nada. Mantive o líquido amargo dentro da boca por breves instantes, até o ardor corrosivo amenizar seu gosto com o meu sangue. Ao engolir, inspirei fundo e contei até dez.

          A princípio o efeito era sutil, mas de repente, tudo ficava incrivelmente lento, o bastante para diminuir o ritmo caótico dos meus pensamentos. Objetos se desfocavam, se distorciam e giravam como sombras, enquanto as minhas pernas seguiam um caminho por entre eles, ora perto, ora longe. Logo me surgiu um formigamento nas mãos, seguido por um frio nas extremidades. Então despontou uma leve fraqueza que me fez desabar no sofá, e na minha cabeça sobreveio um estupor sucedido de um silêncio reconfortante.

          Aquele era o melhor e mais profundo maldito momento. Mas tão rápido, alguns movimentos involuntários se iniciaram, minha boca ficou seca e os meus lábios passaram a se contrair à medida que a minha respiração se tornava ofegante. O barulho voltava e junto dele, os vastos pensamentos irritantes.

          ― Por favor, Anton, deixe-me continuar em nome da nossa eterna amizade ― suplicou, sua mão estendida em um gesto enfático. ― É importante. ― Sustentei seu olhar, entediado e exausto. ― É de seu conhecimento que o seu pai me procurou na época para fazer o serviço. Você nunca se perguntou por que não aceitei fazê-lo?

          ― Nunca me perguntei, mas agora que mencionou, imagino que seja porque você não é uma desgraçada traidora como ele.

          ― Como proferi, não me intrometo no assunto de vocês, a não ser que esta seja a vontade dos Deuses, a quem sigo fielmente. Não ajudei o Vincent porque não houve nenhuma providência divina a respeito, então não cabia a mim, julgá-lo ante as palavras do seu pai, ou tomar qualquer decisão precipitada. Tentei conversar com ele, mas ele não quis me ouvir.

          ― Repetindo, um desgraçado traidor. ― Traguei metade da minha bebida em um único gole. ― E você ao menos acreditou nele?

          ― Admito que no início fiquei dividida entre a sua forte convicção sem provas, e a crença cega do meu coração. No entanto, no fundo eu sabia que se a situação fosse tão grave quanto ele alegava ser, os Deuses me advertiriam. ― Ela fez uma suspensão silenciosa, seu olhar enigmático se prendendo ao meu em busca de algo mais. ― Você nunca nos revelou a sua versão dos fatos, e ainda não compreendo de onde saíra a certeza que fez Vincent condená-lo na época, e nem me fora dado abertura para inquirir, entretanto, há algo que posso assegurar, porque foi o que vi. Ele estava cego, Anton. Cego de medo, de preocupação com você e com as consequências do porvir. Não possuo conhecimento sobre o que deveras aconteceu, mas se ele errou, fora por amá-lo em demasia.

          Elevei uma sobrancelha sarcasticamente antes de terminar o Opus e me servir outra vez.

          ― Você é uma das poucas pessoas que ainda respeito, Avigayil. Não faça isso mudar ao defendê-lo. Não sou nenhum estúpido, e muito menos um garotinho carente de amor de pai, ou seja lá o que for. Aquele desgraçado não ama nada além dele mesmo. Há coisas que o tempo nunca poderá mudar, e o que quer que você queria me dizer para tentar amenizar a situação, não vai adiantar.

          Nada mudaria o destino daquele filho da puta.

          Eu estava disposto e completamente obstinado a fazê-lo desejar a morte pelo resto da sua imortalidade, só estava esperando o momento certo. Peguei o último tubo de VS, o despejando sobre a mesa de centro. Retirei a tampa do fundo e o usei para inspirar todo o pó.

           Desta vez, o efeito fora mais rápido. Em pouco tempo um frio aterrador rompeu, trazendo entre algumas alucinações, um bem-estar moral que seria inalcançável num estado normal. Porém, da mesma forma instantânea que tal método me conferia a letargia, a fazia se dissipar, me levando de volta ao suplício das minhas divagações.

          Avigayil soltou um suspiro lento, seguido de um sorriso lamentoso.

          ― Não estou aqui para defender ou julgar o seu pai, muito menos para fazer você esquecer o passado ou tentar amenizá-lo. Os acontecimentos da vida que ocasionam ultrajes e infortúnios podem gerar efeitos desagradáveis. Se não soubermos lidar com eles, estes desenvolvem a mágoa e envenenam o caráter. E é com uma inquestionável facilidade que os seres se deixam levar por emoções infelizes, pensamentos amargos, violentos, e isto, por certo, não eleva a índole moral de ninguém. Entenda que é tão importante quanto necessário relembrar do que já passou. Jamais deve se esquecer dos momentos bons, pois estes estimulam a alma, mas também não se deve esquecer dos ruins, pois estes, se bem assimilados podem mantê-lo no caminho do juízo.

          ― Certo ― virei mais uma dose, e enchi o copo de novo ―, e aonde você quer chegar com isso?

          Um grito desesperado me fez abrir os olhos subidamente.

          Era o grito dela, um grito agudo e atormentado que de alguma forma me inquietou. Saindo do escritório rapidamente, corri até o seu quarto, e antes mesmo de abrir a porta já era possível ouvir o choro angustiado. Entrei no cômodo e acendi a luz, ela estava sentada na cama, soluçando com as mãos no rosto, o corpo trêmulo e o peito arfante.

          Merda. Não era tão agradável ou reconfortante vê-la chorar, quanto imaginei.

          ― O que foi, fada? ― perguntei me aproximando, não que eu me importasse ou tivesse interessado em descobrir o que havia acontecido, mas precisava saber se teria que ligar para a fada mãe ir cuidar dela.

          Ela retirou as mãos do rosto, revelando um olhar atormentado coberto por lágrimas abundantes, então abraçou o próprio corpo deixando a cabeça pender para frente. A dor contida na ingenuidade de gestos tão simples e amedrontados, me despertou uma sensação estranha, incômoda. Independentemente de qualquer coisa, eu reconhecia que ela não tinha culpa pela maldita situação, a qual Avigayil nos submetera. 

          Sentei-me na cama, de frente para ela. 

          ― Você sabe que o seu pior pesadelo deveria ser eu, então, para o seu próprio bem, tente não tê-los também enquanto dorme. ― Ela me fitou com aqueles grandes olhos inocentes, ainda turvos pelo excesso de lágrimas. ― A não ser que eu já esteja te perturbando até nesses momentos, o que seria agradável de se pensar, mas prefiro quando você está bem acordada para me enfrentar. ― Um soluço lhe escapou dando força ao seu choro que se intensificou. ― Certo, vou ligar para a sua mãe.

          Eu ia me levantando quando ela se jogou no meu colo, abraçando o meu pescoço, os gestos e a respiração agitada refletindo o seu desespero.

          ― Por favor, não me deixa sozinha, por favor. ― Definitivamente, eu não estava preparado para isso. O frágil corpo dela tremia entregando toda força que possuía para me segurar, e pela primeira vez em meu estado lúcido, eu não tinha ideia do que fazer. ― Estava tão escuro, úmido. O cheiro do lodo me dava náuseas, e eu tinha sede, tanta sede que desejei morrer. Eu sentia dor, uma dor aguda que esmagava o meu coração, tão forte que fiquei sem ar. Deixei de me mover, quase parei de respirar, e a dor virou ódio, ira, e tudo o que eu mais queria era matar e matar. Todos os traidores deveriam morrer, eles deveriam morrer... Eu desejei vingança. Então, de repente, não havia nada. Caí em um vazio solitário, desesperador, tão profundo que me senti enlouquecer...

          Que porra estava acontecendo?

          "Pode até ser que vocês experimentem alguma vivência do passado um do outro, tal como uma troca de experiências."

          Maldita Avigayil. Nunca havia desejado tanto matá-la como naquele segundo. Ela sempre fodia tudo com o péssimo hábito de soltar frases que a priori pareciam descabidas, insensatas e irrelevantes, mas que quando percebíamos suas implicações, ela já estava distante o bastante para qualquer questionamento.

          ― Por favor, não me deixa sozinha ― suplicou o amontoado loiro encostado no meu peito.

          O sensato a se fazer era ligar para Ava e deixar que ela se virasse, mas submetido àquele contato, me peguei respondendo antes mesmo de raciocinar sobre a situação.

          ― Certo, mas é bom você tentar dormir logo, porque só ficarei até que consiga.

          Ela se afastou enxugando as lágrimas, ainda dando alguns soluços espaçados. Afastei uma mecha grudada em sua face e ajeitei seus cabelos para trás. Um ato impensado, pois nem ao menos considerei que estaria expondo ainda mais um dos seus melhores atributos, os quais se encontravam quase revelados pela transparência da camisola de renda.

          Inspirei devagar e soltei todo ar no mesmo ritmo, uma forma que encontrei para diminuir aquele crescente calor indesejado. A coloquei de volta na cama e puxei o edredom cobrindo-a até a cabeça, mas no mesmo instante, ela jogou o edredom para baixo descobrindo a nuvem loira, os olhos azuis e os seios.

          ― Não estou com frio ― murmurou, a voz manhosa atingindo outras partes do meu corpo além dos meus ouvidos.

          ― Quieta, você está sim ― a cobri outra vez, mas só até o pescoço. Quando novamente tentei me afastar, ela segurou o meu braço e, se arrastando para o meio da cama, me puxou.

          ― Não me deixa sozinha...

          ― Eu já disse que vou ficar aqui, agora durma. ― Ela me puxou mais uma vez, um perceptível convite para que eu me deitasse com ela. ― Não.

          ― Por favor... ― A porcaria da voz macia não estava ajudando, e ela ainda voltou a chorar.

          ― Shhh... então fica quieta, não fala nada, e lembre-se, você está com muito frio, por isso vai ficar bem guardada aí embaixo.

          Eu não estava mais pensando direito.

          Apaguei a luz e me deitei, tão logo a senti se virando para o outro lado e em seguida, dedos finos capturando o meu braço e o levando para cima dela. Aqueles seriam longos minutos, mas eu tinha tudo sob controle. Acomodei-me melhor de lado, e ao fechar os olhos não demorou para que todos os meus sentidos se revertessem para o corpo curvilíneo debaixo do meu braço, que não ficava quieto. Aquilo já estava me irritando, e muito rápido toda a irritação virara tensão, quando a senti encaixar as costas no meu peito, e a bunda no meu...

          Merda.

          Ela apertou firme o meu braço entre os seus, e aos poucos a senti relaxar até a sua respiração se tornar branda. Pelo menos já estava adormecendo. Desvencilhei-me dos seus cabelos, os jogando para cima, e assim me ajeitei sobre o travesseiro. Eu estava muito próximo ao seu pescoço, o calor doce me intuindo a inspirar profundamente. Ela exalava um cheiro agradável, na verdade, era um cheiro muito agradável, único, excitante...

          Porra.

          Aquela fada era inconveniente até dormindo. Puxei o meu braço devagar, mas novamente ela o puxou soltando um soluço angustiado. Se ela voltaria a chorar, pouco me importava, só permaneci ali porque apesar de estar duro, estranhamente também estava relaxado, minhas pálpebras pesavam e sem que eu pudesse inferir, o sono viera levando a minha consciência embora. 


IA – sistema operacional de ponta, conhecido como inteligência artificial criado e patenteado pela Skar Technologies.

VS – (Vampire Sky) é uma droga (fictícia) depressora de altíssima intensidade, destinada somente a vampiros.




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