C A P Í T U L O 1
Uma promessa feita
― Você a transformou, Anton!
Sempre tive baixa tolerância para demonstrações de utopias sentimentais. Emoções eram uma concepção absolutamente inviável, capazes de deixar as pessoas ainda mais tolas do que suas aptidões naturais lhes permitiam.
Era deplorável presenciar uma reação tão desprovida de equilíbrio e sensatez, ainda mais vinda de uma vampira de três mil anos. Além da sua inclinação para dar importância exagerada a fatos irrelevantes, Eleonora possuía habilidades para o drama e seus consequentes sentimentalismos falsos. Tal circunstância só fundamentava a minha aversão a ela, e a toda aquela situação.
A questão era que eu não dava a mínima para o que estava acontecendo ali. Exceto pela condição de que eu havia acabado de quebrar uma promessa. Para mim, não era a palavra de um homem que definia o seu caráter, pois ela podia soar vazia, mas sim o seu empenho para torná-la lídima. Eu sempre cumpria as minhas, eram a única coisa que ainda me era relevante nesse mundo de merda.
A minha verdade e o meu caráter, ninguém refutava.
Todavia, já estava feito. Eu não tinha mordido a fada, tampouco drenado o seu sangue, a princípio acreditei simplesmente tê-la matado, mas de fato ela ainda possuía o meu sangue em seu corpo, portanto, as deduções de Eleonora não eram infundadas. Se eu havia transformado a fada, não tinha mais volta e o arrependimento era outra fantasia inviável.
Merdas eram como a morte, aconteciam o tempo todo, e a fatalidade do momento não diminuía o meu contentamento em voltar ao meu normal após o estressante estado onírico daquela estranha embriaguez. O meu autocontrole estava de volta, logo mais, tudo que pudesse me distrair dos meus objetivos seriam descartados, incluindo a excêntrica e irresistível influência sexual a qual descobri que aquela fada tinha sobre o meu corpo.
Aproximei-me cautelosamente do sofá, e contemplei a cena diante de mim. Meus olhos contornaram cada parte cândida do seu rosto oval que guardava uma fisionomia serena, como se estivesse apenas dormindo. Os fios loiros, finos e compridos estavam jogados ao redor da cabeça dando forma a um excelso halo dourado, enquanto as mãos delgadas jaziam abertas sobre a barriga plana, e as pernas descansavam esticadas, parcialmente denudas.
Ela me daria ainda mais trabalho como vampira, porém, seria mais fácil controlá-la através da conexão entre criador e cria.
― Não obtenho perspectivas admissíveis para o que possamos fazer agora ― proferiu Eleonora, sobrepujada, andando de um lado a outro numa irritante exaltação.
Naquele mesmo instante a porta do escritório fora aberta, e por ela entrou Avigayil. Como se já soubesse que algo estava errado, seus olhos caíram diretamente sobre o sofá, para onde seguiu em silêncio. Ela sentou-se ao lado da fada, passando a mão em seu rosto e lhe ajeitando uma mecha de cabelo.
― Avigayil, não há palavras que possam expressar o quanto sinto ― clamou Eleonora.
― Não há motivos para preocupações, minha amiga. Logo ela irá se recuperar. ― Eleonora a lançou um olhar de quem não tinha entendido sua reação tão resguardada. De fato, nem eu compreendi, Avigayil parecia calma demais. ― Era esperado que algo assim acontecesse.
― Era esperado que ela morresse? ― questionou Eleonora em um estado de perplexidade, e desta vez, fora Avigayil que lhe impeliu um olhar confuso. ― Então é este o modo pelo qual ela se tornará imortal? Através da transformação?
Após um intervalo analítico e circunspecto, um cintilar divertido fulgurou nos olhos de Avigayil e se sobrepôs à sua feição, antes que soltasse uma risada.
― Oh, vocês pensam que ela morreu? ― indagou ela revezando olhares entre mim e Eleonora.
― Quem morreu? ― ressonou uma voz suave. Ava havia entrado no escritório naquele momento, seus olhos estavam arregalados e vidrados em direção ao sofá. ― Não... não, não! ― Seu tom de voz fora se elevando gradativamente à medida que ela corria até a filha.
Poucos segundos se passaram até que entraram no escritório Petre e Vincent.
Já era possível prever. A guerra, como dissera Eleonora, estava prestes a começar, e eu não garantiria que sairia com as minhas mãos limpas dali.
― O que está acontecendo? ― inquiriu Petre diante corpo estático da filha e do choro desesperado da esposa. Não demorou para que ele se voltasse para mim. ― O que você fez com ela, seu desgraçado?!
― Petre, o mais razoável neste momento é manter a calma ― aconselhou Vincent.
― Manter a calma? Quero saber o que esse desgraçado fez com a minha filha! ― vociferou ele, já dando passos largos em minha direção. Sua sorte foi que Vincent o segurou antes que tentasse encostar as mãos em mim, caso contrário, ficaria sem ambas. Ele tentou se soltar, inutilmente, ainda me encarando com os olhos carregados de ódio. ― Eu juro, você vai pagar por isso!
Sua reação era apenas a constatação de uma das minhas várias teorias. Emoções deixavam os seres obtusos. Sentimentos eram a pior fraqueza que poderiam ter, e por vezes, a mais tediosa, pois se tornava muito fácil atingi-los. Quem observava Petre Irwin com toda sua postura arrogante, jamais acreditaria que seria tão fácil fazê-lo perder a linha. A sua fraqueza era a filha, e era prazeroso usá-la para provar o meu domínio sobre ele.
― Ela está... está... morta... ― soluçou Ava. ― A minha filha... não, não...
Vi Petre vacilar e ficar inteiramente lívido, para em seguida soltar um grito transfigurado.
― Desgraçado! Eu vou acabar com você! ― Das suas mãos emergiram uma luz azul-escura que aos poucos se intensificou. O chão começou a tremer fracamente, mas o suficiente para alguns livros que estavam nas estantes que cercavam o cômodo, caírem. O vidro da porta que levava para o jardim estourou, voando cacos para todos os lados, e por ela começou a passar um vento carregado de folhas secas e grossas ramificações.
Coloquei as mãos nos bolsos achando aquilo interessante. Ele acreditava mesmo ser capaz de fazer algo contra mim?
― Pelos deuses, ela não está morta! ― bradou Avigayil já em pé, fazendo com que a calmaria e o silêncio voltassem quase instantaneamente. ― Vocês são uma família agora, e para o bem desta união, sugiro que tentem se comportar como tal.
― Mas..., mas... ela não está respirando ― contestou Ava abraçada à filha.
― Ela está em uma espécie de hibernação ― explicou. ― Seus sinais vitais estão tão suaves e lentos que são quase imperceptíveis, mas posso lhes garantir, ela está viva.
― Conjecturo que essa fatalidade não seria possível, visto que uma das promessas do Contrato é torná-la imortal assim que a união se realizasse, não? ― Vincent se pronunciou, e tive que concordar com o infeliz. Em meio à confusão, não havia me lembrado desse detalhe.
― Ela ainda não é imortal. ― Avigayil caminhou até a porta quebrada fazendo ecoar o som dos estilhaços ao pisar sobre eles. Espiando lá fora, continuou. ― Desde o início tenho avisado que esse não é um casamento soez. Ele não se limita ao simples ato de trocar alianças ou de fazer um ritual cujo qual iniciou as projeções do Contrato de Destino. Se faz necessário que essa união seja tão genuína quanto as promessas dos deuses para com vocês, só assim se mostrarão suficientemente merecedores delas.
Tive uma vontade quase incontrolável de arrancar a cabeça de Avigayil. Lá estava ela com a mesma história de um casamento real. Se havia algo que eu tinha certeza, era que a minha união com aquela fada jamais atenderia essas condições.
Um som de engasgo reverberou naquele segundo, acompanhado de uma tosse e então, uma golfada. A fada havia acordado e estava vomitando ao lado do sofá. Rapidamente Ava segurou-lhe os cabelos, e Avigayil se aproximou colocando a mão em sua testa.
― O que está acontecendo com ela? ― inquiriu Ava, com medo alarmante nos olhos.
― É apenas uma reação do corpo dela ao sangue do Anton. ― Avigayil, sentou-se ao lado da fada segurando-lhe o queixo e fitando seus olhos azuis que apesar de estarem abertos, pareciam não enxergar nada. ― As variações de humor, as emoções confusas, e agora essa espécie de transe no qual ela se encontra, são os estágios que um vampiro passa quando é transformado. No entanto, tudo se intensificou por se tratar especificamente do sangue do Anton.
― Todavia, ela não está sendo transformada, está? ― Eleonora se manifestou.
― Não, em absoluto. Ela é tão pura quanto Aileen e Irwin, e é como se fosse a própria primogênita de Aine, por conseguinte, jamais poderia ser transformada. É normal que o organismo dela entre em conflito com o sangue do Anton. ― Avigayil voltou-se para mim. ― O sangue dela é tão poderoso quanto o seu, imagino que você também tenha se sentido diferente.
Diferente não seria a palavra que eu usaria para definir o que passei, mas se ela significava que eu havia enlouquecido de tal modo que perdi o total domínio do meu corpo, incluindo o da minha mente, então sim, me senti extrema e insanamente diferente.
― Você sabia que isso iria acontecer, Avigayil? ― Ava quis saber.
― De certa forma sim, porém, não previ que seria nessa intensidade ― respondeu ela levando a mão até os olhos da fada para fechá-los. ― Não há motivos para preocupações, Liz ficará bem, mas precisa descansar. Leve-a para casa, Anton.
― Espere aí, você sabia que isso iria acontecer, mas ainda assim permitiu? ― Petre a encarou atônito. ― Confiamos a nossa filha às suas palavras, Avigayil!
A mesma liberou um suspiro resoluto, ficando em silêncio por alguns segundos, indicando cautela.
― Fiz o que era necessário fazer, Petre. Acredite, ela precisava passar por isso.
Soltando um riso nervoso, ele colocou a mão na cintura lhe lançando um olhar que migrara da incredulidade para a ira.
― Por que não nos avisou? Ela tinha o direito de saber o que a esperava!
― Eu os avisei consoante ao que eu tinha conhecimento. Eles sabiam que seriam afetados, no entanto, mais do que isso foi um acaso do destino que ninguém poderia antever. De todo o modo, caso soubessem o que de fato ocorreria, perderia todo o sentido. A verdade é que o sangue do Anton veio equilibrar um lado de Liz que, até então, ela não conhecia, em igual maneira o sangue dela emergiu um lado do Anton que estava adormecido.
Adormecido? Nem em três mil anos. Além das sensações estranhas que nunca havia sentido, eu não me recordava de ter sido tão estúpido no passado. Avigayil olhou uma última vez para a fada, então se levantou e voltou a falar.
― A troca de sangue fora feita para criar um vínculo íntimo entre os dois, para que cada um conheça melhor o outro, e para que entendam a profundidade da essência de cada um. ― Ela me impeliu um olhar cuidadoso, reflexivo. ― Pode até ser que vocês experimentem alguma vivência do passado um do outro, tal como uma troca de experiências. ― Não relevei sua declaração por ser incabível, e integralmente ilusória. Não haveria trocas em absolutamente nada. ― O que aconteceu hoje foi apenas o prelúdio de um longo caminho que ambos precisarão seguir. ― Um sorriso reconfortante surgiu entremeio sua expressão apologética antes que seus olhos se desviassem para o fada-homem. ― Compreenda, Petre, esta foi a maneira deferida pelos deuses para fazer valer o Contrato de Destino, e consequentemente, para começar a torná-la imortal.
Era paradoxal reconhecer que uma fada de aparência tão frágil e peso tão leve pudesse ser tão complexa e tentadora quanto a uma tempestade, daquelas inóspitas, de efeito devastador e danos irreparáveis. Ela ainda estava desacordada quando a tirei do carro e a carreguei até o seu quarto na casa que iriamos compartilhar.
Eu nem deveria estar fazendo isso, uma vez que, eu não tinha a mínima disposição para atenções desnecessárias às pessoas. Contudo, após o pai dela novamente iniciar uma briga por não querer deixá-la ir embora comigo, me senti tentado a fazer exatamente isso para me distrair vendo a raiva consumi-lo. A cada ação minha para com a sua filha, era como combustível à sua ira, e por essa razão, valia o esforço.
Ao adentrarmos o quarto, Avigayil, que nos acompanhara, retirou parte do edredom que cobria a cama.
― Coloque-a aqui, retire as sandálias e o vestido dela. ― Despi-la? Não mesmo, o máximo que eu faria seria colocá-la na cama, o que já estava excedendo todos os meus níveis de cuidado e consideração. ― Há uma banheira? ― indagou já entrando no banheiro. ― Vou preparar um banho morno para ela.
A coloquei na cama, parte do seu corpo deslizou pela extensão do meu, me incitando uma tensão quente em resposta às suas curvas que resvalaram em mim. Era um equilíbrio muito delicado. Eu não devia ter experimentado, pois o conhecimento nos traz pensamentos excedentes, e a breve noção do que aquela fada poderia oferecer, tornavam as circunstâncias ainda mais complicadas.
Meu instinto primitivo acabou sobressaindo-se, capturei um dos seus tornozelos e desprendi a sandália de cristais. Ela tinha pés finos, esmerados, com dedos médios e proporcionais. O mais insigne era a pele rosada que ficaria linda atada por algumas correntes grossas a puxando para baixo, o nível da água subindo até a submersão ficar completa. Os movimentos ficariam lentos dentro da caixa de vidro, os sons se tornariam bolhas e as bolhas, o silêncio, o silêncio traria a inércia, e uma perfeita obra de arte...
Foco. Eu precisava retomar e manter o foco.
A virei de lado e me sentei na cama. Às suas costas, uma sucessão de pequenos botões forrados descia pelo meio delas até o início dos quadris. Afastei seus cabelos e, devagar, comecei abrindo o primeiro botão, o segundo, e então o terceiro, até o último.
A febre que a pele delicada de suas costas rescendia atraiu os meus dedos, os quais passaram a trilhar um caminho lento pela mesma. Quase pude visualizar no lugar deles uma sequência de aros cravados ali, na sua carne. Ela era tão leve, tão suave, que uma suspensão através deles não causariam um grande estrago. Era tanto insólita quanto interessante a minha capacidade de vislumbrar algo com tanta intensidade e desejo...
― O que você está fazendo? ― O tom de voz alto me fez olhar em direção à porta do quarto.
Ava me perscrutava com olhos acusadores.
Respirei fundo, muito tentado a começar a retirar o vestido da fada na frente dela, mas percebi que aquela era a oportunidade de deixar o quarto e qualquer responsabilidade que Avigayil quisera me atribuir, para Ava. Levantei e me afastei da cama.
― Ava, o que faz aqui? ― perguntou Avigayil que saíra do banheiro naquele segundo.
― Sei que tínhamos combinado que eu não precisava vir, mas entenda, Avigayil, ela é a minha filha, e eu não conseguiria dormir sem saber que ela ficará bem.
Avigayil dobrou um braço sobre o outro, virando a cabeça levemente para o lado, a estudando.
― O Petre veio? ― Ava negou completando que tinha ido sozinha. ― Certo, me ajude a dar banho nela, e quanto a você ― disse olhando para mim ―, escolha algo para ela vestir.
Não me movi um centímetro sequer, meus olhos fixos aos movimentos de Avigayil, que começava a descer uma das mangas do vestido de noiva da fada.
― Ele não pode ficar aqui ― declarou Ava, atraindo a minha atenção. ― Ele não pode vê-la nua, Liz não iria gostar.
Alcei uma das sobrancelhas e cruzei os braços. Instantaneamente Avigayil me lançou um olhar suplicante, como se me implorasse para não falar nada. Só coloquei as mãos dentro dos bolsos e, dando alguns passos, parei em frente à loira mais velha, fitando seus olhos azuis. A vi estremecer e recuar um passo.
― Talvez você não conheça a sua filha tão bem quanto pensa, Ava. ― Seus olhos se sobressaltaram, e eu sabia que havia atingido um ponto sensível do seu psicológico. Não foi preciso uma análise profunda para perceber que uma das suas fraquezas era a distância inusual na relação entre mãe e filha que, curiosamente, a fada mantinha dela. ― Além do mais, os meus padrões são bem altos, então a questão se torna outra. Será que eu iria gostar do que ela tem a me oferecer?
Dei-lhe um último olhar antes de me virar e seguir para o closet. Mais uma vez me peguei fazendo algo em razão da consideração que eu ainda tinha por Avigayil. No entanto, não faria mais que isso.
Procurei entre as peças que estavam penduradas nos cabides. A maioria delas ainda continham etiquetas, indicando que nunca haviam sido usadas. Outro detalhe excêntrico daquela fada, ela não parecia se importar muito com essas coisas como a maioria das mulheres. Ao final, em um dos cantos, ficava uma sucessão de camisolas e outras peças mais íntimas.
Peguei a primeira que coloquei a mão, uma camisola curta de renda branca. Depois procurei pela gaveta onde ficavam as calcinhas. Havia várias delas, de todos os tipos e tamanhos, escolhi uma de mesmo material e cor da primeira peça. Deixei tudo em cima da cama, a qual já se encontrava vazia, então segui para o meu quarto, na última porta do corredor.
A suíte dela não deveria ter ficado do mesmo lado que a minha. Um dos motivos da compra daquela casa, era por ela possuir dois corredores opostos no segundo andar, ideais para nos manter suficientemente afastados, me permitindo ter mínima sensação de que ainda morava sozinho.
Na verdade, toda a casa havia sido mobiliada e planejada para que as mudanças parecessem insignificantes. O meu quarto fora decorado igualmente ao do apartamento, e parte da minha coleção de quadros saíram do cofre para ornar várias das paredes que existiam ali.
No mais, eu sabia que encontros acidentais com aquela fada até iriam ocorrer, mas eu não pretendia prover qualquer tipo de convivência com ela, e iria dar motivos suficientes para que ela desejasse se preservar o mais longe possível de mim.
Já dentro do banheiro, inteiramente nu, abri o chuveiro e deixei que a água fria caísse sobre a minha cabeça. O caos dentro dela parecia ter efervescido ainda mais após a confusão das últimas horas, unindo-se ao fato de que eu completara nove noites sem dormir, e algo muito próximo a uma certeza me dizia que eu passaria mais nove em claro.
Eu precisava beber.
Após me vestir, saí do meu quarto. A porta do dela estava fechada, mas o reflexo que escapava por baixo mostrava que a luz ainda estava acesa. Não parei, apenas segui em direção às escadas, mas um barulho de porta se abrindo ressonou e logo o meu nome fora chamado.
― Anton? ― Parei e me virei devagar, Avigayil estava com a cabeça para fora do quarto dela. ― Pode vir aqui, por favor?
― Não há nada que eu possa ou deva fazer aí, Avigayil. Sinceramente, tenho coisas mais importantes para fazer.
Ela apertou os olhos, e aos poucos fora saindo do quarto. Com a mesma circunspecção, se aproximou de mim, determinada, e o semblante tão austero que me dizia que estava pronta para vários sermões. Exalei fundo levando as mãos para os bolsos, a um passo de deixá-la falando sozinha.
― Nós já tivemos esta conversa, Anton, mas caso a tenha ignorado, poderemos ter outra. Todavia, em circunstâncias diferentes, porque agora está feito. Ela é a sua esposa e se a sua palavra lhe é tão importante tal como assevera, sei que terá paciência, que a protegerá e que prestará qualquer cuidado e ajuda que Liz venha carecer.
― Ameaças não...
― Não me insulte ― interrompeu ela. ― Você sabe que o meu caráter não condiz com ameaças. Não estou pedindo ou sequer ordenando, estou aqui lhe expondo fatos como uma amiga verdadeira que há eternos séculos só almeja vê-lo bem.
Inalei bruscamente, a irritação aumentando.
― Se desejam tanto que ela seja bem cuidada, sugiro que vocês mesmas o façam, pois eu não levo o menor jeito para isso.
― É um demasiado equívoco tal pensamento. Lembre-se que ela está sob o efeito do "seu" sangue, portanto, as sensações se assemelham às suas e ninguém melhor do que você para compreendê-las.
― Quanto tempo esse estado vai durar? ― inquiri, a ira mal contida na minha voz.
― Creio que quando ela acordar, já não estará mais sob o efeito dele.
Era a conclusão precisa para terminar de transformar aquela noite em uma completa desgraça. Eu teria que virar babá da fada. Deixei que Avigayil me guiasse até o quarto, onde Ava acomodava o edredom sobre o corpo da filha que ainda dormia profundamente.
― Muito provável que Liz só acordará amanhã, mas se faz necessário que fique de olho nela, a fim de evitar qualquer acaso desagradável ― inteirou ela, e eu só anuí para me ver logo livre daquela situação. ― Vamos embora, Ava.
― Embora? ― A fada mais velha vacilou ao ver a expressão inflexível de Avigayil. ― Mas a Liz precisa de mim, não posso deixá-la aqui.
A bruxa soltou um suspiro enervado, antes de começar mais um dos seus discursos. Eu apenas me encostei na parede cruzando os braços e tornozelos, apreciando a discussão que se desenrolou. Ava argumentou como se estivesse em um tribunal, e eu tinha que admitir, ela parecia ser uma advogada habilidosa, mas não foi páreo para Avigayil Na'amah. Após vários minutos, ela foi convencida de que precisava ir embora.
― Se ela tiver alguma reação, por favor, me ligue ― Ava retirou um cartão cinza de dentro da bolsa, o me entregando em seguida. ― Não é sua obrigação cuidar da minha filha, mas só te peço, encarecidamente, que me ligue caso algo aconteça... qualquer coisa. Eu venho para cuidar dela.
― Vamos, Ava ― Avigayil chamou outra vez.
A fada lhe lançou um rápido olhar apreensivo, e então se voltou para mim como se esperasse uma resposta.
― Você ouviu Avigayil, cuidarei muito bem da minha tentadora esposa ― provoquei, e por um segundo pensei que ela fosse desfalecer ou começar a chorar, e eu não estava disposto a assistir a todo esse drama. ― Ligarei.
Ava suspirou aliviada e logo foi puxada por Avigayil para fora do quarto. Esperei alguns segundos enquanto as ouvia descerem as escadas e seguirem pela sala, até o som digital da fechadura refletir junto do barulho da porta de vidro se abrindo, e então se fechando.
Enfim, sós.
A fada e eu.
Anton Skarsgard
Liz Aileen Irwin Skarsgard
Eleonora e Vincent Skarsgard
Ava Aileen e Petre Irwin
Avigayil Na'amah
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