Capítulo 03
NAZLI OBSERVAVA ALI, SEUS DEDOS ENTRELAÇADOS TRANSMITINDO UM SILENCIOSO CONFORTO. O OLHAR DELA ERA UM BÁLSAMO PARA A ALMA DELE, ABALADA PELOS ACONTECIMENTOS RECENTES.
— Como você está se sentindo? — perguntou ela com voz suave.
Ali suspirou, ainda sob o efeito da turbulência emocional.
— Melhor. A dor está diminuindo. — Respondeu ele, esboçando um sorriso tímido.
— Fico feliz em saber. — disse ela, apertando sua mão com gentileza. — O Doutor Adil está conversando com Ferman agora. Espero que consigam resolver tudo.
Ali assentiu, reconhecendo a sabedoria do pai.
— Eu também espero. Sei que ele é o melhor para dar conselhos. — Disse ele, com um brilho de esperança nos olhos.
Nazli apertou sua mão com mais força.
— Não se preocupe, Ali. Tudo dará certo.
As palavras de Nazli soaram como um bálsamo para a alma de Ali. Ele se sentia reconfortado pelo apoio da amiga. Eles haviam se tornado bons amigos, e Nazli sabia que Ali tinha sentimentos por Ferman, mas que ele provavelmente nem desconfiava disse já que era tão inocente.
[...]
Ferman saiu da sala do Dr. Adil com o coração batendo forte. A conversa com o pai o havia feito mergulhar em um mar de culpa e remorso. As palavras duras que ele havia lançado a Ali o assombravam, e a imagem do jovem médico com a cabeça enfaixada pesava sobre sua consciência.
Ao caminhar pelo corredor, Beliz o interceptou, seus olhos castanhos cheios de preocupação.
— Meu amor, o que houve? Você está pálido. — perguntou ela, tocando seu rosto com suavidade.
Ferman desviou o olhar, incapaz de suportar a gentileza de sua esposa naquele momento.
— Eu... fui um idiota com o Ali. — Ele confessa, a voz baixa e carregada de angústia. — Não sei o que deu em mim.
Beliz franziu a testa, seus olhos se estreitando em uma mistura de decepção e compreensão.
— Você precisa se desculpar com ele, Ferman. — disse ela com firmeza. — O que você fez foi inaceitável.
Ferman assentiu, apertando os punhos em frustração.
— Eu sei. Vou me desculpar. — ele prometeu, com a voz tensa.
Depois de se despedir de Beliz, Ferman dirigiu-se à sala de descanso, onde encontrou Ali e Nazli conversando. A presença de Nazli o irritou inexplicavelmente, alimentando um sentimento de ciúme que ele não conseguia compreender.
Ao entrar na sala, Ferman interrompeu a conversa dos dois.
— Ali, preciso falar com você. — disse ele, sua voz áspera.
Nazli se afastou, lançando um olhar de preocupação para Ali.
— Vou te deixar a sós com ele. — disse ela, antes de sair da sala.
O silêncio se instalou entre os dois homens, pesados e carregados de tensão. Ferman fitou Ali, seus olhos azuis transmitindo uma mistura de culpa e constrangimento.
— Ali, eu... quero me desculpar pelo que eu disse. — ele começou, gaguejando. — Fui um completo idiota. Você é um excelente médico e eu... eu não deveria ter dito aquelas coisas.
Ali ficou em silêncio por um momento, absorvendo as palavras de Ferman. Uma onda de emoções o invadiu: surpresa, alívio, raiva e, finalmente, perdão, sentimentos que ele não conseguia entender.
— Obrigado, Doutor Ferman. — disse ele, um pequeno sorriso se formando em seus lábios. — Eu aceito suas desculpas.
O que fez Ferman abrir um sorriso, Ali era um ser tão inocente que não conseguia ficar com raiva das pessoas. Ele estava aliviado por Ali o ter perdoado.
— Eu também queria me desculpar por ser tão impulsivo. — Ali disse, sua voz ainda hesitante. — E que fiquei empolgado com a minha descoberta.
Ferman sorriu, um sorriso genuíno que iluminou seu rosto.
— Está tudo bem, Ali. Eu entendo.
Um novo silêncio se instalou na sala, mas desta vez era um silêncio tranquilo, quase amigável. Ferman observou Ali por um momento, notando a bandagem em sua testa e os hematomas em seu rosto.
— Você está bem? — ele perguntou, com uma voz suave.
Ali assentiu, tocando levemente a bandagem que cobria a ferida.
— Sim, estou melhor. Dói um pouco, mas logo passará.
Ferman se aproximou com cautela, evitando tocar Ali por saber que ele não apreciava contato físico.
— Ali, quero que saiba que te considero um excelente médico. Você tem talento e potencial notáveis. E eu quero te ajudar a crescer na sua carreira.
Os olhos de Ali se arregalaram de surpresa e esperança.
— Você ainda quer ser meu mentor? — perguntou, com a voz carregada de emoção.
Ferman sorriu.
— Sim, Ali. Eu ainda quero ser seu mentor.
Ali ficou sem palavras. A felicidade o inundava, quase o deixando sem fôlego.
— Obrigado, Doutor Ferman. — disse ele finalmente, a voz embargada pela emoção. — Isso significa muito para mim.
— Não há de quê, Ali. Agora, vamos voltar ao trabalho. Temos pacientes que precisam de nossa atenção.
[...]
A noite fria cobria a cidade como um manto de escuridão quando Ali se preparava para deixar o hospital. As luzes fluorescentes lançavam longas sombras sobre o rosto pálido do jovem médico, marcado pelo cansaço do dia. Com um aceno tímido e o olhar fixo no chão, ele se despediu dos colegas, seus pensamentos já se distanciando do ambiente hospitalar.
Ao sair do prédio, Ali foi cercado por três homens corpulentos. O cheiro acre de cigarro e álcool emanava de seus corpos, criando uma atmosfera hostil e nauseante. Um deles, com um sorriso cruel estampado no rosto, se aproximou de Ali e o questionou com voz áspera:
— Ei, o que você é? — um dos homens perguntou, com um sorriso cruel no rosto. — Um alienígena?
Ali se encolheu, sentindo o medo apertar seu peito como um torno. O instinto o impelia a se afastar, mas os homens o bloquearam, impedindo qualquer fuga.
— Estamos falando com você, seu retardado. — gritou outro homem, desferindo um soco violento no rosto de Ali. O impacto o derrubou no chão frio, onde ele ficou atordoado, a dor latejando em seu rosto.
Levantando os olhos, Ali encarou os homens, seus olhos cheios de medo e confusão. Uma voz trêmula e hesitante rompeu o silêncio:
— Sou autista. — disse ele, sua voz trêmula. — E eu sou médico.
As palavras de Ali foram recebidas com gargalhadas cruéis. Os homens riam descontroladamente, suas risadas ecoando na noite fria como o som de hienas famintas. A dor física era suportável, mas a humilhação e a incompreensão dilaceravam o coração de Ali.
— Olha só, o retardado acha que é médico. — zombou um dos homens, enquanto desferia um chute em Ali, que gemia de dor, mas permanecia imóvel, sem saber como se defender.
Um gemido angustiado cortou a noite serena. Ali, encolhido no chão frio, apertou os punhos enquanto a dor percorria cada fibra do seu ser. Seus agressores, como vultos ameaçadores, o cercavam, rindo da sua agonia.
Após um dia cansativo, Ferman ansiava por descanso. Contudo, ao se aproximar do veículo, percebeu uma aglomeração estranha perto da entrada do hospital. Movido pela curiosidade, decidiu investigar.
Ao se aproximar, ficou paralisado de choque. Ali estava no chão, sendo brutalmente agredido por três homens. Ferman, com o coração acelerado e a adrenalina correndo em suas veias, lançou-se contra os agressores de Ali. Cada golpe que ele desferia era um grito silencioso de justiça para Ali.
Os homens, surpreendidos pela intervenção repentina, recuaram. Ferman não deu a eles a chance de se recuperar. Com um rugido feroz, ele atacou novamente, derrubando um deles no chão.
— Saia daqui! — ele rosnou, seus olhos azuis brilhando com uma fúria selvagem. — Ou chamarei a polícia.
Sua voz ecoou na noite, interrompendo a brutalidade da cena. Os agressores, antes com os rostos contorcidos de raiva, agora estavam pálidos e cheios de hematomas. Eles recuaram com medo de acabar piorando ainda mais a situação. Murmúrios indecifráveis passaram entre eles antes que finalmente se dispersassem, sumindo na escuridão da noite.
Com cautela, Ferman se aproximou de Ali, que se levantava com dificuldade do chão.
— Você está bem, Ali? — perguntou ele, a preocupação evidente em sua voz.
Ali assentiu, ainda ofegante de dor.
— Eu... acho que sim. — disse ele, a voz fraca e vacilante.
Ferman se virou para ele novamente, sua expressão se suavizando.
— Vamos, Ali. — ele murmurou, estendendo a mão para ajudá-lo. Mas Ali se afastou, recusando o toque.
— Não me toca. — ele disse, a voz tensa.
Ferman recuou, respeitando o espaço de Ali.
— Tudo bem, calma. Não vou te tocar. — Ele disse, as mãos abertas em sinal de paz. — Vou te levar para casa, okay?
Ali balançou a cabeça negativamente.
— Não, eu não quero ir para casa. — disse ele, a voz ainda fraca e carregada de tristeza.
Ferman assentiu, compreendendo a dor e o trauma que Ali estava sofrendo.
— Tudo bem, Ali. Vou te levar para um lugar especial — ele disse com gentileza e Ali entra no carro de Ferman com cuidado.
Eles dirigiram em silêncio, com Ferman ocasionalmente olhando para Ali com preocupação. Finalmente, eles chegaram a um local, era um pequeno prédio.
— Que local é esse, Ferman? — Ali perguntou, sua voz hesitante e um pouco nervosa.
— Você vai ver. — Ferman respondeu, saindo do carro e pedindo para que Ali o seguisse.
Ali seguia Ferman pelo corredor, seus passos hesitantes e seu olhar desconfiado. As paredes brancas e simples o deixavam ainda mais nervoso, e a energia no ar era palpável. Ele podia ouvir vozes vindo de uma sala no final do corredor, aumentando sua ansiedade.
Ferman parou na frente da porta e se virou para Ali, sua voz baixa e séria.
— Este é um lugar especial para mim — ele disse. — Quero que você conheça alguém.
Ali olhou para Ferman, seus olhos cheios de perguntas e dúvidas. Ele não sabia quem era essa pessoa especial, e a hesitação em seu coração se intensificou.
Ferman se aproximou da porta e a abriu. Ali viu uma jovem mulher sentada em uma cadeira de rodas no meio da sala. Ela era alta e magra, com longos cabelos castanhos e olhos castanhos brilhantes. Seu rosto gentil e acolhedor transmitia uma força interior que impressionou Ali.
— Fatos. — Ferman disse, sorrindo para ela.
Fatos sorriu de volta, seus olhos se iluminaram ao ver Ferman.
— Irmão! Que alegria te ver! — disse ela, sua voz suave e melodiosa.
Ali observava a cena, ainda hesitante. Ele não sabia que Ferman tinha uma irmã, mas era evidente que ela era muito importante para ele. O que o fez lembrar de Ahmet, seu irmão, e da importância da família.
— Fatos, quero que conheça alguém, minha querida.
Ferman gesticulou para Ali se aproximar, um leve tremor em sua voz traiu a ansiedade que sentia. O rapaz hesitou por um instante, seus olhos percorrendo o rosto da jovem com cautela. Ali não era fã de surpresas ou mudanças, e a presença de uma desconhecida o deixava apreensivo.
— Fatos, este é Ali. — Ferman apresentou, o orgulho evidente em seu tom. — Ele é médico como eu, e também é como você.
Ali assentiu, um sorriso tímido se formando em seus lábios. Como não conseguiria apertar a mão da jovem, ele optou por um aceno hesitante.
— Oi, prazer em te conhecer.
A menina retribuiu o cumprimento com um sorriso gentil. A conversa fluiu hesitantemente no início, Ali respondendo às perguntas com frases curtas e precisas. Mas, com o tempo, ele foi relaxando, permitindo que a curiosidade o guiasse.
Eles conversam por mais alguns instantes até que Fatos o interrompe.
— Irmão, você veio me levar embora?
A pergunta de Fatos cortou o ar, carregada de esperança e medo. Ferman desviou o olhar, a culpa pesando em seu coração.
— Sinto muito, meu amor. — Ele sussurrou, apertando as mãos da irmã com ternura. — O irmão não pode te levar para a casa.
Lágrimas brotaram nos olhos da jovem, mas ela as conteve com bravura. Apesar da decepção, ela compreendia a situação. Seu irmão era alguém ocupado.
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