Capítulo 2: Plano A em Ação
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"Enquanto as aves voam tranquilas
As astutas águias do alto maquinam."
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Assim que Dan saiu, eles fizeram uma pausa para o café e, em seguida, iniciaram a deliberação. Adan à cabeceira; do seu lado direito, estava sua esposa; ao lado de Evan, estava Gregório Mori; do lado esquerdo de Adan, estava seu genro; ao lado de Murat, Eveli.
— Bom... Todos aqui sabem que os termos só podem ser mudados uma vez a cada geração, e apenas uma alteração pode ser feita — iniciou Adan.
— Não será preciso acrescentar cláusula. É tudo uma questão de interpretação da lei, de perspectiva. Vejam, pode-se inferir que o primogênito é o que nasce primeiro, independente do sexo. Podemos alegar que é esse o caso — argumentou o Sr. Mori em tom malicioso.
— Eles nasceram juntos, no mesmo minuto, inclusive — esclareceu Eveli com a voz carregada de dúvida.
— Veja... Eles podem ter nascido no mesmo minuto, mas parte do corpo de Demi nasceu alguns segundos antes de Dan — retrucou o advogado, olhando para todos e dando uma piscadela.
— Advogados... Não sei se existe raça pior — disse Adan meneando a cabeça, porém sorrindo.
— Mas quanto ao fato da Demi não ter condições de assumir os negócios? Parte da herança da primogenitura envolve assumir um lugar no conselho, ações, liderança e assim por diante — perguntou Eveli.
— Essa reunião tem como base a hipótese de que o estado civil de Demi mudará ainda este ano. Não é difícil imaginar quem seria o marido — Gregório lembrou aos presentes.
Todos assentiram, entreolhando-se.
— Sendo assim, não vejo por que o futuro marido de Demi não possa assumir o lugar dela nos negócios, assim como Murat assumiu no lugar de Eveli. Ou seja, já temos esse precedente — prosseguiu o advogado com a sua linha argumentativa.
— Bem, e o que as senhoras presentes nessa reunião acham? Evan, Eveli, opinem — solicitou Adan com a palma da mão direita para cima e direcionada para Evan e em seguida para Eveli.
Eveli olhou para a mãe e fez sinal com as sobrancelhas para que ela fosse a primeira a falar.
— A minha sugestão é que primeiro uma nova reunião seja marcada com Dan para que haja uma nova tentativa. Creio que deixamos ele escapar fácil demais. Vamos expor para ele todos os benefícios dessa herança. Vamos atuar no ponto fraco dele.
— Interessante! Você tem alguma sugestão sobre esse ponto fraco? — perguntou Adan à esposa.
— Ele é um arquiteto. Não estamos no ramo imobiliário, é verdade, mas vamos oferecer a ele o comando de todos os projetos de novas lojas, filiais e franquias que estejam em andamento, inclusive as reformas. Além disso, vamos deixá-lo no comando de novos projetos e dar autonomia a ele para nos apresentar algo novo, algo criado por ele.
— Brilhante!!! — disse Adan com a voz impregnada de admiração.
Todos aplaudiram a astúcia da velha senhora Evan.
— Não quero parecer pessimista, mas Dan disse que não tem ninguém em vista. Como, em menos de um ano, ele vai se interessar por alguém, namorar, noivar e casar? — questionou Eveli com um pouco de desespero nos olhos e desesperança na voz.
— Bailes! — disse Evan com um tom de voz entusiasmado, um brilho de triunfo nos olhos e um largo sorriso.
Todos se entreolharam e perguntaram ao mesmo tempo: "Bailes?!!!".
— Sim, bailes... Vamos aos moldes antigos. Funcionou por séculos. Funcionou com os nossos antepassados. Funcionou comigo e com o meu amado Adan. Há de funcionar agora também — esclareceu Evan em um tom animado.
— Baile, mamãe? — perguntou Eveli de forma hesitante, com uma expressão confusa e incrédula no olhar.
— Baile é o modo de dizer, minha querida. Sei que não estamos nos livros de Jane Austen. Pode respirar aliviada, pois não estou caducando. Coquetéis, eventos, festas... Como queiram chamar. Faremos festas!!! Tem também a festa de aniversário de cem anos da mamãe Lale, que já estava prevista e agora veio a calhar mais do que nunca. Vamos convidar todos os Mori, os Mendes, os Prada, parentes distantes. Principalmente, é claro, as mocinhas casadouras — disse Evan rindo. — Estou brincando, estou brincando. Mas é um pouco verdade, as jovens solteiras serão o alvo. Vamos convidar a membresia da igreja local, claro. Têm muitas mocinhas na idade de casar. Agora diga sua opinião, minha filha.
— Eu concordo com tudo. O plano "A" é tentar fazer com que Dan se interesse pela herança que está condicionada ao casamento ao ponto dele mudar de ideia sobre se casar ainda esse ano. Enquanto tentamos convencê-lo, agendamos alguns eventos para que aumente a possibilidade dele conhecer alguém que desperte o seu interesse. Caso não funcione, partimos para o ponto "B", que é entregar à Demi a herança, isso se ela realmente se casar. Teremos que adiar a reunião com a Demi e marcar uma nova reunião com o Dan o quanto antes. Vamos aproveitar enquanto ele ainda está em Miramar, amanhã ele volta para Capital.
A reunião seguiu por mais um tempo. Conversaram sobre mais alguns detalhes e possibilidades, indagaram sobre possíveis noivas para Dan e assim por diante.
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Os peixes cobiçam todo o oceano
E encantam-se com coral aquariano.
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Rosemary, a secretária da MD Empreendimentos, ligou para Dan informando sobre uma nova reunião na manhã do dia seguinte. Dan pediu para que a ligação fosse passada para o pai. A família queria uma nova reunião para o domingo.
— O senhor lembra que amanhã é meu aniversário e que pretendo ir para Capital pela manhã, certo? A passagem já foi comprada.
— Eu sei, eu sei, não esqueci. Mas deliberamos pelo resto da manhã e precisamos falar com você antes que você volte, achei que dava tempo de nos reunirmos pela manhã antes do seu retorno.
— Eu posso retornar à empresa agora, assim finalizamos com isso.
— Perfeito, estamos aguardando.
Assim que a ligação foi encerrada, Murat pediu à Rosemary para contactar George para que ele fosse à empresa, pois ele estava no escritório do pai cuidando dos compromissos do dia, uma vez que Gregório estava na MD Empreendimentos para a tradicional reunião testamentária dos Dianne.
Em menos de vinte minutos, Dan estava de volta, pois os pais moravam próximo ao Centro. Quando Dan se acomodou na cadeira, Murat e Gregório expuseram em que consistia a herança, as regalias, as propriedades, a porcentagem nos lucros, a participação na empresa, os projetos.
Após a exposição de todos os benefícios que Dan teria, pediram para que George entrasse. Solicitaram que ele levasse Dan para conhecer alguns imóveis e projetos em andamento da MD Empreendimentos.
Como Dan era arquiteto, estava interessado em ver os imóveis e se inteirar dos projetos em andamento. Mas o que estava deixando-o mais empolgado era a possibilidade de novos projetos. Algo dele do início ao fim. Ele tinha tantas ideias. Após um pouco mais de uma hora vendo alguns lugares, Dan e George estavam na Praça do Centro da cidade.
—Escolha qualquer lugar, qualquer propriedade que tenha interesse para um novo projeto e estará disponível — disse George empolgado.
— Na verdade, eu gostei muito da estrutura e localização dessa loja ali — respondeu Dan apontando para o outro lado da rua. — "Livraria Paraíso" — Dan leu a fachada. — O prédio é antigo, rústico, mas aconchegante. Tem história, combina perfeitamente com o nosso perfil. Tem três andares, o andar de baixo poderia ser a loja de vendas, o do meio o estoque e a cozinha, o último, assim como o terraço, para servir os clientes.
— E seria loja de quê?
— De chá. A nossa família é especialista em chás. Já têm vários de nossos chás no mercado, mas não temos uma loja para vender e servir esses chás.
— Mas só chá? Três andares só para servir chá?
— Existem muitas receitas na família. Temos livros de receita lançados. Serviríamos também petiscos, bolinhos, bolachas, essas coisas. Tudo personalizado. Só receitas da família. Mesas no terraço, algumas amostras de plantas em uma pequena estufa que serviria de atrativo. Os clientes poderiam conhecer as plantas e ver como são cultivadas.
— É um projeto muito bom. Na verdade, fizemos uma oferta há um tempo, mas o dono recusou. Quem sabe ele aceita agora. Esse ramo de venda de livros anda em baixa, ele agora começou a vender antiguidades.
— Então é melhor ele mudar a fachada.
Quando retornaram à empresa, a mãe e a avó já tinham ido, pois precisavam cuidar dos últimos preparativos para a festa à noite, partiram da empresa assim que Dan e George saíram para visitar as lojas.
O jovem arquiteto disse ao pai e ao avô que pensaria na proposta, e Adan deu a ele o prazo de um mês. George relatou algumas ideias de Dan, principalmente sobre a loja de chá. Adan e Murat ficaram entusiasmados. Dan realmente se sentia tentado com todas aquelas regalias e possibilidades.
Mas não era tão simples assim, ele não estava interessado em ninguém, pelo menos não romanticamente. Contudo, havia outra maneira de ter tudo aquilo, pelo menos uma parte, sem precisar se casar. O que Dan tinha em mente não era começar a procurar uma esposa, mas sim que, se o seu plano em relação à Demi desse certo, tudo estaria resolvido.
— Agora vamos, rapazes, caso contrário, nos atrasaremos para o jantar — disse Adan, levantando-se.
Estava marcado um jantar em comemoração aos vinte e cinco anos de Dan. Era para ter sido apenas a família, alguns parentes e amigos mais íntimos. Porém Eveli convidou outras pessoas de última hora, principalmente moças, e o jantar transformou-se em uma festa. Não uma festa muito grande, mas algo bem maior do que um jantar em família.
Usou praticamente tudo o que estava na dispensa, mandou o motorista ao mercado para comprar mais algumas coisas, comprou alguns pratos, petiscos e guloseimas de restaurantes e confeitarias das redondezas.
A comemoração incluía Demi, é claro, mas ela preferiu não participar, alegando compromisso de trabalho.
— Mamãe, cadê a bisa? A senhora não tinha dito que a trariam? — perguntou Dan um pouco antes dos convidados começarem a chegar.
— A vovó Lale não tem passado muito bem.
— Algo sério?
— Não, só coisas da idade. Desde o falecimento do vovô Ferit que ela não tem sido mais a mesma — justificou Eveli, desviando o olhar.
Ainda era difícil falar sobre o falecimento de Ferit, era um assunto delicado. Não queria que transparecesse um tom acusatório em sua voz ou alguma insinuação em suas escolhas de palavras. Por isso, sempre usava cautela ao falar sobre esse assunto.
— Mas não está com depressão, não é?
— Não.
— Está variando?
— Como assim, variando?
— A senhora sabe...
Dan apontou o dedo indicador em direção à cabeça e o girou algumas vezes em sentido horário.
— Não, nada disso. É que dificilmente sai de casa. Sempre naquela cadeira de balanço, olhando para o horizonte ou para o céu. Melhor poupá-la, afinal, em breve teremos a festa de cem anos dela. É melhor ela não se sobrecarregar com uma festa atrás da outra.
— Uma festa atrás da outra? Ainda falta mais de um mês para o aniversário dela.
— Mas tem a situação do testamento. Se tudo se resolver, ela precisará vir de Paraíso.
— Só se a Demi resolver se casar e aceitar a herança.
— Ou você, meu filho.
— Pouco provável que isso mude nas próximas semanas.
— Vamos ver.
— De qualquer forma, ainda teremos alguns eventos no decorrer de março, tem a festa de aniversário da empresa também.
Eveli prosseguiu falando sobre os diversos eventos que estava planejando, mas a certa altura, Dan já não ouvia mais nada.
A mãe e a avó passaram a festa toda incentivando Dan a conversar com as convidadas solteiras. Sempre que podiam, elogiavam uma ou outra jovem, contando coisas a respeito das moças. A que tinha passado em primeiro lugar na faculdade, a outra que tinha ganhado um concurso de beleza, outra que tocava piano muito bem e assim por diante.
Ayse, a irmã caçula de Dan e Demi, percebeu o que a mãe e a avó estavam fazendo, assim, associou-se ao plano e passou a falar com o irmão sobre as irmãs mais velhas de suas amiguinhas. Dan achou isso tudo muito divertido, pois entrou no jogo, desempenhando bem o seu papel de partido do ano. Aproveitou para flertar sem reservas, sendo atencioso e galante com todas as jovens solteiras da festa.
Esperaram passar de meia noite para partirem o bolo, pois o aniversário de Dan era no domingo, não no sábado. Mas como, no domingo, Dan tinha compromisso na Capital, havia avisado que só ficaria até o dia vinte e cinco, partiria no dia vinte e seis pela manhã.
Quando enfim a festa acabou e Dan pôde recolher-se ao seu antigo quarto, teve tranquilidade para fazer uma retrospectiva do último ano. Sempre fazia isso. No ano anterior, estava na Itália fazendo mestrado.
Fora um bom ano, assim como o anterior. Dois anos na Itália. Fizera novos amigos, conhecera lindas italianinhas, tornara-se fluente no idioma. Em breve, retornaria, assim que resolvesse as coisas em Miramar. Porém como era o tão aclamado vigésimo quinto aniversário, Dan foi além e fez uma retrospectiva das últimas duas décadas.
Tantas vezes ele e Demi especularam sobre a herança dos vinte e cinco e o presente que as meninas ganhavam nessa data. Agora, ali estava ele, sem ela e desvencilhando-se da herança.
Pegou a sua velha Bíblia que estava sobre o móvel ao lado da cama, ela sempre ficava na gaveta, provavelmente sua mãe a colocara ali para que ele a visse. Isso era bem típico de sua mãe, a sutileza não era o seu forte. Dan abriu a Bíblia e leu a dedicatória:
"Honra a teu pai e tua mãe; este é o primeiro mandamento com promessa, para que vivas bem e tenhas vida longa sobre a terra."
Filho, que a leitura das Sagradas Escrituras lhe conduza às veredas da obediência e da honra. Honrar a Deus em primeiro lugar; a nós, os seus pais, assim como as demais autoridades que forem constituídas ao longo de sua vida, pois isso agrada ao Senhor. Feliz aniversário! Com amor, papai e mamãe. (26/02/1980)...
Leu aquela Bíblia regularmente até iniciar o ensino médio, pois os pais faziam leitura diária com ele e Demi; o avô também lia com os netos, às vezes. Após o ensino médio, os pais confiaram a eles mesmos essa tarefa, disseram que já estavam grandes o suficiente para fazerem a leitura bíblica sozinhos.
Eles tinham um bebê para cuidar, a caçula Ayse, esse também era um dos motivos. Dan e Demi passaram então a ler cada vez menos a Bíblia e, após a faculdade, aboliram de vez essa prática.
Dan guardou a Bíblia na gaveta e lembrou-se de outro presente que recebera naquele mesmo ano, uns dias antes de completar dez anos. Estava de férias com os pais em Livorno, município do litoral de Miramar. Dan abriu mais a gaveta e procurou no fundo. Lá estava ela, uma estrela-do-mar azul. Presente de uma linda garotinha que conhecera na praia.
Dan continuou com a sua retrospectiva, lembrando-se do primeiro beijo, os bailes da escola, o time de basquete do ensino médio. Demi como líder de torcida — o avô sempre reclamava disso, achava que o corpo ficava muito exposto, mas Eveli não via problemas, já que a filha gostava, e Murat não se envolvia nessas questões.
Lembrou-se da primeira namorada, a fatídica festa dos dezoito anos, a ida para faculdade no trailer da família, ele e Yan inseparáveis nos primeiros semestres, o namoro de Yan e Demi, a divisão da família — essa parte ele preferia apagar. A formatura, o desejo da família de que ele retornasse a Miramar para que se envolvesse mais com a empresa e com a igreja, a decisão dele em fazer mestrado na Itália.
Não fora uma vida ruim, só não era excelente, mas ele só tinha vinte e cinco, o céu era o limite. Ainda tinha muito para viver, muito a conquistar. Em meio às digressões, Dan adormeceu. Ainda segurava a estrela azul, a sua pequena Beatrice.
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