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— Crianças, é um terreno razoável — instruiu Aldous. — Triangularemos. Podem manter a altitude. Quando estiverem muito alterados, desçam! Não sabemos que psicoativos estão sendo usados, logo a camuflagem pode falhar. Cuidem para não chamar atenção.
— Sim, senhor! — assentiram todos.
— Lido com os piores... Evitemos problemas! — arfou. — Se tiver problemas... tentarei, espero conseguir, chegar ao caminho dos mortos. Não protagonizarei outra chacina ou é a expectativa.
— Sim, senhor! — A horda de Aldous assentiu.
Os rapazes de Alexa entreolharam-se, receosos com a fala.
— Que Macária os guie e guarde! — orou, olhando numa direção — Não há honra na morte, doce Algos... — Aldous tocou o sudário, fechando os olhos brevemente e seguiu, rumo ao local que uma doce e trágica sensação o indicava haver intensa incidência de dor.
— Não é seguro deixá-lo só! — exclamou um dos rapazes.
— Não sejam sensíveis. Ele só pode surtar e matar, sei lá, vinte mil!? — ironizou Chase, rindo de sua expressão de horror. — Sabendo que os piores estão naquela direção, dividimos.
O general retomou sua seriedade para falar:
— Se virem almas de Dissebia, enviem à escadaria. Poupem-na de vir com os seus... lidar com esse circo é desnecessariamente cruel!
— Pensando em poucos dias de trabalho. Como fazemos com a escolta do pai? Trocamos a cada seis horas? — indagou Fitz.
— Oito é mais razoável. Estão bem? — preocupou-se Chase, observando todos e tomando notas mentais de seu estado.
— Estamos... piorando, notificamos — disse Byron.
— Que Macária nos abençoe, irmãos! — O general sorriu, doce. — Vamos, herdeiro? Que bom que trançou, os vivos gostam de puxar!
— Mato eles! — O menino ameaçou, arrepiando-se com a ideia. — Por que não faz o mesmo com o seu? Eles podem puxar!
— Se tocarem, arranco a mão deles! — sorriu.
— Isso é desnecessariamente violento! — repreendeu um rapaz.
Chase e Sigmund riram e ignoraram, descendo os degraus.
O som estava muito alto, mas, apesar de parecer caótico, as pessoas estavam bem calmas. Habituais desordeiros passeavam por entre a maioria calma e pacífica, impregnando o solo com o pútrido sangue corrupto, resultante do infeliz contato com as peçonhas.
O coração de Sigmund palpitou e o ar faltou, quando ele sentiu Aldous tocar a primeira das almas. O menino se apoiou em Chase e o claro rubro que cobria a alma tomou sua visão por um instante.
— Primeira! — disse, com a voz baixa, fechando os olhos e agitando a cabeça, tentando restituir a ordem, ao menos, da visão.
O grito da alma ecoou no caminho dos mortos.
Chase fechou os olhos, estremeceu um pouco, mas suspirou.
— Não enlouquece, herdeiro!
— Não vou. — Sigmund afirmou.
***
Fitz e Byron não se distanciaram muito de Aldous.
Algumas G10 soaram. Olhando-as, Fitz lidou em direcionar aos rapazes e Byron ficou com as difíceis. O calmo permaneceu onde estava, supervisionando seu grupo e observando o mestre.
Podia ver Aldous seguindo a uma área onde o sangue se espalhava numa velocidade moderada, visualmente notável.
— Pelo menos, são mais comportados que o esperado. — Byron riu, voltando para perto de Fitz. — Seis horas para o próximo estágio?
— Se o sangue espalha dez centímetros por segundo é acima da média de vetorização. A taxa é baixa, mas próxima. Logo duas horas.
— Você poderia ser mais positivo às vezes, sabe, Profasis!?
Byron gargalhou, muito irônico e seguiu a brincadeira:
— Eu sou o negativo aqui! Não roube meu espaço.
— Perdão, meu irmão! — riu. — Estou apreensivo.
Os rapazes estavam reagrupando quando o estridente grito ecoou. Tão próximos, puderam ver a plataforma onde pisavam vibrar.
Observaram a nuvem de agulhas sobrevoar Aldous. Com algumas notas, Fitz reportou à Chase: "Agulhas, pelo tamanho, todas!"
"Se ganharem proporção, mesmo que mínima, me avisa!"
— Comuniquei Epifron, se notar aumento, avisa, farei o mesmo.
— Os rapazes trabalham e vigiamos? — sugeriu Byron.
— Se estiverem ocupados não falarão frivolidades! — Fitz riu.
— Gosto quando é mau! — Byron gargalhou.
— Rapazes, queríamos poupá-los, mas tudo muda rapidamente com os sétimos. — Fitz pronunciou. — Mostrarei aonde, vão e ficam!
Os rapazes assentiram e Fitz os guiou aos locais onde as próximas almas estariam se despindo de suas vidas.
***
Amos e May seguiram com os rapazes vindo as suas costas.
— Assume com eles, Anesiquia? — pediu, olhando Amos.
— Rapazes, descemos — assentiu. — Contenham-se! Reportem a mim. Se Ftisis parecer odiá-los mais que o normal, afastem-se! — Ele sorriu gentil. — Lido com as almas e você guarda minhas costas?
— Sabe que prefiro assim... — sorriu — Obrigada!
Amos a acariciou no rosto e se emaranhou na multidão. May os seguiu, sobre suas cabeças, muito alerta... temendo falhar de novo.
Quando as G10 soaram, Amos assumiu o trabalho difícil, dando as tarefas mais fáceis aos rapazes. Um abafado grito no caminho dos mortos deixou May apreensiva, mas ela conseguiu manter a calma.
O evento era mais pacífico que o esperado, mas nem essa calma podia afastar de May a sensação que Amos estava muito exposto.
***
"Naquela direção!", apontava o impulso que guiava Aldous.
Uma leve dor de cabeça o incomodava dada a poluição sonora, mas o impulso e o leve prazer auxiliavam-no a suportar a suave dor.
O solo tinha algumas manchas, pesando em seus passos.
Numa tentativa de enganar-se, Aldous seguiu devagar para não ter a terrível sensação que a mancha estava aumentando rápido.
Parou sobre um grupo de rapazes.
O combustível do impulso que o guiou àquele local, apresentou-se como uma bela mulher com claras manchas rubras em seu corpo.
Aldous engoliu seco, sentindo um frio passear por sua espinha. Antevendo a falta do ar, ele cuidou para manter-se dono de sua respiração, expirando e inspirando, lenta e calmamente.
Numa visão superficial, era uma jovem junto a outros jovens.
Resumiu o grupo a um embrulho de vida desperdiçada. Não por se rebelarem pacificamente, mas, porque em meio ao desperdício de suas vidas — execrável, por si só! —, ainda lesavam a luta de outros.
O mais desgastado fio era o da moça; era possível ver a luxúria e impulso suicida que a levaram a tal ponto. Bastava um toque seu e as rubras manchas cresciam, alastravam.
Não apenas nas almas, mas no solo, arrancando baixos gemidos de dor enquanto permeado intimamente pela raiz da corrupção.
Aldous caminhou de um lado para outro, impaciente; negando-se a ficar parado, mas contendo-se para não intervir. A insana ideia de usar uma agulha surgiu, mas ele tratou de afastá-la rápido.
Quando cansou de zigue-zagar, desceu e sentou perto do grupo.
O gélido aviso da morte passeou por entre os rapazes quando Aldous aproximou-se e aqueles, intactos e lúcidos, sentindo o mau presságio, não se demoraram para ceder ao instinto de partir.
Durante a eternidade que a abafada G10 demorou para soar, o escarlate espalhou rapidamente, através da moça e seus contatos.
Era uma G10 diferente, doce...
Quando a moça caiu, a vermelhidão espalhou-se mais e mesmo o céu foi tangido por parte da corrupção vazada pela pobre alma.
Aldous se aproximou e fitou os belos e desesperados olhos daquela que, agora, afogava-se em luxúria.
O lento arrebentar do fio de sua vida, deu a moça capacidade para ver os melancólicos olhos de Aldous fitando os seus. Ela se assustou e tentou gritar.
Seu belo e esbelto corpo escondia cansaço e maus-tratos em demasia, obrigando-a a optar por respirar ou se engasgas na tóxica rejeição de seu estômago a tudo que ela ingerira.
Quando se desprendeu, ela encarou Aldous brevemente.
Desesperada, tomada pelo pavor, ela correu.
Seus passos no chão davam brilho ao escarlate e espalhavam dor pelo solo, gritando agudamente; estremecendo o corpo de Aldous.
Mesmo desconhecendo as vãs limitações carnais, uma alma, a independer da sujeira, sempre será uma alma. Em um único passo, Aldous aproximou-se e a pegou pela cabeça.
Toda a discórdia plantada pela moça por onde passou era digna dos servos de Éris. Corrupção por corrupção. Vaidade por vaidade. Grande potencial desperdiçado. Não foi amor ou desamor, nem ódio.
Foi indiferença com a própria vida e com toda vida ao seu redor. Mesmo uma bela referência, uma família dita "estruturada", não fora suficiente para salvá-la da própria toxicidade.
Aldous derramou uma lágrima ao sentir a Loucura se espalhar. Antes que a tensão o levasse a machucá-la mais, ele a atravessou.
O estridente grito de dor o arrepiou, a orgástica sensação o tirou a força das pernas; ele riu de si mesmo, ao cair de joelhos.
"Estamos velhos!", pensou, levemente melancólico.
Olhou ao redor e a visão embaçava, viu as mãos manchadas, piorando a falta de ar; as agulhas animaram-se sobre ele, em resposta a toda a animosidade acumulada em seu peito.
Fechou os olhos, orando, com todas as suas forças: "Ainda não!"
"Poderias ser um bom santo...", ouviu a gutural voz de seu outro eu, obviamente tomado por insanidade.
"Por que só decide falar quando não deve?"
"Por que falhas miseravelmente? Ótimo desempenho! Epifron... Anesiquia... Ftisis... Himeros quebrada... Hormes, doce Hormes. É isso que recebo em troca de confiar em ti? É tanta inutilidade que me enoja. Até quando continuarás... quebrando tudo o que tocas?"
Aldous engoliu seco, meneando a cabeça repetidamente.
O princípio de uma G10 o despertou do interno monólogo.
Ele olhou e voltou ao local onde um dos rapazes era o próximo.
O sangue jorrando do gélido corpo da moça, envolvia os que estavam próximos e os aprofundava no devasso frenesi.
As agulhas permaneciam agitadas no céu. Ao seu comando duas atingiram-no no ombro, possibilitando-o buscar ar com eficiência.
"Aprofunda-te no abismo, santo!? Não entres em desespero! Piora... sempre piora... é sempre isso que fazes... piorar!"
Aldous esbravejou algo ininteligentemente.
O fino e baixo grito do solo anunciou o desprender do rapaz.
Ao fitar os olhos do rapaz, não pôde controlar e as agulhas, obedecendo seus impulsos, caíram. Bastou perfurarem corpo e alma para carregarem-no ao outro lado num processo mais violento.
***
Algumas G10 soaram próximas à Chase e Sigmund.
Junto aos rapazes, ambos desceram para ajudarem-nos. Sempre exímio em seu trabalho, Chase poupou Sigmund e manteve-se mais brincalhão que o normal para se distrair e distraí-lo — com sucesso.
"A queda do mestre...", ouviu Sigmund.
A diversão e risos pararam. O menino parou e abaixou a cabeça.
"Conseguimos chegar nele? Podemos?"
"Não creio ser necessário desobedecermos às ordens, mas... se tivermos que fazê-lo, precisa comunicar Epifron!"
"Epifron se oporá...", preocupou-se.
"Epifron nunca se oporá! Ninguém melhor que ele para aceitar intervenção. Soa cruel, mas está cansado e nos sacrificaria para dar minutos de paz ao pai. Isto torna dissuadi-lo uma tarefá fácil, simples!"
"Então, me ajuda a pensar... O quanto devemos intervir?"
"Com o aviso da mãe, pouco a queda impactará, principalmente se não houver vítimas. Logo, qualquer intervenção deve ser para extrair!"
"Presumi algo parecido... obrigado!"
— Herdeiro!? — chamou Chase, ao observar o menino parado. — Estamos bem? Estamos loucos?
— O mestre... — disse, tentando esconder o pesar de sua voz.
— Reagrupamos com Pseudos e Profasis. — Chase suspirou. — Mantemos Anesiquia e Ftisis distantes — enumerou, pensando alto; ordenando os pensamentos enquanto subia os degraus evitando tocar os vivos. — Sigam trabalhando! — ordenou para os rapazes.
Eles assentiram e deram continuidade ao que faziam.
***
Fitz e Byron lidaram com a coordenação dos rapazes; vez ou outra, sobre ordens de Fitz, Byron lidou com almas manchadas, poupando os rapazes da cansativa missão com a rubra turbulência.
"Estamos chegando... o pai...", Chase comunicou para ambos, que imediatamente olharam na direção de Aldous.
As revoltadas agulhas moviam-se mais rapidamente, porém em número menor. O dia já estava nascendo e, vez ou outra, elas manifestavam-se fisicamente, ofuscando o brilho do nascente sol.
As pessoas, alteradas o suficiente, ignoravam a grande sombra.
Chase e Sigmund não tardaram a chegar.
— Queremos ajudar... concluímos ser útil focar na extração do mestre quando ele cair. — Sigmund disse, olhando para Chase.
— Lido, já que resisto às agulhas. Treino constantemente! — riu.
— Ajudamos com a Loucura depois — sugeriu o menino.
— Não. Levamos ele à mãe! É mais sábio — concluiu Chase. — Ele ainda está vestido? — indagou, tentando vê-lo.
"Sim, está fragilizada, mas inteira!"
— Ele disse que sim... Como é o outro mestre?
— Temperamento difícil... Odeia vivos! Nunca levantou, apenas ajoelhou! Se a máscara romper, ele, com certeza, fará vítimas...
— Basta matar um e nós teremos tantos problemas que é impossível mensurar o dano em casa... — analisou Fitz.
— É o que Anaideia precisa para nos afundar. — O general arfou.
— Suas ordens, general! — Byron e Fitz cumprimentaram-no.
— Falaram com Ftisis ou Anesiquia? — indagou Chase.
— Não, senhor!
— Ótimo! — sorriu. — Não façam!
"Meus rapazes estão sós, reagrupem e assumam com eles. Se preciso, sejam enérgicos. Sem vítimas!", Chase disse para May.
"O pai não está bem e está nos mantendo longe?", arguiu. "Não direi a Amos, mas pode deixar que ficamos... Se necessário, chame!"
"Obrigado, Ftisis!"
— Vou até o pai. — Chase disse. — Herdeiro, você fica, sem 'mas'!
— Cuidamos dele. — Fitz sorriu.
Sigmund aproximou-se dos tenentes-generais e Chase partiu.
***
Terminando de lidar com a alma do rapaz, Aldous observou a inconstante linha da vida daqueles que estavam próximos.
Era impossível afirmar se as G10 soariam ou não, quando seria.
Ainda embriagado pelos idos gritos em seu íntimo, afastou-se do lugar ensanguentado buscando mínima estabilidade.
Seu insano e revoltado eu, eterno inimigo, gritava, lembrando-o de suas falhas; alimentando o impulso destrutivo da Loucura.
"Você deveria aprender a calar..."
"E tu, a ceder!"
"Se não estou criando um genocida, não posso ser um!"
"Nunca mato por matar, santo! Não sejas frívolo."
"Nunca diferiu! Ser louco ou monstro já me é insatisfatório o suficiente, não preciso de ajuda para obter novos adjetivos pejorativos."
O louco começou a forçar contra a máscara, tornando quase impossível mantê-la intacta dada a extrema dor causada.
Afastando-se, Aldous virou para a multidão e viu o escarlate banhando tudo; o que inundou com ansiedade, pânico! Ele fechou os olhos, fugindo da visão, que já o enlouquecera em tempos idos.
— Meu pai! — chamou Chase, chegando.
Aldous não atendeu, crendo ser alucinação; mas Chase insistiu e o mestre olhou. A paisagem estava normal e Chase estava acima dele, cercado pelas agulhas que se moviam, mas não o atingiam.
— Preciso que seja muito forte, meu pai. Se necessário o combata para manter-se desperto. Pode fazê-lo? — pediu Chase.
— Já estou... — respondeu.
— Não o permitiremos tocar ninguém, prometo!
— Creio ter matado um... — disse, derramando uma lágrima. — Leve as agulhas... ficarei com três; já tem duas alojadas em mim...
Combatendo a si, Aldous lhes deu todas, ficando com uma.
— Se necessário, sele!
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