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Byron estava à beira do salão, quieto, enquanto Fitz coordenava a horda. Todos cumprimentaram Aldous.
— Mestre Algos... o herdeiro está nos degraus. Não fui eu! — reportou Byron. — Tensões!
— Fui comunicado do ocorrido. Deixe os degraus... — Aldous riu. — Temos tempo? — questionou, olhando para todos.
Todos assentiram e se aproximaram. Não precisou chamar para Laura e Latisha chegarem com vinho para todos e sentarem-se. Sigmund sentou próximo, observando-os enquanto desfazia a trança.
— Não vamos à festividade e sua mãe sabe. — Aldous disse, se servindo. — Quando formos trabalhar no que identifiquei, ela nos ajudará. Calis acompanhará as manchas se movendo na América. Alguns dos mais novos, nativos, também.
— Temos alguma ideia do que possa ser? — questionou Delano.
— Não, mas não há resquícios da ocorrências em qualquer evento social que eu observei e eu já estou sentindo, o que indica que será intenso! Quando necessário, nos moveremos para tal... Por ora, seguimos o mais próximo da normalidade.
Todos assentiram com a cabeça.
— Se sentirem algo, não se esqueçam de me comunicar! — O mestre alertou. — Principalmente você! — falou para Sigmund.
O menino apenas assentiu com a cabeça.
— Os degraus falaram bastante de nós hoje — reportou Aldric. — Mais particularmente, do herdeiro. Devemos nos preparar para algum problema? Ou está tudo bem?
— Possivelmente é sinal de problemas — assentiu Aldous.
— Décimo quarto problema! — Chase riu. — A única novidade é o fato de ter ocorrido algo com o herdeiro e eles... nada de mais...
— Ele pisou no meu cabelo! — Sigmund trincou os dentes.
— Por Macária, você não revidou, não?! — indagou Fitz.
— Não... só puxei meu cabelo. O herdeiro de Penia foi quem dispersou o rapaz, disse para eu não revidar porque daria problemas, já querem nos atacar ou algo do tipo... enfim, eu já estava com raiva e a memória costuma falar em momentos como esses.
— Nossa! — Fitz engoliu seco. — Menos mal... eu acho.
— Na próxima, joga ele dos degraus e resolvemos depois. — Byron aconselhou com um largo sorriso no rosto.
— Nada disso, Pseudos — retrucou Aldous.
— Pai! — exclamou Byron. — É justo.
— Não. Não é.
— E você sabe disso! — reiterou Fitz.
— Entendeu o porquê de nunca falar com ele? — Chase riu, perguntando para Sigmund. — Agora deve fazer sentido!
— Entendo... não quero desafios, antes de Allatu, por não saber como o monge lidará... Claro isso pode mudar, mas... Se ele, em algum momento, quiser; não intervirei. Causarei problemas, claro, se me permitirem — sorriu de canto de boca olhando-os.
— Que problemas? — Laura indagou, interessada.
Sigmund até se surpreendeu com o interesse de Laura.
— Quero enlouquecê-los... Nada muito generalizado, só uma espécie de penalização àqueles que ousarem perturbar minha paz. O nervosinho é só o primeiro... Anaideia me parece ter um exército de imbecis... outros virão e só quero que enlouqueçam!
— Herdeiro, começo a gostar de você! — riu Laura.
O menino riu e ela continuou falando:
— Se for uma votação, todos sabem do meu voto favorável, não?
— Dado o fato de ser tão inofensivo — ironizou May — todos também já estão cientes de como votarei nessa matéria — riu.
— Vocês são muito perigosas — riu Chase. — Não sei se isso realmente está acontecendo, mas dará problemas e sou contra.
— Himeros será a favor de qualquer matéria que soa muito luxuriosa — afirmou Fitz. — Claro, eu me coloco contra também.
— Todo mundo sabe o que penso e como penso — afirmou Byron, dando de ombros. — Já passou da hora de revidarmos!
— Se não agir ativamente contra a saúde de ninguém — disse Amos —, não discordarei. Caso contrário, conhecem meu voto.
— Concordamos com Anesiquia — disse Aldric
Delano apenas assentiu com a cabeça.
— Sou contra cansar minha sanidade... — Aldous arfou. — Aviso: todos são muito sensíveis e punirão mais severamente ações que envolvem a Loucura. Mesmo não sendo habitual punirmos aprendizes... estejam preparados! Isso, com certeza, mudará!
— Se o senhor estiver disposto... é só o que quero, mestre! — O menino olhou para Aldous. — Provavelmente será muito difícil... se as punições não mudaram... beirará o impossível!
— Meus filhos já fizeram sua votação... faço o que quero, quando julgo precisar... Agora, não preciso intervir tanto. Suportarei... mas, se preparem para meus surtos e ficaremos bem — riu.
Aldous tocou sua lira, comunicando Irvin sobre o ocorrido e não tardou para o rapaz respondê-lo com voto favorável. O mestre riu, meneando a cabeça, e anunciou aos seus:
— Calis também é a favor... Com isso decidido, sigamos a vida!
— Se a punição apenas me afetar não será um problema tão grande, não!? Infelizmente, não consigo simplesmente me calar...
— Nenhum de nós consegue — riu Aldric. — Não se preocupe.
— Estamos resolvidos. Aproveitando que estão todos: alguém tem algo a dizer!? — Aldous questionou, olhando-os. — Que não seja sobre sua fome... — riu, olhando para Latisha, levantando a mão.
— Não! — Ela respondeu com o semblante chateado.
— Ótimo! — Ele aproximou-se, beijando-a na testa.
As maçãs do rosto da moça coraram e ela riu.
Todos voltaram ao seu trabalho e Sigmund seguiu ao seu quarto. Sentou na cara, tirando o pequeno rolo de papel do saung.
Algumas gotas mancharam o papel e havia inscritos em páli.
***
Maung,
Sei ser otimismo pedir para você estar bem ou, talvez, só pedir já seja vontade em demasia... egoísta, talvez. Enfim...
Tivemos nossa confiança traída e, não mentirei, me sinto parte da fração do povo que traiu sua confiança.
Nunca entendi bem o que lhe ocorria, nunca consegui nenhum esclarecimento e, por essa omissão, por essa ignorância, quero primeiramente lhe pedir perdão.
Realmente quis lhe ajudar, mas... com tantas vidas ameaçadas, acabei negligenciando você. Nada jamais mudará o que se passou... e não consigo imaginar o quanto dói em ti agora.
Não quero lhe pedir para voltar, afinal, nem eu quero fazê-lo!
Contudo, quero pedir para tentar de novo...
Há um belo sorriso em ti e serei uma mulher feliz quando souber que você consegue usá-lo, distribuí-lo com genuinidade.
Muitos 'eu deveria' se passam por minha cabeça a todo momento... e isso dói muito, maung... Dói tanto que só desejo que não viva com esse tipo de não-sandice se passando em sua mente.
Não deixe que as possibilidades passadas lhe causem dor, como fazem comigo. Já passou e nada pode reparar o passado!
Quero que você seja muito feliz.
Quero que cresça forte e, principalmente, que ninguém nunca mais tente contra a sua liberdade e a sua felicidade.
Novamente, quero pedir perdão.
Espero poder vê-lo novamente um dia.
Essas pessoas que te encontraram são boas pessoas, me ofereceram cuidado como se eu fosse uma pequena criança, me ofereceram educação e muita gentileza... me ofereceram o que comer e beber.
Salvaram-me de mim mesma...
Imagino que tenha dificuldades para crer em outros, mas... se ainda tiver um pouco de confiança em mim, peço que se permita... ao menos essa vez... permita-se ser ajudado.
Que o tempo possa curar nossas feridas, maung.
Seja feliz... permita-se amar de novo!
O fim trágico de um capítulo de sua história não é, garantidamente, prenúncio de tragicidades futuras...
Você tem muito para viver e muitos bons ventos para sentir.
Permita-se!
Ava.
***
Sigmund recostou na cama com tímidas lágrimas inundando seus olhos, amassou o papel e, como se agitasse nitroglicerina, queimou o papel num único instante.
Deitou e dedilhou seu saung por algum tempo.
Havia muito a pensar, ponderar... A saudade de Ava era muito grande, mas a felicidade por entender que ela estava sendo bem cuidada foi bálsamo para sua preocupação.
Frente a uma enxurrada tão intensa de emoções, sentiu instabilidade tocá-lo, mas ele apenas deixou seu pranto rolar por todo o tempo necessário.
Quando calma voltou a tocá-lo, ele vestiu a máscara novamente.
***
Enquanto mergulhava dentro de si, Sigmund recriou o pequeno papel, exatamente como era, no mesmo formato de origami de sapo.
Ao fim, ele tocou o rosto do monge para acordá-lo.
A primeira visão do monge foi, claro, o púrpuro olhar marejado.
— Não me parece bem... está bem?
— Sim... muito melhor — sorriu, lhe entregando o origami.
— Um sapo!? — indagou o monge, curioso, pegando-o.
— Ela está bem... Está muito machucada, mas ficará bem! No momento, as moças no Nepal são as responsáveis por cuidar dela...
— Ela!? — O monge novamente indagou, tendo os olhos cheios de lágrima pela mera possibilidade. — Quem? — Tentou atestar.
— Ela mesma — riu. — Também nos escreveu — disse, olhando para o origami, que o monge tratou de segurar mais forte.
Rapidamente, ele se apressou para ler o papel. Atrapalhou-se ao desfazer as dobraduras, mas foi bem-sucedido ao fim.
— Ela está recebendo tratamento... foi muito negligente consigo enquanto tentava salvar o povo... mas, segundo Goenix, ela ficará bem e os danos mais difíceis de curar são emocionais.
— Acredito que sinto saudade — riu, acanhado.
— Eu também sinto, monge... Ainda veremos Ava... até lá, é preciso suportar e precisa me ajudar! — Ele enxugou as lágrimas do monge enquanto derramava as próprias. — Ser impulsivo é muito perigoso e pode ser letal para ela. Tente fazer outras coisas... pensar em outras coisas... para não ser movido por essa saudade.
— Ajudo! — assentiu com a cabeça. — Não quero machucá-la.
— Realmente agradeço! Assim será muito mais fácil para nós. Agora, é hora de acordar... os cabelos estão muito grandes... Não quero que os prenda... deixe-os arrastar no chão!
— Tudo bem... o chão da nossa casa é limpo! — exclamou.
— Sempre foi limpo e continuará sendo por toda a eternidade — concordou, observando-o com um largo sorriso no rosto.
— No dia que não for, lidamos com a limpeza.
— Mais do que gostar das memórias que lhe tocam... gosto da reação que parece ter conforme é tocado! — sorriu, orgulhoso.
— Memórias!? — O monge indagou, confuso.
— Falo apenas daquelas que lhe fazem entender estar em casa.
— Mas... é nossa casa, não!?
— Sim! — assentiu com a cabeça. — Está um pouquinho suja... mas... é a nossa casa... e chegará o momento de limparmos tudo!
— Quando!? — indagou, tomado por um insano anseio ansioso.
— Para podermos limpar... você precisa caminhar mais — disse, voltando a imergir. — Precisamos... sozinhos... e você também precisa lembrar mais... precisa se conhecer mais... ser mais...
O monge assentiu e o observou imergir.
Pôde sentir a melancolia de seu reflexo que, chegando ao chão, se sentou de olhos fechados e voltou à sua meditação.
***
Ao despertar, Sigmund se sentou. Estava muito pensativo com a cabeça cheia de diversos pensamentos, logo, tirou alguns instantes para respirar fundo e tentar se acalmar.
Demorou para os agitados pensamentos se acalmarem. Resiliente, ele apenas os deixou passar, afinal, se tratava apenas de uma amálgama de anseios que ele não podia executar.
Habituado ao próprio corpo, ele estranhou o peso do cabelo, mas uma sensação de familiaridade lhe dava um conforto exótico.
Ele se arrumou e, com o saung nos braços, foi à cozinha, onde as gêmeas e Aldous estavam reunidos, conversando frivolidades.
— Pequeno monge! — Aldous saudou, sorrindo. — Bem-vindo de volta à realidade! — disse o mestre, seguindo para servi-lo vinho.
— Agradeço, mestre! — O menino riu.
— Logo... é o momento da refeição. Estudamos depois. Então, não se incomode em deixar a cozinha. — Aldous lhe deu seu vinho.
— Obrigado, mestre! — O menino agradeceu de novo.
— Gostei do cabelo novo. — Latisha elogiou, fugindo o olhar.
— Não entendo muito bem o que houve — riu —, ele me avisou que o faria... mas, apesar de estranho... é confortável também!
— Podemos imaginar o porquê! — disse Laura, rindo da confusão estampada no rosto do menino.
Confuso, Sigmund não pensou em resposta alguma para dar. Sentou ao lado de seu mestre para beber seu vinho enquanto os três conversavam sobre os últimos assuntos dos degraus.
Nem se tratava de assuntos tão relevantes.
Havia um possível desafio entre o herdeiro de Penia e os degraus sequer citaram quem era o azarado que enfrentaria o rapaz.
Rumores de um namoro entre dois sacerdotes, que Sigmund nunca sequer ouvira falar — tampouco se importava em saber.
Alguns aprendizes abusados estavam instilando conflitos entre escadarias... sem necessariamente parecer haver um padrão ou uma possível vítima objetivada pelos criadores dos rumores.
Mais um dia de muitos assuntos nos degraus...
Apesar de estarem sempre na cozinha, as meninas pareciam muito cientes de tudo o que ocorria nos degraus.
— A capacidade de obter informações é muito incrível. — Sigmund elogiou. — Quase não as vejo caminhando pelos degraus... e ainda assim sabem isso tudo!? Parabéns!
— Agradecemos! — Laura sorriu. — Devemos estender nossa área de atuação... afinal, existem ocasiões que não podemos atender e somos prioridade em caso de conflito, logo, honramos esse compromisso conosco, realizando algum trabalho extra.
— Prioridade... por quê? — Sigmund indagou o mestre.
— Por quê, prioridade? — indagou, olhando para Aldous.
— Com Himeros e Hormes, essa prioridade ocorre devido à fragilidade e instabilidade que ambos enfrentam. — Aldous explicou.
Latisha abaixou a cabeça, acanhada.
— É uma política particular, aplicada em gerações onde temos sacerdotes como eles. — Aldous seguiu a explicação, afagando a moça. — Hibris só está inclusa, pois, se Himeros quebrar, a afetará.
— Infelizmente, sou de cristal e quero com muita facilidade — disse Latisha com a voz carregada de melancolia. — Mesmo que corte os outros no processo... dependendo do problema... nã-
— Não conversaremos sobre isso! — Laura a interrompeu.
Latisha apenas assentiu com a cabeça e se calou.
— Entendi. Peço perdão por levantar um assunto sensível. — Sigmund se compadeceu, cumprimentando Laura. — Mestre... ele me disse para caminhar mais... eu posso?
— Sempre pode. Só deve lembrar que não pode lidar com quaisquer problemas sozinho, tudo bem? — Aldous assentiu.
— Por que ter- claro, Sigmund... problemas... — O menino falou consigo. — Eles odeiam o mestre... devem odiá-lo!
— Exato! — Aldous riu. — Precisa de lembrar que, em caso de problemas, deve me procurar... ou Epifron... ou Profasis... Só procure Pseudos se for muito urgente e achá-lo primeiro, mas... até nesse caso... tente garantir que Profasis acompanhará!
— Sim, senhor. — O menino assentiu. — Não quero problemas com ninguém... mas... nós... ele... conseguiu contatá-la... Triste por não poder vê-la, disse que me distrair colaborará... me impedirá de estimular seu ensandecimento... assim não vamos atrás — arfou.
— O único ruim desse plano é que aprenderá porque é bom ser antissocial! — Aldous ironizou, rindo. — Que a mãe lhe dê sorte!
As meninas riram. Começaram a servir a refeição.
Mestre e aprendiz acabaram ajudando e não tardou para todos se reunirem para ter sua silenciosa refeição.
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