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Antes de imergir, correu o rosto de Sigmund. Em choque, ele observou Aldous lançar o corpo a um canto, como fazia consigo... como se ela fosse um objeto... o que lhe foi a gota d'água.
Um forte grito anunciou a ofensiva do menino, animado pela Loucura retroalimentada pelo sentimento de luto que o tomou.
Uma aura rubra cobriu seu corpo e as lágrimas assumiram um tom vermelho, partidas do ponto mais íntimo de sua alma.
Foi uma ofensiva intensa, irracional, sem fim... por duas horas, ele gritou e atacou até o mestre tocar a lira para desacordá-lo.
Quando o menino caiu, Aldous caiu sentado, lutando em busca de ar. Com a quebra da concentração, o ilusório corpo desfez.
Chase intensificou o uso de energia para aquietar as agulhas, pegou uma delas para se aproximar e oferecer, zeloso:
— Vinho, meu pai?
Incapaz de vocalizar, Aldous apenas assentiu.
— Ajudarei o senhor... mas... só no mastoide, tudo bem?
O mestre riu e Chase acariciou seu rosto, seu cabelo. Dançou com a agulha por entre seus dedos para perfurar atrás da orelha do mestre, o que causou arrepios por todo o corpo de Aldous.
Um longo gemido desafogou seus pulmões e seus olhos reviraram com a intensa sensação proporcionada por Chase.
— Pode ficar com essa, mas não exagere! — O general saiu.
Aldous deitou, tirou a agulha, racionalizando: "Não posso...", repetidamente. Chase voltou com vinho e taças, lhes serviu e sentou ao lado de Aldous. Arfou ao estender a taça ao mestre, dizendo:
— Não está melhor...
— Não usei a agulha... é um avanço! — Aldous riu, trêmulo.
O general o ajudou a sentar e ele tomou o primeiro gole.
— O que houve para a ilusão? — Chase arguiu. — É a tal Ava?
— Sim, estávamos aprendendo algo novo...
— A mãe falou dela para mim, disse que a procuraria...
— Ele pediu ao mongezinho de cima para procurá-la.
— Uma aposta para vê-la? — Chase riu alto. — O senhor é cruel.
— Não sou... O cenário foi mais favorável para ele!
Silenciados, findaram o vinho. Aldous deitou, lançando a agulha junto às outras por entre suspiros. Preocupado, Chase sugeriu:
— Posso levá-lo ao quarto... depois levo o herdeiro... fim do dia.
— É bom, vou ao altar... talvez me acalme! Chame para a refeição matutina, por favor — pediu Aldous, levantando.
Após levar Aldous e Sigmund aos seus quartos, Chase voltou aos seus afazeres. Seria difícil se concentrar, mas ele era objetivo!
***
Imerso, Sigmund se deparou com o púrpuro brilho do luar tão intenso como ele jamais vira. Chorando, ele sentou a frente do monge, não lhe sobraram forças para falar ou fazer nada.
"Podemos sair e averiguar... ele só pode estar mentindo!", uma voz masculina adulta soou por todo o local.
— Quem é a figura que desconheço? — perguntou, olhando ao redor, em meio a grunhidos raivosos.
"Não poder ter com ela era esperado... falhou e precisa fazer algo! Ele sabe que ela vive... por isso, usou um artifício tão estúpido para ludibriar nossa pobre mente infantil... Infelizmente, com sucesso! Já foi melhor... rapaz... Como chamamos agora? Sigmund?"
O raivoso trincou os dentes e socou o chão de raiva.
"Desde quando desistimos tão fácil? Não lembro... Fugiu tanto de mim, a maldita Loucura... e olhe onde estamos... de volta!", gargalhou. "É patético! Ouvirá seu velho amigo ou apenas sofrerá Jam- Sigmund?"
***
Chase lidou com as pendências da escadaria e as poucas almas que necessitavam de seguro trânsito para seu descanso ou castigo.
Sentou à beira do salão com o relatório de Irvin, verificando as pessoas com quem ele lidou e as pessoas que ainda lidaria. Recorreu à bandura para comunicá-lo dos novos indivíduos e, ao fim, apenas tocou sua bandura para se divertir, se distrair.
"Meu filho, preciso de sua ajuda...", ouviu a voz de Althea.
O general olhou ao redor. Franziu o cenho, estranhando e pegou a taça de vinho para observar seu estado, porém, o vinho, atipicamente, não se agitou em seu interior.
"Meu filho...", novamente Althea chamou.
"Minha mãe... do que precisa? Já chego!", respondeu.
— Profasis! — O general invocou.
— Meu irmão! — Fitz cumprimentou ao chegar. — O que ocorre?
— Preciso sair. O pai está no altar e o herdeiro dorme...
— O que ocorre, Epifron? Você parece transtornado...
— Quando ouvi a mãe pensei alucinar — falou, mais pálido do que já era. — Inadmissível não perceber a Loucura... fiquei preocupado! — suspirou. — Passou, era a mãe e preciso vê-la.
Fitz riu, o cumprimentou e Chase partiu.
***
No Grande Salão, Althea estava em sua poltrona bebendo vinho. O nono guardião estava no sofá, era um homem alto de pele escura e grandes cabelos crespos. Imediatamente, Chase presumiu ser problema, cumprimentou, sem tirar os olhos do guardião:
— Minha mãe! Nono!
— Olá, meu filho. Observei seu pai ocupado, optei por não atrapalhar. Como está? — sorriu, indo até e ele e beijando-o na testa.
— Hola, hijo del dolor! — sorriu o nono guardião.
— Não iniciamos o conflito, mãe. Garanto que o mais próximo foi uma brincadeira da morte do mestre Algos, mas ele está bem!
— Morte de Aldous!? Isso é brincadeira? — Althea repreendeu.
— Desculpa! Não cri que seria sério assim — reparou-se.
— Não foi por isso que chamei, mas isso não é brincadeira! — repreendeu. — Enfim, preciso de ajuda... Na verdade, Ario precisa.
— Perdão, minha mãe. Como podemos ajudar, Moros?
— Há uma guerra em terras soviéticas, os eslavos novamente combatem Czernobog... terei trabalho e precisarei de ajuda.
— Anaideia pode ajudar, até mesmo atribuir pessoal para reforçá-los, não? — arguiu, franzindo o cenho, ainda desconfiado.
— Não a procurei. Preciso de irmãos capacitados, Epifron! — disse o guardião. — Eslavos em guerra não são fáceis de digerir...
— Ela, com certeza, já sabe... e está aguardando a primeira oportunidade para se meter na sua escadaria, sabe disso, não!?
— Chase! — repreendeu Althea.
— Perdão, minha mãe. — Ele coçou a cabeça, suspirando. — Dada a preocupação demasiada de Anaideia, ela deve estar pronta para ceder o reforço necessário. Como burlará para nos receber?
— Convocarei o conselho, mas preciso de um de vocês. O objetivo é ser reforçado por Algos, Dissebia e Nosos. No máximo, estender a Praxidice. Não quero irmãos sensíveis, prejudicará o desempenho e consequentemente nosso convívio social...
— Precisarei falar com o pai. Quanto tempo eu tenho?
— Teremos nossa reunião, cedo, ainda hoje — disse Ario.
— Já falou com Anaideia!?
— Não, o farei emergencialmente para aumentar as chances...
— Têm sorte que tenho um sigilo para zelar, mas não gosto que façam suas tramoias políticas aqui! — Althea arfou em negativa.
— Perdão, minha mãe! — cumprimentou Chase, pesaroso.
— Depois pode me odiar por isto, Epifron. Então, posso contar com apoio na reunião com Anaideia? O quanto Himeros está bem?
— Himeros... muito bem, na medida do possível, por quê?
— Ela pode ficar com minha herdeira, mantendo-a adormecida? Acabou de chegar e não posso levá-la. Toda a horda sairá, excetuando Megalopsiquia, que ficará para lidar com o trabalho em casa.
— Enviamos Himeros e Hibris. Se quiser tirar o resto e contar apenas conosco, fazemos acontecer. Deixe metade da horda nos degraus e levamos metade. Varremos todos à escadaria, você entrega aos seus e eles trabalham, isto nos possibilita mínima interferência.
— Não... seu reforço é por segurança! — riu. — Não tocarão almas, os outros são para isso. Quero que guardem nossas costas.
— Gostamos desta parte, podemos, mãe? — pediu, rindo.
— Contanto que entre em contato comigo, caso Aldous tenha problemas, sim, podem! Senão nem cogitaria chamá-lo.
— Então partirei para comunicar em casa! — Chase os cumprimentou, apressado. — Com sua licença, minha mãe! Nono!
***
Aldous ficou no altar por algumas horas. Ainda na noite, foi ao banho. Sentindo a Loucura pulsar no aprendiz, foi ao seu quarto.
A intensa aura vermelha ainda cobria seu corpo.
O mestre tocou sua lira para acordar Sigmund, que foi imediatamente tragado de volta à consciência. Sem ar, o menino despertou e as lágrimas voltaram a rolar. A voz seguiu gritando, perturbando a pouca estabilidade a qual ele se agarrava.
— Se me atacar, morrerá! — O mestre disse. — Removerei a voz da sua cabeça dessa vez... na próxima, já não ajudarei.
Ele se aproximou do menino e pousou a mão em seu peito; engoliu seco e respirou fundo, tenso, afinal, conhecia aquela intensidade, mas encorajou-se para tomar a Loucura do menino.
O trincar do artifício na face do mestre soou pelo quarto.
Desesperado, o menino inspirou. Aldous foi à porta com as mãos na cabeça. Trêmulo de olhos fechados, pensava na falta das agulhas.
O menino pegou o saung. Mentalizou Ianos para, muito mal e desajeitadamente, conseguir tocá-lo com desafinadas notas. Não tardando para Ianos chegar. De olhos fechados, carregando o dourado arco de seu violino, Ianos tinha um gentil sorriso no rosto.
— O mestre precisa de ajuda, iluminado! — O menino disse, enraivecido por depender de alguém que pouco apreciava.
— Algos... — Ele chamou, se aproximando. — Quebrando?
Encostando a cabeça na parede, Aldous assentiu.
— Mestre Algos! — Byron bateu à porta, truculentamente.
— Ele ficará bem, Pseudos. Não deve vir! — respondeu Ianos.
Observando que logo Aldous cederia, Ianos o tocou com sua energia primeiro e depois se aproximou para ajudá-lo a levantar.
— Deite, meu irmão. — Ianos o ajudou, doce. — Quatro meses é pouco tempo... precisa de prudência! — aconselhou, virando-o de lado para realizar o procedimento com a agulha na nuca de Aldous.
— Fui prudente... era uma oportunidade única! É só...
— Ela realmente morreu!?
— Apenas ilusão, buda corrompido... Se fosse astuto, perceberia. Ela nem foi tão refinada... Deixou-se levar facilmente, por isso caiu! Precisa ser melhor — disse Aldous com reprovação no tom de voz.
— Quem era o desgraçado falando na minha cabeça!?
— Nossa amiga Loucura... Lembra de vozes na cabeça?
— Argh! Não mereço isso. Ainda piora!?
— O estágio seguinte é o pior... e o último. Ela assume... é reversível, claro... mas, é muito difícil voltar! — Aldous riu, lento.
— Não deveria rir disso! — repreendeu Ianos.
— Mestre Algos! — Chase entrou abruptamente.
— Já estamos sendo tratados... se acalme — pediu Ianos.
Chase circundou a cama, sentando ao chão de frente para ele.
— Como se sente? O que houve!? — O general perguntou.
— Ouvi vozes e o mestre fez parar...
— Consigo lidar até alguém chegar... é o mínimo! Se já falava, era questão de tempo! — disse Aldous, regozijando do fácil respirar.
— Não quebrou... é bom! — reconfortou-se Chase, analisando-o. — Ai, mestre! Que infortúnio. Preciso de ajuda. Temos uma reunião.
— Que reunião, Epifron!? — estranhou Aldous, aumentando o tom de voz e franzindo a cenho. — Ah! Prometi que iria. Que reunião?
— Temos reunião? — perguntou Ianos.
— Moros invocará. O conflito com Czernobog estourou e ele quer ajuda. Não sei bem onde entra a mãe, mas ela chamou e eles pediram. Na reunião, ele pedirá por Dissebia, Nossos, nós... talvez Praxidice.
— Claro... Qual é a situação da guerra? — questionou Aldous.
— Irvin relatou algo por alto, não pedi para pormenorizar, afinal, é cíclico, não difere para nós; mas posso chamá-lo para saber.
— Claro... Epifron... eu chamo. — Aldous suspirou. — Irvin! — invocou, impaciente e incomodado com a ideia de ir a uma reunião.
— Meu pai! — cumprimentou Irvin, ao chegar, confuso. — Es-está bem? — Preocupou-se, aproximando-se. — Epifron! Epidotes!
— Terminei, meu irmão. — Ianos disse, desfazendo a agulha e curando a ferida. — Irei ao seu favor na reunião, se puder lhes acompanhar ou enviar um dos meus; senão, serei contrário a qualquer ida da sétima escadaria ao plano vivo.
— Ai, Epidotes... você dificulta! — Aldous suspirou. — Chegamos neste momento da nossa relação, onde sou chantageado!? — riu.
— Não é tão difícil, Algos... Está saindo de algo perigoso, irá à reunião e se estressará... Depois, lidará com vivos? Ouça-me e aceite meu apoio. Anaideia sempre considera meus votos com carinho...
— Fechado! Pode ir. — Aldous sentou com a ajuda de Chase.
— Namaskara, Algos! — cumprimentou, saindo.
— O que houve? — questionou Irvin, sentando ao lado de Chase.
— Queremos saber sobre a situação atual dos soviéticos. Como está? Tudo sob controle ou não? O conflito acabou de iniciar?
— O romper do selo era iminente. Eventos recentes encurtaram o ciclo... não estava nas projeções. Sua estrutura lhes permitiu reagir. Recebem ajuda no cuidado fronteiriço e todas as nações soviéticas estão envolvidas. Tânatos tem trabalho... alguns dos nossos também.
— Qual é a situação dos vivos? — questionou Aldous.
— Dadas as intervenções, eles não têm contato com o conflito ainda. Contudo, é difícil presumir como será futuramente... é cedo.
— Claro, terei meu banho para irmos à refeição. Preparem-se para a tal reunião... Como ela está, Epifron? — O mestre arguiu.
— Bem, meu pai. Conversava com Moros. Aceitei ajudá-lo pensando nos irmãos sensíveis. Em suma, seremos a guarda. Moros pediu ajuda de Himeros para manter sua herdeira dormindo.
— Claro! — Aldous levantou. — Pseudos, Profasis, Calis e você; Himeros e Hibris ficam com a herdeira. Se preciso, Anesiquia e Ftisis vão a nona escadaria e os outros ficam. Herdeiro, descanse e reflita!
— Não posso acompanhar? — pediu Sigmund.
— Não me incomodo que vá, mas deve se conter!
— A rápida lapidação me permitirá vê-la. Não tenho tempo!
— A pressa não acelerará a chegada do desafio, entende isso?
— Sei que não trará o desafio mais rápido, mas, me entregará a certeza que sou melhor... me possibilitará crer que a verei!
— Bom trabalho com o saung! — elogiou. — Arrume-se!
Chase e Irvin saíram atrás de Aldous e Sigmund ficou só, se banhou e foi ao altar realizar suas preces, pedindo pela vida de Ava.
***
Após o banho, Aldous foi ao altar novamente. Ao fim, foi à cozinha onde Latisha e Laura já cozinharam e mordiscavam algo, conversando — uma besteira qualquer dada a animação de Latisha.
— Mestre Algos — cumprimentaram, ao vê-lo.
— Têm um instante? Vamos... — Aldous as beijou na testa.
Chase, Byron, Fitz e Irvin estavam sentados à beira do salão, rindo e conversando — animados por Chase — quando Aldous chegou com as meninas. Eles o cumprimentaram ao vê-lo.
— Potos! Hormes! Anesiquia! Ftisis! — invocou. — Trabalho!
Sigmund chegou, vestia a cala de treino e abraçava o saung.
— Chegamos ao momento em que o herdeiro participa das reuniões da horda!? — Byron riu. — Bem-vindo, herdeiro!
— Como ele trabalhará conosco, sim. — Aldous assentiu, rindo. — Bom, temos reunião. Sinto informar que iremos.
Todos silenciaram, se entreolhando.
— A pauta é uma ajuda para Moros. Epidotes apoiará e sabemos o resultado. Epifron, Pseudos, Profasis, Calis, herdeiro e eu vamos. Himeros e Hibris, ajudam a nona herdeira. Sem perversão, por favor!
— Cuido para não acontecer, meu pai! — Laura sorriu.
— Se precisarmos, Anesiquia e Ftisis serão chamados. Cogitei Anesiquia e Potos, mas será desconfortável. Não sei quantos são... sinto poucos nossos — disse o mestre. — Os que virão, vêm a reunião. Aproximarei os próximos infelizes, trabalhem com eles durante a reunião para poupar Hormes e Potos em nossa ausência.
— Sim, senhor! — Todos assentiram.
— Buscarei vinho para aguardarmos. — Latisha sorriu, saindo saltitante, feliz por ter a oportunidade de ir à casa de outra pessoa.
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