κδ
Um exótico costume das escadarias fazia boatos correrem pelos degraus, transportados pelos aprendizes. Sigmund estranhou. Alguns pareciam se divertir com a "brincadeira", apesar de, vez ou outra, ser pesado ou ofensivo demais.
Apesar da maldade, todo evento diferente se tornava notícia rapidamente e todos sempre sabiam. Impressionantemente, os aprendizes nunca eram os mesmos, deixando Sigmund mais curioso.
— Divertindo-se vendo os degraus falando? — indagou Chase.
— É confuso! Não consigo concluir ser ou não saudável...
— Às vezes aborrece, mas, geralmente, é saudável. Não temos muito o que fazer, logo alguns inventam! — riu, sentando ao seu lado.
— Eles podiam treinar... ler... se aprimorar de alguma forma!
— Podiam, herdeiro. Podiam! — gargalhou. — Quer caminhar?
— Não sei se devo...
Chase levantou e deu alguns passos à frente.
— Vem... é bom. Ajuda a se acostumar com o movimento.
Sigmund seguiu. Localizar-se era difícil, se não fosse a bandeira hasteada na entrada da sétima escadaria, não diferiria das outras.
Eles desceram até onde os degraus se encontravam numa grande plataforma, próxima ao templo fechado da Guardiã das Leis.
Havia um pequeno jardim com lírios petrificados e assentos.
Os sacerdotes da segunda escadaria passeavam com seus trajes claros, conversavam com algumas das almas e, ocasionalmente, guiavam algumas almas de volta ao seu corpo.
Séries de degraus surgiam e sumiam ao redor do platô, mas a série usada pela dupla era constante, permanecia na mesma posição e apenas se moviam alguns metros acima, bifurcando.
— São os lírios da história!? — indagou o menino, olhando-os.
— Sim, no momento, dormem. Aguardando o próximo portador.
— Andar é difícil! Existem outros degraus que não se movem, como aquele que usamos? — perguntou, apontando na direção.
— Muitos, mas nem todos são visíveis... Se não lembrar deles, mostraremos e, no futuro, Algos lembrará por ti — sorriu-lhe.
Sigmund parou para observar os rapazes e moças guiando as almas de volta a vida. Eram perdidos de possíveis doentes a ascéticos.
— Podemos voltar!? Os monges agitam a Loucura em mim — pediu, observando alguns e sentindo o calor da irritabilidade.
— Fico feliz que consiga pedir.
— Preciso resistir, Epifron! Preciso...
— Faremos algo engraçado e trágico, não conta! — Chase riu.
Chase suspirou e, com o semblante triste, disse a Sigmund:
— Foi terrivelmente difícil. Não creio que a Loucura o levou...
Sigmund estranhou, algumas cínicas lágrimas correram na face do general e Chase se provou um ótimo ator.
— Sabíamos ser forte, mas nunca esperamos que conseguiria lidar com o pai insano. Agradeço em nome da horda, herdeiro!
Sigmund estranhou ainda mais. Rapidamente o boato da morte de Aldous espalhou-se. Em instantes, esse era o único assunto.
Chase voltou com Sigmund, recebendo acalento para seu "luto".
Yurri veio descendo os degraus, preocupado.
— Epifron!? Diga ser mentira — pediu, triste.
— É mentira! — Chase riu. — Os degraus maldosos cismaram. Como pode!? — questionou, cínico.
— Isto é severo! — Yurri suspirou. — Preciso comer... muito!
Yurri cumprimentou Chase, aliviado, e tornou a subir. Chase sentou gargalhando. Não demorou para Byron e Fitz se juntarem.
— Epifron, não está espalhando boatos... — repreendeu Fitz.
— N-não... Ja-jamais! — Chase riu.
— Qual é o boato da vez? — perguntou Byron, interessado.
— O herdeiro conseguiu lidar com a Loucura do mestre... Bravo!
— Não tenho sanidade para trabalhar no banquete da cerimônia fúnebre — disse Byron, com o semblante sério, entristecido.
Ambos trajaram a mesma tristeza, conversando sobre a fictícia morte de Aldous e não tardou para chegarem algumas refeições para a dita cerimônia, carregado por aprendizes em maioria.
— Vocês são terríveis... daqui a pouco Anaideia chega, quero ver como farão para expulsá-la — repreendeu Fitz.
Sigmund riu, pareciam crianças grandes aprontando. Chase dividiu as refeições, pegando petiscos e levando o resto à cozinha.
— Himeros, está dispensada. A escadaria cozinhou para nós! — anunciou, chegando na cozinha com aquele monte de comida.
— Hm... gosto de receber presente! O que fizemos de bom? — perguntou, indo observar os pratos.
— Não comerá isto, deve estar envenenado... se estiver, aposto que é culpa daquela lá! — disse Laura, desconfiada. — Ninguém faz nossa refeição porque nos ama! Tantos anos e ninguém fez antes...
— Vocês não querem saber o porquê do presente, apenas sirvam e descansem... — Chase riu, voltando até os rapazes e Sigmund.
— Eles realmente acreditam que o mestre morreu?
— Sim, não sabemos se é expectativa ou ingenuidade. — Byron riu. — Se daqui a três dias fizermos a mesma coisa, será igual.
— Verdade! — Chase gargalhou. — Já tivemos uma experiência social assim que proveu todas as refeições de uma semana inteira!
— Nossa! Poderiam fingir que não o querem morto...
Os três riram, deixando Sigmund ainda mais confuso.
— O homem, Penia, pareceu preocupado...
— Se listarmos os mais preocupados com o pai, por emoção, sabe!? Porque gostam dele, fora de casa... Temos a mãe, é claro! Epidotes e, apesar de não crermos muito, Macas — refletiu Byron.
— Mesmo distantes, tem Pentos, Lipe, Ania e Acos que sentem a partida de Algos, dada a proximidade... — lembrou Chase.
— Não pertencem a sétima escadaria!? Quem são!?
— Pentos personifica o luto, a tristeza, o pesar e a lamentação é o quarto tenente-general negativo. Ania personifica a dor psicológica é um quarto sacerdote — explicou Chase.
— Acos personifica a dor física das doenças e venenos ou feridas que levam a morte, acompanha o décimo tenente-general negativo. Lipe personifica a dor emocional, a dor do coração, e acompanha um décimo quarto sacerdote. — Fitz terminou a explicação.
— Autoexplicativo...
— Que bom que compreende... — Chase riu.
Eles seguiram sentados, olhando os degraus e conversando frivolidades. A refeição noturna chegou e eles reuniram-se.
— Comida de fora!? O que houve? — questionou Aldous.
— Para seu funeral! — Chase riu, punido pela lira. — Desculpa! Desculpa! Estava mostrando ao herdeiro como funcionam... desculpa!
Aldous parou de tocar, rindo e sentou à mesa. A refeição transcorreu tranquilamente, apesar de, vez ou outra, Aldous tocar a lira para punir as risadas de Chase.
Ao fim, o mestre se levantou, lhes dizendo:
— Irei me recolher, quero descansar... Amanhã cedo treinamos, herdeiro! Epifron, por favor, se comporte.
— Sim, senhor, meu pai. — Chase riu. — Descanse!
Chase retomou a seriedade, todos o cumprimentaram e ele saiu.
Sigmund foi ao quarto, se banhou e praticou com o saung. Ainda praticou com a supressão de energia, mas, quando se cansou, deitou.
***
— Entenda que concordo, mas, suas ações guiarão Anaideia a condená-lo, está pronto? — A doce voz de Maija arguiu.
Sigmund abriu os olhos e viu-se no salão principal do Grande Cemitério, ela o olhava, estendendo-o uma taça de vinho. Pegando a taça, o vinho se revoltou em seu interior.
— Ela não está disposta a perder tantos, mas confio em ti. Sei que não será frívolo com extremos. Cuide-se! Estamos em guerra, mas não aceito que caia antes. Pagaremos juntos, se necessário.
Incapaz de mover o corpo ao seu bel-prazer, o menino simplesmente deixou que o sonho seguisse e sua voz trêmula disse:
— Assumo a punição. É trabalho do filho zelar pela mãe. Não se mova, porei um fim nosso! Não se vence guerras poupando vidas... se não aprendermos essa lição logo, nosso povo morrerá!
Novamente, tomando da taça, ele olhou ao redor; lidando com o salão vazio e uma exótica atmosfera tornava o ar pesado.
"Ela está preocupada. Sejamos rápidos. Voltamos, convocamos Epifron e marchamos... Não seja fraco, ascético!", disse uma grave voz em seus pensamentos, quebrando a taça em sua mão.
— Ele está falando!? — perguntou, vendo-o fechar os olhos.
— É mais um dia, minha mãe... Preciso voltar, amo-te!
Aproximando-se, ele acariciou o rosto de Maija e beijou o canto de sua boca; sendo rápido ao voltar a sétima escaria.
Todos os degraus e construções estavam brancos, contrastando do que Sigmund conhecia. "Luto, por isto o branco...", pensou do conhecimento que o alerta da guerra cobria os degraus com branco.
Uma moça bela, negra de olhos castanhos escuros, prostrou-se, ajeitando os longos cabelos cacheados para não cobrirem sua face.
Segurava uma taça de vinho cheia, que levou às suas costas enquanto cumprimentava. "Epifron Zarina...", o menino recordou com ternura do nome da bela figura que se prostrava.
Apenas após ser escusada, ela levantou, reportando:
— Mestre, não houve intempéries. Agora, evito conflitos com as escadarias. Aquietei os rapazes. As crianças não cessaram o treino. Podemos marchar! — sorriu, dando-o a taça. — Vêm tentando minha sanidade, mas Epifron capacita-me com seu luar. Estou calma!
— Obrigado, Epifron. A Grande Sacerdotisa Viva nos apoia. Lidaremos com as passagens à escadaria. Saímos, cessamos toda vida que não seja meia e voltamos. Seremos o extermínio e Gaia sangrará em nome da morte de nossos inimigos! Como está a sanidade?
— Sempre insana, meu pai! Os irmãos estão bem, os segurei pela coleira, tem sido suficiente. O herdeiro de Pseudos beira um limiar perigoso, mas, nada fiz, afinal quero ver até onde ele vai.
Uma satisfação o permeou, sua visão embaçou, avermelhando.
***
Suado com o ar faltando, Sigmund despertou num pulo. Respirou fundo por alguns instantes e foi ao banho. Pegou o saung e deixou o quarto, indo ao salão principal.
Aldous estava sentado à beira do salão com Latisha, deitada com a cabeça em seu colo e os pés no colo de Laura.
— Mestre! — cumprimentou, com a voz levemente trêmula.
— Ótimo, o herdeiro acordou doido! — ironizou Laura.
Latisha correu aos braços de sua irmã, se afastando de Sigmund.
— Olá, pequeno buda. Como está!? Não parece bem... — Ele riu.
— Uma dificuldade momentânea, eu acho... Estas coisas de lembrar... É mais fácil quando não preciso acordar.
— Quando passamos por isto, dormi e ele lidou!
— Como faz com o monge, agora!? Quase corporativismo...
— Não conseguimos lidar, despertos, logo, é trabalho de vocês...
Sigmund sentou e dedilhou o saung em seu colo, quieto.
Pensou sobre o que poderia ter ocorrido naquele tempo, mas a falta de ar que a tentativa de lembrar invocou o fez parar de tentar.
"Criança, bom dia!", chamou Althea. "Não está bem para a aula?"
"Consigo continuar, não se preocupe, minha mãe! Podemos praticar", respondeu, tentando tranquilizá-la.
Althea iniciou a lição. Apesar dos momentos irritadiços em que ele desafinou, tirando risadas de Aldous, fora uma aula tranquila.
— As diretrizes em guerra variam — disse Aldous ao fim da aula. — Se somos meros aliados, os guardiões lidam com a proteção dos templos e vilas. Às vezes, todos ficam aqui e no Grande Cemitério.
Laura buscou vinho e tornou a sentar abraçada com a irmã.
— O Grande Cemitério é uma fortaleza impenetrável! O Lírio anuncia guerras severas, mudanças nos tempos e a chegada de um invólucro de Macária. No caso de cedermos forças, isto não ocorre.
Aldous bebeu seu vinho, olhando para o menino, e seguiu:
— Quando iniciamos a guerra, muda! Todos marcham. Nesses casos, somos extremos! É um dos poucos momentos de nossa história, onde todos os servos de Macária estão despertos... todos os Sussurros brilham no céu.
— É sábio recorrer a toda a força... uma boa estrategista!
— Sabemos. Apesar da forte coligação com o Submundo, nós lutamos nossas guerras. Um tratado nos impede de intervirmos na guerra do outro, exceto se ela afetar mais de um coligado.
— Justo! Do contrário, enfraquecemos, tendo-os como bengala.
— Se uma guerra nos atinge, muitas medidas são usadas: o alerta com o branco; a abertura do templo de Nous. O Lírio também anuncia esses momentos, de forma que pouco entendo, porém, o faz.
— Vi. Tudo branco. Era belo, porém não me alegrei com a visão!
— Difícil se alegrar. O branco também cobre tudo com a morte de um guardião, permanece por todo o luto da horda. Com a morte do mestre, foram meses brancos.
— Uma recuperação difícil? — O menino perguntou.
— Não só por nosso extenso luto, mas... quando começamos a nos recuperar desse fato, outros guardiões partiram.
— E a grande guerra!? Foi um grande evento.
— Nessas ocasiões, Macária se faz presente, anunciada pelo Lírio. Ao fim do evento anunciado, o Lírio adormece e seu portador assume a décima quarta escadaria. Sempre há um Lírio num Grande Dever, seu trabalho é guardar e cuidar de Macária com sua vida!
— Isto significa que Anaideia teve este dever e sobreviveu?
— Sim... é bem difícil de acreditar, mas, sim! — Aldous riu. — A guerra mexeu com ela, a jovem pétala de Macária é frágil...
— Pétala de Macária!? O que isto significa?
— O Lírio tem seu caule e duas pétalas que, até a ponta, dividem-se em seus. Associamos uma pétala a Macária e outra a Tânatos, dado o contato com ambas as deidades que modificaram o Lírio, lhe dando os aspectos que conhecemos.
— Entendo... aquela fração da lenda...
— Sim. Crianças do Lírio guiadas pela Pétala de Macária são doces, amáveis, comumente sofrem com a ausência da capacidade de ver... há um treinamento e ensinamento específico para elas.
Sigmund bebeu um gole do vinho, atendo-se ao mestre.
— Crianças do Lírio, guiadas pela Pétala de Tânatos, são espirituosas, agressivas, selvagens... difíceis de lidar! Geralmente, sofrem com a dita Loucura do Lírio. Não sei o quanto já entendemos dessa Loucura, mas é bem difícil de lidar.
— As doces não sofrem com a Loucura?
— Podem sofrer, mas não é comum. Uma lenda conta que a perda total da visão é uma espécie de sacrifício para que a Loucura não os aflija. Não sei o quanto é real, mas acredito! — O mestre riu.
— Pensar numa Loucura associada ao nome de Tânatos é, no mínimo, muito assustador. Não consigo imaginar a psiquê de um indivíduo assim! — O menino disse com certo fascínio e paixão no tom de voz. — Adoraria conhecer alguém assim — sorriu largo.
— O Lírio, enquanto Lírio, é amável... a única exceção é nossa atual Anaideia... ela estava fadada ao fracasso desde cedo!
As meninas riram.
— Enfim, devido a esse histórico do Lírio, é comum nos referirmos a alguém doce, fácil de lidar e carinhoso, como uma pétala de Macária ou... do contrário, uma pétala de Tânatos — concluiu.
— Entendo. Foi incorporado pela cultura...
— Exato! Hoje, treinaremos e estudaremos. Se você estiver bem, despertamos o monge, senão fica para depois. Como se sente? Irascível, com dor? Notei a falta de ar e o corpo trêmulo...
— Foi o sonho... ou memória, não tenho certeza; mas estou bem, mestre. Ouvi-lo explicar as coisas acaba me distraindo — sorriu.
— Sei que você funciona assim... por isso, que arrumei alguma explicação para dar! — O mestre riu. — Comumente, somos assim!
As irmãs foram à cozinha para lidar com a refeição enquanto mestre e aprendiz continuaram sentados, olhando os degraus.
Sigmund começou a dedilhar seu saung, tentando tocar a dita canção de Algos e o mestre, pacientemente, dedilhou sua lira bem devagar, acompanhando-o sem falar uma única palavra.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro