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Cedo, batidas na porta despertaram Sigmund. Uma o esperava com sua sitar — uma cítara paquistanesa, muito similar a indiana.
— Bom dia! Hora do banho para o treinamento. — Ela sorriu.
Sigmund banhou-se e a acompanhou à área de treinamento.
— Assumo que não tenha vivência com armas brancas...
— Sim. Segundo o lethwei, as armas estão no corpo. Vi Samina Gyi usando um bastão, foi fascinante... mas gosto das mãos nuas.
— Bom, mãos nuas — disse ao chegar. — Dê-me seu máximo!
Ela assumiu a defensiva e o menino investiu o máximo. Após medir sua força, Uma mudou para medir a velocidade do menino. Observou o quão rápido ele se adaptaria ao ter seus ataques conduzidos e, apesar dos primeiros erros, a adaptação foi rápida.
Após quarenta minutos, o treino findou. O menino estava cansado, observou-se e notou feridas graves.
— Consegue lidar com os ferimentos? — Uma o indagou.
— Não muito.
— É como aplicar vida na ferida para o corpo lembrar como era. — Uma tocou um arranhão para tratá-lo. — Feridas maiores exigem tempo, mais energia e mais concentração. Não costuma doer, senão com as graves, variando de quem cura e do corpo que recebe a cura.
Exercitando, ele sentiu incômodo nas mãos, mas curou.
— Tem futuro! Precisa ter consciência de seus movimentos. Tudo que faz parece mais instintivo que pensado — Uma caminhou até uma árvore e se recostou. — Isto não é ruim, desde que entenda.
— O corpo sabe, mas nem sempre eu sei. Ele se move mais rápido que consigo pensar — reclamou, parando de pé em sua frente.
— Há tempo, então vamos a um exercício divertido — sorriu, pegando uma pedra e quebrando-a. — É simples. — Uma pegou um pedaço da pedra. — Sinta o caminha da pedrinha e desvie — riu.
Investindo energia na pedra, Uma a tornou detectável. Usou um pouco de energia para atirá-la, aumentando sua velocidade. Pouco preparado, Sigmund moveu a perna para o lado, mas o corpo entendia precisar ir para o outro, isso o confundiu e ele falhou.
Passados vinte minutos, ele já estava muito frustrado.
— Acalme-se. Cure-se enquanto voltamos. Observar o sol nascer na entrada do templo é lindo! — Ela sorriu, caminhando devagar.
Da porta do templo, Sigmund virou à floresta para observar o escuro céu noturno ser tomado pelo belo alaranjado do dia.
— Sigmund, é hora da refeição! — Arri o chamou.
— Perdão, Arri Gyi! — cumprimentou, entrando apressado.
À mesa, Samina anunciou:
— Partirei. Devo levar algo à minha sacerdotisa?
— Além do censo, gostaria saber sobre Aakash. — Althea pediu. — Notifique Mehdi sobre o contato da vila com a Loucura de Algos.
Ouvir de Aakash fez a carne de Sigmund tremer. Em meio a frivolidades a refeição findou e o menino seguiu à entrada do templo.
— Estamos prontos? — Asah perguntou, aproximando-se.
— Sim, Asah Gyi. Uma hora e meia de treinamento?
— Claro — afirmou, caminhando.
Chegando, Asah foi até um dos troncos caídos, pegou dois galhos com aparência próxima a hastes de lança e jogou um em sua direção.
— Soube não conhecer armas, logo, é o que faremos! — sorriu.
— Sem problemas.
— Refino depois... Podemos usar como bastão ou lança, para combate corpo a corpo ou arremesso. Razoável para defesa, mas a madeira não favorece. Há uma infinidade de movimentos possíveis, mostro alguns e você acompanha. Vinte minutos e vamos à prática.
Asah o demonstrou, usando como bastão — ou vara, a depender do estilo —, lança, armas exótica, focando em contundência e perfuração. Ao fim, sem aviso, Asah o atacou, talhando seu rosto.
Uma intensa dor o assolou e ele viu Jagravh. Incapaz de lidar, o corpo assumiu a ofensiva e Sigmund se viu perdido, ora consciente, ora inconsciente, refém de si mesmo.
Asah manteve a defensiva, chamando-o, sem parar o treino.
"O que ocorre?", perguntou Althea para ele, parando-o.
— Está bem, criança? — perguntou Asah, preocupada.
— S-sim, Asah Gyi... Perdão... não estou bem...
— Está trêmulo, vem, vamos à mãe! — disse, dando-o a mão.
Sigmund a deu a mão, confuso, com um pouco de falta de ar. Asah voltou com ele e Althea aguardava, sentada no salão principal.
— Estamos bem, pequeno Sigmund? — perguntou Althea, doce.
— Não, Althea Gyi. Não sei o que houve... estávamos treinando...
Sigmund seguiu até Althea, que o estendeu os braços.
— Respira fundo, lembra? — disse, abraçando-o e repetindo o exercício da lenta respiração com o menino.
Gradualmente, ele tranquilizou-se. Com uma carícia, ela curou o corte. Sua energia era tenra, podendo acalmar o ser mais irascível.
— Encerramos por hoje — disse Asah, cumprimentando Althea. — Amanhã retornamos. Você foi bem! — elogiou, deixando o salão.
— Não fui bem se não sei o que aconteceu — reclamou consigo.
— Vamos ao Grande Salão? — sugeriu Althea ao ver melhora. — O que aconteceu? — Althea levantou-se para caminhar.
— Vi Jagravh Gyi... e o corpo foi — explicou, confuso. — De repente! Nem faz sentido. Não consigo ter um minuto de paz!
— Acalme-se... ficar nervoso fará o ar faltar de novo. Juntando as peças, creio que já viveu algo com Jagravh e não se lembra...
— Talvez. Ele odeia Jagravh; acho... que... eu também — refletiu.
— Vinho!? — ofereceu Althea.
— Obrigado, Althea Gyi. Não é perigoso beber? Posso ficar estressado ou violento. Não quero machucá-la, seria muito ingrato.
— Não se preocupe. Tenho muitas formas de lidar, incluindo, mas não se limitando a adormecê-lo. Agora, podemos estudar?
Althea lhes serviu e começou a lecionar. O menino aprendia rápido, não precisando de repetições para memorizar. Devagar, o vinho na taça acalmou. Terminando, Althea voltou ao trabalho. Por segurança e conforto, Sigmund ficou próximo dela, estudando.
Na refeição, os sacerdotes bombardearam o menino com: "Como está?" e "Está melhor?". Tiana lhe serviu um chá e um pires com oito biscoitos, ao fim. Sigmund corou ao receber o mimo.
Ele seguiu ao grande salão, bebeu o chá e comeu um biscoito, bem doce ao seu paladar. Voltou ao estudo, pensando em páli e escrevendo em grego, ele consultou Althea sobre palavras cotidianas.
Chegada a sesta, ele fechou a porta do grande salão e observando Althea ocupada, decidiu deitar no sofá para cochilar. Teve um sono tranquilo com bons sonhos — o que foi atípico.
Despertou pontualmente. Althea escrevia, cantarolando algo.
— Boa tarde, pequeno Sigmund! — Sorriu ao vê-lo sentar.
— Boa tarde. Posso treinar com Dieter Gyi? — pediu, ansioso.
— Claro. Por que não poderia?
— Em Aakash, eu seria proibido dada a instabilidade.
— Raramente ocorrerá. Mesmo instável, só aprenderá vivendo. É arriscado, mas efetivo. Os outros e eu estamos aqui e ajudaremos.
— Sim, senhora — cumprimentou, sentindo-se vitorioso.
— Tome cuidado. Se tiver dificuldades, lembre da respiração e da calma dos meus olhos. — Althea sorriu, olhando-o nos olhos.
— Lembrarei do sorriso também — respondeu, levantando.
Althea surpreendeu-se. "Igual a Aldous", pensou. Sigmund pegou um biscoito e saiu e Dieter já o aguardava no salão.
— Guten tag! — cumprimentou Dieter. — Como está?
— Bem — respondeu, confuso com o cumprimento —, vamos?
— Claro... dormiu bem? — perguntou Dieter, seguindo para fora.
— Sim, tive um bom sonho... é tão raro logo creio poder dizer que foi um bom sono — respondeu, ainda perplexo com o sonho.
— Exótico. Costumo sonhar com comida. Quase não tenho maus sonhos. Vamos, antes que eu procrastine falando... — Dieter riu.
— Que armas usa, Dieter Gyi? Talvez... armas pequenas!?
— Preciso. Tenho adagas de arremesso que uso em combate corpo a corpo em caso de necessidade, mas prefiro a distância.
— Parece mesmo com você... pode arremessar para eu ver?
Ao aproximar-se da floresta morta, Dieter tirou uma adaga com doze centímetros do quíton e a arremessou numa árvore morta. Um fio de energia o manteve ligado a ela.
Sigmund correu até a adaga, animado, viu um terço da lâmina penetrando a árvore. O fio de energia saindo da espiga era sutil. Ao aproximar-se, Dieter puxou a adaga de volta.
— Fascinante! — Sigmund sorriu.
— Parece o pai — riu. — Soube de problemas com a velocidade, não conversa com seu corpo. — Ele guardou a adaga. — A Loucura deve ser a causa, mas não posso ajudar com ela. Lutamos com mãos nuas... aumento a velocidade conforme os erros diminuírem.
Dieter era rápido, difícil de acompanhar, logo Sigmund errou muito. Cuidadoso, ele cuidou de todas as feridas do menino.
Quando os erros diminuíram, a velocidade aumentou. Sigmund acompanhou, usando seu tamanho para evitar os ataques nos primeiros minutos, mas um chute lhe foi determinante.
Confuso entre o corpo tentando se recuperar em meio a queda e o que pensava, nada ele fez, caindo e quebrando um joelho. A dor caminhou por seu corpo, seguida de uma sensação orgástica. Ele apoiou-se, trêmulo e ofegante, com os olhos fechados.
— Sigmund, está bem? Posso pegá-lo? — Dieter correu até ele.
— P-pode — murmurou.
Dieter o pegou no colo e tratou a contusão rapidamente, voltando ao templo. Althea estava sentada no salão principal, bebendo vinho. Dieter pôs Sigmund ao chão na sua frente.
— Encerramos o treinamento por hoje!? — sugeriu.
O menino assentiu, extasiado, cumprimentando Althea e indo ao seu quarto onde buscou o quíton para se trocar e se banhar. Letárgico, voltou ao salão principal.
— Estamos bem, pequeno Sigmund? — perguntou Althea.
— O corpo está devagar, fraco. — Sigmund sentou ao seu lado. — Quebrei o joelho e a dor correu como um raio no céu... mas- — Ele fechou os olhos ao sentir o prazer, com um sorriso no canto da boca.
— Entendo. Se não me engano, treinará com Gwendalyn ainda...
— Sim, senhora.
— Acompanharei, tudo bem? — disse, olhando para Gwendalyn.
Sigmund custou a abrir os olhos com o corpo arrepiado.
— Sim, senhora — repetiu.
Preocupada com o menino, Gwendalyn perguntou:
— É saudável treinarmos, minha mãe?
— Estarei lá para atenuar o risco. Luther, entre em contato com a sétima escadaria para comunicar o estado do pequeno.
— Comunico o pai... ou o general? — Levantou-se Luther.
— Fale com seu irmão, quero que monitorem e me comuniquem.
— Sim, senhora — cumprimentou Luther, retirando-se.
Todos se mantiveram reunidos, mas logo Althea levantou, estendendo a mão a Sigmund, auxiliando-o a levantar.
— Vamos à mesa? — perguntou retoricamente, seguindo.
Sigmund assentiu e, chegando ao salão, Karrick os serviu vinho.
— Minha mãe. — Luther voltou. — Falei com Epifron. Algos está recolhido desde cedo. Apesar da reclusão como medida de prevenção, não teve problemas; o pai se recolheu ao sentir instabilidade.
— Obrigada, meu filho! — Sorriu Althea.
Luther a cumprimentou e saiu. Althea deixou a taça na frente de Sigmund; trêmulo, ele a pegou, mesmo receando quebrá-la, aéreo.
Karrick e Tiana serviram a mesa e todos se reuniram. Vendo a pouca coordenação de Sigmund, Althea o ajudou a comer. Ao fim, seguiu com Gwendalyn, com sua harpa em mãos, e ele para fora.
A lua brilhava permitindo-os enxergar com perfeição. Muitas estrelas dançavam no céu, Sigmund as observou, fascinado. Preocupada, Gwendalyn tomou a palavra enquanto caminhavam:
— Lidaremos com efeitos mentais, é sábio seguirmos?
— Aldous será severo e não o dará chance para descansar, logo a experiência pode prepará-lo para sobreviver... parte meu coração, mas preciso que ele viva! — Althea suspirou.
A temperatura era amena pelo gélido vento noturno. Sigmund, embriagado, recebia o toque morno da Lua com estranheza. Gwendalyn começou a tocar, enquanto se afastava.
A canção era calma, pouco investida com energia, apenas o suficiente para Sigmund recebê-la com passividade. A moça sentou distante e começou a investir mais energia nas notas.
O menino recebeu as notas com a mesma estranheza que recebia a luz. Uma dor na cabeça o derrubou e a sensação prazerosa bombardeou seus sentidos, inebriando-o ainda mais.
"Não deveria permitir-se tanger, monge.", disse a voz gutural.
— O que há? — perguntou, alto.
"Posso sentir minha sanidade vazando! Isto que há!"
— Não entendi... ela está fazendo isto?
"Argh! Por isto odeio monges!"
— Não sou um monge! — Sigmund gritou.
— Senhora!? — chamou Gwendalyn, olhando Althea.
"Ele ainda está bem...", disse Althea, no íntimo de Gwendalyn. "No primeiro sinal do corpo, você deve cessar."
A canção levou tontura a Sigmund, mas ele continuou resistindo. Seu reflexo continuou gritando em seu íntimo enquanto tudo ao seu redor se movia ininterruptamente.
Vendo uma hemorragia nasal no menino, Gwendalyn cessou a canção. Exausto, ele caiu desacordado, amparado pela moça.
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