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Sigmund despertou. Observou que todas as velas estavam acesas e Althea estava sentada à cama, penteando-se, ela o olhou e sorriu.
— Boa tarde, pequeno Sigmund. Dormiu bem? Como sabe, vá ao banho. Separei um quíton. Não usaremos ataduras, mas usaremos os unguentos nas cicatrizes para não se tornarem suscetíveis a avarias.
— Obrigado, senhora! — Sigmund seguiu para o banheiro.
— Se precisar de ajuda com o quíton, me peça.
Durante o banho do menino, Althea foi ao banheiro deixando um pequeno frasco de vidro ao lado da banheira.
— Após secar-se, aplique-o como fiz, tudo bem? — disse, saindo.
Ele o fez, exatamente como viu. Após estudar o quíton por cinco minutos conseguiu vestir. Saindo do banheiro, o quarto estava vazio. Ele foi ao grande salão, onde Althea estava sentada, bebendo água.
— Ótimo! — elogiou Althea —, conseguiu vestir-se bem.
— Obrigado, Althea Gyi! — agradeceu, acanhado com o elogio. — O que devo fazer agora? — perguntou, sentando-se ao seu lado.
— Esperamos e nos juntaremos aos outros. O silêncio findará logo, assim poderá andar pelo templo, sem participar dos ritos.
— Voto de silêncio, por quê?
— A morte confunde a alma, salvo poucas exceções... Impacta os vivos com o luto, uma saudade avassaladora! O luto pode nos levar a desejar a volta do finado e as palavras, carregadas de força, podem tocar o finado, afetando-o. Podendo condená-lo às margens do Estige ou, pior, nem lá ele chegará. Por isso, o silêncio é importante.
— Nós não estamos em silêncio, isso não é errado!?
— A obrigatoriedade do voto é para os entes queridos e os pouco sábios. Àqueles que possuem mínimo entendimento de si, o voto não é obrigatório, contanto que se ausentem das dependências públicas. Por isto, a porta está fechada. — Apontou Althea, sorrindo.
Ela tomou um caderno em branco para ensiná-lo a escrever seu nome, mas o exercício foi interrompido por batidas à porta. Althea deixou Sigmund com o caderno para atender.
— Minha mãe, sua relação — Sigmund ouviu a voz de Hakim.
— Obrigada, meu filho. Como foi a cerimônia?
— Felizmente, como o esperado. Os familiares chegaram e já estão instalados, devem ir à Árias amanhã.
Althea voltou até Sigmund, deixando a porta do salão aberta.
— Consegui! — comemorou Sigmund, satisfeito.
Althea sentou-se para ver e estava perfeito.
— Na ordem: sigma, iota, gama, mu, upsilon, nu e, por fim, delta. — Althea apontou as letras. — Trabalharei, mas lhe darei o alfabeto. — Sorriu, escrevendo-o e apontando alfa. — Começando aqui, são: alfa, beta, gama, delta, épsilon, zeta, eta, theta, iota, kappa, lambda, mu, nu, xi, ômicron, pi, rho, sigma, tau, upsilon, phi, chi, psi e ômega.
Sigmund observou e Althea sentou com suas notas. Foi duas horas, observando e tentando replicar as letras, repetindo os nomes. Mesmo o fluxo de sacerdotes foi incapaz de tirar sua atenção, absorto, com a tarefa. Terminando, Althea levantou, com seus papéis.
— Como foi o exercício? Podemos comer? — perguntou.
***
À mesa, mesmo com o voto findado, muitos estavam em silêncio.
— Nolan, Juwan e Roari têm trabalho — disse Althea, erguendo os papéis —, se puderem partir amanhã, ficarei feliz e lisonjeada.
— Sim, mãe! — assentiu Nolan, escocês de estatura média e longos cabelos negros, levemente azulados. — Amanhã saímos.
— Cuidem-se! Que Macária guarde seus caminhos!
— Amém! — disseram os três, em coro.
***
— Descansarei — disse Sigmund à Althea —, amanhã estudarei.
— Ótimo. — Ela o beijou na testa. — Descanse, criança! Que Macária lhe abençoe com uma ótima noite de sono!
Sigmund foi ao quarto, devagar, contando os corredores num exercício de memorização. Apesar de a excitação por aprender lhe causar inquietude, ele dormiu.
Acordou cedo e, antes do banho, foi ao salão principal. Aldous estava no salão, sentado ao chão tomando uma taça de vinho.
— Bom dia, monge adormecido! — cumprimentou Aldous.
— Não sou um monge. Bom dia!
— Estava o aguardando. Que fortuito encontrá-lo! — Riu Aldous.
— Você quem me deixou aqui. O que houve? Por que não morri?
— Se deixo você morrer, teria tantos problemas... foi mais fácil deixá-lo terminar de secar sua humanidade para removê-lo. — Aldous aproximou-se de Sigmund. — Como está? Parece recuperado.
— Sim. Não tenho feridas internas e Althea está cuidando das cicatrizes — disse Sigmund, descendo o quíton até a cintura.
— Não foi tão ruim — afirmou, ajoelhando-se —, já está pronto para outra! — Ele voltou a se sentar. — Não é educado trabalhar antes da refeição, principalmente no templo. Então, conversamos depois.
— Sim, senhor.
— Deu trabalho? — Aldous arguiu Brianda, a mais próxima.
— Não, senhor — disse Brianda, levantando. — Acordou há um dia e meio. Ontem passou o dia com a mãe, quase não vimos ou ouvimos o rapaz, senão em seus momentos curiosos.
— Não dei trabalho. Althea Gyi ensinou o alfabeto! — retrucou.
Aldous tomou da lira que estava ao seu lado e ficou dedilhando-a. Quando Althea chegou ele levantou e curvou-se, cumprimentando.
— Senhora. Retornei em segurança, sem dificuldades. Estou pronto para voltar ao trabalho — reportou, sorrindo.
— Com a calma do herdeiro, presumi estar bem. — Ela sorriu, afagando a cabeça de Aldous. — Fico feliz! Veio levar Sigmund?
— Pelo que vi, se recuperou, mas irei em casa garantir poder recebê-lo. Estou estável e, para continuar, tranquilizarei as crianças. Nossa paciência tem se esgotado rápido dado os intrusos.
— Sem problemas. Cuidarei dele. Temos até planos para estudar, não é, pequeno Sigmund? — Sorriu Althea, olhando para o menino.
— Sim, contei que a senhora ensinou o alfabeto. — Ele sorriu.
— Que dom é esse que nos doma, próximos a ti!? — Riu Aldous.
— Menos galanteios, Aldous! — Althea riu, rumando ao salão de jantar. — Ficará para a refeição conosco?
— Não seria rude a ponto de partir antes — disse Aldous, retomando a seriedade, seguindo às suas costas.
— Bom dia. Dormiu bem? — perguntou Althea a Sigmund.
— Sim, vim ao salão antes do banho, mas me distraí.
Parte da refeição já estava servida no salão de jantar. Aldous serviu vinho aos três e sentou-se, tomando a palavra:
— Como foram os dias em que estive fora? Teve problemas?
— Não. Sigmund dormiu por três dias e meio, o que facilitou nossos cuidados. Quando acordou, na sesta do quarto dia, já estava fora de perigo. Ele foi doce e gentil a todo momento, não se preocupe!
— Ranna morreu? — perguntou Sigmund, olhando para Aldous.
— Sim, pequeno monge. Levei ela. Como se sente? Ainda sente dores, alguma confusão incapaz de explicar? — analisou Aldous.
— Não me lembro como tudo aconteceu. Só lembro de Ava Gyi, não sei como cheguei lá, nem como vim parar aqui, mas não sinto dor. Nem nas cicatrizes — respondeu, passando a mão nas cicatrizes.
— Ótimo, imagino que já tenha vozes na cabeça — disse Aldous, fitando os olhos do menino. — Parece diferente, isto deve ser bom.
— Não quero conversar sobre isto, Althea Gyi — disse Sigmund, olhando para Althea, esperando uma intervenção.
— Não precisará, pequeno monge. Quando quiser, falo com sua na cabeça pessoalmente. — Aldous sorriu. — Esta é uma conversa que teremos ao fim da refeição. Acordou irascível, estressado?
— Não, só confuso sobre onde estava. Fiquei irritado com Althea Gyi teimando em me banhar, não preciso de ajuda — reclamou.
— Quer um conselho de um velho homem!? Nunca negue o carinho desta mulher! Ela me salvou, talvez te salve, criança monge.
— Por que me chamar monge!? Sou Sigmund. Sigma, iota, gama, mu, upsilon, nu, delta! — soletrou, irritado — Não sou eles!
— Calma... — pediu Althea. — Aldous, na mesa!? — repreendeu.
— Não resisti, perdoe-me! — riu. — Tome o vinho, rapazinho.
Sigmund pegou a taça. Sua irritabilidade irradiou, agitando o vinho em seu interior. Incomodado, o menino devolveu a taça à mesa.
— Tome o vinho! — repetiu Aldous, solene.
— Respire fundo, acalme-se, olhe nos meus olhos e beba. — Sorriu Althea, olhando nos olhos do menino. — Nem sempre estarei lá, mas você sempre poderá se lembrar disto, tudo bem?
— Não entendo — disse, confuso, tomando o gole da taça.
— Entenderá! Sem trabalho... — Ela seguiu fitando seus olhos.
Eles silenciaram e não tardou para o início da refeição.
— Os irmãos mais novos que vieram à cerimônia, comerão no quarto. Scot os acompanhará e monitorará — reportou Dieter.
— Seguirei parte do caminho de volta com eles, mãe — disse Alithia. — Os jovens estão abalados. Quero ajudar, mesmo que pouco.
— Se quiser, vou e os acompanho até Árias — candidatou-se Ignácia. — Falo com Maggi e ele designa sacerdotes para seu cuidado.
— Obrigada. Ajudará mais! — concordou Alithia.
— Era o que eu pediria. Peça para ele enviar uma das moças com eles para onde forem até estarem recuperados — pediu Althea.
— Farei — assentiu Ignácia.
— Partiremos após a refeição — reportou Juwan. — Prevemos quinze dias fora. Levaremos poucos suprimentos e reabasteceremos em vilas e templos no itinerário que traçamos.
— Mostrem-me o itinerário e eu deixo os responsáveis avisados.
— Obrigado, minha mãe — disseram os três, em uníssono.
Findada a refeição e o breve trabalho com os rapazes, Althea seguiu com Aldous e Sigmund ao grande salão.
— Necessita de ajuda com algo? — ofereceu Aldous — Calis sempre está aqui no plano vivo, podemos ajudar...
— Não, Aldous. Somos eficiente e não falharemos...
— Só ofereci, jamais será um incômodo lhe ajudar.
— Sei, por isso não permito. Você pararia sua escadaria para me ajudar e isto é ruim! — Ela repreendeu.
Chegando ao grande salão, Aldous fechou a porta, dizendo:
— Sente-se, criança monge!
Sigmund fechou o semblante, mas sentou.
Aldous voltou a servir vinho.
— Tem dez minutos para suprir suas dúvidas, antes de eu tomar a palavra e pôr mais dúvidas na sua cabeça, entendido? — disse.
— Jagravh, Tarusa e Romir morreram? O povo se matou? Por que estou aqui? Quem é você? O que quer? Por que estou vivo? Que problemas minha morte causaria? Por que me chamar monge? Ketu morreu? Como identifico se sou insano ou não? O que acontece agora? — questionou, ininterruptamente. — Estas são as dúvidas.
— Ainda acha ruim chamá-lo monge! Somente monges são resolutos assim. — Riu, tomando do vinho, suspirando e sentando de frente a ele. — Não sei quem são os donos dos nomes, me esclarece?
— Jagravh foi quem entrou em casa. Tarusa quebrou alguns ossos meus, há um tempo... ele e Romir estavam na floresta quando... quebrou — disse o menino, pondo a mão sobre o estômago.
— Os mais velhos na floresta? — arguiu Aldous, recebendo assentimento. — Fatalmente feridos, o que apanhou na floresta morreu, o covarde correu, mas do jeito que sangrava, não sobreviveria. O monge morreu, vi o servo de Tânatos levá-lo.
— O deus da morte violenta! — pasmou Sigmund, cochichando.
— Que bom que sabe! — Aldous riu. — Suicídio coletivo... não fui chamado, mas, se ocorreu, dificilmente seríamos. Após macular o solo sagrado, não seria uma boa morte. Seria carregada com rancor, arrependimento e desonra. Qual é a próxima?
— Por que estou aqui? Quem é o senhor? — Sigmund observou Aldous, incomodado com a postura altiva e debochada.
— Respondo o porquê de estar aqui depois, já que é obrigatório. Sou Algos Aldous, guardião da sétima escadaria de Macária, guiamos suicidas passivos — apresentou-se Aldous. — Quem é este Ketu?
— O monge mais velho que tinha a palavra final em Aakash.
— O que te prendeu?
— Sim — concordou Sigmund, intrigado —, como sabe?
— Pelo que sei, ele vive. Agora, falo, começando com uma explicação. Como monge, entende sobre a existência da alma, certo!?
Sigmund assentiu e Aldous seguiu:
— Existem formas de explicá-la, seccioná-la. Para facilitar, assumamos uma. Pense na alma como uma vela. Enquanto apagada não está encarnada, mas ainda existe. O corpo de cera é formado de memórias, informações. Nomeemos individualidade, a verdadeira identidade da alma: o rapaz preso. Entendeu ou é rápido demais?
— Entendi, ele é min- nossa individualidade, eu acho.
— Ao encarnar, a vela acende com a chama da vida, alimentada com emanações da individualidade. É apenas uma parte, mas não deixa de sê-la. Nomeemos personalidade. Sua posição. Recebe emanações da individualidade, compartilha traços, mas não são o mesmo, apesar de serem — explicou, bebendo um gole do vinho.
— Se nada tivesse acontecido e eu não existisse, teria que haver alguém como eu para ser a chama!? — questionou Sigmund, confuso.
— Nesse caso, parte da individualidade emerge num processo natural, resultando numa personalidade límpida e mais mutável.
— Entendo... parece simples — disse o menino, pensativo.
— Porque é. Há muitos, a sociedade viva usa das estrelas para contar o tempo, estações e, em alguns casos, leem aspectos da vida. Os corpos celestes têm seu significado e não difere conosco. Temos "astros" que se comunicam diretamente com nossas existências, por vontade de nossa grande senhora e mãe divina, Macária.
O menino assentiu com a cabeça, atento para não se perder.
— Os Sussurros são gritos ocos, abafados, de personificações da natureza que embelezam os céus das escadarias, bailando. Há um espaço da alma onde eles, por Ela, se manifestam... e isso é o pavio da vela., traçará o caminho que o fogo percorrerá enquanto queimar.
— Assim são três partes — disse Sigmund, atento.
— São conscientes. Ao seu corpo físico chamamos Relicário ou Sudário. — Aldous puxou uma fina corrente prateada de seu pescoço. — Algos. Pode alternar entre o Sudário ou um acessório, ou joia. Juntos, eu e ela, somos um e servimos Macária.
O mais velho suspirou devolvendo a corrente ao interior do quíton, omitindo-a perfeitamente, voltando a falar:
— Agora, os esclarecimentos. Você está aqui porque, como eu, é agraciado por um pavio chamado Algos. Como atual Algos, tenho um dever: torná-lo decente para ocupar meu lugar. Se você morre, minha superior ficaria irritada, logo eu ficaria irritado e pronto! Caos nos degraus. Não sei diferir sanidade de insanidade, pulo essa pergunta.
Aldous recostou no estofado, cruzando as pernas e continuou:
— Doravante, tem duas escolhas: primeira, será um bom monge e me aguardará; segunda, será solto de volta na natureza para fazer sabe-se lá o que, até as autoridades humanas o matarem porque matará muita gente e será impossível mantê-lo preso.
— Posso ser bom e viver com outras pessoas sem matar ninguém! — O menino retrucou, franzindo o cenho.
— Como em seus únicos quatro anos de vida! — ironizou, rindo. — Não temos esse dom! Somos precoces, debochados, sarcásticos, irascíveis e impacientes. Não aceitamos imposições, nem lidamos tão bem com pessoas apenas por serem estúpidas. É simples! Sem falar do essencial, agora que já matou, dificilmente não fará de novo.
— Você consegue viver assim. Como eu não conseguiria?
— Só Macária, Althea e eu sabemos quantas vidas custou estar aqui e agora. Ganhei um pouco de experiência, mas foi muito caro. Estou tentando poupá-lo, aproveite que tenho tempo de vida.
— Se eu não me tornar alguém decente para sucedê-lo?
— Só se livra do treino de duas formas: se torna melhor que eu... ou morre. Não há outra opção. À Macária, meu melhor, hoje e sempre!
— Não entendi como sabe que ele está preso.
— Sofremos de uma condição única que, ao atingi-lo, reverbera em mim e vice-versa. Aprofundaremos depois, mas posso mostrar.
Aldous fechou os olhos e abandonou parcialmente a supressão de si, apresentando uma energia caótica e irritadiça, tensionando o corpo. Levou as mãos à cabeça, suspirando.
Inquietude e incômodo atingiram Sigmund. Aldous seguiu com cautela. Sigmund ficou trêmulo e o ar faltou, assustando-o.
Quando retomou a supressão, alívio súbito chegou a Sigmund.
Aldous suspirou tomando o vinho, revoltado de sua taça.
— Os dias antes da prisão foram infernais. Enquanto prendiam piorou, mas passou de repente. Cri que fora morto, mas o senti na vila, na floresta, logo me tranquilizei e decidi aguardar.
— Se sabia haver algo errado comigo, por que não ajudou?
— Existem coisas que posso e não posso. Não devo intervir com vivos, não por ser proibido, mas não tenho sanidade. Eles me irritam, me estressam e gastei meu autocontrole durante a Grande Guerra.
— Tenho realmente escolha?
— Pode optar, mas não pode fugir de Algos. Ela impactará em sua vida, sua forma de lidar com o mundo. Os vivos não entenderão, será mal interpretado e julgado... seguirá protagonizando tragédias.
— Nunca melhorará? — perguntou, impactado pelas palavras.
— Com o tempo, aprenderá o conforto, mas melhora é forte. Eu, hoje, faço o que faço por amor. Temer quem sou me levou à beira do abismo, mas um homem me estendeu sua mão. Desesperado, agarrei a oportunidade em nome de um propósito à minha vida miserável.
Sigmund engoliu seco, aflito com a fala.
— Nunca me arrependi, minha chegada ao treino foi abrupta. Você terá tempo para pensar. Tudo diferirá doravante, como é desde o primeiro murmúrio de Algos em ti. Será difícil treinar, mas estar no meu lugar não é fácil. Guardar a escadaria é meu principal dever.
— Tem mais!? — O menino arguiu.
— Tenho uma horda, minha família, e precisam de mim. Se minha sanidade falhar, não me questionarão por sua lealdade, logo acatarão ordens sempre! Isso nos faz uma grande arma, mas é parte da nossa fraqueza. Sem falar das almas imundas que carregamos, o mais pesado, que se comunica diretamente com minha insanidade.
— Se for, estarei aceitando servir essa Macária?
— Servi-la é inevitável, não por imposição, mas é como somos. Meu trabalho em Seu nome, não é para Ela. Macária não se fortalece com isso. É um dever em prol da vida, de uma engrenagem do mecanismo que rege vida e morte. Quando aprender ser inevitável, o elo já estará estabelecido, como o que tinha com Ranna.
— O elo!? — questionou o menino, curioso.
— Algos nos liga à proteção de Macária, nos destina a guardar a sétima escadaria, cuidar da sétima horda.
Aldous serviu-se com vinho, sorrindo de canto de boca.
— Algos prometeu cuidar de Macária, por isso, somos obcecados pela proteção de alguém, sempre uma mulher. Até aprendermos a lidar, qualquer uma é alvo. É terrível! — Riu. — É caro abdicar da primeira protegida. Suponho que saiba! Reflita... Se precisar de algo, tiver dúvida, busque Althea. Sei que ficará, conte com ela para tudo.
— Ainda posso partir... — O menino retrucou.
— Mas... não foi! — Ele terminou seu vinho e foi à Althea. — Estou indo. Fique bem! Qualquer coisa, avise que surro o monge.
— Claro! — Ela riu, em negativa. — Ajudarei com ele. Se alguma das crianças tiver problemas, traga-os para eu cuidar, tudo bem?
— Sim, senhora! — cumprimentou, desaparecendo lentamente.
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