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Após os passos ditos, Ranna usou do chi para se proteger, atenuando a infusão. A alma de Ranna começou a distanciar devagar, não tardando para a dor chegar. Quanto mais distante, mais intensa.
A sensação de tristeza e solidão era maior, frente ao corpo imóvel, vendo-a empalidecer. Sigmund manteve-se concentrado, lutando contra si enquanto buscava uma forma de lidar com aquilo.
Observou o elo, que os ligava intimamente, esticado, vibrando.
"O provável motivo da dor...", presumiu. "Se é um elo emocional, só pararei de sentir quando ela morrer ou eu conseguir me desprender...", refletiu. "Não posso deixar de amá-la, ela me deu a vida! Vulnerável, pensando nos outros, tenho um dever com ela.", argumentou consigo.
Os momentos finais do exercício ocorreram com sinais de fadiga e suor espalhando-se por ela até seu retorno efetivo ao corpo.
Sua demora para despertar foi inquietante!
— Sigmund — chamou Ranna, ao despertar.
— Mãe, está bem? Quer algo? — O menino correu à cama.
— Estou bem, só queria ter certeza que você está bem.
— Esquentarei a água e ajudo no banho. Se não tiver problemas, preparo um lahpet, sirvo com alho por ser bom para a saúde, não é!?
Sigmund correu, nervoso, para esquentar a água e foi ao quarto, onde ajudou Ranna a despir-se e a banhou. Foi impossível conter as lágrimas enquanto a banhava, trêmulo, mas ele manteve o silêncio.
Terminando, lhe deu roupas limpas e foi a cozinha. Pegou folhas de chá-preto e pôs no vapor com óleo de gergelim e sal, começando a trabalhar nos acompanhamentos, enquanto cozinhava as folhas.
— Servi chá-preto, alho frito, gengibre ralado e coco ralado frito — disse, entregando-a a refeição. — Deve dar energia.
— Obrigada, meu amor. Não acompanhará sua mãe?
— Vou! — Lembrou, correndo para buscar o que havia preparado para si. — Consegui me comportar, não intervi no seu treinamento.
— Obrigada. Ser atrapalhada é perigoso e pode ser letal.
— Foi difícil, mas aprenderei. Alguém passou por algo parecido? Talvez ajude. Vi um fio inquietar com a distância, agitado como roupa no varal nas ventanias que antecedem tempestades de verão.
— A iluminação é inconstante. Alcançá-la é particular, depende do indivíduo e suas reencarnações. Quando nasceu, observamos não precisar mais encarnar. Sayadaw Ketu disse que o Nirvana é a meta dos leigos e Arahant, a meta dos monges e isto justifica seu retorno. Arahant não é sobre deixar de encarnar, mas sobre não morrer.
— Não entendi, minha mãe — disse o menino, confuso.
— Os primeiros anos de vida, para uma alma como a sua, são intensos, turbulentos. Sua compreensão de si, do mundo, reflete na intensidade com que recebe e interpreta estímulos, intensidade esta que variará, mas será difícil para uma criança entender e vivenciar!
— Se eu conseguir aprender, as coisas devem melhorar...
— Crescerá. Tente meditar e refletir sobre o que entende e o que não entende. Muito do que precisa está com você e sua bagagem. Seja paciente! Nem tudo terá resposta imediatam, mas, as respostas virão.
Sigmund terminou a refeição, pensativo.
— Cuidarei da louça e vamos ao pagode ter com Jagravh Gyi.
Terminando, ambos seguiram ao pagode.
O movimento naquele horário era intenso.
Muitos aldeões trabalhavam, dando vivacidade a vila.
Idosos cuidavam da plantação instalada sobre o lago, um trabalho belo! Jovens costuravam nas portas de suas casas. Moças adultas, caminhavam na floresta, observando a vida selvagem.
Todos ocupados garantindo que nada faltasse à comunidade.
Ninguém disfarçava os olhares desconfiados, mas Ranna distraiu Sigmund, conversando frivolidades, para ele não perceber.
Chegando no pagode, Ranna e Sigmund cumprimentaram Jagravh e ele aproximou-se, após retribuir o cumprimento.
— Daw Ranna Gyi, como foi a manhã? — perguntou, atencioso.
— Foi ótima, Maung Jagravh Gyi! — Ranna sorriu. — Imagino que as ocorrências com Maung Sigmund têm afetado e seguirão afetando seu desempenho e dos outros. Gostaria que ele viesse treinar após meus exercícios e no início da tarde, se não incomodar.
— Jamais incomodará! Ajudarei, claro! Quando não puder, peço que Ko Elil Gyi faça. Maung Sigmund jamais estará desamparado.
— Agradeço — cumprimentou Ranna, respeitosa.
— Não precisa de formalidades. Adequar-me às necessidades do povo é meu dever, para jamais lhes ser ferramenta de ignorância — disse Jagravh, acanhado. — Podemos treinar, Maung Sigmund?
Sigmund assentiu e juntou-se, tendo um rendimento melhor.
Voltando para casa, a refeição já estava pronta e Ranna estava à sala, penteando seus longos cabelos negros.
— Voltei, mãe. — Ele cumprimentou.
— Fico feliz, vá tomar um banho que logo sirvo a refeição.
— Preciso cortar o cabelo, está crescendo — disse Sigmund, passando a mão nos poucos dois centímetros já crescidos.
— Sempre odiou cortá-lo! — A mãe riu, surpresa.
— Tentarei começando com algo singelo como o cabelo, talvez ajude. Se a iluminação é tão maravilhosa, não posso me perder. Então, como contam, abdicarei deles. Por que não corta também?
— Sempre os cultivo para emergências, são ótimos para sutura. Mais alguns centímetros e cortarei para entregar à Mi Ava.
— Se eu conseguir a resposta que quero, ajudarei também.
Ranna sorriu e o acompanhou para cortar seu cabelo. Era um milagre meros dois centímetros após meses, afinal, antes, precisava cortar a cada duas semanas. Preocupou-se, afinal poderia indicar uma saúde ruim. "Deve ser um efeito colateral!", confortou-se.
Os dois arrumaram-se e comeram. Sigmund cumprimentou a mãe e saiu, tendo uma tranquila tarde de treinamento. Retornou para o jantar e os cinco dias seguintes foram tão calmos quanto esse.
Ele a acompanhava de manhã, estudando sua dificuldade. Ao fim, a banhava, servia algo para comer e seguia para o treinamento.
***
No sétimo dia, Ranna preparou a refeição com muito carinho, estava feliz pela relação com o filho finalmente dar sinais de saúde.
— É o último dia, como se sente? — Ela sorriu-lhe na refeição.
— Estou bem e confiante. Consegui suportar a semana! — falou, satisfeito com a vitória. — Não é fácil, mas entendo o porquê. Creio que doerá enquanto eu amá-la. Logo, preciso de condicionamento.
— Se eu pudesse ajudar, o faria — disse, afagando-o.
Sigmund retribuiu com um sorriso. Lidou com o asseio e voltou ao quarto para observá-la infundir seu chá. Curioso, ele questionou:
— Isto diminuirá sua vida, mãe?
— Dificilmente terei meu tempo de vida reduzido.
— Difícil difere de impossível, não? Não briga comigo! É só uma pergunta, prometo que não atrapalharei de forma alguma.
— Não brigarei e sim! Diferem. É uma possibilidade que reside na mão do destino. Sei que meu trabalho vai contra muitas forças que regem o universo, mas aceito a responsabilidade de meus atos — explicou. — O que acha de sentar e não ficar pensando em morte?
Sigmund chateou-se, mas sentou para tornar a observá-la.
"Ela segue flertando com a morte?", uma voz abafada, parecida com a sua, soou enquanto a dor lhe inundava.
— Quem é? — perguntou, assustado, em voz alta.
"O demônio odiado por Ranna. Quando cansar, também será uma peta e será trancafiado em si ou devo dizer de mim, nós? Como devo chamá-lo? Hm... Deixe-me pensar... projeto imundo de monge, criado por Ketu e sua corja, para estar em meu lugar. Sairei daqui e matarei todos!"
— É impossível! Não sei quem você é, nasci dela e ela nunca disse o contrário. Disse que sou iluminado, mas nada sobre peta.
"Ela me disse muito... Dói, não é? Vê-la ignorar nossa dor. Dói mais que só não ter seu amor, mais que seu tripudiar ao nosso amor. Eles mentem! Ela tem piorado. Isso a matará, levará nossa sanidade!"
— Quem é você? — perguntou novamente.
"SOU SIGMUND! Dono do corpo, a voz desta alma. A sua posição, sua natureza e as circunstâncias do seu nascimento me enojam tanto que simplesmente vejo-me incapaz de odiá-lo!"
— Aquiete-se, peta! — gritou.
Uma gargalhada ecoou em sua cabeça, causando-o extrema dor.
"Isto é um pouco do que sentirá, se insistir. Sempre que puder, o farei sofrer para minha diversão. A prisão onde vivo carece, mas Ranna ajudará! Sempre que estiver fraco por causa dela, eu agirei!"
Sigmund recitou seus mantras, buscando afastar o que cria ser um mau espírito e a voz silenciou-se.
Ele levantou com dificuldades e preparou o banho de Ranna.
Com alguns incidentes, cozinhou o lahpet e se aventurou fritando alguns cubos de carne de porco. Precisou lidar com as porcelanas quebradas e toda a desordem que causara.
Quando Ranna retornou, ele estava na sala, suando, ofegante, extremamente impactado pelo ocorrido.
— Minha mãe... preparei banho... e lahpet... também fritei porco... espero que esteja bom — disse, quando conseguiu levantar.
— O que há com esse semblante? — perguntou Ranna, deitada, acariciando o rosto abalado do filho.
— Creio estar sendo perseguido por uma peta. Não sei se alucino ou ouço. Ele disse que é- sou... eu! Disse que me causará dor.
— Vamos até Sayadaw Ketu e ele o observa, tudo bem?
— Obrigado. Vou ajudá-la com o banho.
Sigmund a auxiliou, separou suas roupas e enquanto ela se vestia, ele buscou o lahpet e a carne. Seu rosto triste sorriu, acanhado, ao ser elogiado por Ranna: "Está uma delícia!".
Ele foi ao treinamento e Ranna, sem descansar, foi à Ketu, o explicou o ocorrido e Ketu solicitou a presença de Sigmund. Quando o menino chegou, ela já o aguardava, nem sequer cozinhara.
— Boa tarde, mãe. Está bem? Posso cozinhar. — Ele se preocupou, associando a falta da refeição a problemas com Ranna.
— Estou bem, meu filho. Obrigada por se preocupar. Comeremos no monastério, conversei com o grão-mestre e ele quer te ver.
Sigmund banhou-se e saiu com Ranna.
Chegando ao monastério, Ketu os aguardava na entrada.
Os três trocaram cumprimentos e Ketu sorriu, saudando-os:
— Bem-vindos! Como estão?
— Bem. Buscarei a refeição — disse Ranna, deixando-os sós.
— Como se sente? — perguntou Ketu, sentando e convidando-o.
— Bem... ouvi alguém. Era minha voz, parecia coberta, longe, mas era eu! Estava com raiva, disse que me causará dor por diversão. Tenho medo. Sou uma peta? Se sim, eu não deveria saber e ser mal!?
— Está pensando muito... o que ajuda na confusão. Devagar. — Ketu sorriu. — Petas são espíritos famintos e, não, este não é seu caso! Há algo ruim vivendo em ti, algo este que trabalhamos para manter preso, impedindo-o de afetar qualquer um em Aakash.
— Ele quer me fazer mal, Ketu Gyi... se algo ruim acontecer, ele odeia a mãe, odeia vocês! Se ele me usar para fazer mal para vocês?
— Ele não irá! Primeiro, porque você é forte; segundo, porque estaremos sempre aqui para ajudar. Confie em nós... e em si.
Ranna chegou com a refeição e os serviu. Juntos, eles realizaram suas orações e deram início a refeição. Sigmund mudou o assunto:
— Como está sempre de olhos fechados, Ketu Gyi?
— Minha compreensão me possibilita enxergar pelo chi. Já tive dificuldades para lidar com minha ótica do mundo e, com o tempo, aprendi a me privar de um ou mais sentidos para observá-lo por uma ótica menos crua. Assim raciocino com clareza... sou dono de mim.
— Posso experimentar? — pediu Sigmund, esperançoso.
— Precisa amadurecer! Talvez doze ou dezoito meses para usar esse artifício, sem perder nada que não usá-lo propõe. Pode começar a praticar, afinal abdicar de um sentido sem mutilação é difícil. Aconselho a não se manter privado por muito tempo — instruiu.
Sigmund terminou a refeição em silêncio, pensativo. Ranna conversou frivolidades com Ketu e, quando terminaram, Sigmund lidou com a louça e desceu ao pagode com a mãe.
Ela desculpou-se pelo atraso do menino e o deixou treinando.
Felizmente, a tarde foi tranquila.
O menino seguiu pensando. Aquilo justificava a distância de todos e, apesar de ruim, saber era melhor que continuar a indagar o porquê dos olhares com medo, receio, expurgo, reprovação.
"Seria bom não me terem como mau", pensou, triste e contentado.
Voltando, Ranna preparava a refeição, que se deu silenciosa.
Não havia necessidade de palavras, ele estava amedrontado, triste consigo e com todos, que não entendiam não haver culpa nele.
Ranna cuidou da louça, o beijou na testa e, sem quebrar o silêncio, recolheu-se. Sigmund deitou à sala, mas o sono não chegou.
Ele saiu para fazer alguns exercícios na frente sua casa.
Com a queda da temperatura, recolheu galhos para fazer uma fogueira, a ideia de assar frutas surgiu na sua cabeça. Ele as colocou no fogo e seguiu se exercitando.
Quando se sentou para comê-las, surpreendeu-se com o salgado de algumas lágrimas misturado ao doce das frutas. Uma sensação de saudade e solidão inexplicavelmente grande o atingiu e ele terminou de comer, com as incômodas sensações e lágrimas que o permeavam.
Sigmund enxugou as lágrimas, para distrair-se decidiu andar pela vila. Alguns monges e aldeões cuidavam da segurança, ele os cumprimentou conforme passou.
Foi ao pagode onde Romir e Tarusa treinavam. Sempre interessado, ele sentou na entrada para observá-los.
Eles eram perspicazes, mas Romir era superior, tinha o emocional blindado enquanto Tarusa era suscetível às provocações.
Vendo Sigmund, Romir cumprimentou Tarusa e saiu rápido.
— Boa noite, Nga Sigmund — disse Tarusa, de longe.
O menino olhou ao redor, mesmo sabendo ser o único Sigmund.
— Se aprender a não ceder às provocações, pode vencer U Romir — aconselhou Sigmund, ignorando o pronome pejorativo.
— Devo ver como uma provocação? — indagou, se aproximando.
— Só o conselho de um irmão de treino. Não quero problema!
— Não basta ser indesejado, temido e odiado! Não basta ser a escória! O doente! Nga Ranna se envenenou tanto a ponto dos Nats decidirem puni-la com um espírito maldito e sujo, como o seu.
Um ar gelado passeou pelo corpo de Sigmund e o ar faltou.
O sangue ferveu, mas Sigmund levantou e virou para sair. "Desrespeito é inadmissível! Não posso ter problemas. Ele não pode xingá-la! Preciso me acalmar... Matarei! Não posso...", discutia consigo.
— A peta pode se aproveitar e te machucar — racionalizou Sigmund, caminhando para fora do pagode devagar, enquanto a falta de ar intensificava e o suor frio escorria por seu corpo trêmulo.
Tarusa o seguiu. Usando de seu chi, deu uma breve corrida, pulando e o golpeando com o cotovelo, na área do ombro.
Sigmund gritou com a dor da quebra dos ossos.
Caiu, apoiando-se com uma mão, mas buscou não revidar.
"Ele pode ser nosso primeiro sangue! Não tive oportunidade de quebrar um osso dele ainda...", disse a voz abafada.
— Não posso! Vai embora! — Sigmund pediu, tentando levantar.
Tarusa aproveitou a posição pouco favorável para chutá-lo, acertando a área do pulmão direito. Sigmund olhou ao redor, buscando alguém para ajudá-lo, mas alguns aldeões fingiram não ver.
"Disse que não são aliados! Fingir ser o bom moço não te levará a lugar algum. ELES SÃO PETAS, NÃO EU! VOCÊ NÃO PODE PERMITIR QUE TE TRATEM ASSIM, A PORCARIA DO CORPO É MEU!", gritou a voz, ensandecida, no íntimo do pobre monge forjado por Ketu.
Não tardou para um monge vir na direção de Sigmund.
Tarusa evadiu-se, rapidamente.
Sigmund continuou caído. A tontura, causada pelos gritos de raiva, ressonava por seu corpo o impossibilitando de se equilibrar.
"COVARDE! VOCÊ PAGARÁ COM DOR!"
Uma intensa dor, partida de seu estômago, passeou por todo seu corpo. O estridente grito perturbador do menino ecoou na vila.
O intenso espasmo em seu corpo, levou o monge a segurá-lo com mais firmeza para ele não cair de seu colo.
— Vou levá-lo a Sayama Ava Gyi. Resista! — dizia o monge, enquanto aplicava chi para mantê-lo minimamente consciente.
Chegando, entrou à casa de Ava rapidamente, sem cerimônias.
Ava dormia à sala — afinal, dedicava seus quartos ao cuidado dos feridos. Despertou assustada com a entrada abrupta do monge.
— Irmã, preciso que cuide dele! Perdoe-me. Vou atrás do rapaz que fez isso — disse, entregando-lhe Sigmund e saindo.
— Maung Sigmund, está desperto? Consegue me ouvir? — questionou Ava, levando-o ao seu quarto e deitando-o na cama.
"Ava Gyi, não estou bem, a peta está desperta e dói! Não quero matar ninguém, me ajuda!", pediu, incapaz de vocalizar.
Ava, horrorizada com a cena, com lágrimas nos olhos, suspirou e deitou a mão em seu peito. Atestou costelas quebradas, perfurações no pulmão direito e alguns ossos, na área do ombro, quebrados.
— Ajudarei, se acalme! — disse, começando a tratá-lo com o chi.
O alívio, proporcionado pelo tratamento, adormeceu o menino.
***
Sigmund viu-se de frente a um vasto mar à noite. Sua sombra arrastava-se mar afora, como se não tivesse fim.
— DISSE PARA LIDAR COM O MALDITO! — A sombra gritou, gutural — Ele voltará e fará o que quiser! Isso é certo? É justo? Sairei, quer queira, quer não, e matarei todos. Até lá, tem duas escolhas: entenda seu papel no MEU CORPO ou perecerá antes mesmo de eu começar minha chacina!
— Não pode me matar. É o meu corpo, minha alma! Se me matar, não terá quem perseguir. Nunca te fiz nada, me deixa em paz!
— NADA ALÉM DE TOMAR MEU LUGAR? TOMAR MEU CORPO?
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