Apesar do ânimo de Darcy ter mudado drasticamente (e para pior) desde a mensagem que recebera da esposa, o trajeto de volta ao palacete onde o cavalheiro e seu amigo Bingley passavam a maior parte do tempo tratando sobre negócios ia bem.

O próprio Bingley, firme no propósito de reanimar o amigo, encarregou-se de comentar temas amenos, buscando aliviar a tensão que ficara no ar desde a chegada das últimas mensagens.

Retornavam nesta relativa paz até que, de súbito, o cavalo de Darcy empinou.Pareceu assustar-se com algo um pouco mais adiante.

Darcy tentou manter-se firme num primeiro momento, porém o puro-sangue em que estava montado tornara-se ainda mais arredio, levando o cavaleiro ao solo e fazendo-o perder os sentidos.

Bingley, que observava tudo de perto, ainda atônito, desceu de seu alazão o mais habilmente possível, na tentativa de socorrer o outro.

— Darcy, acorde! Diga-me algo — clamava, debruçado sobre o concunhado, enquanto aplicava leves tapas na face do amigo que prosseguia desacordado.

Como Darcy não recobrara a consciência, Bingley olhou o cenário em volta. Fitou o vasto horizonte daquele descampado, de onde não havia sinal de nenhuma pessoa que pudesse ajudá-los. Ficou paralisado por um breve instante.

Desnorteado, sentou-se na grama tentando recuperar a clareza de raciocínio, até que tomou outro susto: uma serpente surgiu próxima a ele. Certamente, fora aquela criatura peçonhenta que provocara aquela situação, assustando o cavalo e consequentemente ocasionando a queda de Darcy que, para seu desespero, ainda não voltara a si.

Bingley, tomado por um sentimento de ódio irracional como nunca antes havia sentido na vida — nem mesmo quando nas ocasiões das visitas inconvenientes e duradouras de Lydia e Wickham à sua casa — pôs-se à procurar por algo robusto, que causasse a morte daquele ser asqueroso.

Encontrou um galho seco de árvore caído no chão, e passou a desferir vários golpes no corpo do réptil. Em alguns instantes, a cobra estava morta. Cansado pelo esforço físico, mas simultaneamente um pouco mais aliviado pela oportunidade de aliviar a tensão do momento — aliada à sensação quase infantil de vingar o amigo pelo mal que aquela criatura horrenda lhe causara — voltou à focar neste, que ainda encontrava-se inerte.

Enfim, tomou uma decisão. Sozinho, curvou o outro sobre seu ombro direito — não sem um considerável esforço, tendo em vista que Darcy era mais alto do que ele — no intuito de colocá-lo sobre o dorso do cavalo. Conseguindo tal feito, montou o seu próprio animal, puxando pelas rédeas o que servia de montaria para o amigo.

Fora nesta lamentável situação que os amigos retornaram à residência na qual habitavam durante aquela temporada.