Revelações da carta
Em poucos minutos, Elizabeth "devorou" a carta que Lydia escrevera à Jane. Agora compreendia a preocupação da irmã:
— O que posso dizer diante disso? — foram as primeiras palavras de Lizzy.
— Percebe agora a gravidade da situação? — foi a resposta de Jane.
A carta relatava, em breves palavras, que Lydia estava grávida. Inconsequente que era, descrevia-se feliz diante da situação. Em outras circunstâncias seria uma excelente notícia, porém o caso era mais complexo do que poderia aparentar num primeiro momento.
— Grávida, com Wickham desempregado... Se antes já mal conseguiam sustentar-se com dignidade sendo apenas os dois, imagine só agora com a família crescendo? — desabafou Jane.
Lizzy levantou-se, pensando em como agir diante da situação.Instantes depois, chegou à uma conclusão:
— Teremos que revelar o fato aos nossos maridos. Até então, vínhamos sustentando o casal Wickham com parte da mesada que recebemos dos nossos esposos, mas já não será tão fácil manter este segredo. Uma criança gera despesas extras que não passarão despercebidas. Sequer podemos dizer que a gravidez é um fato surpreendente, uma vez que eles já estão há mais de um ano casados. O real problema é a falta de juízo dos futuros pais.
— É justamente isso o que mais me angustia. Pobre criança! Com pai e mãe tão inconsequentes e imaturos, quais princípios morais irá receber? — Jane lamentava a sorte do futuro sobrinho, ou sobrinha.
— Indiscutivelmente, é preocupante imaginar como viverá esta criança sob diversos aspectos. Uma junção que já iniciou-se de maneira intempestiva, cujo "cavalheiro" sequer sentia-se responsável pelo mal que provocou à jovem, e consequentemente à família desta, quando consumou o casamento antes deste existir, será que poderá um dia vir a dar certo? A honra dela esta à salvo, mas e o amor de um para o outro? E o respeito? Os alicerces desta relação estão condenados desde o princípio, e colocar uma vida em meio a este enlace é, no mínimo, uma temeridade! Você bem sabe que, caso Fitzwilliam não tivesse interferido, Lydia teria um futuro incerto, pra não dizer algo pior...
Jane consentiu afirmativamente com a cabeça. Era vergonhoso admitir que, caso o Sr. Darcy não houvesse arcado com o dote de Lydia para convencer Wickham à reparar a desonra que causará à jovem fugindo com ela antes do matrimônio, provavelmente ela teria sido abandonada à própria sorte e hoje seria aquilo que chamam de "mulher da vida". Só de imaginar o que poderia ter sucedido à irmã caçula, já era suficiente para provocar calafrios à Sra. Bingley.
Elizabeth prosseguiu em seu raciocínio:
— Some-se a irresponsabilidade do cavalheiro, à inconsequência da jovem aventureira, e teremos uma junção escabrosa! Só posso unir-me à ti em tua aflição. Definitivamente, pobre criança... — Lizzy expirou, sentindo o semblante quente de indignação.
Jane, se não sentia-se calma, ao menos estava agora um pouco mais leve por poder dividir seu fardo com Lizzy. Tanto que pôde até tentar extrair algo de bom em meio ao caos, como era de seu feitio:
— Por outro lado, penso que há a possibilidade desta criança trazer ao casal justamente aquilo que lhes falta. Quem sabe não é disso que necessitam para caírem em si e encararem a vida com maturidade, enfim? Com um pouco mais de sorte, poderão até aprender a se amar, afinal terão um vínculo indissolúvel.
— Ah, minha doce irmã... Adoraria ser tão positiva, entretanto não tenho tanta certeza disso... Mas fico contente por ver-te retornar ao teu estado natural, sempre buscando ver o lado bom das situações e das pessoas. Como meu espírito já não é dos mais otimistas, prefiro me apegar ao que há de mais prático a se fazer neste momento. Tomei a decisão de avisar à Fitzwilliam que retorne de viagem assim que possível for. Enviarei-lhe uma carta hoje mesmo, omitindo os detalhes da questão, obviamente. Aconselho-te à fazer o mesmo no que diz respeito ao Sr. Bingley.
Jane ainda encontrava-se um pouco distraída desde o momento em que ouvira a irmã referir-se ao Sr. Darcy apenas por Fitzwilliam. Eram marido e mulher, entretanto não era comum tal intimidade. Por outro lado, Lizzy nunca fora a mais tradicional das mulheres, sempre um passo à frente das convenções sociais, o que em grande parte justificava aquela demonstração íntima inusitada. Mas essa distração não fora capaz de abstrai-la por completo do diálogo, e respondeu à irmã:
— Sim, é isso mesmo que também farei. Pedirei para que o Sr. Bingley retorne à Derbyshire assim que puder. Por sorte foram à mesma viagem de negócios. Caso uma das cartas se perca no caminho, um saberá que algo importante ocorre por aqui através do outro.
Neste ponto, Lizzy surpreendeu-se pelo mesmo motivo que havia surpreendido a irmã, mas pelo excesso de formalidade com o qual esta referia-se ao marido. Por um instante, cogitou a hipótese da irmã não ser próxima o suficiente do esposo quanto ela própria era do seu marido e lamentou-se por ela. Porém, conhecendo Jane como de fato a conhecia, logo percebeu que a timidez e formalidade da irmã não permitia que ela demonstrasse maior intimidade com o esposo diante de outra pessoa, mesmo que esta outra pessoa fosse ela, Lizzy, sua própria irmã! Jane sempre fora mais seguidora dos costumes do que ela. Restava apenas respeitar as particularidades de suas personalidades.
Após um pouco mais de prosa, despediram-se e cada uma à sua maneira, mais tarde, escreveram e enviaram suas cartas aos seus respectivos maridos. Agora, restava apenas esperar pelo retorno dos seus respectivos esposos.
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