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Procurando abrigo

A noite chegara definitivamente, e com ela também a chuva que até ali só ameaçara.

Georgiana estava agitada, e os passos de Darcy pelo quarto agitaram-na ainda mais. Exasperou-se com a falta de iniciativa do irmão, e reclamou.

— Vais mesmo ficar testando o assoalho deste quarto, andando de um lado para o outro, enquanto Lizzy corre perigo lá fora?

Parou em frente à irmã, que estava sentada na cama, com a cabeça encostada na madeira que sustentava o dossel. Encarou-a e retrucou:

— Queres que eu enfrente este temporal por causa dessa inconsequente que ausentou-se de casa consciente da instabilidade do clima? — diminuindo o tom de voz — Acidentei-me de um cavalo há poucos dias, não quero acidentar-me novamente.

— É por medo que não vais procurar tua própria esposa? Então terás de vencê-lo, caso não queira ficar viúvo.

— Ora, não seja dramática! Gostaria de saber: desde quando tu me tratas de igual para igual?Esqueceste que sou o homem da casa e portanto me deves respeito? — indagou, altivo.

— Não me esqueci, meu irmão, foste tu que esqueceste da importância de Elizabeth em tua vida desde aquele maldito tombo. E tu também mudaste. Tornastes-te um homem apático e sem atitude.

— E tu te tornaste demasiadamente questionadora. Acredito que seja fruto da má influência dessa senhora. — Ele resmungou, referindo-se à Elizabeth.

— A sua senhora — Georgiana fez questão de enfatizar o "sua" — é uma mulher admirável que me influencia sim, mas de maneira positiva, e apenas até o limite que eu permito. Não me subestime, Fitzwilliam, porque eu sempre fui capaz de pensar por mim mesma. Acontece que tu te recordas de mim durante a infância. De lá para cá eu mudei. Todos nós mudamos. — finalizou com firmeza.

O silêncio de Fitzwilliam encorajou-a à prosseguir. Sentia que estava conseguindo persuadir o irmão.

— Pode ser que pelo fato de tu ainda não recordares do que viveste com Lizzy e do amor que sentes por ela — neste momento Darcy lhe virou as costas — não percebas o quanto é importante cuidar dela. Olhe para mim. -— tocando no ombro direito do irmão, conseguiu com que ele a fitasse novamente — Não se deixe iludir por essa momentânea ausência de sentimentos. Tu adoras a mulher que sumiu em meio a essa tempestade. Se tu não a procurares e algo pior acontecer à ela, quando relembrares teu passado, sentirás uma imensa culpa para o resto da vida.

Darcy permanecera pensativo enquanto Georgiana falava. As palavras da irmã faziam sentido. Ele não mais possuia recordações da esposa, porém apenas algum sentimento muito forte o uniria à ela, afinal, não havia uma explicação racional para tal enlace.

Ele sacou seu relógio de bolso, que estava dentro do casaco, examinando as horas. Logo mais o jantar seria servido e Elizabeth ainda não retornara. Como se isso não bastasse, a chuva não apenas não dera uma trégua, como só piorara.

De repente, o dono de Pemberley pegou sua cartola e uma capa. Antes de sair, porém, disse à irmã:

— Peço-lhe que não chores mais. Regressarei com ela, dou-lhe minha palavra de honra.

— Ficarei rezando pelos dois. — levantou-se para sair.

Darcy esperou que ela se retirasse do aposento. Em seguida saiu, fechando a porta atrás de si.

                                                                                            ***
Elizabeth fora pega de surpresa. Estava ficando nublado quando ela saiu, mas não aparentava a força daquele vendaval. Seu excesso de confiança aliado à sua falta de prudência colocou-a numa situação complicada. Distraíra-se enquanto galopava — o que habitualmente acontecia — e afastou-se muito de casa.

Todavia, não poderia permanecer na chuva por muito mais tempo. Temia pela própria saúde e principalmente pelo ser que crescia em seu ventre.

Felizmente, lembrou-se da cabana de caça, que ficava mais próxima de onde ela estava, e serviria como abrigo até que a chuva cedesse um pouco mais. Pensando assim, partiu em busca do casebre.

                                                                                             ***
Apesar do receio inicial ao montar pela primeira vez depois da queda, Fitzwilliam já voltava à readaptar-se. Quase esquecera o quanto gostava de montar.

Agora, seu principal empecilho era enxergar através do grande volume de água que caia do céu. Porém, os motivos que o levavam à enfrentar tamanho temporal eram nobres: resgatar Elizabeth e tranquilizar Georgiana. Havia feito uma promessa à irmã, e a cumpriria.

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