Depois do jantar, Georgiana e Richard recolheram-se cada um no seu quarto de hóspedes; Charles e Jane deitaram sobre o mesmo leito, lado a lado.

Em silêncio, o casal Bingley repassava os acontecimentos do dia na mente, sobretudo ele, que havia participado mais ativamente da rotina da casa, uma vez que Jane passou a maior parte do tempo deitada, abatida com as más notícias relacionadas à Lydia.

Charles havia conversado com Richard no escritório, assim que o rapaz retornou do passeio com Georgiana. O primo lhe informou que a irmã de Darcy estava sabendo de seu futuro casamento com Lorelei, e que prometera lhe esperar, embora ele tivesse tentado convencê-la à reconsiderar sobre esta decisão. Não era o desejo de Richard que sua amada passasse meses, talvez anos, esperando por sua viuvez para enfim serem felizes juntos, mas ela estava convicta de sua decisão.

Bingley considerava a atitude do primo muito digna. Estava aliviado por saber que Georgiana não mais ignorava a realidade dos fatos, e verdadeiramente torcia para que ela e o primo pudessem concretizar seu amor. Mas o que mais preocupava Charles era a situação da sua jovem cunhada. A atual Sra. Wickham passava por um período turbulento em sua vida matrimonial. Ele revirava-se na cama, imaginando qual seria a melhor maneira de ajudá-la. Decidiu que falaria com Darcy no dia seguinte.

Depois de tantas considerações e de constatar que sua esposa adormecera, Bingley finalmente dormiu.

                                                                                             ***
Charles despertou na manhã seguinte junto com o nascer do sol. Sentou-se na cama, deu uma breve espreguiçada e pôs os pés no chão, apressado. Estava ansioso para falar com Darcy.

Sabia que Fitzwilliam havia encontrado Lydia e Wickham na ocasião da fuga, e também providenciara o casamento para limpar a honra da futura cunhada. Charles imaginava que o amigo ainda não havia recuperado a memória, mas que poderia ter em seus arquivos pessoais alguma pista que o levasse até o casal.

Deste modo, Bingley saiu do quarto antes do despertar de Jane, engoliu o desjejum o mais rapidamente possível e partiu rumo à Pemberley.

                                                                                               ***
Quando Jane acordou, pouco depois que Bingley havia saído numa de suas carruagens, sentiu falta do marido. Não entendeu imediatamente o que o levara à sair tão cedo, mas trataria de descobrir em breve.

Depois de ter recebido a costumeira ajuda de sua criada pessoal para pentear seus fios dourados e colocar suas várias camadas de tecido, Jane estava pronta para sair do seu dormitório e descobrir as novidades através da governanta.

Foi pelos lábios da mais importante funcionária da casa que a Sra. Bingley descobriu que seu esposo fora visitar seu cunhado. Ela compreendeu — em parte pela lógica, e em parte por intuição — quais eram as reais intenções do marido.

                                                                                              ***
Elizabeth acordara tarde, mas muito bem disposta. Há muito não se sentia tão feliz.O dia anterior servira como uma renovação de votos do seu casamento. Era evidente que Darcy também estava entusiasmado por haver recuperado a memória, e Pemberley parecia refletir a felicidade do casal.

Nessa manhã em especial, Lizzy não quis ver o penteado que sua criada faria em sua cabeleira negra. Ao invés de ficar posicionada de frente para o grande espelho da penteadeira, preferiu observar a paisagem da janela.

A Sra. Darcy, no entanto, fez um pedido especial: queria que a criada caprichasse mais do que de costume em sua tarefa diária de embelezá-la. Almejava estar mais bonita do que nunca aos olhos de Fitzwilliam. Orgulhosa pela confiança que a patroa depositara em suas mãos, a empregada atendeu ao pedido de Lizzy com empenho e eficiência.

O verde do gramado e o vento que balançava as folhas das inúmeras árvores do bosque de sua propriedade distraíam-na, enquanto seus cabelos recebiam as atenções da criada. Porém, em certo momento, Lizzy viu uma diligência elegante na estrada sinuosa, ao longe. Os cavalos aproximavam-se de Pemberley velozmente, mas àquela distância seria impossível distinguir quantos e quais eram seus ocupantes.

Ela preocupou-se, pensando em Jane, sem saber que o problema era com outra irmã. Assim que a criada terminou o trabalho, foi dispensada. Elizabeth aprovou o próprio reflexo no espelho, e saiu do quarto apressadamente. Além da curiosidade natural diante de uma situação que quebrava a rotina, ela estava nervosa por receber aquela visita inesperada.

                                                                                             ***
Jane e Georgiana não desfrutaram de companhia masculina, naquela manhã. Bingley saira, e Richard não havia descido.Nenhuma das duas sabia o que provocara a ausência do rapaz à mesa.

Ambas conversavam na sala principal, no momento em que o valete — criado encarregado de ajudar o jovem em suas tarefas diárias — avisou que seu amo não estava sentindo-se bem.

— O Sr. Richard está febril e inclusive delira. — deu uma leve pausa, e sussurrou o final da frase —, chamando pelo nome da Srta. Darcy.

Jane olhou intrigada para a donzela. Georgiana, além da preocupação com a saúde de Richard, sentia o rosto esquentar pelo embaraço que a revelação do servo lhe causara.