Planos futuros
Jane e Georgiana continuaram conversando no térreo, enquanto Charles e Richard praticavam a esgrima no andar de cima. Contudo, apenas Jane parecia atenta ao diálogo. Georgiana respondia, quando muito, através de escassos monossílabos.
A esposa de Bingley não demorou à perceber o distanciamento da garota, e julgou que a apatia de Georgiana devia-se tão somente ao recente trauma sofrido por esta durante a refeição. Acreditando nisto, a jovem senhora decidiu antecipar os preparativos para o jantar.
Depois de trocar-se com a valiosa ajuda de uma das criadas da casa e já deitada de costas para o colchão num dos quartos de hóspedes, Georgiana contemplava a pintura no teto, que representava dois querubins rechonchudos sobre nuvens que pareciam algodão.
Apesar de aparentemente calma, Georgiana estava agitada.Desde que vira Richard, não conseguia pensar noutra coisa. Sentia-se envergonhada por ele ter flagrado-a protagonizando uma cena tão vexatória.
"Engasgada e com os olhos esbugalhados pela falta de ar... Oh, meu Deus, definitivamente esta não é a visão mais tentadora para um homem! — encolerizava-se consigo própria, embora soubesse que não tinha culpa do ocorrido.
Depois dessa reflexão, ela decidiu que não o veria mais naquele dia. Quando a governanta apareceu para lhe avisar que o jantar estava pronto, Georgiana alegou excesso de sono como desculpa para rejeitar o convite.
Jane, ao receber a notícia através da empregada, supôs que a garota ainda estivesse traumatizada com o engasgo, o que em parte estava certa. Ignorava apenas o fato de que ela não queria reencontrar-se com Richard.
Para não incomodar Georgiana, a gentil anfitriã resolveu respeitar sua decisão, e orientou a governanta para que esta avisasse aos senhores que a mesa estava posta. Esperaria pela presença deles para iniciar a própria refeição.
***
Charles e Richard desceram, e o jantar foi servido sem grandes imprevistos. Eles e Jane conversaram sobre amenidades irrelevantes. O único momento digno de nota ocorreu quando Richard comentou sobre a ausência de Georgiana. Jane repassou a informação de que ela estava muito sonolenta e preferira não jantar.
Richard seria capaz de apostar que a donzela estava incomodada com a presença dele, e partindo desta suposição, calou-se definitivamente. Após o jantar, os três recolheram-se para seus respetivos quartos.
Minutos depois, o casal Bingley dormia lado a lado, tranquilamente. No quarto ao lado, entretanto; deitado com a cabeça apoiada sobre as mãos; a mente de Richard fervilhava. Queria revelar seu segredo à sua amada o quanto antes, mas ainda não sabia como dizer.
O rapaz desistiu de criar um discurso prévio, e combinou consigo mesmo que revelaria tudo de maneira espontânea, adormecendo logo após tomar esta decisão.
***
O dia amanheceu quente e ensolarado.Darcy; com alguns fios de cabelos presos à testa por causa do suor e antes mesmo que pudesse abrir os olhos; sentiu um peso significativo sobre o peito. Desviou os olhos para baixo, fitando a volumosa cabeleira escura que contrastava com o tecido claro de sua roupa de dormir. Era Elizabeth, que chegara horas antes, sem que ele visse.
Fitzwilliam beijou-lhe o topo da cabeça, contente por revê-la. Imaginara que ela pernoitaria na casa dos Bingley, por isso não a havia esperado para o jantar, deitando-se logo depois. Apesar de ter demorado à dormir; preocupado com o bem-estar de Georgiana; não percebera a chegada de sua esposa, o que o fez concluir acertadamente que Lizzy havia chegado de madrugada.
Por não querer acordá-la, e sem a menor vontade de afastar-se de sua mulher, Darcy resolveu que permaneceria deitado. Ao menos não tinha nada urgente para fazer naquela manhã, e além do mais, nenhum motivo seria forte o suficiente para forçá-lo à separar-se daquela à quem ele mais amava no mundo.
***
Se em Pemberley a paz reinava, na mansão dos Bingley o ritmo era bem mais agitado. Tanto os anfitriões quanto os hóspedes acordaram cheios de planos e já saboreavam o desjejum.
A dona da casa teve a sensação de flagrar olhares de Charles para Richard, e de Richard para Georgiana, que por sua vez não o correspondia. Incapaz de desvendar o mistério por trás daquilo, Jane decidiu que ignoraria tal fato. Caso algo que merecesse sua atenção estivesse acontecendo sob seu teto, supunha que saberia em breve. Pelo menos, era isso o que ela gostaria que acontecesse.
***
Apesar do clima enigmático que se instalara à mesa de jantar, todos comeram bem, e partiram cada qual para os afazeres que se propuseram à realizar ao longo daquela bela manhã.
Georgiana decidira cavalgar. Não era uma amazona tão segura e destemida quanto a cunhada, todavia não decepcionava. Para tal fim, optou por um modelo de vestido menos volumoso e mais ajustado ao corpo, o que lhe permitiria maior liberdade de movimentos.
Richard planejava remar num lago que ficava dentro dos limites da propriedade dos Bingley, na companhia de Georgiana.
Jane decidira coser mantas e sapatinhos para o seu bebê e para os das irmãs. Achava graciosa a ideia de presentear seu filho e seus sobrinhos com alguns trabalhos realizados por suas próprias mãos. Para Lydia, contudo, Jane sabia que além de carinho, seu gesto significava um ato de caridade. A mais nova infelizmente não compartilhava da boa condição financeira da qual ela e Elizabeth podiam desfrutar.
Estava assim, distraída com o enxoval que começara à preparar, quando um papel contendo uma mensagem de Lydia chegou às suas mãos, entregue por uma das serviçais. Jane correu os olhos sobre a caligrafia arredondada da caçula de suas irmãs, surpresa diante da mensagem.
Conversaria com Bingley à respeito de Lydia, tão logo ele retornasse de um encontro com os comerciantes da cidade.
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