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Passeio imprudente

O almoço já estava pronto para ser servido em Pemberley, os criados apenas aguardavam a chegada dos patrões.

Assim que os Darcy chegaram em casa, Elizabeth orientou à Sra. Reynolds — a governanta — que servisse a refeição apenas para Darcy e Georgiana e lhe providenciasse um banho. Suas duas ordens foram prontamente atendidas. Georgiana estranhou a decisão da cunhada.

— E tu não vais almoçar, Lizzy?

— Estou precisando mais de um banho nesse momento. Preciso refrescar-me e relaxar um pouco. — respondeu, partindo para o seu quarto.

                                                                                             ***
Fitzwilliam e Georgiana almoçaram em silêncio. A garota sentia curiosidade de saber o que se passara no escritório de Bingley, porém sabia que não convinha tocar no assunto. A tensão que se instalara na carruagem durante todo o trajeto à Pemberley não era um bom indício.

                                                                                            ***
Alheia ao que se passava na mente da cunhada no andar de baixo, Elizabeth já havia retirado o vestido de seda azul que vestira naquele dia, o corpete, os espartilhos, a crinolina, as camadas de anaguas, as meias e os sapatos; tudo com a valiosa ajuda de sua criada pessoal.

Encontrava-se agora imersa na luxuosa banheira de mármore com bordas de ouro, e imersa também em seus próprios pensamentos. O que dissera à Georgiana fora uma meia verdade. Ela não quis almoçar também por outro motivo: ainda estava magoada com Darcy. Ele não tinha o direito de tratá-la de um modo tão rude. O momento difícil que ele enfrentava nesse momento não justificava tal atitude, e Lizzy estava decidida a não permitir que ele a magoasse novamente.

De repente, Lizzy ordenou à criada que procurasse suas roupas de montaria. Aprendera à montar depois de casada, e descobrira que aquela era uma atividade relaxante.

Minutos depois, a serviçal reapareceu, agora trazendo um vestido mais justo e de algodão, e com botas. Elizabeth vestiu-se, acrescentando as luvas, um xale e um chapéu que ganhara de presente de Georgiana. Logo depois, desceu a escadaria.

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Ao chegar ao térreo, foi avisada pela governanta que Sr. Darcy estava repousando em seu quarto, e Georgiana bordava na sala de estar.Agradeceu a funcionária pelas informações, e foi falar com a garota.

— Georgiana, vem dizer-lhe que irei cavalgar dentro dos limites de Pemberley e, como sempre, não tenho hora para retornar.

— Está ficando nublado.Não seria melhor deixar para amanhã? — observou a donzela.

— Não sou do tipo que deixa para amanhã o que se pode fazer hoje. Não há motivos para preocupação. Apenas necessito de algo que me proporcione prazer ainda neste dia.

— Esta urgência em distrair-se é resultado da conversa que tu e Darcy tiveram mais cedo, acertei?

— Não nego que isto foi um dos fatores que me impulsionaram, porém não necessito de desculpas para fazer o que gosto.

— Bem, já que estás decidida, posso avisar meu irmão que tu sairás esta tarde?

— Se é o que pretendes, não farei objeções. Entretanto, é provável que ele não dê a mínima importância ao fato. — observou, deixando transparecer um misto de tristeza e mágoa.

— Não fique triste, Lizzy. Darcy apenas não recordou ainda do quanto te ama, mas isto não tardará à acontecer. Tudo voltará a ser como antes, tu verás.

— Lhe agradeço pelo carinho, Georgiana. — abraçando a cunhada.

Permaneceram assim até que Elizabeth decidiu que era chegada a hora de ir. Afastou-se, beijou a testa da jovem e saiu de casa.

                                                                                           ***
Elizabeth galopava sem temor. Conhecia algumas senhoras que sentiam-se desconfortáveis pela altura do animal, mas ela amava a sensação de liberdade. Nem mesmo o incidente com Darcy foi suficiente para amedrontá-la.

O vento soprando em seu rosto a relaxava, e faziam-na esquecer de seus problemas, ao menos momentaneamente.

                                                                                          ***
Encostado à janela de seu quarto, Darcy observava a cena. Ela era uma excelente amazona, vai-se obrigado à admitir. Talvez um tanto destemida demais, mas ao mesmo tempo parecia segura. Aliás, ela parecia segura em tudo o que fazia, pelo que ele podia constatar até então.

Fitzwilliam sempre gostara de andar à cavalo, e tinha o mesmo estilo audacioso de Elizabeth. Entretanto, não montara mais desde a queda. Na verdade, sentia os efeitos do trauma, mas sabia que mais cedo ou mais tarde, teria que vencer o medo.

Ainda não nutria uma simpatia pela esposa, mas pôde perceber, naquele instante, que eles tinham pelo menos um gosto em comum.

                                                                                            ***
Georgiana estava tensa. Havia mais de meia hora que Lizzy saira para passear, e ainda não voltara. Pior do que o tempo que se passara desde então, era a mudança brusca no clima. Estava nublado quando ela saiu, mas a ameaça de um temporal era evidente agora. O céu tornara-se cor de chumbo, o vento estava cada vez mais forte e alguns pingos grossos precipitavam-se no solo.

Em dado momento, ela decidiu que chegara a hora de alertar o irmão sobre o perigo.

— Fitzwilliam, sou eu, Georgiana. Permita-me a entrada. — pediu, batendo de leve à porta de Darcy.

— Tem minha permissão. — ele respondeu, enquanto colocava o livro que estava lendo sobre o criado-mudo.

— Meu irmão, estou aflita. — disse Georgiana, assim que entrou no dormitório. — Lizzy ainda não retornou do passeio que te disse que ela faria, e um temporal se aproxima. Temo que algo de ruim possa suceder com ela.

— Elizabeth disse à que horas regressaria?

— Não, mas o que me preocupa é o clima, que está cada vez pior.

Darcy manteve-se calado por algum tempo, como se estivesse avaliando a situação. Voltou à falar.

— Creio que será melhor esperá-la. Se eu sair e ela regressar, nos desencontraremos. Tente acalmar-se. Nada de grave ocorrerá.

Georgiana nada mais argumentou. Talvez o irmão tivesse razão, ou estivesse de má vontade. Se fosse o último caso, ela nada poderia fazer, a não ser torcer para que Elizabeth retornasse em breve.

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