O choque de Georgiana
Elizabeth acordara indisposta, cerca de meia hora depois que Bingley e Jane ausentaram-se de seu quarto. Sua cabeça dolorida e a boca seca aumentavam seu desconforto.
A governanta de Pemberley, bateu levemente à porta. Lizzy não queria receber ninguém, mas sabia que não deveria permanecer no quarto por muito mais tempo. Assim pensando, permitiu a entrada da serviçal.
— Sra. Darcy, o jantar será servido agora. A Sra. prefere jantar aqui mesmo ou na sala de jantar?
Lizzy indireitou a postura, e respondeu que em breve desceria para fazer companhia à Jane e Bingley.
Minutos depois, a anfitriã já estava à mesa. O casal convidado acompanhou-a, e todos jantaram em silêncio. No dia seguinte, Jane e o esposo voltaram para casa.
***
Dois dias depois, Georgiana retornou da breve visita que fizera à Catherine de Bourgh. Estava feliz. Havia recebido vários elogios da tia sobre seu talento ao piano, passeado e feito compras.
Tinha sido ótimo mudar de ares, mas também era muito bom retornar. Amava Pemberley e as pessoas que lá viviam. Darcy e Lizzy eram como pais para ela. Tivera muito pouca convivência com seu verdadeiro pai; que falecera enquanto ela ainda era uma criança; com sua mãe o contato sequer existiu, já que ela havia falecido no seu parto...
Darcy, além da diferença de idade considerável de dez anos, sempre fora muito responsável. A protegia e mimava como se ela de fato fosse sua filha, e não sua irmã.
Elizabeth, além de esposa de Darcy, era muito divertida e carinhosa consigo, e Georgiana percebera que ela era uma pessoa espontânea e franca demais para dissimular sentimentos. Se a tratava bem, era porque realmente gostava dela, e não apenas para fazer boa figura diante de si e de seu irmão. Percebera também, no decorrer da viagem, que não haviam motivos para não estar contente. Até o mau passo que quase dera ao aceitar a aproximação de Wickham já era uma lembrança quase inteiramente desbotada com o passar do tempo.
A dama de companhia estava ao seu lado na elegante carruagem, enquanto Georgiana observava a paisagem que se tornava cada vez mais deslumbrante, à medida que se aproximavam de Pemberley. A jovem, que havia completado dezessete anos dois meses atrás, sentia-se mais leve a cada dia.
Finalmente, chegaram ao seu destino. Vários empregados da casa, já de sobreaviso sobre a chegada da Srta Darcy, estavam de prontidão para recepcioná-la, e assim foi feito. Mal a menina havia posto os pés para fora, várias pessoas apareceram para retirar as bagagens, além de ajudá-la a descer da carruagem. Todos eles sabiam que o Sr. Darcy tinha verdadeira adoração pela irmã, e que isto significava cuidado redobrado quando era preciso servi-la.
Porém, nem todos os paparicos dos irmão fizeram de Georgiana uma menina arrogante como era, por exemplo, a irmã de Charlie Bingley, a senhorita Caroline Bingley. A irmã do Sr. Darcy era uma doce criatura, e não existia um ser vivente em Pemberley que não concordasse com isso.
Elizabeth fora informada da chegada de Georgiana. Sabia que não seria fácil explicar sobre Darcy, mas não poderia deixar-se abater. Pensando assim, foi encontrar a cunhada o quanto antes.
As duas abraçaram-se, verdadeiramente felizes pelo reencontro. Enquanto as arrumadeiras levavam as malas da menina até seus aposentos, as duas damas sentaram-se num espaçoso sofá. Georgiana fez um breve relato sobre alguns passeios e as compras que fizera para si, para a cunhada e para o irmão. O presente de Lizzy ela fez questão de entregar logo.
Era um chapéu muito fino e elegante, para proteger a delicada tez de Lizzy em suas frequentes caminhadas nas redondezas. A cunhada abraçou-a em agradecimento. Georgiana disse, enfim:
— E o meu irmão, retornou de viagem? — perguntou, ansiosa, enquanto seus olhos; já brilhantes pela expectativa da resposta, moviam-se de um lado para o outro; buscando qualquer indício da presença dele.
Lizzy sentiu um frio na barriga, mas conteve-se. Apenas pediu para que a garota a acompanhasse até seu quarto. Georgiana ficara apreensiva diante do silêncio da cunhada, mas obedeceu. Lá chegando, Elizabeth fez menção para que a jovem sentasse numa das poltronas, e ela novamente agiu como a esposa do irmão lhe pedira, sem questionar. A Sra. Darcy sentou à sua frente e foi sincera com a garota, como sempre fora, por sinal.
— Georgiana, as notícias que tenho, infelizmente, não são muito animadoras... — tomando suas mãos e olhando em seus olhos.
A menina sobressaltou-se. Queria saber de imediato o que se passava com o irmão. Lizzy, de pronto, narrou-lhe todo o ocorrido.
Georgiana, não mais podendo suportar tamanha dor, inclinou-se no colo daquela a quem — mesmo em pouco tempo de convívio — amava como se fosse sua mãe, mesmo que Lizzy fosse jovem para tal. Entre abundantes lágrimas, balbuciou:
— Por que tinha que acontecer tamanha tragédia com o meu irmão? Ele sempre foi tão justo e bom, não merece passar por isso.
— Nunca sabemos o porquê das coisas. A vida é um mistério, e o que nos resta é enfrentar as inconstâncias do destino com coragem. Eu estarei ao lado de vocês, sempre. Venceremos esse obstáculo juntos, eu prometo. — afirmou Lizzy, aplicando um beijo na cabeça da jovem, que continuava debruçada em seu colo.
Pouco a pouco, a donzela acalmou-se. Queria saber quando ele regressaria. Lizzy disse que seu esposo retornaria em breve, e que só não voltara ainda justamente porque ela mesma havia considerado mais prudente esclarecer os fatos à cunhada. Georgiana agradeceu pela consideração e, mais serena, sentenciou:
— Agora ele já pode retornar.
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