Mistérios do amor
Elizabeth estava satisfeita.Havia dito à irmã de seu cunhado tudo o que ela merecia ouvir, mas que ninguém tivera a coragem de fazê-lo.
Caroline sempre gostara de provocar, mas nos últimos tempos estava ainda mais insuportável. Tornara-se amargurada e tentava a todo o custo envolver terceiros no mesmo fel em que ela, sem dar-se conta, afogava-se dia após dia.
Saindo da sala de senhoras e passando entre várias damas e cavalheiros tão mascarados e impecavelmente elegantes quanto ela mesma, Elizabeth distanciou-se definitivamente da Srta. Bingley.
Fitzwilliam encontrava-se um pouco afastado do centro da sala. As intenções dele eram as de não prejudicar os que optaram por dançar, e manter-se o mais discreto possível. Sua timidez, muitas vezes confundida com arrogância, faziam-no preferir o distanciamento de pessoas que não estivessem inclusas em seu seleto círculo de amigos.
De repente, contudo, ele sentiu que duas mãos quentes e com agradável perfume adocicado encobriam sua face.Uma mulher lhe disse:
— Adivinhas quem sou eu? — perguntou a voz feminina, num tom que denunciava o sorriso.
— Deixe-me pensar... — brincou Darcy, retribuindo o sorriso — Suponho que seja a mais bela e adorável dama presente aqui dentro. E quando digo aqui dentro não estou me referindo ao salão de festas, e sim ao meu coração. Acertei? — declarou-se ele, apaixonado.
Elizabeth, mais emotiva por razão da gravidez, sentiu que seus olhos enchiam-se de lágrimas, mas disfarçou sorrindo ainda mais. Retirou as mãos de cima da máscara dele. Quando Darcy girou o próprio corpo para poder vê-la, Lizzy pôs os braços em volta do pescoço dele e comentou:
— Se sou a mais bela ou não deste salão, não cabe a mim avaliar. Tenho cá minhas dúvidas quanto à isso, especialmente quando me deparo com a esposa do aniversariante... Entretanto, não me resta a menor dúvida de que sou a mais bem casada e sortuda de todas. — levantando a própria máscara, ela colou sua boca à dele, com paixão.
Seus lábios ficaram unidos por um espaço de tempo que nenhum dos dois saberia definir, tamanha a entrega presente naquele beijo. Fitzwilliam retornou à realidade antes da esposa. Afastou-se lentamente, dizendo:
— Várias pessoas estão nos olhando com o semblante fechado. — observando em volta — Creio que escandalizamos a nata da sociedade inglesa, quiçá européia. — analisou, constrangido.
— Pois eu já penso diferente. Creio que escandalizamos apenas àqueles e àquelas cujo o matrimônio não é nada mais, nada menos do que por mera conveniência. Os verdadeiramente felizes estão distraídos demais com a própria alegria para incomodarem-se conosco. — fixando o olhar naqueles que os fitavam em reprovação, forçando-os à desviar o foco.
— És admirável. Eu, mesmo tendo nascido nesse meio, não tenho garra suficiente para enfrentá-los como tu o fazes. — ele sussurrou, envergonhado consigo mesmo.
— Foste capaz de enfrentá-los quando casastes comigo, surpreendendo a todos. — relembrou Elizabeth.
— Sim, é fato, todavia não lembro-me destes momentos. — afirmou Fitzwilliam, cabisbaixo.
— Um dia, por certo, lembrarás. — erguendo o detalhado queixo dele — O que importa é que fostes e és capaz disto e de muito mais. — aplicando-lhe um leve selinho.
Ele sorriu, satisfeito consigo mesmo por ter tido a coragem de casar-se por amor, numa sociedade que prezava apenas pelas convenções sociais. Mais do nunca compreendia a si mesmo, seus sentimentos e a decisão que tomara: decidira ser feliz, ao invés de satisfazer as expectativas alheias. Ele distraia-se vendo os convidados dançarem, quando percebeu a ausência da irmã.
— Georgiana estava aqui pouco antes de tu retornares da sala das damas. Cantou maravilhosamente bem, enchendo-me de orgulho. Depois que a parabenizei e que tu voltastes, não mais a vi. Sabes onde ela está? — perguntou Darcy à sua amada.
— Não faço a menor ideia. Mas não fiques tão apreensivo. Que grande mal poderia acontecer à ela durante uma festa tão familiar? Tens que aprender à relaxar. — sugeriu Lizzy ao marido.
— A grande questão é que como irmão mais velho e tutor, sou duas vezes responsável por ela.
— Sei disso, mas acho que deverias confiar mais na tua irmã. Georgiana é quase uma adulta, em breve estará casada. Deves deixá-la livre de vez em quando — aconselhou.
— Confio nela, só não confio nos outros. — Darcy afirmou.
Elizabeth sorriu, acrescentando logo depois:
— Essa desculpa é a mais clássica de todas. Queres uma sugestão? Vamos passear pelo jardim. Assim, nos distraimos e nos refrescamos com o sereno da noite. O que achas? — Lizzy aconselhou.
— Pode ser uma boa ideia. Preciso mesmo distrair minha mente. — confessou Fitzwilliam.
Ele ofereceu o braço à Elizabeth, e esta aceitou prontamente. Partiram, assim, rumo à porta principal, que levava ao jardim.
***
Georgiana, tão logo recebeu os cumprimentos do irmão e de alguns amigos por sua irrepreensível apresentação, partiu ao encontro do sedutor misterioso.
Os jovens circulavam entre as flores bem cuidadas, ao mesmo tempo em que desviavam de alguns poucos casais que também aventuravam-se pela escuridão.
— Fiquei muito contente quando a vi procurando-me pelo jardim, minha borboleta noturna. — admitiu o rapaz com olhos cor de café, referindo-se à máscara que cobria o rosto dela.
— Primeiramente, não sou sua de forma alguma. E aqui fora continuas sendo tão pedante quanto fostes lá dentro. Acaso eu não poderia ter vindo simplesmente para tomar um ar? — orgulhosa, não queria transparecer o óbvio.
— Sim, poderias. — ele concordou — Entretanto, sabemos que não foi este o caso. — sorrindo, charmoso.
— Tudo bem, reconheço que tu me intrigas. O que queres? De onde vens? E, principalmente, quem és?— impacientou-se.
— Para quê quebrar o encanto? É tudo tão mais divertido quando não conseguimos prever os fatos. Podemos nos conhecer em outras festas, nesta eu gostaria apenas de estar perto de ti.
— Começas a me assustar com essas respostas sem nexo. Diga-me algo de concreto, ou retornarei à festa agora mesmo. — ameaçou a Srta. Darcy.
— Está bem, não vá ainda. Perdi meu adorado pai seis meses atrás. Para mim, é como se tivesse acontecido ontem. Recebi o convite para esta festa como uma oportunidade de me distrair, talvez até brincar com alguma donzela indefesa...
Georgiana recuou instintivamente, temerosa. A imagem de Wickham foi inevitável. Ele, percebendo o temor dela, foi rápido em sua explicação:
— No entanto, eu jamais faria alguma coisa que manchasse a honra de uma jovem. Meus planos eram apenas de trocar carinhos, quem sabe até uns beijos... Queria aliviar a dor da minha perda de algum modo, e aproveitar um pouco mais da minha mocidade. Como filho único, todas as responsabilidades caíram sobre mim. Contudo, deparei-me contigo: não deve haver anjo mais lindo e casto do que tu. Pensei numa diversão quase infantil, e acabei subjugado aos teus pés. — colocando um dos joelhos no chão, beijou suavemente os dedos de pianista da moça.
— Quanto mais me explicas, menos sentido faz... — falou ela, confusa.
— Por que tudo tem que fazer sentido? Eu apenas quis me distrair de um modo inusitado, porém inocente. Mas, no meio desse jogo, apaixonei-me, e agora estou aterrorizado. Nunca senti isto por nenhuma outra antes. — revelou, levantando-se.
— Desculpe-me, mas fica difícil acreditar neste sentimento que dizes ter surgido, se sequer me revelas teu nome. Diga-me agora ou esqueça que eu existo. — decretou a garota, decidida.
Neste exato momento, Lizzy e Darcy surgiram à porta. Georgiana, que volta e meia olhava na direção dela com medo de que o irmão lhe flagrasse com um estranho, reconheceu-o instantaneamente.
Temendo uma discussão, abaixou-se perto do chafariz, puxando o seu complicado pretendente consigo.
— Meu nome é... — o rapaz sussurrou, mas deteve-se quando ouviu outra voz.
— Georgiana, onde estás? — Darcy perguntou, apreensivo.
— Vou até meu irmão. — foi a vez dela sussurrar, fazendo menção de levantar.
Antes que Georgiana partisse definitivamente, o jovem a deteve, puxando-a pela mão.
— Meu nome é Richard. — ele revelou, olhando-a nos olhos, com receio de que esta fosse a última vez.
A irmã de Darcy, enfim, saiu em busca dele. Ela estava feliz, porque ao menos agora teria um nome para guardar na mente e no coração.
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