Linha tênue
Georgiana queria conversar com mais privacidade, então sugeriu à Jane que as duas entrassem no seu quarto de hóspedes, sendo prontamente atendida pela Sra. Bingley.
Sozinha com a anfitriã, a jovem sentiu-se à vontade para revelar o que acontecera entre ela e Richard. Jane preocupou-se por eles terem se relacionado em sua casa, mas amenizou a questão. Ela sabia que o ocorrido não tinha solução, portanto de nada adiantaria recriminar a jovem.
Ao sair do dormitório, Georgiana deixou Jane pensativa: "Quando Charles retornar de Pemberley, farei com que ele tenha uma conversa séria com Richard..."
***
Bingley voltava animado para casa. A conversa com o Sr. Holmes havia sido interessante e a experiência do investigador deixou-o confiante. Acreditava que finalmente reencontraria Lydia, e estava ansioso para dar essa grande notícia para Jane.
Chegando em casa, Charles encontrou a mulher no quarto. Ela estava bordando uma manta, mas largou a costura para se concentrar nas notícias que o marido trazia.
Bingley colocou-a à par dos últimos acontecimentos, e Jane sentiu a sua fé renovada. Esperava rever a irmã caçula o mais rápido possível.
Depois de ouvir tudo o que Charles tinha para lhe dizer, ela mudou de assunto e tratou sobre o caso de Georgiana e Richard. Ao descobrir o que ocorrera, Bingley irritou-se:
— Eu não acredito que Richard foi irresponsável desta maneira! Ele está noivo de outra, como foi capaz disso? O que eu direi a Fitzwilliam quando ele souber que a irmã dele foi desonrada sob o meu teto? — reclamou, temendo pelo futuro de sua amizade com Darcy.
— Não acredito que ele descobrirá o que aconteceu. Nenhum de nós falará, não é mesmo? — ela sondou o marido, tensa.
— Pela minha boca, ele nunca saberá. — sentou-se, um pouco mais calmo. — Pode parecer covardia da minha parte, mas teria vergonha de revelar a minha incapacidade de cuidar de Georgiana. — ele admitiu.
— Não fique assim. — massageando os ombros do marido, para aliviar a tensão — Não adiantará nada lamentar sobre aquilo que não tem mais volta. Se queres um conselho, sugiro que fales com seu primo. Ele sim, terá que dar uma boa explicação para o que aconteceu.
— É exatamente o que eu farei. Terei uma conversa de homem para homem com Richard. — disse, saindo do quarto, decidido.
***
— Não tens juízo?! Sei o que aconteceu hoje entre Georgiana e tu. — Bingley disse, assim que entrou no dormitório do primo. — Quantas vezes lhe disse que não quero problemas com os Darcy? Tenho relações de familiares, de amizade e de negócios com eles, e tu te envolves justamente com a irmã de Fitzwilliam! E agora, o que faremos? — indagou, furioso.
Richard nunca vira Charles tão irritado, no entanto não recuou:
— Reconheço que fui imprudente, irresponsável até. Mas foi mais forte do que eu. Não pude conter minha paixão. Perdoe-me, primo, mas eu amo Georgiana, mais até do que a mim mesmo.
Charles sentiu pena de Richard, mas ainda não podia baixar a guarda:
— Mas é justamente por amá-la que não poderias ter feito isso com ela! Não foi correto o que fizestes com Georgiana...
— Entre o certo e o errado há uma linha tênue, sobretudo quando se trata de amor. Não a forcei à nada. Por razões que todos conhecem, não me casarei com quem amo, mas apenas por enquanto. Algum dia, eu e Georgiana seremos marido e mulher e estará tudo acertado.
— E até lá torceremos para que o fruto desse amor não nasça antes da hora... — Charles finalmente tocou no cerne da questão.
— Não me torturarei por causa de hipóteses. — aproximando-se do primo, com passos firmes — Sabemos que essa possibilidade é remota. Viverei o hoje, até porque amanhã eu partirei para casar-me com Lorelei, e Georgiana voltará para Pemberley. — e consultando o relógio de bolso, concluiu — Sairei agora mesmo para passear com ela. Combinamos de montar a cavalo, e quero galopar antes do anoitecer.
O rapaz saiu, enquanto Bingley o chamava de volta, em vão.
***
A manhã seguinte, apesar do céu azul, foi triste. As malas de Georgiana e de Richard estavam prontas. Eles despediram-se formalmente, mas a verdadeira despedida ocorrera no dia anterior, e ambos jamais esqueceriam.
Ambos despediram-se também do casal anfitrião. Após todos os preparativos, partiram da casa dos Bingley, cada um na sua diligência.
***
Fitzwilliam e Elizabeth aguardavam felizes por aquele dia. Ele pedira que preparassem um almoço especial, com tudo o que Georgiana mais gostava. Dias antes providenciara uma nova jóia, confeccionada especialmente para a irmã.
Lizzy mandara trazer novos tecidos da cidade, para que a cunhada pudesse escolher. Os que mais a agradassem, nas mãos habilidosas da modista, logo tornariam-se novos vestidos de passeio e de festa.
Enfim, o casal não poupou esforços para agradar aquela que ainda era a caçula dos Darcy. Aguardavam a chegada dela olhando a paisagem, do alto da varanda do quarto. Foi assim que, contentes, viram uma carruagem aproximando-se ao longe.
***
Com muitos abraços e sorrisos. Assim Georgiana foi recebida em seu retorno. Nem parecia que Fitzwilliam estivera irritado com a irmã antes de sua partida, pois era o mais alegre de todos. Ele aprendera a ser mais caloroso com a convivência de Lizzy, e Georgiana percebia isso agora mais do que nunca.
— Charles lhe disse a novidade? — Darcy perguntou, observando a expressão de curiosidade que se formara no rosto da irmã.
— Qual novidade? — Georgiana quis saber, olhando ora para ele, ora para Lizzy.
— Sabia que meu amigo não me decepcionaria. Minha doce irmã, recuperei a memória! Ficas feliz por mim? — ele questionou, empolgado.
— Oh, evidente que sim! — abraçando o irmão, ela fechou os olhos, emocionada — Esta é a melhor notícia que eu poderia receber hoje!
Elizabeth também emocionou-se. Estava mais sensível do que de costume, por causa da gravidez. Uniu-se ao abraço, que de duplo, passou à ser quádruplo, já contando com o bebê.
***
O almoço transcorreu com tranquilidade. Desta vez, Darcy foi o mais falante à mesa, o que era incomum. Os motivos eram que — além de Fitzwilliam estar mais animado do que o habitual —, Lizzy sentia-se cada vez mais cansada com o peso da barriga; e Georgiana estava feliz pelo irmão, e triste por Richard, o que não passara despercebido por Elizabeth.
Tanto que, após a refeição, a esposa de Darcy quis saber mais da cunhada. Aproveitando-se da desculpa que gostaria de mostrar os tecidos que encomendara, Lizzy trancou-se no quarto com Georgiana. Sentadas na cama, começaram à conversar:
— E então, tens alguma novidade sobre Richard? Soube através de Charles que o primo dele havia adoecido. Já recuperou-se? — indagou Elizabeth, curiosa.
— Ele está bem, inclusive partiu da casa dos Bingley hoje, assim como eu.
— É por isso que estás triste, por medo de não vê-lo novamente?
— Sim e não... — parou um pouco, constrangida sob o olhar atento da cunhada — Estou triste e também preocupada.
— Preocupada com o quê? — Lizzy aproximou-se mais da garota.
— Estou com medo de uma gravidez. — falou de uma vez, antes que a coragem lhe fugisse. — Perdi a minha virgindade ontem, com Richard.
Foi quando Elizabeth percebeu que a conversa renderia mais do que ela imaginara.
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