O dia seguinte amanheceu agradável, com um clima ameno e o céu aberto. Nada que fizesse jus aos problemas que Jane e Charles Bingley enfrentariam no decorrer do mesmo.

Ainda era muito cedo, e ambos permaneciam adormecidos até que o cantar estridente de um passarinho próximo à janela despertou o jovem. Após espreguiçar-se, passou à contemplar a bela mulher, ainda inconsciente, ao seu lado. Amava-a com toda a sua alma, e tinha plena convicção de que o sentimento que Fitzwilliam nutria por Elizabeth era equivalente. Nenhum outro motivo senão o amor justificaria que o amigo tivesse enfrentado os preconceitos sociais e até mesmo pessoais, casando-se com uma mulher de classe social inferior à sua. Era lamentável, portanto, que neste momento ele tivesse esquecido inclusive de tão forte sentimento.

Charles não queria nem pensar na hipótese de um dia passar por algo similar. A remota possibilidade de um dia não lembrar-se mais quem era Jane doía-lha inclusive fisicamente, e torcia para que Elizabeth fosse compreensiva com seu amigo assim como certamente sua esposa seria consigo, caso passasse por algum mal semelhante ao do concunhado.

Enquanto tais pensamentos passavam por sua mente, Jane calmamente foi despertando, e o leve movimento do seu corpo na cama trouxe-o de volta à realidade. Assim que ela abriu os olhos, ficou surpresa ao perceber que o marido já estava desperto. Ele apenas esboçou-lhe um leve sorriso, e curvando-se, beijou-lhe na testa.

Jane sentia-se muito bem nesse momento, e sua felicidade só não era maior porque sabia que o reencontro de sua irmã com seu próprio marido não seria dos mais prazerosos. Recordando este fato, perguntou ao esposo:

— Sr. Bingley, pensas realmente em ir hoje até Pemberley? —, sentando-se na cama, com as costas apoiadas na cabeceira.

— Sim, é esta a minha intenção. Por que me indagas? Não te sentes disposta?

— Não é esta a questão — replicou-lhe —, apenas queria ter certeza.Já que iremos até lá, o melhor é que nos aprontemos o quanto antes. Quero chegar lá ainda durante o dia.

Assim sendo, levantaram-se, arrumaram-se e tomaram o desjejum. Pouco depois, já partiam de Derbyshire com destino à Pemberley.

                                                                                          ***

Minutos antes do chá das cinco, Jane e Charles chegavam à Pemberley. Elizabeth — que empunhando uma delicada sombrinha — caminhava tranquilamente pelo jardim (onde passara a tarde lendo um de seus romances favoritos), percebeu uma movimentação diferente por ali, até confirmar que se tratava da chegada de algum visitante. Apressou o passo com a intenção de chegar à varanda antes da visita, e atingiu seu objetivo. Imaginara que pudesse ser seu amado Darcy, que decidira fazer-lhe uma surpresa, retornando sem aviso prévio. Foi com preocupação, entretanto, que vislumbrou a chegada do cunhado, e além dele, apenas sua irmã."Por que Bingley havia retornado de viagem e Fitzwilliam não?"; indagava em pensamento, apreensiva.

Tensa, desistiu de esperar no alpendre e caminhou rumo às visitas. Depois dos cumprimentos de praxe — afetuosamente com a irmã e respeitosamente com o cunhado —, convidou-os para dentro da mansão, no que foi imediatamente atendida.

Encarregou à governanta que providenciasse um lanche, e esta obedeceu-a de pronto. Tomadas as devidas providências, convidou a irmã à sentar-se. Assim que ela o fez, Elizabeth também sentou-se. Já que as damas já estavam devidamente acomodadas em um luxuoso e confortável sofá, Bingley pôde acomodar-se numa poltrona. Elizabeth, como boa e comunicativa anfitriã que era, dirigiu-lhes a palavra:

— Que bons ventos os trazem? Fico contente e surpresa com a visita de vocês. O que houve com Darcy que não chegou ainda, Sr. Bingley?

Jane e Bingley entreolharam-se, o que inquietou ainda mais Lizzy, que sempre fora irrequieta por natureza.

— E então, o que me dizem? —, insistiu, deixando transparecer sua crescente preocupação.

Jane, compadecida com a irmã, tomou-lhe as mãos e lhe disse, sem mais delongas:

— Minha querida irmã, Sr. Darcy sofreu um sério acidente. — revelou, com ar de lamento.

Elizabeth empalideceu imediatamente. Soltando as mãos da irmã, levantou-se de súbito, na tentativa vã de retomar o ar. Foi uma infeliz resolução.

Instantes depois — e para o desespero de Jane — Lizzy desmaiou no meio da sala de estar.