Fascinante possibilidade
Enquanto Darcy admitia para si mesmo — encostado à janela da biblioteca de Pemberley — pela primeira vez desde que perdera a memória, que sua esposa encantava-o; Elizabeth tentava acalmar o coração e colocar os próprios pensamentos no lugar.
Seus sentimentos turvavam-lhe a mente. Parte dela acreditava que Fitzwilliam havia voltado à vê-la de um modo mais receptivo, e por outro lado imaginava que os fatos permaneciam inalterados.
Lizzy costumava ser otimista e se julgar uma boa avaliadora, porém desde que se deixara iludir por Whickham; homem que antes de casar-se com sua irmã chegara a flertar com ela; não possuía a auto-confiança que já tivera um dia. Além deste fator que ainda afetava-a, havia a questão atual de Darcy. Era improvável que ele passasse por um lapso de memória, mas era justamente isto o que estava acontecendo, e como qualquer pessoa que vivenciasse uma experiência semelhante, ela não sabia como lidar com esta situação nem tampouco avaliar o cenário com clareza.
"Se o meu amor por Will não fosse tão intenso — pensava ela — provavelmente eu conseguiria ter uma percepção mais nítida sobre o que ele deve estar sentindo em relação à mim neste momento. Sinto-me como se estivesse tentando ler um livro próximo demais de meus olhos. Está tão perto, que não consigo enxergar."
Aproximou-se do chafariz do jardim, enquanto continuava meditando: "Se ao menos eu tivesse uma pessoa imparcial e sensata por perto, para me dar uma opinião. Georgiana é muito jovem, ingênua e torce fervorosamente para que eu e seu irmão nos entendamos, portanto não é uma opção neste caso... Necessito da presença de alguém que tenha uma visão ampla e madura sobre esta situação."
Uma carruagem aproximou-se da entrada de Pemberley. Lizzy demorou à perceber a movimentação, mergulhada que estava em suas próprias avaliações.
O criado, cuja função no momento era entregar um recado do casal Bingley para o casal Darcy, partiu rumo à entrada da mansão. Porém, Elizabeth interceptou-o a tempo:
— Trazes alguma mensagem dos Bingley? — ela indagou, ansiosa.
— Bem... Sim, senhora. Já iria entregar à Sra. Reynolds, que lhe repassaria... — foi interrompido pela impaciência de Elizabeth:
— Sim, estou ciente desta formalidade, embora considere-a desnecessária. A Sra. Reynolds entregará esta mensagem à mim de qualquer modo, então sejamos práticos. — mostrando-lhe a palma da mão.
O lacaio depositou o pequeno e caprichado envelope na delicada mão que a jovem senhora lhe estendera.
Ansiosa por alguma novidade da parte de Jane, Lizzy rompeu o lacre rapidamente. No bilhete, estava escrito:
"Querida irmã,
Sabes bem que não nos temos visto há algum tempo, e minha saudade de ti cresce à cada instante. Pretendo visitar-te ainda hoje, para colocarmos nossos assuntos em dia. Do mesmo modo, o Sr. Bingley pretende rever o Sr. Darcy. Responda-me se estás de acordo com nossa visita através do nosso criado.
Afetuosamente,
Jane Bingley."
Elizabeth avisou ao lacaio — que aguardava tranquilamente pela resposta — que ela e seu esposo aguardariam felizes pela chegada dos Bingley. Ele assentiu, fez uma reverência elegante e retornou à confortável diligência de onde viera. O cocheiro deu a partida.
Lizzy entrou em casa logo em seguida. "Deus ouviu minhas preces!", pensava contente. "Finalmente terei o prazer de falar com uma pessoa que poderá ajudar-me!"
Procurou pela Sra. Reynolds, que apareceu rapidamente, atendendo ao seu chamado. Lizzy quis saber sobre Darcy. Descobriu que ele estava na biblioteca, e partiu para lá.
Elizabeth bateu à porta. Darcy permitiu sua passagem, e ela aproximou-se, avisando:
— Bingley e Jane nos visitarão ainda esta tarde. O criado trouxe este recado, e eu autorizei que viessem. — repassando o refinado papel para as mãos do marido.
Darcy leu o recado. A visita chegaria em boa hora também para ele. Assim como Elizabeth, ele sentia-se solitário e confuso. Necessitava de algum cavalheiro com idade próxima à sua para expor as aflições e dúvidas que sofria, e era de suma importância que este homem fosse capaz de compreendê-lo, respeitá-lo e guardar segredo. Melhor ainda se fosse casado... Acreditava que Bingley preenchia todos estes requisitos. Contudo, respondeu:
— Por que antes de autorizar a visita, não me consultas-te? — indagou seriamente, por trás da escrivaninha. Sondava-a no intuito de extrair um pouco mais de sua intrigante personalidade.
— Não julguei necessário. Nunca fizeste objeção às visitas deles, não acreditei que o faria agora. — ela respondeu, calma e prontamente.
"Ela não sente-se acuada diante de mim. Interessante...", Darcy refletiu.
Elizabeth percebeu que o olhar dele para ela nesse instante assemelhava-se aos olhares enigmáticos que ele lhe lançara antes que lhe confessasse seu amor. Pensou:
"Será possível que ele está se apaixonando novamente por mim, e antes de recuperar a memória?", fascinada com a possibilidade que surgira em sua mente.
Assim pensando, vislumbrou a hipótese de que ele poderia estar passando por conflitos semelhantes aos seus. Arriscou um palpite:
— Imaginei que tu irias querer a presença de um amigo com quem pudestes confidenciar tuas impressões sobre os atuais acontecimentos... — ela disse, com ar de quem não quer nada.
"Como ela sabe?!", ele pensou, abismado ante à perspicácia de Elizabeth.
"Touché!" - ela pensou, por sua vez - "Revelou-se sem querer. Ele também está tenso, provavelmente por perceber que sente algo mais por mim..." - satisfeita com a expressão de surpresa que ele fizera.
Darcy disfarçou tardiamente a própria surpresa, e acabou admitindo:
— Sim, será agradável receber a visita do Sr. e da Sra. Bingley. — decretou, levantando-se. — Irei ao meu aposento, aprontar-me para recebê-los.
— Também irei ao meu. — Lizzy respondeu.
Fitzwilliam abriu a porta da biblioteca, cedendo passagem a ela e saindo em seguida. Depois, cada um seguiu em direção às suas alcovas, ambos com a mesma certeza de que as próximas visitas seriam providenciais.
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