Destino perverso
Como Bingley continuara boquiaberto diante da decisão inesperada da cunhada, restou à Jane - que era mais habituada às peculiaridades da irmã —, questionar-lhe o porquê de tal decisão, ao que Lizzy esclareceu:
— Compreendam que Fitzwilliam necessitará de tranquilidade para recuperar-se. Creio que saber que engravidou uma mulher que ele sequer lembra da existência seria deveras chocante, não concordam? — disfarçando bem o embargo na voz.
Orgulhosa, Lizzy não queria transparecer o quanto imaginar Darcy sem recordar de si a fazia sofrer.
Jane e Charles Bingley tiveram que admitir. Como era comum avisar ao marido o quanto antes sobre a gravidez da esposa, não deram-se conta; de imediato; dos efeitos desastrosos que uma notícia como aquela poderia provocar na já conturbada mente de Darcy.
— Calar parece-me mesmo o mais sensato a se fazer. — concordou Bingley.
— Além do mais, a vontade da mãe é soberana, sobretudo quando o pai encontra-se momentaneamente incapaz de tomar decisões.
— Exato. Como felizmente Georgiana está ausente, uma vez que está de visita na casa da tia, a Sra. Catherine, este segredo fica entre nós. — decretou a Sra Darcy.
— Mas nem Georgiana saberá o que se passa? Ela é tia desse bebê tanto quanto eu, e mora com vocês.
— Sim, Jane, porém ela é uma jovem inexperiente e possuidora de uma sensibilidade extrema. Não sei até que ponto saber que ganhará um sobrinho a alegrará, ao deparar-se com a situação do irmão. Deste último fato sim, infelizmente, não poderemos poupá-la.
— Como Georgiana ama demasiadamente o irmão, poderá supor que está fazendo-lhe um bem ao contar-lhe sobre a futura paternidade, quando o mais provável é que o prejudique ainda mais. — analisou Bingley.
— Bom, acho que vocês tem razão — concordou Jane, emendando uma pergunta logo em seguida —, E quando ocorrerá o retorno da senhorita Darcy?
— Depois de amanhã, se tudo transcorrer como o planejado. Estamos todos de acordo quanto ao nosso segredo? — Lizzy fitou o casal com seus olhos expressivos.
— Certamente — responderam Jane e Charles, em uníssono.
— Ótimo! —, respondeu Lizzy, para pedir em seguida ao cunhado — Agora devemos torcer para que Darcy recupere a memória antes que meu ventre cresça...
Todos ficaram momentaneamente tensos. Lizzy retomou a palavra:
— Sr Bingley, se não for pedir muito, peço-lhe que providencie a vinda do seu amigo. Custiarei as despesas de seu retorno à Pemberley.
— Dinheiro não é problema, sabes bem disto. E como Darcy é meu melhor amigo, faço qualquer favor de coração — afirmou Bingley, emocionado.
— Sei que és sincero no que dizes, e agradeço em nome de meu marido por tamanha demonstração de carinho, mas não considero justo aproveitar-me das circunstâncias para explorar sua amizade. E tu sabes bem que dinheiro não é problema também no meu caso. Inclusive lhe reembolsarei pelos gastos que tiveste com o Dr. Walker.
— De modo algum. - protestou Bingley — Posso não usar mais nenhuma de minhas libras em prol de Darcy, mas o que fiz está feito e não me arrependo. Sentirei-me ofendido, inclusive, se minha cunhada insistir nisso.
— Não era, em absoluto, meu intuito ofendê-lo com minha proposta, porém se é desse modo que te sentes, desconsidere-a e aceite as minhas sinceras desculpas.
— Também não há necessidade de desculpar-se. Apenas compreenda que só não faço mais porque certas coisas não estão ao meu alcance... — lamentou o jovem Sr., e logo sentiu sua mão direita sendo acariciada por Jane, em sinal de apoio.
Lizzy o compreendia. Jane e Bingley cogitaram a hipótese de voltar para casa, porém Elizabeth insistiu para que permanecessem ali até o dia seguinte. A noite logo chegaria e ela não gostaria que ambos arriscassem-se sem motivos, oferecendo-lhes o jantar e um dos inúmeros quartos de hóspedes, para depois da refeição. O casal agradeceu, e reiterou que estariam à disposição dela para o que fosse necessário. Novamente a anfitriã agradeceu-lhes a amizade e a generosidade. Sairam do aposento, enfim.
Elizabeth, percebendo-se sozinha, pôde avaliar com maior clareza o quanto sua vida mudara da água para o vinho em poucas horas. Tudo transcorria na mais perfeita ordem até bem poucas horas, e agora um mundo de nebulosas possibilidades surgia à sua frente.
Pela primeira vez na vida, sentia-se frágil e impotente diante do que estava por vir. Chorou até finalmente dormir, exausta.
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