Bingley ficara perplexo: o que aquilo significava, afinal?! Recusava-se à crer que seu amigo de anos o havia esquecido. Por quase toda aquela tarde ele havia passado por preocupações, e agora mais essa péssima novidade! Sentia-se dentro de um infindável pesadelo.

Dr. Faber, que presenciava a cena a poucos metros, interveio:

— Sr. Bingley, o melhor que poderás fazer por ora é deixar-me a sós com o paciente. Este momento é o mais propício para exames específicos.

Charles não relutou. Poucas coisas na vida poderiam ser piores do que presenciar o amigo naquela situação.

Estava por demais exausto devido ao turbilhão de acontecimentos e consequentes sentimentos que experimentara no decorrer daquele interminável dia.

Saiu do quarto cabisbaixo, sem dizer palavra.

Alguns minutos trancorreram até que o Dr. Faber aparecesse no extenso e luxuoso corredor. O médico antecipou-se em fornecer explicações à Bingley — que estava próximo à porta do quarto de Darcy — antes que este o crivasse de perguntas: 

— Sr. Bingley, suponho que o sr. já deu-se conta do que sucedeu ao seu amigo. Embora não haja nenhuma fratura ou lesão de grande relevância externa, o Sr. Darcy, infelizmente, perdeu a memória; uma sequela que provavelmente ocorreu por razão do impacto na cabeça ao cair do cavalo. Mediquei-o com um calmante e ele está dormindo agora. Creio que descansar depois do forte trauma sofrido lhe fará bem.

Como Bingley não esboçara nenhuma reação, o Dr. prosseguiu em sua análise:

— Quando tais fatalidades ocorrem, não há outro remédio senão aguardar o progresso natural do indivíduo lesionado. É lamentável ter que admitir isto, mas o fato é que a medicina não evoluiu ao ponto de possibilitar aos profissionais da área precisar o período exato em que um paciente nestas circunstâncias permanecerá assim, e sequer será possível receitar algum remédio que acelere o processo de restabelecimento do enfermo, pois para casos como este, não existe. O que nos resta é unicamente torcer para que o seu amigo seja tão forte e saudável quanto parece, pois o mesmo encontra-se à mercê apenas da sua própria capacidade de recuperação.

Bingley não mais pôde conter-se e, em doloroso pranto, abraçou-se ao médico como se fora um náufrago encontrando a sua tábua de salvação.

Dr. Faber, embaraçado inicialmente, não afastou-o de si. Apesar da frieza adquirida em anos na profissão que escolhera por vocação, compreendia o lamento dos parentes ou mesmo amigos diante da dor das más notícias, e sentia-se intimamente mal por, em situações como aquela, não poder amenizar-lhes o sofrimento. O que restava fazer era dar tempo ao tempo.