Capítulo XXXI
Fiquei no chão por não saber o que fazer e, pouco depois de sermos atingidos por outro objeto, senti duas mãos apertarem meus ombros na intenção de me levantar.
Olhei para cima e vi que se tratava de Finley.
— Pegue a Eva e vá para a cabine do capitão! - falou ofegante enquanto os marujos corriam pelo convés de forma desesperada - AYLA, PRESTE ATENÇÃO! - voltei a encará-lo - Pegue a Eva e se esconda na cabine do capitão. Só saia de lá quando alguém da tripulação for buscá-las, entendeu? - assenti assustada - VÁ!
Não esperei uma segunda ordem, rapidamente comecei a correr até as escadas que levavam até a parte inferior do convés.
Quando cheguei no segundo degrau, vi os homens carregando bolas de metais pesadas e colocando-as nos canhões com rapidez e agilidade. A agitação fez a adrenalina se espalhar pelo meu corpo, comecei a suar no mesmo instante que meu coração começou a palpitar.
— EVA! - gritei ao descer o restante dos degraus - CADÊ VOCÊ? - olhei para os lados e fomos atingidos outra vez por outro tiro de canhão - EVA!
— Aqui. Ela tá aqui! - Adam disse correndo em minha direção com a menina nos braços.
Eva estava claramente assustada com os barulhos, tanto que as lágrimas não paravam de deslizar por suas bochechas. Ela mal esperou estar próxima o suficiente e já se jogou em meus braços.
— Achem um lugar seguro e fiquem lá até essa confusão acabar! - Adam me aconselhou e eu assenti.
— Onde está John? - perguntei com pressa e seus olhos pareceram levemente mais tristes.
— Ele ainda não voltou. - minha expressão se alterou completamente pela preocupação - Ayla, vocês precisam ir agora!
Engoli seco e falei para Eva segurar firme em meu pescoço.
Subi as escadas com uma rapidez absurda, depois me esforcei para correr até a cabine, mesmo com tanta correria, barulhos altos dos tiros e estilhaços de madeira voando por todos os lados.
No caminho encarei todos os rostos na intenção de ver o de John, mas foi em vão.
Assim que me aproximei, destranquei a porta e adentrei o cômodo.
— Vá para trás da cama. Rápido! - mandei e Eva fez.
Tranquei as portas novamente, peguei o baú que ficava em frente a cama e comecei a empurrá-lo com dificuldade até a porta. Quando finalmente consegui, me juntei a Eva, puxando-a para o meu colo e tapando seus ouvidos para abafar os sons.
— Tá tudo bem, estou aqui. - seu choro assustado foi diminuindo, mas seus braços não se soltaram de mim por nem mesmo um segundo.
Onde você tá, John?
Me esforcei em passar confiança para Eva mesmo também estando assustada com a situação inesperada.
A diferença de tempo entre o barulho de um tiro e outro foi aumentando até que cessar de vez. Pensei em sair do quarto para verificar, mas fiquei com medo de deixar a Eva sozinha.
E se tiverem tomado o navio?
Decidi esperar como Finley havia dito, mas confesso que tive que me esforçar muito para isso.
Ouvi um barulho alto na porta e, quando Eva fez menção de voltar a chorar, coloquei o dedo em frente aos lábios mostrando que era para ela fazer silêncio.
O barulho foi aumentando gradativamente até que a tranca se rompesse e não demorou para que o baú também fosse tirado do caminho. Apertei Eva ainda mais em meus braços já me preparando para o que viria em seguida.
— Ayla? Eva? - franzi o cenho por reconhecer a voz, mesmo estando trêmula - Onde vocês estão?
John?
Eva não esperou pela minha reação, apenas se desvinculou do meu aperto e saiu correndo em direção a ele. Assim que John a viu, ele suspirou pesado de alívio e se ajoelhou com os braços abertos; por impulso acabei fazendo o mesmo que a menina.
Ele nos abraçou com força e fechou os olhos para aproveitar ainda mais aquele momento.
— Graças a Deus estão bem. - disse ofegante - Fiquei com medo de que tivessem feito algo contra vocês.
— O que aconteceu? - perguntei - Por que fomos atacados?
— Os espanhóis não quiseram cumprir sua parte no contrato e declararam guerra. - suspirou se sentando no chão - Nos distanciamos deles, mas ainda estamos em zona de perigo.
— Por que está molhado? - perguntei analisando suas vestes.
— Os desgraçados atiraram contra meu bote. Consegui me salvar, mas tive que nadar uma distância considerável até aqui. - ele passou o polegar pela minha bochecha e de Eva - Mas, consigo até respirar melhor por saber que vocês estão bem.
Sorrimos juntos e, quando Eva o abraçou novamente, coloquei minha mão sobre a dele que ainda estava pousada em meu rosto.
— Capitão! - Finley apareceu na porta e pareceu um pouco surpreso com a cena - P-precisamos de uma nova rota. - gaguejou.
— Estou indo, obrigada por avisar. - John respondeu e, depois de me encarar por alguns instantes, o imediato se foi.
Imaginei como deve ter sido difícil para ele nos ver juntos e até me senti mal por isso.
— Por que Finley lhe encarou daquele jeito? - John perguntou ao se levantar e estender a mão para mim - Está tudo bem?
— Sim, está. - engoli seco ao me pôr de pé - Ele só deve estar se recuperando dessa guerra inesperada.
John claramente não acreditou no que falei, mas também não disse nada.
— Não tivemos nenhuma morte, mas temos alguns feridos, acha que pode ajudar na enfermaria?
— Claro. - concordei.
— Preciso voltar ao meu posto. Vai ficar bem? - assenti e ele deixou um beijo em minha testa - E você, pequena?
— Não se preocupe, não sairei de perto da Ayla. - ele sorriu de leve.
— Assim espero. - disse se abaixando para deixar um beijo na testa dela também.
John saiu do cômodo primeiro, depois fiz o mesmo enquanto segurava a mão de Eva. Minha intenção era ir direto para o local do navio que era destinado para a enfermaria, mas como haviam homens feridos no convés, decidi começar meu trabalho ali mesmo.
— Eva, pegue uma bacia de água, alguns panos e leve para a enfermaria, por favor. - pedi enquanto passava o braço de um dos marujos em meu pescoço para ajudá-lo a se levantar.
No caminho, percebi que o navio sofreu alguns danos, mas nada que não pudesse ser consertado com o tempo.
A enfermaria estava meio cheia e, como só haviam dois médicos na embarcação, toda ajuda era bem vinda.
— Veio ajudar, moça? - um dos médicos perguntou e eu assenti - Pode deixar esse marujo sentado nesse banco, vem comigo. - fiz o que havia pedido, depois o segui - Sabe dar pontos? - neguei enquanto caminhava - Então vai aprender agora.
Eva ficou o tempo todo nos ajudando nos tratamentos mais simples. No início fiquei com receio de deixá-la ver aquela quantidade exorbitante de ferimentos e sangue, mas como precisávamos de ajuda, acabei deixando.
Toda ajuda era bem-vinda.
O dia passou muito rápido devido a quantidade de coisas que tinham de ser feitas, tanto que não consegui parar para jantar, por isso John apareceu de surpresa na enfermaria com dois pratos de comida nas mãos.
— O que faz aqui? - perguntei sorrindo levemente.
— Você precisa comer e, como não foi até o convés, decidi vir até aqui. - estendeu um dos pratos - Onde está Eva? - John perguntou e eu cocei o topo da cabeça - Procurei-a por toda parte.
— Então, é que ela...
— Estou aqui. - disse se aproximando e John me olhou incrédulo.
— Ayla, ela é só uma criança, não deveria estar no meio dos feridos desse jeito.
— Eu ajudava minha mãe a cuidar dos escravos feridos na antiga fazenda em que eu morava. - ela explicou pegando o prato em sua mão - Já me acostumei a viver entre os feridos, John! - falou com firmeza.
A realidade das crianças negras é muito diferente das brancas. Elas já nascem no meio da violência, então é impossível querer impedi-las de ver as consequências.
Não achei necessário responder o questionamento de John, a fala de Eva já havia tido peso o suficiente.
— Tudo bem. - falou derrotado - Mas, podemos sair daqui para comer, pelo menos?
— Pode ir, Ayla. - um dos médicos disse de longe - Os pacientes com mais urgência já foram atendidos. - assenti.
Peguei o prato das mãos de John, depois nós três começamos a caminhar em direção a porta da enfermaria. Senti até um alívio por sair daquele lugar abafado e sentir a brisa fria da noite.
Decidi ficar um pouco mais afastada dos outros, enquanto Eva se direcionou até Adam, provavelmente, para fazer perguntas sobre o ataque que sofremos mais cedo.
Limpei o suor da testa ao me sentar e suspirei com os olhos fechados pelo cansaço, mas ao abri-los novamente, percebi Finley me encarando a uma distância considerável.
Mesmo tentando disfarçar, não tive dificuldade nenhuma para perceber a tristeza expressa em seus olhos.
Como não percebi seus sentimentos antes?
— Joseff me disse que viu você e ele dentro do meu quarto sozinhos e com a porta fechada enquanto eu estava ausente. - John falou calmamente depois de perceber para quem eu estava olhando - Pode ser sincera e me dizer o que está havendo?
*Relevem os erros, por favor.*
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro